Em Janeiro de
1965 foi publicado um pequeno livro de poemas incluido na colecção do
Cancioneiro Vértice, com o título de Praça
da Canção. O autor era Manuel Alegre, um quase desconhecido que em 1962 tinha
sido mobilizado para Angola por motivos políticos, onde veio a ser preso pela
PIDE. De regresso à Metrópole, foi colocado em Coimbra com residência fixa, mas
em 1964 decidiu passar à clandestinidade e exilar-se, tendo o livro sido editado
pela sua família.
Apesar de
proibido e apreendido pela Censura, o livro foi um sucesso para a jovem geração
que nas universidades então contestava as políticas salazaristas e a guerra no
Ultramar. O impacto da sua circulação limitada e clandestina, foi ultrapassado
pelo facto de muitos dos seus poemas terem sido cantados e divulgados por José
Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire.
Em 1969 a Editora
Ulisseia decidiu publicar a 2ª edição da Praça
da Canção e eu tive oportunidade de adquirir um exemplar na Cooperativa
Livrelco, que ainda conservo. No prefácio dessa edição, Mário Sacramento
escreveu que “com Manuel Alegre nasceu o maior poeta do neo-realismo português”.
De facto, o livro inclui poemas que revelam a opressiva realidade lusitana e expressam
a solidariedade do poeta para com o sofrimento dos portugueses que emigravam,
que partiam para a guerra ou que eram perseguidos pelo delito de opinião. A Trova do vento que passa, a Trova do amor lusíada, a Trova do emigrante, a Canção com lágrimas e sol, o Nambuagongo, meu amor ou o Canto peninsular, são apenas alguns dos
poemas que são marcos da poesia portuguesa, nos quais o poeta recorre à nossa História
para interrogar o presente e o futuro de Portugal, conseguindo aliar o lírico e
o épico num grito contra a ditadura e a repressão em que os portugueses viviam
nesse tempo.
Na edição que hoje foi posta a circular, o Jornal de Letras evoca Manuel
Alegre e a Praça da Canção, um dos
mais importantes livros da literatura portuguesa contemporânea e um marco de
elevada estética literária no panorama da cultura portuguesa, por ocasião dos 50 anos da sua primeira
publicação.
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