segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sem dinheiro, não apago mais!

Este cromo parece que veio dos bombeiros de Agualva – Cacém e, no ano de 2000, tornou-se presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Só lhe falta montar um elefante para se parecer com um general cartaginês a comandar, a passar revista aos seus bombeiros, a mandar vir, a levar-se a sério.
Todos os anos, encosta-se ao drama dos incêndios florestais e entra-nos em casa através da televisão, com um discurso reivindicativo, arrogante e de constante exigência, quase de chantagem – ou me dão mais dinheiro ou não apago os fogos!
Um serviço à comunidade? A tradição já não é o que era! O homem quer financiamento, quer dinheiro, quer apoio estatal, mas recusa ser subalterno dos poderes públicos no sistema de protecção civil. Quer mandar e quer facturar no transporte de doentes e adoentados - milhares de quilómetros, milhares de horas de espera, milhares em gasolinas, milhares em tudo… Não sei quantos milhões recebem os muitos milhares de bombeiros e as suas corporações. Era bom que se soubesse exactamente quanto recebem e que se esclarecesse como é distribuído esse dinheiro. É que onde há fogo, também há muito fumo. Talvez devesse ser esse um dos papéis da Liga dos Bombeiros e do seu presidente: servirem e não servirem-se.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

WikiLeaks on Portugal

Através do Expresso tivemos acesso a alguns dos milhares de telegramas confidenciais americanos de que a WikiLeaks dispõe, dos quais 722 são relacionados com Portugal.
Mais do que a revelação de factos surpreendentes ou desconhecidos, a iniciativa do Expresso é uma operação de marketing jornalístico que, em estilo de folhetim semanal, se destina a alimentar a curiosidade do público e, naturalmente, a vender jornais.
O primeiro episódio incide sobre armamento e revela que um bom empresário em Silicon Valley não é necessariamente um bom embaixador, o que não é abonatório da Administração Obama e da política externa americana. O embaixador parece alguém que veio passear a Lisboa e que decidiu fazer uma crónica aligeirada de viagens, pela forma pouco rigorosa como opina sobre o nosso país e as suas opções soberanas.
Ao criticar as compras militares, que diz parecerem ser guiadas pelo desejo de ter brinquedos caros e inúteis, o embaixador ignora que são os EUA que pressionam os seus aliados para se armarem e muitas vezes lhes vendem equipamento. Como sempre se viu e agora se vê no Iraque e no Afeganistão. A opção por submarinos alemães e por fragatas holandesas, é criticada porque, certamente, o embaixador gostaria que fossem de origem americana.
E é tudo, mais ou menos assim, sem revelações surpreendentes. Veremos se nos próximos episódios deste folhetim teremos algumas novidades.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os salários da RTP

A edição de hoje do Correio da Manhã destaca na sua primeira página os “salários milionários na RTP”, assinalando que o seu quadro de funcionários mostra que 64 profissionais têm vencimentos acima de cinco mil euros, além de vários tipos de subsídios. Engordam à nossa custa! Vários funcionários recebem remunerações com cinco dígitos e as chamadas "estrelas" com contratos de prestação de serviços, apresentam mensalmente uma factura de algumas dezenas de milhares de euros.
Há dias, a revista "Sábado" informava que na RTP “há 66 carros da empresa, de alta cilindrada (Audis), atribuídos a directores, subdirectores e assessores”.
A RTP recebe cerca de 400 milhões de euros de indemnizações compensatórias e taxa do audiovisual. São pagos por nós! O serviço produzido que nos é apresentado, onde se incluem as foleiradas que são a “Praça da Alegria”, o “Portugal no Coração”, o “Preço Certo” e “Quem quer Milionário”, é chocantemente medíocre, por vezes boçal e objectivamente embrutecedor. Acho mesmo que a RTP tem largas responsabilidades no retrocesso global por que passa a sociedade portuguesa.
A RTP vive num regabofe e foi tomada de assalto por gente pouco recomendável. É uma indignidade. Fechem-na depressa. Não precisamos dela para nada.

