Os tempos estão difíceis mas, apesar disso, o nosso contabilista-mor não só dirige as nossas Finanças Públicas, como ainda tem tempo para comentar a corrida da maratona. Na realidade, segundo disseram os jornais e a televisão mostrou, durante uma prelecção feita aos deputados da maioria nas respectivas jornadas parlamentares conjuntas, afirmou que Portugal já realizou dois terços do seu processo de ajustamento e está agora como um atleta na fase final da maratona. Depois fez uma analogia entre o processo de ajustamento que tem conduzido e a corrida da maratona, dizendo que Portugal já fez "dois terços da maratona", ou seja, está "por volta do 27º quilómetro" e a aproximar-se da parte final da corrida. Ora não é isso o que vemos, ouvimos e lemos! Nem é isso o que ele diz quando ameaça subir ainda mais os impostos. Depois, continuou a dissertar sobre a corrida da maratona e disse que os maratonistas não desistem ao 27.º quilómetro, mas apenas entre o 30.º e o 35.º quilómetro, quando se apresentam os maiores desafios aos maratonistas, tal como acontece com um programa de ajustamento. Durante esta parte do seu discurso, o novo especialista de maratonas assinalou que Portugal tem "uma maravilhosa tradição de corredores de maratona" e sabe, por isso, "o que significa correr e triunfar na maratona".
Que grande confusão! Esta analogia da maratona é muito infeliz. Quando há mais de dois mil anos os gregos ganharam a batalha da Maratona, foi ordenado ao soldado Filípides que corresse até Atenas, situada a cerca de 42 km, para levar a notícia da vitória sobre os persas. Filípides correu essa distância tão rapidamente quanto pôde e, ao chegar, apenas conseguiu dizer "vencemos", caindo morto devido ao esforço dispendido. Também em 1912 na edição da maratona olímpica de Estocolmo, o português Francisco Lázaro morreu durante a prova. Significa que a morte já atraiçoou alguns maratonistas. Esperemos que isso não aconteça com a nossa ”maratona”.
Sem comentários:
Enviar um comentário