quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Restauro dos murais de Almada Negreiros

As manchetes da imprensa portuguesa e não só, tendem a satisfazer o princípio AIDA - chamar a Atenção, suscitar o Interesse, provocar o Desejo e levar à Aquisição – pelo que recorrem ao sensacionalismo e ao fait divers, sobretudo nas áreas da Sociedade, da Política, da Economia e do Desporto. Os seus títulos e os temas dominantes raramente são da área da Cultura e, por isso, aqui se destaca a capa da edição de ontem do jornal Público, que foi dedicada ao restauro em curso dos murais de Almada Negreiros existentes em Lisboa, junto ao Tejo, nas gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde d’Óbidos, dois edifícios desenhados pelo arquitecto Pardal Monteiro que foram construídos na década de 1940.
Os murais foram encomendados pelo Estado Novo e foram pintados nos anos 1940. O seu conteúdo é dedicado ao mar, à vida ribeirinha e ao povo anónimo, aos marinheiros, às varinas e aos pescadores, ignorando as figuras históricas que o regime promovia, bem como a “gesta heróica da difusão da fé e do império”. Nessa linha, os murais ignoram os grandes navegadores e as grandes navegações quinhentistas e inspiram-se no quotidiano das fainas marítimas, sobretudo do porto de Lisboa, bem como em algumas lendas, como a lenda da Nau Catrineta e a lenda de D. Fuas Roupinho e o milagre da Nazaré.
Os murais estão sujeitos a um ambiente agressivo de humidade e salinidade, pelo que careciam de restauro que, no caso dos murais da Rocha do Conde d’Óbidos já está concluído após doze meses de trabalho. A intervenção nos murais da Gare Marítima de Alcântara vai iniciar-se em Janeiro e “deverá superar o meio milhão de euros que custou o restauro dos murais da Rocha do Conde d’Óbidos”, mas é caso para dizer que é um dinheiro bem gasto, porque os murais de Almada Negreiros são um património artístico fundamental a cidade de Lisboa e representam o maior conjunto de pintura mural do século XX em Portugal.

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