Primitivos Portugueses

O Museu Nacional de Arte Antiga apresentou a exposição Primitivos Portugueses (1450-1550) - O Século de Nuno Gonçalves, que reuniu e colocou em confronto mais de 160 pinturas portuguesas dos séculos XV e XVI, provenientes de colecções públicas e privadas, onde se incluíam importantes obras de museus de Itália, França, Bélgica e Polónia.
A exposição assinala o centenário da primeira apresentação pública dos Painéis de S. Vicente, realizada em 1910, que desde então passaram a constituir, nacional e internacionalmente, a obra “fundadora” e mais célebre da arte da pintura em Portugal. Além disso, a exposição procura documentar as noções de “originalidade artística” e de “identidade nacional”, tradicionalmente associadas ao brilhante ciclo criativo dos "Primitivos Portugueses", iniciado por Nuno Gonçalves e depois prosseguido e consolidado por outros pintores da primeira metade do século XVI. A dimensão e o conteúdo da exposição legitima a existência de uma escola portuguesa desde meados do século XV, independente das escolas flamenga e castelhana que lhe são posteriores, a que por vezes tem sido associada.
Esta exposição foi, seguramente, um importante e erudito evento cultural que o MNAA ofereceu ao público de Lisboa.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um dirigente que alterna

Na minha galeria de cromos apresento hoje alguém cuja profissão se desconhece, mas que umas vezes actua como dirigente sindical e outras vezes como dirigente partidário, isto é, alterna.
A lusitana apetência por poleiro e este duplo poleiro dão-lhe uma importância televisiva, mas cria-lhe um grande problema.
- Como dirigente partidário obedece ao seu partido, que aprova o Orçamento do Estado, que exige reformas, emagrecimento da despesa e sempre muitos cortes e mais cortes.
- Como dirigente sindical da Função Pública opõe-se e combate toda a espécie de reformas, rejeita todos os cortes e exige sempre mais direitos e mais regalias.
Com este gosto para montar dois cavalinhos, o nosso cromo vive no meio deste paradoxo. Que vida difícil!
Porém, tem sobrevivido a esta já tão longa duplicidade de vida a alternar. Com o seu estilo habitual de professor de ciências ocultas, com tiques elitistas e sobranceiros, il Duce ou il condottiero utiliza sempre um discurso redondo para falar sem nada dizer, para empatar o jogo, para ocupar o terreno ou para mastigar sem engolir. Quando abre a boca, já se sabe que não pensa. Canta. Discursa. Os seus sindicalizados são um mero instrumento que usa para se colar ao seu partido e atacar o partido rival.

O despertar do mundo árabe

O mundo árabe está a acordar, como diz o The Economist. Aqui bem perto, na orla sul do Mediterrâneo, há uma incontrolável onda de contestação que começou na Tunísia, se estendeu ao Egipto e a outros países, estando agora com grande intensidade na Líbia.
Os telejornais vão mostrando preocupantes imagens e os especialistas aparecem às dezenas nas televisões, a comentar, a esclarecer e a informar. Eu não sabia que havia em Portugal tantos especialistas destas coisas!
A contestação parece ser uma reacção aos modelos políticos, ao autoritarismo prevalecente, à desigualdade social e à falta de emprego. Ninguém pode prever o rumo dos acontecimentos, nem a dimensão ou direcção do risco de contágio, mas a margem norte do Mediterrâneo não pode deixar de estar atenta. E os refugiados? E o petróleo e o gás? E o vento?
Nos últimos anos, Portugal tem apostado muito nesta região, tendo aumentado as suas exportações e os seus investimentos. Hoje há muitas empresas portuguesas ou com capitais portugueses nesta região, que estão seriamente ameaçadas. Estamos perante um mero acidente de percurso? Uma derrota? Uma oportunidade? Como irá ser o futuro desta aposta lusitana?

