A
verdadeira trapalhada que emergiu em Portugal nos últimos anos e que envolve
tantos bancos, tanto dinheiro e tanta gente importante, parece não se confinar
apenas ao território nacional, surgindo alegadas ramificações a interesses
situados noutros países. Muita gente se envolveu e deslumbrou com os negócios e
com o dinheiro, tirando partido patrimonial da situação. Muitos enriqueceram
com donativos, comissões e prémios de
muitos milhões. Foi uma pouca vergonha e a Justiça acordou muito tarde para
esta situação que se adivinhava estar a acontecer.
Num
país que não é perfeito, a Justiça também não é perfeita e os seus agentes têm
cometido erros grosseiros, nomeadamente com a sistemática violação do segredo
de justiça, que é um atentado à dignidade das pessoas e se traduz num
julgamento popular na praça pública. O Ministério Público português tem usado e
abusado dos seus poderes e, directamente ou por via da comunicação social, tem
promovido alguns inaceitáveis julgamentos populares. A suspeita é sempre a
mesma: corrupção, fuga ao fisco, branqueamento de capitais e falsificação de
documentos.
Um dos últimos acusados é um alto dirigente angolano e, de
imediato, o governo angolano classificou
como “inamistosa e despropositada” a forma como o Ministério Público
português divulgou essa acusação e
alertou que ela ameaça as relações bilaterais, enquanto o Jornal de Angola destaca que estão ameaçadas as relações com Portugal. É uma posição precipitada e
ameaçadora que não tem justificação. Acontece que existe em Portugal o princípio
da separação de poderes e, sobre essa matéria, os governos não interferem. Angola sabe que a
Justiça portuguesa é independente do poder político. Sabendo-se que é assim, as
autoridades governamentais angolanas não devem tomar posições que belisquem a
amizade e os interesses dos povos de Angola e de Portugal, que devem estar acima dos comunicados do Ministério Público português, ou seja, os
governos não se devem meter nisto.
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