O nosso primeiro Passos cumpriu o seu dever formal de se
dirigir à nação no Natal. Cansado das minhas festividades natalícias, fiz um
enorme esforço para não adormecer com aquela lenga-lenga auto-elogiosa que foi
lida sem alma e com um optimismo que até parecia que estávamos noutro país.
Parecia um discurso de campanha eleitoral, feito por um vendedor de ilusões. Esqueceu
a injusta e imoral austeridade que nos impôs e que tem feito empobrecer a
classe média e aumentado a fortuna dos mais ricos. Esqueceu a profunda
desarticulação que impôs à nossa sociedade, que põe em risco a nossa coesão social. O homem que se deslumbrou com o
poder, que quis cair nos braços da troika
e que sempre disse que governaria com o FMI, mantém a sua estratégia de
obedecer a tudo o que lá de fora lhe mandam fazer, embora agora queira fazer
passar a ideia de que quer expulsar a troika
e recuperar a soberania nacional porque, com a sua acção, o país foi salvo do colapso.
Disse ele que “a nossa
economia começou a dar a volta”, que “começamos
a vergar a dívida externa e pública”, que “a economia começou a crescer e acima do ritmo da Europa” e que “em termos líquidos, até ao terceiro
trimestre foram criados 120 mil novos postos de trabalho”. É preciso ter
muita imaginação e pouco pudor para se dizer isto numa mensagem de Natal, que
deveria ser de verdade e de esperança. É uma mera convicção sem fundamento.
A mensagem do nosso
primeiro quis mostrar erudição e foi buscar inspiração a algumas frases feitas,
que ele certamente aprecia. Disse ele, inspirando-se em George W. Bush, que “na recuperação do nosso país, ninguém pode
ficar para trás”. Depois, a finalizar a sua mensagem fez um mix entre Napoleão Bonaparte e Barack
Obama, dizendo: “Como um povo orgulhoso,
dono do seu próprio destino, que não receia o futuro e que sabe que, do alto de
quase 900 anos de história, os seus melhores anos ainda estão para vir”.
Foi, concerteza, uma mensagem a pensar nas eleições que hão-de
vir. Merecíamos melhor.
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