1808

Só agora tive oportunidade de ler “1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil“, da autoria do jornalista brasileiro Laurentino Gomes.
É um livro leve, atraente e de escrita fluente, que embora trate de História, não é um livro de História. É um livro de não-ficção, que se lê com muito entusiasmo.
Para os especialistas, o livro é provavelmente demasiado ligeiro e não traz qualquer contributo para o conhecimento histórico da presença da Família Real portuguesa no Brasil, porque é uma compilação de outros livros especializados, mais ou menos conhecidos.
Por isso, o livro originou alguns comentários negativos emitidos por historiadores, como “é um péssimo livro”, é “um produto do marketing”, “não vale a pena ser lido” ou, ainda, é “uma escrita de encomenda”.
Como não especialista, discordo destes pontos de vista e, repito, o livro lê-se com muito entusiasmo e certamente desperta o interesse pelos temas históricos. Os especialistas e os historiadores nem sempre são os melhores divulgadores da História.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Governação electrónica

A Comissão Europeia acaba de divulgar o seu estudo anual sobre governação electrónica – o 9th Benchmark Measurement 2010 – que, pelo segundo ano consecutivo, coloca Portugal em primeiro lugar no ranking europeu do egovernment.
O estudo destaca as boas práticas portuguesas, como tem sido a implementação do Cartão de Cidadão, a ferramenta Empresa Online, o serviço de declarações electrónicas de impostos e a página virtual da Segurança Social.
Segundo esse estudo, os serviços públicos que Portugal disponibiliza na Internet estão entre os mais fáceis de usar na União Europeia: Portugal regista um índice de 91% na facilidade de uso, acima dos 79% da média europeia, sendo apontado como o país mais avançado em sofisticação e disponibilidade de serviços públicos online.
O 9th Benchmark Measurement 2010 tem 272 páginas e pode ser consultado na Internet em: Digitizing Public Services in Europe: Putting ambition into action - 9th Benchmark Measurement.
Em tempos de desânimo, aqui está uma notícia para nos reforçar a nossa auto-estima.

Manuel Amado

A Sociedade Nacional de Belas Artes está a apresentar uma exposição de pintura de Manuel Amado, intitulada Encenações, que inclui cerca de quatro dezenas de obras a óleo e que estará patente ao público até 15 de Março de 2011.
Manuel Amado nasceu em 1938 em Lisboa, formou-se em Arquitectura, iniciou a sua actividade como pintor em 1975 e tem participado em exposições colectivas e individuais em Portugal e em diversas cidades europeias.
Nesta exposição, o artista convoca as suas anteriores séries sobre cidades, jardins, praias e interiores, nas quais integrou as figuras recortadas da série relativa ao teatro. O resultado é interessante e justifica uma visita.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Mourinho, el invencible

Na sua edição de hoje, o diário desportivo espanhol as chama, a toda a extensão da sua primeira página, o treinador português José Mourinho, para lembrar que, se hoje ganhasse ou empatasse com o Levante, ficariam cumpridos nove anos sem perder em casa.
No mundo da comunicação internacional, o futebol é uma das poucas actividades em que alguns portugueses são notícia ou são destacados. José Mourinho é um deles. Em Janeiro foi eleito pela FIFA como o melhor treinador do mundo de 2010 e na cerimónia em que recebeu o prémio, realizada em Zurique, pediu desculpa por falar em português porque, disse, “sou um orgulhoso português". O treinador do Real Madrid agradeceu a distinção da FIFA, mas fez questão de lembrar que não chegou a este prémio sozinho, de partilhar o prémio com os jogadores e com os colaboradores que o acompanharam na época passada e, também, com a família. Um exemplo de reconhecimento, mas também de mérito e de liderança desportiva.
Pois bem. O Real Madrid ganhou hoje ao Levante e Mourinho continua a ser “El invencible”.

