Em Portugal há
uma forte tendência para encontrar bodes expiatórios para tudo o que não corre
bem, isto é, arranja-se um alvo e a imprensa, ou a justiça, ou a política,
encarregam-se de influenciar a opinião pública e queimar esse alvo na praça
pública. Há uns anos atrás foi o Relvas que usou títulos académicos indevidos e
tudo lhe caiu em cima, como se fosse só ele. Depois foi o Pinto de Sousa que
vivia acima das suas possibilidades e também tudo lhe caiu em cima, como se
fosse só ele. A seguir foram os incêndios de Pedrógão e à ministra Constança
tudo lhe caiu em cima, como se fosse só ela. Agora é o José Berardo e tudo lhe
cai em cima, como se fosse só ele a dever dinheiro à Caixa Geral de Depósitos
ou a provocar a derrocada do sistema financeiro português e das fraudes que
aconteceram no BPN, no Banif, no BES e não sei onde mais.
Os aspectos
jurídicos ou criminais destes casos não me interessam particularmente, embora
saiba que “47 banqueiros foram ou ainda estão presos por causa da crise financeira.
Metade são da Islândia. Nenhum é de Portugal” (Expresso, 23 de Setembro de
2018).
No caso da dívida
de 320 milhões de euros de José Berardo à Caixa Geral de Depósitos, assistimos
ao triste episódio de uma audição parlamentar que mais parecia um inquérito
policial, enquanto os políticos e os jornalistas estão calados no que respeita
à divulgação dos nomes dos outros grandes devedores da banca pública ou privada,
sem que sejam conhecidas as suas fraudes e as enormes batotas de quem se
governou e que, por vezes, até comendas recebeu. Uma tristeza e, por isso, o
título do jornal i tem o meu aplauso. O que tem acontecido com este
silêncio e com a ajuda pública a toda a banca é obsceno, pois é o dinheiro dos
nossos impostos. É caso para perguntar quem são e quanto devem todos os
Berardos que há por aí.
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