Com 82 anos de
idade faleceu Vítor Crespo, almirante da Marinha Portuguesa e um dos símbolos
do 25 de Abril.
Conheci-o há 50
anos, quando numa sala de aulas e em frente de um quadro preto, nos iniciava na
química das pólvoras e dos explosivos e nos deduzia os complexos modelos
matemáticos da Balística. Era um professor competente e eu apreciava-lhe a
solidez dos seus conhecimentos e o profissionalismo e o rigor com que preparava
as suas aulas.
Depois, andamos
por caminhos diferentes. Até que surgiu o “dia inicial inteiro e limpo”, o dia
em que “emergimos da noite e do silêncio”, como se referiu Sophia à madrugada
libertadora do 25 de Abril. Foram muitos os que então arriscaram as suas
carreiras e, porventura, as suas vidas, para que recuperássemos a Liberdade e
conquistássemos a Democracia. Alguns arriscaram mais do que outros. Assim
aconteceu com o pequeno grupo de militares que, com determinação e coragem,
esteve no Posto de Comando da Pontinha a comandar as operações que conduziram à
queda do regime. Só depois soube que Vítor Crespo foi um desses homens. Esse facto
ligou-o intimamente ao processo de democratização e, durante os anos em que
durou a intervenção do MFA na vida política, muitas vezes em circunstâncias
muito difíceis, Vítor Crespo foi um dos mais eloquentes exemplos do “espírito
do 25 de Abril”, um homem de grande coerência cívica, sensibilidade política, invulgar
carácter e enorme tenacidade, tendo prestado relevantes serviços ao nosso país.
Quando em 1982
foi extinto o Conselho da Revolução e os militares sairam da cena política,
Vítor Crespo regressou à Marinha durante alguns anos, sem beneficiar de
quaisquer direitos ou mordomias pelos serviços que prestara. Atingida a reforma
e com mais tempo disponível, continuou a ter uma intervenção cívica exemplar e
de grande coerência, designadamente no quadro da Associação 25 de Abril, mas
também no convívio com os seus amigos que lhe reconheciam uma superior
inteligência e uma sólida cultura. Ontem deixou-nos.
Homens destes marcam
uma época e fazem-nos falta nos tempos que vão correndo!
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