Uma obra polémica

LISBOA, 18 FEV 2011 - Em Novembro de 2009 foi iniciada a construção da nova Igreja Paroquial de S. Francisco Xavier, em local muito privilegiado no Alto do Restelo, em Lisboa, segundo um projecto do Arquitecto Troufa Real.
O corpo principal da nova igreja tem a forma de um casco de nau a que se liga uma torre em forma de minarete, com 100 metros de altura e que terá um elevador panorâmico. O conjunto disporá, ainda, de construções anexas convencionais destinadas aos serviços paroquiais.
Quando o projecto foi conhecido foi contestado por ser “uma aberração urbanística” e foi elogiado por ser “inovador”. Nesta data começam a ver-se os primeiros contornos da obra, cuja arquitectura é realmente muito polémica.
O futuro esclarecerá.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Principezinho

Hoje apresento um cromo que embora tenha um estatuto de principezinho, nada tem a ver com a personagem de Antoine de Saint-Exupéry.
Sabe-se pouco sobre as suas origens, mas certamente que foi um jovem previsível, certinho e bom estudante. Encostou-se bem e nunca precisou de subir, degrau a degrau. Instalou-se lá no topo muito cedo, como professor, secretário-geral, deputado, administrador, ministro e governador. Governou-se muito bem, sempre. No BP tinha um salário que ele próprio considerava demasiado elevado. Mas nunca o alterou. Já em plena crise, o BP comprou-lhe um novo carro bem caro. Que exemplo!
Na sua principesca função deveria acompanhar a economia e a actividade da Banca, mas não foi capaz ou distraiu-se. Errou nas previsões macroeconómicas e falhou na supervisão bancária. O BPN e o BPP faliram, enquanto o Millenium BCP andou por lá perto. Para evitar o descrédito internacional e defender os depositantes, os contribuintes portugueses vão ter que pagar mais de 5.000 milhões de euros. O principezinho deixou a factura para nós pagarmos e emigrou para um mandato de oito anos no BCE.
Terá pensado: “Quem vier depois de mim que feche a porta”. Que prémio!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Arte Namban

O Museu do Oriente organizou e está a apresentar uma importante exposição sob a temática da arte Namban, que intitulou Encomendas Namban. Os portugueses no Japão da Idade Moderna.
A exposição é constituída por quatro núcleos diferenciados, compostos por cerca de seis dezenas de peças significativas, que incluem armaria, mobiliário, têxteis e pintura, provenientes do próprio acervo do Museu do Oriente e de alguns empréstimos de museus e coleccionadores públicos e privados.
É sabido que os portugueses foram os primeiros europeus que chegaram ao Japão, provavelmente em 1543, tendo desenvolvido as suas relações com os japoneses durante cerca de um século, em torno das actividades do comércio e da religião, como a exposição documenta. É recomendável uma visita.
A exposição está patente ao público até Maio de 2011, no Museu do Oriente.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um bom debate

É natural que ao longo de consecutivas semanas, por vezes, o programa televisivo “Prós e Contras” da RTP tenha algumas dificuldades em seleccionar temas de interesse e, sobretudo, em assegurar a participação de especialistas e de pessoas de qualidade. Por isso, o interesse do programa tem oscilado muito nos últimos tempos.
O programa emitido ontem foi dedicado às “Exportações” e centrou-se muito na internacionalização da economia portuguesa, tendo constituido um bom exemplo do que de positivo pode fazer a televisão, pois o programa e os seus convidados informaram, esclareceram, mobilizaram e até contribuiram para aumentar um pouco a nossa auto-estima, frequentemente em baixo pela mediocridade de muitos conteúdos da mesmíssima RTP.
O painel de convidados era competente, sabia do que falava e não estava manietado pelas instruções objectivas ou subjectivas do governo, da oposição, dos directórios partidários ou das instâncias sindicais. A jornalista moderadora, que tantas vezes se excede em autoritarismos na condução do programa e que já nos exibiu lamentáveis fraquezas corporativas, esteve moderada como convém.
Assim, com toda a justiça, aqui deixo o meu aplauso a todos os que participaram no “Prós e Contras” de 14 de Fevereiro.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Em off-side, há tanto tempo.

