domingo, 8 de março de 2015

Às vezes era melhor que estivesse calado

Nos últimos dias o problema das relações do primeiro-ministro com a Segurança Social e com o Fisco tem sido a questão dominante da vida política portuguesa. Aquele que tem conduzido a política de austeridade, que afirmou querer ir mais longe que a troika, que afirmou que não cortaria salários nem pensões e que atacou aqueles que não pagavam impostos, afinal não declarou, ou não pagou, ou não sabia que tinha que pagar, ou não tinha dinheiro para pagar, ou simplesmente distraiu-se e, durante cinco anos, não pagou à Segurança Social. Porém, teve a ousadia de ter comandado a perseguição fiscal aos portugueses e o confisco cego dos seus bens. Apenas há uma ano defendia que “há muitos que deviam pagar os seus impostos e não pagam […] porque não declaram as suas actividades”, mas afinal deu este mau exemplo cívico e político. Perante esta trapalhada, muitas vozes se têm levantado, inclusive no seu próprio partido, porque à mulher de César não basta ser séria: é preciso que pareça. E como não parece e os rendimentos auferidos e a vida contributiva do primeiro-ministro estão por esclarecer, o coro de críticas generalizou-se e até surgiram abaixo-assinados a exigir a sua demissão.
No seu papel de salva-vidas do governo, veio então o supremo magistrado da nação que deveria assumir uma posição de equidistância em relação a este problema, fazer a triste e lamentável figura de declarar que “o primeiro-ministro lhe deu as explicações que entendia dever dar” e que entende que “deve deixar aos partidos as suas controvérsias politico-partidárias, que já cheiram a campanha eleitoral”. Então ele acha que a evasão fiscal e contributiva é uma questão de luta político-partidária? Então ele acha que um primeiro-ministro não deve dar todas as explicações sobre este caso? Ele podia estar calado, mas gosta de falar para mostrar que existe, apesar de já ninguém lhe dar ouvidos. A minha avó, se ainda cá estivesse, diria para que eu aguentasse pois já falta pouco para ele se ir embora. Até o insuspeito comentador LMM reagiu, perante esta pobreza de espírito e esta pequenez intelectual.

1 comentário:

  1. Não sei porquê mas este artigo do ARC lembrou-me aquele genérico que nem princípio activo tinha. Associações que nos aparecem na cabeça sem sabermos porquê...

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