Está a decorrer na cidade de Dili a
10ª Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), uma
organização internacional constituída por países lusófonos que tem por objectivo o
"aprofundamento da amizade mútua e da cooperação entre os seus
membros". A CPLP tem sido um projecto entusiasmante que foi criado em 17 de Julho
de 1996 por sete países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 2002, após a sua independência, a CPLP passou a
integrar Timor-Leste e, com alguma surpresa, a Guiné Equatorial acaba de ser
admitida como seu membro de pleno direito, sob o compromisso de abolir a pena
de morte e de promover o uso do português como língua oficial.
Muitas vozes se
têm levantado contra esta decisão de integrar na CPLP um país que vive em
regime de ditadura, que não respeita os direitos humanos, que mantém níveis de
desigualdade extremos e onde nem sequer se fala o português, o que significa um
grave e inaceitável desvio dos princípios que estiveram na base da criação
desta organização lusófona. Porém, por incompreensível consenso entre todos os
membros da CPLP, a Guiné Equatorial foi admitida na organização. Nem Dilma Roussef nem Eduardo
dos Santos se quiseram comprometer directamente com esta decisão que levanta
demasiadas suspeitas de envolver negociatas e interesses obscuros. Outros deram a cara. Desta
maneira, a língua portuguesa deixou de ser o elemento de união entre todos os
membros da CPLP que, em vez de ser uma comunidade linguística, parece
transformada num clube de negócios, no qual o regime e o petróleo de Teodoro
Obiang têm muito dinheiro para distribuir. Esperava-se da delegação portuguesa
uma atitude de não aceitação deste golpe de ilusionismo, mas o que aconteceu
foi uma evidente incapacidade para contrariar o vento dominante. Precisávamos
de velejadores mais hábeis, mais competentes e mais inconformados para
contrariar o vento dominante e levar a nau a bom porto. Em nome não se sabe de
quê, os nossos velejadores atemorizaram-se, calaram-se e o nosso orgulho e a nosssa dignidade
levaram mais uma cacetada. O que é que os nossos velejadores lá estiveram a fazer?
Ao fim de 18 anos, o projecto CPLP foi vítima de um grave enviesamento, mas como não fui a Dili fico-me por aqui...
Ao fim de 18 anos, o projecto CPLP foi vítima de um grave enviesamento, mas como não fui a Dili fico-me por aqui...
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