Diz-se que o futebol é uma tribo e, na lusitana tribo do futebol, ele tornou-se o chefe tribal ou o cacique, não lhe faltando uma reverente corte de aios e de lacaios, todos bem sentados nas suas poltronas e, naturalmente, com as suas continhas de remunerações, deslocações, reuniões e refeições, sempre em dia.
É um cromo indispensável na minha colecção. Antes de atingir a proeminente posição que hoje ocupa na futebolia portuguesa, passou pela política, pelo dirigismo desportivo e pela vida empresarial, ou seja, jogou à defesa e ao ataque, no meio campo e na grande área. Porém, a sua verdadeira vocação não era dentro das quatro linhas, mas nos bastidores ou, talvez mesmo, no banco.
Tem gostado muito deste emprego e está lá, de pedra e cal, desde 1996, sem que ninguém lhe mostre cartões amarelos ou vermelhos. Joga como quer e sempre com um ar de satisfeito consigo mesmo.
Eu sei pouco de arbitragem, mas este homem está off-side, há tanto tempo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Empresas públicas

A última edição da revista Sábado inclui uma reportagem assinada por três jornalistas que se intitula «Como as empresas públicas engordaram nos últimos anos», na qual se salienta que, « mesmo em tempo de crise, cresceram os administradores, cresceram os salários e cresceram as despesas ».
A leitura desse trabalho jornalístico revela como aquele universo de 93 empresas, de diferente dimensão e natureza, está quase todo afogado em dívidas, para além de estar preocupantemente dominado por despesismos, desperdícios e vícios de ordem diversa.
As empresas públicas poderiam ser uma alavanca para potenciar o crescimento da economia, mas muitas delas acabam por ser um fardo para a comunidade.
A má gestão da maioria dessas empresas é uma evidência. Embora os problemas estejam diagnosticados desde há muito tempo, não tem havido coragem para enfrentar a realidade e agir. Algumas excepções que nos últimos anos se verificaram, apenas confirmam a regra. No entanto, a esses gestores inconsequentes e incapazes de inovar e de encontrar soluções, além de ganharem mais do que os ministros que os tutelam, não têm faltado as regalias, nem os prémios.
Os exemplos de despesismos apresentados na referida reportagem são para todos os gostos : na RTP há 66 carros de alta cilindrada atribuídos, enquanto a dívida das Estradas de Portugal cresceu 1.400% em dezoito meses. Mas, em vez de rebuscarmos exemplos, será preferível que o leitor leia a reportagem da revista Sábado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Audi A4, pois claro!

SANTARÉM, 10 FEV 2011 - No parque exclusivo do Conselho de Administração do Hospital Distrital de Santarém, EPE, vi e fotografei um Audi A4 TDI, com a matrícula 76-LG-92 e registo de Janeiro de 2011.
Novinho em folha, ali estavam estacionados 40 ou 50 mil euros de dinheiro público, para fruição de um aristocrata da gestão hospitalar ou de um pavão gerado na militância partidária.
Quando a dívida externa e o défice público são insustentáveis e há ameaças de intervenção externa, foram impostas restrições orçamentais e muitos sacrifícios para redução da despesa pública, que estão a implicar aumentos de impostos, cortes de salários e redução de benefícios sociais. É nesse quadro económica e socialmente recessivo que, já neste ano de 2011, aquele Hospital comprou o referido automóvel, como atesta a referida matrícula. É um mau exemplo de despesismo e de insensatez que me choca e para o qual não devia haver impunidade.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A língua como especialidade.

