Ontem em Caracas, às primeiras horas da madrugada, um grupo de oposicionistas ao governo
de Nicolas Maduro, sob a liderança do autoproclamado presidente Juan Guaidó,
fez uma proclamação anunciando o início da Operação Liberdade, destinada a acabar
com o regime chavista. Antes, Juan Guaidó e os seus apoiantes mais próximos
tinham libertado Leopoldo López, considerado o verdadeiro líder da oposição
venezuelana, que cumpria uma pena de prisão domiciliária.
Quem viu a
mensagem transmitida por Juan Guaidó deve ter ficado perplexo, pois a cena
tinha todo o aspecto de uma encenação mal preparada, com alguns elementos
disfarçados de soldados e sem o anúncio de qualquer novidade mobilizadora do
povo que, nestas coisas, gosta de ver soldados e marinheiros, autometralhoras,
aviões no ar e helicópteros em movimento e, sobretudo, uma mão cheia de decididos salgueirosmaias.
Contrariamente
ao que acontece nas revoluções triunfantes, não houve uma tomada da Bastilha,
nem uma revolta da guarnição de um qualquer couraçado Potemkin, nem tão pouco a ocupação de um qualquer Radio Clube
Português ou o cerco a um qualquer Quartel do Carmo. Juan Guaidó confiou nessa arma que é o
feicebuque, perdeu mais uma vez e limitou-se a chamar os seus apoiantes à rua, confiando
na sua popularidade e convencendo-se, uma vez mais, que a queda de Maduro eram
favas contadas.
A sua iniciativa
foi chamada de golpe de estado, mas mais parece ter sido um golpe de comunicação
impulsionado pelas redes sociais, pelos tweets
e pelas fake news, que criaram muitas
notícias fantasiosas e mentirosas, como a fuga de Maduro para a Rússia, a ocupação da base de La
Carlota ou o apoio do general José Ferreira, que algumas declarações de responsáveis americanos mais desacreditaram. Foi um tiro de pólvora seca. Tudo parece ter-se resumido a um carro blindado, cujo condutor não resistiu à pressão e avançou sobre um grupo de manifestantes. É muito pouco para atirar abaixo o regime do Maduro, apesar da Venezuela continuar muito dividida.
Como hoje escreve
o jornal colombiano Vanguardia, há incerteza e caos na Venezuela, mas Juan Guaidó parece
já ter perdido mais uma batalha e ter tido apenas o mérito de acordar o país e
o mundo do adormecimento em que a Venezuela tinha caído. Por isso, deixem-se destas brincadeiras, conversem e preparem eleições.
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