A Crimeia é uma
península situada na orla setentrional do mar Negro e uma república autónoma da
Ucrânia, mas foi invadida e anexada pela Rússia em 2014, na sequência do
movimento conhecido por Euromaidan, que destituiu o presidente Yanukovych.
Nessa altura, o conflito entre russos e ucranianos, ou entre a ligação à Rússia ou à União Europeia, acentuou-se e a Rússia decidiu ocupar a Crimeia. Essa
invasão foi condenada pela comunidade internacional, especialmente pelos países
europeus, mas a Rússia argumentou com os fortes laços históricos e culturais
que mantinha com a Crimeia e com os resultados de um referendo. Porém, os
Estados Unidos e a União Europeia consideraram esse referendo ilegítimo e, em
Julho de 2014, anunciaram um pacote de sanções contra a Rússia em que se incluía
o embargo de armamento, que proibia “a venda, fornecimento, transferência ou exportação
directa ou indirecta de armas e material conexo”.
Passaram-se oito
anos e a Rússia invadiu o território da Ucrânia, dando origem a uma guerra de
grande violência, com muita destruição, muitos refugiados e muita apreensão.
Numa altura em que é unânime a condenação da Rússia e em que se procura o
cessar-fogo e a paz, a notícia de que um terço dos estados-membros da União
Europeia exportou armamento para a Rússia, violando o embargo decretado em 2014, é
muito chocante e revela a hipocrisia que domina as relações internacionais. A
informação foi hoje divulgada pelo jornal Público, com base nas revelações do
consórcio Investigate Europe e indica que mísseis, foguetes, torpedos, bombas e
cargas explosivas, mas também “equipamento de imagem, aviões com os seus
componentes e drones” foram fornecidos à Rússia e que, segundo o jornal,
poderão estar a ser usados na Ucrânia.
A França foi o
país que mais exportou para a Rússia, utilizando uma lacuna na legislação que
proíbe a venda de equipamento militar àquele país, seguindo-se a Alemanha,
Itália, Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e
Espanha.
Haverá hipocrisia maior do que esta?
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