O cromo número dois da minha colecção declara-se especialista em língua portuguesa e, portanto, tem a língua como especialidade. Estava-lhe traçado um futuro como professora e talvez esperasse integrar o elenco de uma qualquer telenovela, quando descobriu uma vocação partidária adormecida. Então começou a subir, e subiu e subiu… até ser deputada.
A ambição era muita e sentiu que podia ir mais longe. Sintra foi o seu momento de glória, mas nem Guterres nem Sócrates lhe deram um lugar nos seus governos. Ela que tanto se esforçara! Ela que era a Madrinha! E o Ministério da Cultura que lhe ficaria tão bem!
A urbanização da Portela já era demasiado pequena para si e em 2004 conseguiu que lhe dessem um lugar em Bruxelas como eurodeputada.
O estatuto político, o centro da Europa, as missões parlamentares, o convívio social e as viagens em classe executiva deslumbraram-na. A sua imagem institucional passou a ser gerida pela LPM o que, obviamente, não é caro, nem é um sinal de vaidade.
É, sem dúvida, o percurso bem sucedido de um verdadeiro cromo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O fascínio da Economia

A CULTURGEST decidiu organizar uma série de quatro conferências sob o título genérico de “O Fascínio da Economia”, sob a responsabilidade do Doutor João Ferreira do Amaral, professor catedrático aposentado do ISEG.
A primeira conferência realizou-se hoje e o conferencista e o tema esgotaram o Pequeno Auditório da Culturgest, deixando ainda algumas dezenas de interessados a seguir a conferência através de televisores colocados nos átrios. Foi muito bom. Ninguém perdeu o seu tempo.
As próximas conferências realizam-se nos dias 15 e 22 de Fevereiro e 1 de Março, às 18.30 horas.

Reformas douradas

Diz o Jornal de Notícias de hoje que, nos dois primeiros meses de 2011, a CGA registou um "boom" de "reformas douradas". Só nestes dois meses, reformaram-se 120 pessoas com pensões acima dos 4 mil euros por mês e a CGA passou a suportar 69 novas reformas de mais de 4 mil euros e 51 de valor superior a 5 mil euros por mês.
A desigualdade na distribuição do rendimento é, provavelmente, o factor que mais afecta a coesão social no nosso país. Sendo Portugal o mais desigual dos países da União Europeia, era de prever que se fixassem limites máximos para as pensões de reforma pagas pela CGA, não só para diminuir a desigualdade, mas também para não enfraquecer a coesão social.
As “reformas douradas” podem ser legais e corresponder ao tempo de desconto e aos montantes descontados pelos beneficiários, mas são socialmente injustas, tal como em muitos casos foi injusta a carreira desses mesmos beneficiários que, além de terem o emprego garantido, tiveram admissões e promoções de favor, ausência de avaliações de desempenho e, sempre, bons salários e muitas mordomias.
Assim, o nosso progresso social não avança e a injustiça social agrava-se.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Gostou do Oriente e orientou-se.

Apresento-vos o primeiro cromo da minha colecção!
Aos 23 anos já era deputado e durante mais de 25 anos teve uma cadeirinha para ocupar em São Bento. Foi governante, professor e comentador. Foi tudo o que lhe apeteceu. Conheceu a árvore das patacas em Macau. Gostou do Oriente e orientou-se.
Aos 38 anos instalou-se em Bruxelas como Comissário Europeu. Sonhou alto de mais, mas o Barroso trocou-lhe as voltas e sacou-lhe o lugar. Hoje colecciona tachos, soma senhas de presença e muitas mordomias.
É preciso ser muito bom! A sua conta bancária cresce.
Não lhe perguntem o que ele pode fazer pelo país, mas perguntem-lhe o que é que ele já sacou e ainda quer sacar ao país.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O ofício de deputado

