terça-feira, 15 de março de 2022

A Ucrânia, as balas e a comunicação

Na guerra que está a devastar a Ucrânia há todos os pontos de vista que nos chegam diariamente através de notícias e de comentários, com argumentos a favor ou contra cada uma das partes, uns mais moderados e outros mais radicais.
Hoje o jornal El País e alguns outros jornais, publicaram uma curiosa fotografia, captada durante a emissão do principal noticiário nocturno da televisão russa, intitulado Vremya, que é transmitido no Piervy Kanal. Enquanto a jornalista lia as notícias em directo, uma pessoa colocou-se atrás dela com um cartaz onde se lia, em russo e em inglês, “não à guerra”, “parem a guerra”, “não acredites na propaganda” e “russos contra a guerra”. Significa que, mesmo na Rússia, não há unanimidade quanto à guerra, como mostrou a mensagem exibida em directo na televisão russa. Aquela imagem tem o efeito de uma bala.
A comunicação mostra-se uma arma tão decisiva como os aviões, a artilharia ou os mísseis e, nessa medida, ocorre-nos uma famosa teoria sociológica ou modelo de comunicação que vingou sobretudo no período entre as duas guerras mundiais e que teve no sociólogo americano Harold Lasswell um dos seus principais teorizadores. Chamou-se a teoria hipodérmica ou a teoria das balas mágicas, porque no processo de comunicação compara a mensagem à injecção de uma seringa que afecta todo o corpo humano, ou a uma bala que atinge cada pessoa e a massa de público, produzindo poderosos efeitos políticos, sociais e culturais. Assim, através da propaganda, da publicidade e de outras técnicas, mais ou menos assumidas, a comunicação de massa tem características manipuladoras junto do público. Embora a teoria tenha sido criticada durante muitos anos, o facto é que veio a ter sucesso por considerar semelhantes os efeitos das mensagens e das balas.
Hoje, provavelmente, os mesmos académicos que criticaram a teoria de Lasswell poderão estar a rever as suas críticas.

1 comentário:

  1. No dia seguinte à publicação deste texto, o jornal i escreveu que "um cartaz é uma arma" e identificou a pessoa que o exibiu em directo pela televisão moscovita. Trata-se da jornalista Marina Ovsyannikova, que foi detida e multada em 30.000 rublos, mas que se tornou um símbolo da oposição à guerra no seio da sociedade russa.

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