Desde há cerca de
um mês que se têm acentuado as notícias sobre as dificuldades por que passa o
Grupo Espírito Santo (GES) que, por ignorância ou encomenda, os jornais portugueses sempre trataram como uma questão de rivalidade familiar
entre tios e primos, que se transformou numa luta pelo poder. Apesar de
aparecerem de vez em quando algumas insinuações a respeito dos seus negócios
menos claros, a solidez do GES e do seu banco eram glorificadas pelos jornais e
pelos jornalistas, constituindo um marco de absoluta confiança para o cidadão
comum. O que corria mal no país era a dimensão exagerada do Estado social, o
peso da despesa pública e a legislação laboral demasiado permissiva, para além
dos portugueses viverem acima das suas possibilidades. O que corria bem eram os
lucrativos grupos financeiros, a venda da dívida pública, as exportações do portas e a
partilha de favores e de interesses entre os políticos e a banca. Os poderes
públicos instalados em Belém e São Bento alinharam nessa teoria que não era
verdadeira e a presença da troika a
humilhar-nos e a sua caricata saída limpa que tão celebrada foi pelo coro
juvenil do portas, são episódios bem tristes da nossa vida recente.
Afinal, a
história parece ser bem diferente daquela que tem sido contada, porque nos
últimos dias temos sido surpreendidos com notícias que nos deixam estupefactos
e que ainda não entendemos. Os portugueses não têm vivido acima das suas
possiblidades, mas alguns portugueses têm acumulado milhões fraudulentamente. Essa é a verdade. Depois
das falências do BPN e do BPP, depois das imensas ajudas canalizadas para a
banca, depois da vigilância da troika
e da maior atenção do regulador, podíamos ter pensado que a ganância da banca
arrefecera. Porém, somos agora confrontados com suspeitas de burla, abuso de
confiança, falsificação e branqueamento de capitais que envolvem um grupo de
referência nacional que era o símbolo da solidez e da confiança. Como é
possível ter-se chegado a este ponto de declínio civilizacional em que, para
além da promiscuidade entre políticos e banqueiros e da cobardia e do silêncio da
generalidade dos jornalistas, todos os dias somos confrontados e desmoralizados
com mais episódios deste impensável abandalhamento. Que mais nos irá acontecer?
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