Sair a barra do Tejo e navegar por umas horas num grande veleiro é um exercício de recuperação de memórias de longas viagens e de tempos passados; é entrar por um mundo diferente que nos evoca uma boa parte da nossa identidade e das nossas andanças pelo mundo; é descobrir que de facto existe uma alma marinheira mais ou menos concretizada em cada um de nós.
Ao largar as amarras do cais absorve-se de imediato uma ideia fraterna e solidária porque “estamos todos no mesmo barco”, porque durante algumas horas temos um destino comum e porque ficamos integrados num grupo humano com coesão e regras precisas.
Há a bordo uma panóplia de sugestivos instrumentos de marinharia – o leme, a bússola, os mapas, os mastros e as velas, os estais e os muitos cabos que ordenadamente se acomodam pelo convés. Tudo a funcionar. Tudo imaculadamente limpo.
E há as pessoas - a guarnição do navio - que dão sentido a tudo aquilo, em que cada um sabe exactamente o que tem a fazer e não hesita. Com atenção, precisão e discrição. Mostrando conhecimento e profissionalismo. Dessa forma, nos movimentos de cada um e no movimento do navio parece haver complementaridade e harmonia.
Depois do pontal de Cacilhas, a cidade debruça-se sobre o rio e cada segmento do casario urbano desde o Terreiro do Paço a Belém e, depois, até São Julião da Barra torna-se surpreendentemente luminoso e belo. O navio avança em direcção à barra. Pela nossa proa cruzam-se outros navios e pequenas embarcações à vela. O ar que se respira é mais sadio e o azul é mais azul. O distante horizonte alarga-se...
Um grande dia para o JML a bordo do "Creoula", a recordar outras viagens marítimas bem longas. Para ele, a leitura da "Ode Marítima" tem hoje muito mais sentido.
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