A relutância e até mesmo a hostilidade com que os socialistas ouviram um dos seus dirigentes defender a redução do número de deputados de 230 para 180, revela bem o estado a que isto chegou, o alastramento da cegueira política e os caminhos tortuosos por que nos conduzem.
Esta reacção mostra como o clientelismo se tornou num problema gravíssimo e transversal à sociedade portuguesa, de que nem o próprio Parlamento se livra.
Será que não entendem que temos deputados a mais e que precisamos de uma nova lei eleitoral que identifique e aproxime o eleito do eleitor?
Será que não percebem que estamos fartos de deputados “perpétuos”, cuja principal virtude é a fidelidade ao partido a qualquer preço?
Será que não vêem que, salvo uma ou outra excepção, nunca os deputados tinham tido um emprego tão bem remunerado nas suas vidas?
Será que sabem que a generalidade dos deputados nunca teve uma profissão ou um emprego, desconhecendo objectivamente que a sua função é servir e não servir-se?
Será que não vêem que estamos cada vez mais cansados desta farsa?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Revisitar Portugal

Fui visitado por um familiar que vive em Brasília. Veio a Portugal para ver os pais e o país, tendo desembarcado no aeroporto com muito mais saudades do que bagagem.
A viagem com mais de 7300 quilómetros é muito longa, mas apesar dessa aventura e do frio que nesta época nos apoquenta por cá, o reencontro com a terra lusitana e com as suas marcas identitárias foi certamente reconfortante.
Não é o tempo das feiras populares, nem das sardinhas assadas, nem das tardes sem fim, mas é o tempo de um glorioso mar azul e de areais desérticos, de vinhos e de sabores únicos, além de tantos monumentos que nos evocam um passado histórico de algumas misérias e de muitas grandezas.
“Vale a pena revisitar Portugal” foi, seguramente, o que o meu familiar pensou, quando entrou no avião da TAP que o levou de regresso a Brasília.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Basta!

Os acontecimentos que estão a ocorrer na Tunísia e no Egipto continuam a suscitar interpretações muito diversas quanto às suas causas, mas também muitas preocupações quanto à sua previsível evolução.
No entanto, há um denominador comum em ambas as situações, que é o longo consulado de Zine Ben Ali na Tunísia (desde 1987) e de Hosni Mubarak no Egipto (desde 1981). Como tem sido visto na televisão, logo que as multidões se libertam dos seus constrangimentos políticos, logo reclamam o afastamento daqueles líderes.
E aqui? Quantos dirigentes nomeados pelo Estado, que nem sequer foram eleitos, ocupam lugares de topo há mais de vinte anos, sem que o seu desempenho seja questionado?

Mudar de vida

Com grande frequência, somos alertados para os problemas financeiros que Portugal atravessa, nomeadamente em relação ao Estado, ao seu défice e à sua dívida, cujos principais indicadores nos são fornecidos pelo Eurostat.
O défice público português em 2009 em relação ao PIB foi de -9.3%, enquanto a média do EUR27 foi de -6.8%; piores do que Portugal foram os desempenhos orçamentais da Grécia, Irlanda, Reino Unido, Espanha e Letónia.
A dívida pública portuguesa em 2009 em relação ao PIB atingiu 76.8%, enquanto a média do EUR27 foi de 71.4%; piores do que Portugal são as dívidas públicas da Itália, Grécia, Bélgica, Hungria e França.
Estes números mostram que, embora não seja única no contexto europeu, a situação portuguesa é complexa. Por isso, alguns entendidos prevêem a necessidade de ajuda internacional, enquanto outros dizem exactamente o contrário.
O que é evidente é que, a nossa fraca taxa de crescimento económico, não suporta as taxas de juro que nos estão a ser cobradas e, qualquer dia, a receita pública não será suficiente para pagar amortizações e juros. Nestas condições, todos os dias nos continuamos a afundar.
Com ou sem ajuda internacional, só nos resta uma saída: mudar de vida.
Mas, para isso, são precisas boas práticas e bons exemplos mas, lamentavelmente, umas e outros são muito raros.