Nunca como agora, com a Espanha a integrar o grupo de países que pediram ajuda financeira externa, se apresenta tão incerto o futuro do euro e da União Europeia. O que aconteceu vem confirmar a irresponsabilidade e a desonestidade da banca espanhola, mas também veio clarificar a enorme interdependência financeira e bancária que se verifica à escala global. A bolha imobiliária espanhola era visível desde há muito tempo, nos subúrbios das grandes cidades e nos aldeamentos turísticos da costa mediterrânica, mas os banqueiros e os governantes espanhóis andaram deslumbrados e distraídos, um pouco como aconteceu por cá com o BPN, o BPP e alguns outros. E hoje pode perguntar-se qual é a diferença entre a Grécia que mentiu nas suas contas públicas e a Espanha cujos bancos mentiram nos seus balanços? Assim, esta crise espanhola veio confirmar que a União Europeia é cada vez mais um amontoado de países endividados, sobretudo na sua margem sul, com as ajudas concedidas aos quatro países já resgatados - Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha – a atingirem perto de 500 mil milhões de euros, como destaca o
Financial Times. Entretanto, o ataque especulativo dos “mercados” prossegue, sem esperar pelo resultado das eleições gregas e da decisão quanto à sua permanência no euro, lançando nuvens muito negras sobre o futuro da comunidade nascida do Tratado de Roma. E, como se isso não bastasse, agitam-se já os fantasmas do colapso próximo da economia italiana. A União Europeia parece, assim, ter entrado numa espiral de definhamento da qual dificilmente sairá com os protagonistas que tem, nomeadamente em Berlim ou Bruxelas. São tempos muito difíceis e tempos muito incertos. Aparentemente, porque os eurocratas não são capazes de fazer melhor, só há duas alternativas: a refundação da União Europeia ou o seu desmantelamento.
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