sábado, 31 de maio de 2014

As eleições europeias

 
Os resultados das eleições europeias deixaram muitos milhões de cidadãos europeus confrontados com uma realidade que se vinha desenhando mas que nunca se tinha revelado de forma tão evidente: a gestão europeia tem sido orientada essencialmente para a satisfação de interesses particulares e os ideais de Jean Monnet, Robert Schuman, Konrad Adenauer e Paul-Henri Spaak têm sido atraiçoados. O capital de esperança gerado pelo Tratado de Roma, que apostava na construção de uma comunidade de paz, prosperidade e solidariedade, tem sido desperdiçado pela incompetência, egoísmo e leviandade de muitos líderes europeus, nos quais é justo incluir essa medíocre figura política que é o Comissário Barroso.
Os recentes resultados eleitorais falam por si e a ameaça de desagregação europeia é cada vez mais forte. A participação eleitoral global ficou-se pelos 43%, enquanto a insatisfação e o cansaço das populações perante a arrogância de Bruxelas e Frankfurt se traduziu num enorme protesto de rejeição das políticas de austeridade que estão a minar a coesão social e a aumentar a desigualdade, sobretudo na orla sul da Europa. Submissos à tutela alemã e anestesiados pelas suas vaidades pessoais, os dirigentes políticos europeus e a dispendiosa burocracia que instalaram, apenas têm criado o descrédito dos partidos políticos tradicionais e aberto as portas a ideologias erráticas, populistas ou hegemónicas. Os partidos eurocépticos progrediram no Reino Unido, na Itália, na Grécia, em França e até na Alemanha. Vários países registaram participações eleitorais abaixo dos 20%. O triunfo da Frente Nacional devastou a paisagem política francesa e, embora com contornos diferentes, evoca-nos um tempo que ensombrou a Europa e o mundo e que já parecia perdido no tempo. Na Espanha os dois grandes partidos - PP e PSOE - perderam cinco milhões de votos e, em Portugal, mais de 6,4 milhões de eleitores inscritos não votaram e quase 250 mil votaram em branco ou nulo.
A União Europeia está realmente a passar por um mau momento e há um futuro de grande incerteza no seu horizonte, sobretudo se não houver coragem para ouvir os cidadãos e para contrariar a arrogância e a rapina da finança internacional e dos seus servidores.

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