terça-feira, 2 de julho de 2024

R.I.P. Fausto Bordalo Dias

Deixou-nos aos 75 anos de idade o homem que foi considerado “um monumental criador de canções” e cuja obra maior foi o Por Este Rio Acima, provavelmente o mais importante disco da música portuguesa. Num tempo de grande criatividade musical em que se destacaram criadores famosos como José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco, aquele notável disco de Fausto como criador e cantautor, parece ultrapassá-lo a si próprio, pois permanece vivo desde 1982. 
Essa sua obra de referência explora o tema dos descobrimentos marítimos portugueses, um tema simultaneamente grandioso e polémico, tendo procurado inspiração na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e nos seus enredos, como por exemplo o medo, o horror, a escravidão, o sonho e a saudade, que exprime em canções como “O barco vai de saída”, “Navegar, navegar” ou “A guerra é a guerra”, em que se serviu de uma diversidade musical e instrumental invulgares, cujas raízes se encontram no folclore português e na música africana.
Fausto nascera em 1948 a bordo do paquete Pátria em pleno oceano Atlântico, quando o navio navegava de Lisboa para Luanda, tendo vivido em Angola até 1968, ano em que rumou a Lisboa para iniciar os seus estudos universitários. Consigo, trouxe o ritmo musical africano que passou a conjugar com a tradição da música popular portuguesa, que se tornaram marcas distintivas da sua obra.
Fausto Bordalo Dias partiu, mas deixou-nos o Por Este Rio Acima, para ouvirmos muitas mais vezes. Apesar de outros grandes destaques do dia, a morte de Fausto foi noticiada em primeira página pela imprensa portuguesa, designadamente pelo jornal Público, que dedicou três páginas ao "genial alquimista da música portuguesa".

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