As linhas gerais do Orçamento do Estado para 2012 que ontem foram anunciadas, são de uma violência inesperada e antecipam tempos muito sombrios.
Sabia-se, desde há muitos anos, que as coisas tinham que mudar e não podiam continuar como estavam. Porém, a febre de ganhar eleições e de empregar as clientelas foi adiando a resolução do problema. Prometeu-se tudo a todos. Venderam-se ilusões. Votaram-se facilidades. Exigiram-se utopias. A prosperidade tomou conta das nossas vidas. Ninguém ligou à teoria do pântano, nem à teoria da tanga.
De repente, num quadro de crise internacional, acordamos com os credores à porta. Acreditamos que não era necessário aumentar impostos e que bastava cortar nas gorduras do Estado e nos consumos intermédios, extinguir governos civis, institutos, fundações e pronto. Afinal não era assim. Era apenas propaganda eleitoral.
Ontem, o primeiro-ministro afirmou que nunca tinha pensado ser necessário anunciar ao país medidas tão severas e tão difíceis de aceitar, como por exemplo a eliminação dos subsídios de férias e de Natal, justificando-as com uma derrapagem orçamental da responsabilidade do anterior governo. Isso não é verdade! Isso é, mais uma vez, atirar poeira para os nossos olhos! O nosso problema nasceu com a nossa integração europeia e com os milhões que vinham de Bruxelas. Com o facilitismo. Com o novo-riquismo. Com a ganância da banca. Com as nossas vaidades. A classe política fechou os olhos à realidade, deslumbrou-se com a Europa, instalou-se no aparelho de Estado, favoreceu clientelas, enriqueceu materialmente e, muito democraticamente, foi alternando no poder.
No crítico momento por que passamos actualmente, a derrapagem orçamental é conjuntural e resulta das receitas do Estado estarem abaixo das previsões devido ao clima recessivo e, do lado da despesa, é a consequência do tão falado corte das gorduras do Estado e dos consumos intermédios ter sido pouco mais do que propaganda.
“Nunca nos deveríamos ter permitido chegar a este ponto”, disse o primeiro-ministro e é verdade. Agora, perguntem ao Cavaco, ao Constâncio e ao pequeno Jardim, entre outros, porque deixaram que as coisas seguissem este caminho tão sombrio.
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