Como era previsível, o anúncio das linhas gerais do Orçamento do Estado para 2012 provocou uma depressão emocional e uma generalizada onda de protestos, pelo seu carácter recessivo e insensibilidade social, mas também por não promover a recuperação económica e por potenciar o aumento do desemprego e da pobreza.
As pessoas escutaram e assustaram-se com a brutalidade de uma terapêutica semelhante à que tem sido aplicada na Grécia, mas onde não tem obtido resultados. As pessoas perceberam que “o estado a que isto chegou” resultou de um processo cumulativo de erros em que todos participamos, no qual os políticos e a banca têm as maiores responsabilidades.
Agora, a porta de saída é estreita. Com a política orçamental delineada, a economia vai correr sérios riscos de implodir, com os trabalhadores a lutar pelo emprego e pelo salário, as empresas a procurar a sobrevivência e os bancos a tentar reforçar a sua liquidez e a recuperar os seus créditos. O emprego, o investimento e o crédito estão ameaçados, tal como a coesão social.
Uma geração jovem e muito qualificada vai continuar a procurar o futuro noutras paragens. O anunciado corte nos subsídios de Natal e de férias atingirá todos os reformados com pensões acima dos mil euros, quer do sistema público quer do sistema privado. Uma nova onda de excluídos, de indignados e de desempregados perfila-se no horizonte.
A sociedade civil, e em especial os sindicatos, começam a reagir a este quadro de brutal austeridade, que é também um quadro de não-esperança, preparando-se para exercer o seu direito à indignação. Entretanto, começam a ser detectados alguns sinais de hesitação e desnorte na governação. Os agentes económicos não recuperaram a confiança. Não sei como é que isto vai acabar. São tempos muito sombrios.
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