As manchetes da imprensa
portuguesa e não só, tendem a satisfazer o princípio AIDA - chamar a Atenção, suscitar o Interesse, provocar o Desejo e levar à Aquisição – pelo que
recorrem ao sensacionalismo e ao fait
divers, sobretudo nas áreas da Sociedade, da Política, da Economia e do
Desporto. Os seus títulos e os temas dominantes raramente são da área da
Cultura e, por isso, aqui se destaca a capa da edição de ontem do jornal Público, que
foi dedicada ao restauro em curso dos murais de Almada Negreiros existentes em
Lisboa, junto ao Tejo, nas gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde
d’Óbidos, dois edifícios desenhados pelo arquitecto Pardal Monteiro que foram
construídos na década de 1940.
Os murais foram encomendados
pelo Estado Novo e foram pintados nos anos 1940. O seu conteúdo é dedicado ao
mar, à vida ribeirinha e ao povo anónimo, aos marinheiros, às varinas e aos
pescadores, ignorando as figuras históricas que o regime promovia, bem como a
“gesta heróica da difusão da fé e do império”. Nessa linha, os murais ignoram
os grandes navegadores e as grandes navegações quinhentistas e inspiram-se no
quotidiano das fainas marítimas, sobretudo do porto de Lisboa, bem como em
algumas lendas, como a lenda da Nau Catrineta e a lenda de D. Fuas Roupinho e o
milagre da Nazaré.
Os murais estão
sujeitos a um ambiente agressivo de humidade e salinidade, pelo que careciam de
restauro que, no caso dos murais da Rocha do Conde d’Óbidos já está concluído
após doze meses de trabalho. A intervenção nos murais da Gare Marítima de
Alcântara vai iniciar-se em Janeiro e “deverá superar o meio milhão de euros
que custou o restauro dos murais da Rocha do Conde d’Óbidos”, mas é caso para
dizer que é um dinheiro bem gasto, porque os murais de Almada Negreiros são um
património artístico fundamental a cidade de Lisboa e representam o maior conjunto de
pintura mural do século XX em Portugal.

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