terça-feira, 22 de abril de 2025

R. I. P. Papa Francisco

Poucas horas depois de, no Domingo de Páscoa, ter aparecido na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional benção Urbi et Orbi, o Papa Francisco não resistiu a um AVC e entrou em coma, a que se seguiu um quadro irreversível de insuficiência cardíaca.
O Papa Francisco, nascido em Buenos Aires como Jorge Mario Bergoglio, tinha 88 anos de idade e foi o 266º Papa da Igreja Católica e o primeiro pontífice não europeu em mais de mil anos. Foi eleito Papa no dia 13 de Março de 2013 e escolheu o nome de Francisco, em referência a São Francisco de Assis e à sua “simplicidade e dedicação aos pobres”, tendo sido o primeiro membro da Companhia de Jesus que foi escolhido para dirigir a Igreja Católica e para ser Bispo de Roma.
A morte do Papa Francisco ocupa a primeira página dos jornais internacionais, o que mostra o reconhecimento do mundo pela sua figura e a sua obra, definindo-o como “o Papa de todos”, “o Papa dos pobres”, “o Papa do povo” ou “o Papa da coragem”. 
Durante o seu pontificado (2013-2025) o Papa Francisco realizou 48 viagens apostólicas em todos os continentes, incluindo duas viagens a Portugal em 2017 e 2023, escreveu algumas exortações apostólicas ou encíclicas papais e cartas apostólicas, estabeleceu diálogos intensos com a juventude e com o Islão, tomou posição sobre as problemáticas bioéticas e ambientais, a justiça social, os abusos sexuais na Igreja, a participação das mulheres na Igreja e condenou os excessos do capitalismo – esta economia mata ou o dinheiro deve servir e não governar.
O Papa Francisco foi uma das poucas vozes mundiais que defendeu negociações e lutou pela paz, tanto na Ucrânia como no Médio Oriente, não cedendo à narrativa dominante dos que estimulam a guerra.
Os 1400 milhões de católicos estão de luto, mas todo o mundo reconhece a grandeza e o exemplo do Papa Francisco.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

As eleições constituintes de 1975

Há cinquenta anos, no dia 25 de Abril de 1975, o processo democrático português cumpriu uma das suas principais metas, que foi a realização de eleições livres, tal como tinha sido prometido ao país no programa apresentado um ano antes pelo Movimento das Forças Armadas. As eleições para a Assembleia Constituinte realizadas nesse dia destinaram-se a eleger, por sufrágio universal, os 250 deputados que iriam redigir uma nova Constituição da República para substituir a Constituição de 1933.
O recenseamento eleitoral foi uma campanha memorável, porque os anteriores registos incluíam apenas cerca de 1.800.000 eleitores e nos novos cadernos eleitorais foram registados 6.231.372 eleitores.
Apresentaram-se ao escrutínio 12 partidos políticos e duas associações cívicas representativas dos interesses de Macau, houve uma campanha eleitoral muito disputada e debates televisivos a que os portugueses não estavam habituados e em que, entre outros líderes políticos, puderam melhor conhecer Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Diogo Freitas do Amaral. Votaram 91,66% dos eleitores inscritos, um resultado que nunca mais foi igualado e que mostrou o entusiasmo dos portugueses pelo processo democrático. Foi, seguramente, uma das maiores vitórias da revolução dos cravos.
No dia 2 de Junho de 1975 a Assembleia Constituinte iniciou o seu mandato para redigir a Constituição, com 116 deputados do PS, 81 do PSD, 30 do PCP, 16 do CDS, 5 do MDP/CDE, um da UDP e um da ADIM - Associação para a Defesa dos Interesses de Macau, enquanto o país continuou a ser governado por governos provisórios.
Com muita oportunidade, o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias dedicou a sua última edição à história e às memórias das primeiras eleições livres.

