quarta-feira, 3 de julho de 2019

Quem são os caloteiros que devem à banca

Em Portugal há uma forte tendência para encontrar bodes expiatórios para tudo o que não corre bem, isto é, arranja-se um alvo e a imprensa, ou a justiça, ou a política, encarregam-se de influenciar a opinião pública e queimar esse alvo na praça pública. Há uns anos atrás foi o Relvas que usou títulos académicos indevidos e tudo lhe caiu em cima, como se fosse só ele. Depois foi o Pinto de Sousa que vivia acima das suas possibilidades e também tudo lhe caiu em cima, como se fosse só ele. A seguir foram os incêndios de Pedrógão e à ministra Constança tudo lhe caiu em cima, como se fosse só ela. Agora é o José Berardo e tudo lhe cai em cima, como se fosse só ele a dever dinheiro à Caixa Geral de Depósitos ou a provocar a derrocada do sistema financeiro português e das fraudes que aconteceram no BPN, no Banif, no BES e não sei onde mais.
Os aspectos jurídicos ou criminais destes casos não me interessam particularmente, embora saiba que “47 banqueiros foram ou ainda estão presos por causa da crise financeira. Metade são da Islândia. Nenhum é de Portugal” (Expresso, 23 de Setembro de 2018).
No caso da dívida de 320 milhões de euros de José Berardo à Caixa Geral de Depósitos, assistimos ao triste episódio de uma audição parlamentar que mais parecia um inquérito policial, enquanto os políticos e os jornalistas estão calados no que respeita à divulgação dos nomes dos outros grandes devedores da banca pública ou privada, sem que sejam conhecidas as suas fraudes e as enormes batotas de quem se governou e que, por vezes, até comendas recebeu. Uma tristeza e, por isso, o título do jornal i tem o meu aplauso. O que tem acontecido com este silêncio e com a ajuda pública a toda a banca é obsceno, pois é o dinheiro dos nossos impostos. É caso para perguntar quem são e quanto devem todos os Berardos que há por aí.

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