Li ontem a edição
do semanário Expresso a procurar informar-me sobre o que está a acontecer relativamente
ao GES, ao BES e ao homem que pagou 3 milhões de euros de caução para não ficar
detido. Perante a indiferença, o sensacionalismo e o vira-casaquismo dominantes
na imprensa portuguesa, não posso deixar de elogiar dois jornalistas, ambos
Directores-Adjuntos daquele jornal, pelo que escreveram.
Escreveu Nicolau
Santos: “A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a
conferências de uma semana em estâncias de neve na Suiça ou em França, onde de
manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas
na área económica e financeira. E no Verão repetia-se a dose: uma semana num
barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos
dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado
para uma conversa descontraída sobre o banco”.
Escreveu João
Vieira Pereira: “Por mais que agora venham dizer que sempre avisaram, é
mentira. Ninguém teve coragem de o fazer. Ninguém com o poder de acabar com a
vergonha. A vergonha de haver um poder económico que não trouxe prosperidade. E
que ajuda a explicar por que razão continuamos na cauda da Europa. O valor
criado era apropriado por alguns, os eleitos. E foram muitos os que ganharam no
jogo”.
Era assim que
eram tratados os jornalistas e era desta forrma que silenciavam o que deveriam
ter denunciado, preferindo alinhar com os poderosos sem qualquer pudor e
ampliando a teoria de que temos vivido acima das nossas possibilidades, não
deixando de ser muito curioso que sejam os próprios jornalistas a denunciar esta
vergonhosa promiscuidade de muitos deles com o poder, com todo e qualquer tipo
de poder.
Assim, também podemos
compreender algumas das formas usadas pelo maior
banco privado português para construir uma poderosa rede de influências que,
naturalmente, também incluia políticos e governantes, como atesta o facto de
ter havido 34 Ministros e Secretários de Estado que em 16 dos 19 governos constitucionais se cruzaram com os
destinos e os interesses do BES.
E você, ainda confia em todos os nossos jornalistas?
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