domingo, 20 de abril de 2025

Donald Trump e a sua deriva autoritária

A acção governativa de Donald Trump está a perturbar o mundo e a despertar a incerteza quanto ao futuro, pela sua arrogância pessoal, pelas medidas repressivas que vem adoptando e pela guerra comercial que desencadeou, para além de muitas outras escolhas, como o apoio à crueldade israelita em Gaza, ou a aproximação a Vladimir Putin. Hoje, o jornal El País acusa Donald Trump de “deriva autoritária” e revela algumas das medidas que têm provocado mais contestação nos Estados Unidos, designadamente a aplicação da lei dos inimigos estrangeiros de 1798, na base da qual têm sido realizadas alguns milhares de deportações. A perseguição a alguns grupos sociais está a tornar-se obsessiva e “ser venezolano ya es un delito”. O medo está a tomar conta de muitos americanos e há quem tema pelo caminho que a “deriva autoritária” de Trump está a seguir.
Porém os americanos começam a despertar e muitos milhares vieram para as ruas de Nova Iorque, Washington, Chicago e dezenas de outras cidades em todo o país para protestar contra a Administração Trump e os seus aliados da oligarquia americana e, em especial, contra as deportações, os despedimentos na função pública e o apoio a Israel.
Uns temem a recessão económica e o desemprego, outros duvidam que a política de Trump possa cumprir o “make America great again” e outros, ainda, temem pelo futuro da democracia americana. As medidas repressivas anunciadas contra as universidades tiveram em Harvard, a mais poderosa universidade americana, a “primera línea de resistencia”, tal como Yale e o MIT. A Associated Press, que é a mais importante agência noticiosa americana, foi ameaçada e penalizada por continuar a chamar golfo do México ao golfo que Donald Trump quer baptizar como golfo da América.
Trump ataca em todas as frentes mas há uma onda de protesto a crescer e que está a ser dirigida pelo movimento 50501, que representa 50 protestos, 50 estados, 1 dia. O futuro dirá se a contestação poderá travar o autoritarismo de Trump.

sábado, 19 de abril de 2025

O grande desafio é entre os EUA e a China

São cada vez mais frequentes as revistas internacionais que ilustram as suas capas com as imagens de Donald Trump e Xi Jinping, isto é, com os presidentes dos Estados Unidos da América e da República Popular da China, assim acontecendo com a última edição do L’Express. Segundo esta revista francesa, trata-se de “um duelo que faz abalar o mundo”, tanto do ponto de vista comercial, como do ponto de vista militar.
Muitos analistas vêm considerando que a aproximação de Donald Trump a Vladimir Putin não é mais do que uma tentativa de desfazer a aliança entre a Rússia e a China, com o objectivo de enfraquecer os chineses e travar as suas ambições quanto a Taiwan e o regresso daquela ilha à soberania de Pequim.
Nesta perspectiva, as tensões da administração Trump com a Europa, o ostracismo aos dirigentes da União Europeia, a guerra das tarifas, as negociações relativamente ao futuro da Ucrânia e a vontade de anexar a Gronelândia, não passam de faits divers, porque o verdadeiro leitmotiv da política de Donald Trump é mesmo afrontar a China.
Donald Trump está no poder há apenas três meses e já ameaçou meio mundo, embora venham aumentando as vozes que internamente contestam as suas políticas e o seu apoio aos oligarcas americanos, num movimento em que se destaca Bernie Sanders, o senador independente pelo estado de Vermont que já foi candidato presidencial.
Como era de esperar, há muitos americanos, mas também muitos europeus, que rejeitam a arrogante política externa de Donald Trump mas, lamentavelmente, os líderes europeus e muitos comentadores televisivos não pensaram nisso.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

A escolha de 2025 da World Press Photo

O prémio de Fotografia do Ano da 68ª edição do concurso World Press Photo foi ontem atribuído em Amesterdão à imagem de um menino palestiniano de nove anos de idade que perdeu os dois braços durante um ataque aéreo israelita na Faixa de Gaza. O menino chama-se Mahmoud Ajjour e a imagem foi captada pela fotógrafa palestiniana Samar Abu Elouf e foi publicada pelo jornal The New York Times.
O concurso reconhece e celebra anualmente o melhor fotojornalismo do ano anterior, através da apreciação de um júri independente, depois das avaliações feitas em Janeiro e Fevereiro pelos júris regionais. Este ano o júri final escolheu 42 vencedores em várias categorias entre as 59.320 candidaturas de 3.778 fotojornalistas de 141 países.
No actual cenário político e mediático, a imagem escolhida como a Fotografia do Ano convida aqueles que a observam a pensar para além da rotina do ciclo noticioso, cada vez mais influenciado pela desinformação, pela manipulação e pelo poder dos grandes interesses. Por isso, a escolha feita pela World Press Photo é também um grito de alerta para o que se está a passar na Palestina, perante o silêncio e até a cumplicidade de muitos países, designadamente da União Europeia, mas também de muitos mass media.
Numa busca feita por algumas centenas de jornais mundiais, só encontramos a Fotografia do Ano distinguida na primeira página do jornal irlandês Irish Examiner e do jornal dinamarquês Politiken, a demonstrar como a causa palestiniana tem sido subalternizada pelo mundo, o que tem permitido as atrocidades que os israelitas continuam a fazer.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

