Parece que hoje
se irá definir o futuro da Grécia e que vai terminar o braço de ferro que tem
sido mantido entre o governo grego de Alexis Tsipras e a troika, agora designada por
instituições. É tudo muito imprevisível, mas espera-se que a razão do pequeno David
resista à agressividade de Golias.
A intervenção da
troika na Grécia foi um desastre. A dívida grega aumentou, a economia regrediu,
o rendimento nacional caiu cerca de 25% e a situação social é de quase
calamidade. A dívida grega equivale actualmente a cerca de 177% do PIB e é
evidente que é insustentável, pois a sua economia não consegue gerar os
rendimentos necessários para cumprir com o pagamento de juros e de
amortizações. A vitória do Syriza e de Alexis Tsipras em 26 de Janeiro de 2015
resultou de uma reacção do eleitorado às medidas de austeridade que as
instituições têm imposto desde há cinco anos e do seu programa para
reestruturar a dívida como forma de enfrentar a situação. Embora com algumas cedências
pontuais, os principais falcões das instituições exigem mais austeridade à
Grécia como contrapartida do seu financiamento e não hesitam em humilhar um país que é o berço da democracia e da nossa civilização, enquanto o governo grego entende não
ceder às suas exigências porque é esse o seu mandato eleitoral, isto é, uns estão ao lado dos abutres da finança especulativa e outros ao lado dos seus eleitores. É um problema
muito complexo e era bom que todos lessem a exortação apostólica do Papa Francisco sobre "esta economia que mata", porque haviam de aprender com a Evangelii Gaudium. A solução passa por decisões de políticos corajosos e não por
burocratas irresponsáveis e gananciosos, que encontraram nesta crise um modelo
para enriquecer rapidamente, mas sobre esse tema estão publicadas centenas de
entrevistas, artigos de opinião e comentários que dizem tudo e o seu contrário.
Muita gente tem
feito acusações ao Syriza, esquecendo que foi o governo da Nova Democracia de
Antónis Samarás que governou a Grécia desde 20 de Junho de 2012 até 25 de
Janeiro de 2015 e que esse governo foi incapaz de travar a espiral da dívida
grega e de relançar a economia e o emprego, exactamente porque aceitou as
políticas erradas da troika. E quando
o grande líder, o homem que veio de Boliqueime e se instalou em Belém, estando em Sofia, nos disse que a situação da Grécia é preocupante mas não podem ser abertas
excepções, ficamos estarrecidos. Mais uma vez, tal como quando assegurou em
Seul que podíamos confiar no BES. É que, factos são factos e, depois da Grécia,
os países europeus mais endividados são a Itália (132,1% do PIB) e Portugal
(130,2% do PIB). O que acontecer na Grécia, mais tarde ou mais cedo também
passará por cá. Os credores costumam ser implacáveis e, nessas matérias, os
portugueses serão tratados como gregos.
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