Nos últimos dias
o problema das relações do primeiro-ministro com a Segurança Social e com o
Fisco tem sido a questão dominante da vida política portuguesa. Aquele que tem
conduzido a política de austeridade, que afirmou querer ir mais longe que a troika, que afirmou que não cortaria
salários nem pensões e que atacou aqueles que não pagavam impostos, afinal não
declarou, ou não pagou, ou não sabia que tinha que pagar, ou não tinha dinheiro
para pagar, ou simplesmente distraiu-se e, durante cinco anos, não pagou à
Segurança Social. Porém, teve a ousadia de ter comandado a perseguição fiscal
aos portugueses e o confisco cego dos seus bens. Apenas há uma ano defendia que
“há muitos que deviam pagar os seus impostos e não pagam […] porque não
declaram as suas actividades”, mas afinal deu este mau exemplo cívico e
político. Perante esta trapalhada, muitas vozes se têm levantado, inclusive no
seu próprio partido, porque à mulher de César não basta ser séria: é preciso
que pareça. E como não parece e os rendimentos auferidos e a vida contributiva
do primeiro-ministro estão por esclarecer, o coro de críticas generalizou-se e
até surgiram abaixo-assinados a exigir a sua demissão.
No seu papel de salva-vidas
do governo, veio então o supremo magistrado da nação que deveria assumir uma
posição de equidistância em relação a este problema, fazer a triste e
lamentável figura de declarar que “o primeiro-ministro lhe deu as explicações
que entendia dever dar” e que entende que “deve deixar aos partidos as suas
controvérsias politico-partidárias, que já cheiram a campanha eleitoral”. Então
ele acha que a evasão fiscal e contributiva é uma questão de luta
político-partidária? Então ele acha que um primeiro-ministro não deve dar todas
as explicações sobre este caso? Ele podia estar calado, mas gosta de falar para
mostrar que existe, apesar de já ninguém lhe dar ouvidos. A minha avó, se ainda
cá estivesse, diria para que eu aguentasse pois já falta pouco para ele se ir
embora. Até o insuspeito comentador LMM reagiu, perante esta pobreza de
espírito e esta pequenez intelectual.
Não sei porquê mas este artigo do ARC lembrou-me aquele genérico que nem princípio activo tinha. Associações que nos aparecem na cabeça sem sabermos porquê...
ResponderEliminar