A Semana Santa mobiliza toda a Espanha

O Cristianismo está a celebrar as festividades da Semana Santa, uma tradição religiosa que recorda a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, as quais decorrem entre o Domingo de Ramos (13 de Abril) e o Domingo de Páscoa (20 de Abril).
O Domingo de Ramos celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, a que se seguiram várias acções, incluindo a Última Ceia e, depois, a sua prisão, julgamento, condenação e morte na Sexta-Feira Santa. As celebrações da Semana Santa terminam no Domingo de Páscoa que é o dia da ressurreição de Jesus Cristo e que é um dia em que as famílias se reúnem para celebrar. 
Cada dia da Semana Santa tem um significado próprio e dá origem a cerimónias muito participadas, incluindo missas e procissões, em que os crentes assumem a sua fé, devoção e respeito, por vezes através de antigos rituais em que se sacrificam tal como Jesus Cristo se sacrificou.
A Espanha destaca-se de entre os países onde a tradição pascal é celebrada com mais intensidade, sobretudo nas cidades da Andaluzia e a imprensa espanhola tem dedicado algumas das primeiras páginas das suas edições à Semana Santa, assim acontecendo com a edição de Sevilha do diário ABC.
Porém, as festividades da Semana Santa ultrapassam o seu carácter religioso e têm sido transformadas em cartazes turísticos, por forma a atrair visitantes, pelo que nas multidões que participam nas diferentes cerimónias não há apenas crentes devotos, mas também muitos turistas.  

segunda-feira, 14 de abril de 2025

R.I.P. Carlos de Matos Gomes

Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes, Coronel de Cavalaria e Capitão de Abril, deixou-nos ontem aos 78 anos de idade e, segundo foi comunicado pela família, “partiu sereno e com as músicas de Abril”.
Aquela triste notícia foi um choque para os seus amigos e enlutou todos os que com ele combateram na Guiné e lhe conheciam a coragem física, a lucidez da inteligência e os ideais democráticos, mas também a sua vasta cultura, a excelência da sua obra literária e os seus conhecimentos sobre a nossa história contemporânea.
Carlos de Matos Gomes foi um militar brilhante e um combatente de eleição que serviu nos Comandos, tendo participado em muitas operações militares, de que se destaca a Operação Ametista Real, uma das mais ousadas que se realizaram na Guiné, quando o PAIGC e os seus aliados cubanos já dominavam boa parte do território. A violência da guerra foi a sua inspiração para sonhar com a Paz e para lutar pela Democracia, sendo um dos primeiros capitães a conspirar activamente em torno do ideal que levaria ao 25 de Abril de 1974.
Com o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz publicou várias obras literárias sobre o tema da guerra colonial, em que se destaca o romance “Nó Cego” e, como investigador, publicou várias obras de natureza histórica em parceria com o Coronel Aniceto Afonso, de que sobressai “Guerra Colonial”. No ano passado, usando o seu próprio nome, publicou “Geração D” que é uma homenagem e uma biografia da geração que conheceu a ditadura, a repressão, a guerra colonial e fez o 25 de Abril de 1974.
O desaparecimento físico de Carlos de Matos Gomes, de que eu era amigo há mais de 50 anos, é uma perda irreparável para toda a geração que sonhou com um país livre, democrático, pacífico e socialmente justo.

Uma grande vitória de João Almeida

O ciclista João Almeida triunfou na 64ª edição da Volta ao País Basco, a famosa Itzulia 2025, que integra o calendário da UCI World Tour, tornando-se no primeiro português a vencer esta prova, que é caracterizada pela exigência do seu percurso e pelas suas íngremes e desafiadoras subidas.
Correndo com a camisola da equipa UAE Emirates e competindo com muitos dos grandes nomes do ciclismo mundial, o ciclista de A-dos-Francos teve um comportamento de elevado nível e os desportistas portugueses puderam ver a sua incontestável vitória na prova, mas também em duas das seis etapas da corrida, através da sua transmissão televisiva em directo. 
João Almeida já antes ganhara a Volta à Polónia e a Volta ao Luxemburgo, já brilhara no Giro de Itália e na Vuelta à Espanha, mas esta vitória no País Basco coloca-o em definitivo num elevado patamar do ciclismo mundial. Nas suas palavras, este foi o maior triunfo da sua carreira, mas pode mesmo afirmar-se que foi um dos maiores sucessos do ciclismo e até do desporto português.
Porém, nenhum jornal português, generalista ou desportivo, destacou o feito desportivo de João Almeida, para além de pequenas referências de primeira página. Os próprios jornais bascos que muito apostam no noticiário desportivo, também ignoraram esta vitória, muito provavelmente por João Almeida ser português. A excepção foi o jornal Gara, que se publica em Donostia (San Sebastián) e que é o terceiro jornal mais lido na Comunidade Autónoma Basca.
Aqui se regista o nosso aplauso pelo sucesso de João Almeida na famosa Itzulia 2025.

