domingo, 19 de janeiro de 2020

Necessidades ilimitadas, recursos escassos


Quando da sua campanha eleitoral em 2017 o candidato Emmanuel Macron defendeu a transformação de mais de quatro dezenas de regimes de pensões existentes em França num único sistema “universal” por pontos, em que um euro descontado ao trabalhador passe a conferir exactamente os mesmos direitos a todos. Tendo ganho as eleições, o presidente Macron deu andamento à “réforme des retraites”, mesmo sem tocar nos pontos mais sensíveis que são a idade da reforma e o nível das pensões. Naturalmente, o projecto era explosivo por envolver sindicatos, organizações patronais, seguradoras e outras entidades, até porque pretendia resolver uma questão que já tinha sido tentada várias vezes e sempre tinha dado origem a grande contestação social.
Porém, esta tentativa de reforma patrocinada por Macron avançou num período de grande instabilidade e agitação sociais provocados pelo movimento inorgânico dos coletes amarelos, a que se seguiu o movimento orgânico dos sindicatos e das suas confederações. Nos primeiros dias de Dezembro iniciou-se um alargado movimento grevista apoiado pelas cinco confederações sindicais reconhecidas pelo Estado, com destaque para a CGT-Confédération Générale du Travail contra a “réforme des retraites” e contra o próprio presidente Emmanuel Macron. Actualmente, já estão acumuladas seis semanas consecutivas de protesto, com efeitos catastróficos em sectores como os transportes, o comércio, a hotelaria, a restauração e as actividades culturais. Serão necessárias várias semanas para contabilizar o prejuízo total gerado por uma das greves mais longas da história da França, mas o balanço já começou a ser feito: a companhia ferroviária SNCF já perdeu 850 milhões de euros, a Ópera de Paris perdeu 12 milhões de euros e o circo Bouglione um milhão. Provavelmente, muitos empregos serão perdidos nas pequenas e médias empresas que não resistirão a esta crise.
O problema é muito complexo. A revista Le Point trata deste assunto que, segundo diz, está a arruinar uma França que rejeita reformas e que esquece a velha máxima de que “as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos".

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