Na passada
terça-feira dia 4 de Abril, a pequena cidade de Khan Sheikhun, situada no
noroeste da Síria e que tem estado sob o controlo de forças hostis a Bashar
al-Assad, foi vítima de um ataque com armas químicas e, segundo revelaram as
autoridades sanitárias turcas, as vítimas apresentavam sintomas de terem estado
expostas a gás sarin. O ataque causou 86 mortos e provocou uma onda mundial de
indignação. Menos de 72 horas depois, na madrugada de sexta-feira dia 7, os
Estados Unidos decidiram uma acção de surpresa e, como retaliação, dispararam
59 mísseis Tomahawk sobre a base aérea de Shayrat, próximo da cidade de Homs.
Depois de seis anos de guerra, foi a primeira acção directa dos americanos na
Síria e significou uma mudança nas opções de Donald Trump, que sempre criticou
o envolvimento americano (e a despesa) em conflitos longe da América. A Rússia
e o Irão não gostaram, enquanto o Reino Unido, a França e a Turquia aplaudiram.
Ontem, durante
todo o dia, as televisões portuguesas fizeram desfilar nos seus estúdios
dezenas de comentadores especializados, incluindo generais, professores,
politólogos, estrategistas e jornalistas. Todos muito sabedores a debitar as
mais diversas hipóteses: que recomeçou a guerra fria, que foi uma humilhação
para a Rússia, que a escalada do confronto pode começar, que houve um acordo
secreto entre Trump e Putin, que não foi mais do que um impulso de Trump, que foi
um aviso à Coreia do Norte e ao Irão, que foi um exibicionismo perante a China,
que foi uma acção para recolocar a opinião pública americana ao lado de Trump e, ainda, mais algumas hipóteses. Não ouvi nenhum desses sábios olhar para a
situação na lógica da manipulação da informação nos conflitos militares, um
pouco na linha de acção de Joseph Goebbels, para quem uma mentira mil vezes repetida se
tornava uma verdade. Foi esse tipo de manipulação que criou a mentira das armas de destruição
maciça de Sadam Hussein e levou George W. Bush, Tony Blair, Aznar e Durão
Barroso a darem a cara pela invasão do Iraque, onde tudo isto começou. É caso
para perguntar o que fez correr Donald Trump e porque não esperou pela realização de um
inquérito independente para saber o que realmente se passou em Khan Sheikhun?
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