domingo, 13 de abril de 2025

Estudando o Real Forte Príncipe da Beira

A edição de ontem do jornal The Washington Post destaca como tema principal da sua primeira página, a história de um forte português “perdido” na Amazónia, que os cientistas estão agora a estudar através de tecnologias com base nos raios X, que é uma forma de radiação electromagnética muito utilizada na Medicina para a análise das condições dos órgãos internos. 
Trata-se do Real Forte Príncipe da Beira, localizado na margem direita do rio Guaporé, no estado brasileiro de Rondónia, que começou a ser construído em 1775 por ordem do Marquês de Pombal. O Tratado de Madrid de 1770 tinha assegurado o direito português à posse dos territórios situados para leste do “meridiano de Tordesilhas” e os fortes da Amazónia faziam parte de um plano para a construção de um “cordão de fortes” para defender o território brasileiro de eventuais incursões espanholas, a partir da Bolívia, designadamente para pesquisa de ouro.
O Real Forte Príncipe da Beira é considerado a maior edificação militar portuguesa do Brasil colonial e foi construído no sistema Vauban, com base num quadrado com 118 metros de lado com um baluarte em cada vértice. Poucos anos depois, a presença portuguesa na região consolidou-se, o Brasil tornou-se independente e cessou a ameaça espanhola, pelo que o forte perdeu a sua importância estratégica e, em finais do século XIX, foi abandonado, tendo “desaparecido” por acção da vegetação tropical.
Em 1913 o forte foi “redescoberto” e, nos anos mais recentes, foi recuperado, inclusive com o apoio técnico português, sobretudo da Fundação Calouste Gulbenkian. A partir de 2009 iniciaram-se trabalhos arqueológicos, por iniciativa do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, para compreender a história, não só do forte mas de toda a zona envolvente, onde se situavam povoações aborígenes e uma povoação europeia de nome Lamego.
A reportagem do The Washington Post divulga a história do Real Forte Príncipe da Beira, que os portugueses construíram, mas também o que está a ser feito com o apoio das tecnologias para conhecer o passado histórico e antropológico da região.

terça-feira, 8 de abril de 2025

O caos que o DT semeou e o pânico geral

A questão das tarifas decretadas pelo DT no quadro da sua política do MAGA para limitar ou desencorajar as importações de produtos provenientes do Canadá e do México, da Europa e da China, do Japão e do Brasil e da generalidade dos países, estão a causar muitos embaraços às economias mundiais e a dar origem a medidas de retaliação, enquanto se teme por uma quebra significativa no comércio internacional, na produção interna e no emprego de muitos paises, bem como no aparecimento de um surto inflacionista à escala global. Uma recessão mundial está no horizonte, em muitos países já se sente a emergência económica e, no caso de Portugal, que tem 4.231 empresas que exportam para os Estados Unidos, a situação pode trazer grandes dificuldades à economia.
Uma das características das modernas economias é a actividade accionista ou actividade bolsista que se desenvolve através das Bolsas de Valores e por intermédio do sistema bancário, permitindo que as grandes empresas se financiem e que o público aplique as suas poupanças por forma a conseguir melhores rendimentos, quer pelo recebimento de lucros e dividendos, quer pela valorização das acções que tenha adquirido. No mercado bolsista compram-se e vendem-se acções, cujo valor ou cotação depende de factores diversos da empresa e dos factores envolventes e das expectativas. 
As cotações da bolsa são actualmente um importante indicador económico: quando sobem também a economia está em crescimento e os agentes económicos estão confiantes; quando descem a economia cai e não há confiança nos agentes económicos.   
Hoje, a capa do jornal financeiro francês La Tribune mostra a evolução das bolsas mundiais e, perante a queda brutal que se verifica, ou “o caos semeado por Donald Trump”, o jornal escolheu o título “panique sur les marchés”. 
São, realmente, tempos de muita incerteza.

domingo, 6 de abril de 2025

O “Ruination Day” de Donald John Trump

Na sua mais recente edição, a prestigiada revista The Economist, que se publica em Londres desde 1843, escreve sobre o “Ruination Day” e apresenta uma imagem do DT a isolar os Estados Unidos do mundo, através da sua guerra das tarifas e da sua política do MAGA – Make America Great Again.
O “Ruination Day” é um dia que aparece referido em várias músicas da cantora e compositora americana Gillian Welch e que representa um dia amaldiçoado e trágico, em que houve acontecimentos muito graves. Nas suas canções, aquela cantora referiu o dia 14 de Abril em que o presidente Abraham Lincoln foi assassinado (1865), em que naufragou o Titanic (1912) e em que aconteceu o Dust Bowl, uma tempestade de areia que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1930. Nem a data nem os acontecimentos referidos por Gillian Welch se consolidaram na opinião pública, mas o conceito de “Ruination Day” tornou-se popular no ponto de vista simbólico e poético, com o significado de qualquer data maldita em que tudo se desmorona.
No meio da confusão, da perplexidade e até do tsunami provocado pelas medidas tomadas pelo DT, The Economist inspirou-se em Gillian Welch e identificou essas medidas como um “Ruination Day”, pelos malefícios que vão trazer para a economia mundial, mas também para a economia dos Estados Unidos. As críticas surgem de todo o lado e os protestos já começaram a aparecer em solo americano. Perante a excentricidade política do DT, o senador Chuck Schumer que é o líder da minoria democrata no Senado, descreveu a sua política de tarifas como “absurda, louca e caótica”. Muitos analistas preveem uma generalizada recessão económica, com desemprego e inflação, mas também há quem preveja uma grande oportunidade para a China.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

A nova guerra comercial que o DT iniciou

No prosseguimento da sua política de MAGA (Make America Great Again) o presidente Donald Trump parece apostado em concretizar muitas das medidas que anunciou em campanha eleitoral, nas quais poucos acreditaram. No campo da política internacional destacam-se os apetites sobre os recursos naturais da Gronelândia e da Ucrânia, enquanto no campo do fortalecimento da economia americana a aposta parece centrar-se na produção interna de muitos bens que até agora eram importados. Na política económica não é mais do que a conhecida política de substituição de importações, que passa pela redução das importações e pelo estímulo à produção nacional, inclusive através do investimento estrangeiro nos Estados Unidos.
Enquanto prepara estas medidas - que podem ter efeitos muito perversos porque as economias são demasiado interdependentes - o DT vai avançando com “provocações ao Canadá e ao México” e com a prometida deportação de emigrantes ilegais que já ultrapassou as cem mil pessoas. Ontem, através de uma ordem executiva, o DT decretou uma guerra comercial ao mundo, ao aumentar em 10% as tarifas alfandegárias sobre os produtos importados pelos Estados Unidos, embora haja excepções mais gravosas, como a importação de automóveis europeus que passa a ter uma tarifa de 25%.
A fotografia do DT aparece nas primeiras páginas da imprensa de todo o mundo e as manchetes variam entre a simples informação de “aumento das tarifas”, como faz o jornal The Times, ou a informação do começo de uma "guerra comercial" como fazem por exemplo o El País e o Le Figaro. Porém, a imprensa portuguesa é uma excepção e em primeira página trata outros assuntos, como se estas medidas do DT não nos afectassem.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Turquia e Israel à beira de um confronto?

No dia 8 de Dezembro de 2024, depois de um período de quase quatro anos de contenção na guerra civil síria, os grupos rebeldes da oposição coligaram-se e fizeram uma ofensiva que, depois de ocuparem várias cidades, entraram em Damasco. O regime de Bashar al-Assad colapsou, depois de ter estado no poder durante cerca de 24 anos, tendo o seu líder abandonado o país e seguido para o exílio na Rússia. Pela rapidez com que aconteceu, a queda de Assad surpreendeu muita gente, até porque estava apoiado desde há muitos anos na Rússia e no Irão.
A nova Síria passou a ser governada por Ahmed Hussein al-Sharaa, também conhecido pelo seu nome de guerra Abu Mohammed al Jawlani, um engenheiro de 42 anos de idade, que antes pertenceu à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico do Iraque. Este homem foi transformado numa figura mediática, passou a usar gravata e a afirmar que o seu objectivo é a reconstrução do país, mas os seus vizinhos mais poderosos não acreditam nele. Assim, a Turquia e Israel viram uma oportunidade de intervir no complexo problema sírio para redefinir o jogo do poder no Médio Oriente.
A Turquia já acusou Israel de procurar expandir o seu território, para além dos Montes Golã que anexou em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, enquanto Israel critica a Turquia com a mesma acusação e pela sua contínua intervenção em território sírio com o pretexto de atacar os curdos. A tensão tem aumentado desde a queda de Assad e é mais um problema para a administração de Donald Trump, havendo mesmo um risco elevado de confronto armado entre Recep Tayyip Erdogan e Benjamin Netanyahu, como salienta a última edição da revista Newsweek.