sexta-feira, 29 de novembro de 2024

O novo presidente do Conselho Europeu

António Costa iniciou hoje o seu mandato como presidente do Conselho Europeu, sucedendo ao belga Charles Michel, o que constitui um acontecimento relevante para a auto-estima dos portugueses. Já havia António Guterres a dirigir as Nações Unidas e agora há um outro português a dirigir politicamente a União Europeia, o que mostra como as elites nacionais estão preparadas para exercerem altos cargos internacionais.
António Costa tem actualmente 63 anos de idade e foi o Primeiro-Ministro de Portugal desde 2015 a 2024, tendo pedido a demissão do seu cargo na sequência de qualquer coisa ainda não esclarecida, mas que tem todo o ar de “emboscada” preparada por adversários políticos.
O desafio que vai enfrentar a partir de Bruxelas é complexo e ele terá que usar a inteligência, a sabedoria e a serenidade para se relacionar com os 27 estados-membros, ou as 27 pátrias europeias, ou ainda, as 27 vaidades nacionais, onde cohabitam línguas e culturas muito diversas, estados-gigantes e estados-pigmeus, esquerdas e direitas, nórdicos e latinos, eslavos e saxónicos. Nesse relacionamento, assumem grande importância a guerra da Ucrânia e as relações com a América de Trump e com a Rússia de Putin, mas também a coesão e a solidariedade internas, o alargamento, a problemática das minorias étnicas, as alterações climáticas, entre muitas outras questões que vão determinar o futuro próximo da Europa.
Na sua actividade, António Costa corre o risco de colidir com a Comissão Europeia e com a sua presidente Ursula von der Leyen que, no seu anterior mandato, interveio muitas vezes como se presidisse também ao Conselho Europeu, designadamente com o apoio que tem dado à crueldade do regime israelita. Além disso, esperam-se grandes mudanças na Europa e no mundo pelo que, usando uma figura meteorológica, podemos dizer que António Costa vai estar no “olho do furacão”.
Hoje, o jornal Público publicou uma extensa entrevista com o novo Presidente do Conselho Europeu, a quem certamente todos os portugueses desejam uma feliz comissão e um contributo positivo para a paz e para o progresso da União Europeia.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Mário Soares evocado no seu centenário

Na sua edição de hoje, o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias destaca a figura de Mário Soares e associa-lhe duas palavras que são mágicas: Liberdade e Cultura.
Mário Soares nasceu em Lisboa no dia 7 de dezembro de 1924 e, se fosse vivo, faria 100 anos de idade dentro de alguns dias, pelo que aquele semanário lhe dedicou parte da sua edição de hoje, acentuando as suas facetas de líder político e de homem de cultura.
Com as suas virtudes e os seus defeitos, Mário Soares foi um activo combatente contra a Ditadura, uma das mais importantes figuras da construção do nosso regime democrático e, muitas vezes, foi o rosto externo do novo Portugal de Abril.
Depois de muitos anos de perseguições e prisões, em Abril de 1974 encontrava-se exilado em Paris quando nasceu “o dia inicial, inteiro e limpo”. Regressou imediatamente a Portugal e, primeiro pelo seu exemplo de corajoso lutador pela liberdade e, depois, pela legitimidade do voto popular, tornou-se uma figura central da vida política portuguesa, integrando governos provisórios, presidindo ao primeiro Governo Constitucional (1976-1978) e sendo eleito Presidente da República (1986-1996).
Mário Soares despertou o entusiasmo de multidões e teve muitos apoiantes, mas também teve muitos críticos, mas os portugueses reconhecem e não esquecem que se conduziu com coragem e coerência em defesa da Liberdade e da Democracia.
Ao destacar a efeméride que se aproxima, que é o centenário natalício de Mário Soares, o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias toma a dianteira evocativa num país em que há demasiadas celebrações históricas, que nem sempre são justas e consensuais como se viu recentemente, pois as celebrações nacionais só fazem sentido se servirem para unir e não para dividir.
As comemorações que recordarão Mário Soares vão realizar-se a partir do dia 7 de Dezembro de 2024 e estendem-se até ao final de 2025, serão organizadas e dinamizadas por uma Comissão de Coordenação das Comemorações do Centenário, concretizando-se através de um programa muito diversificado, descentralizado e pedagógico. 

sábado, 23 de novembro de 2024

Obra de arte? Os deuses estão loucos!

Alguma imprensa internacional, designadamente o diário alemão Die Welt cuja sede se localiza em Berlim, noticiaram que na passada quarta-feira na Sotheby’s de Nova Iorque, foi leiloada uma instalação classificada como obra de arte, que consiste numa banana colada à parede com fita adesiva. Aquela instalação foi criada pelo artista italiano Maurizio Cattelan que lhe deu o título de Comediante e que foi arrematada por 6,2 milhões de dólares por Justin Sun, um empreendedor na área da criptomoeda nascido na China, que fez a sua licitação via telemóvel a partir de Hong Kong.
O título do filme “Os deuses devem estar loucos” bem pode aplicar-se a estas coisas a que alguns chamam obra de arte, a estes provocadores a que chamam artistas e a esta espécie de investidores em arte, pois tudo isto parece realmente uma coisa de loucos.
A licitação durou apenas sete minutos e a estimativa inicial, que previa que a venda encaixasse no intervalo compreendido entre um milhão e 1,5 milhões de dólares, veio a ser largamente ultrapassada.  Justin Sun bateu outros seis investidores e também adquiriu um certificado de autenticidade, que lhe dá “autoridade para colar uma banana a uma parede e chamá-la Comediante”, bem como as instruções de Maurizio Cattelan para instalar a obra correctamente, de modo a que o comprador possa, caso queira, substituir a peça de fruta sempre que esta apodreça. Inacreditável!
Maurizio Cattelan apresentou Comediante pela primeira vez em 2019 na Art Basel de Miami, uma feira de arte contemporânea onde a galeria Perrotin, que exibiu a peça, vendeu três edições da mesma por valores entre os 120 mil e os 150 mil dólares, cada uma. Agora a banana colada à parede com fita adesiva foi arrematada por 6,2 milhões de dólares.
Os deuses estão realmente loucos!

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O Brasil e a China em reforçada aliança

Devido às pioneiras relações históricas entre os portugueses e os chineses estabelecidas no século XVI, durante muitos anos vingou em Portugal uma narrativa que profetizava que, após o retorno de Macau à soberania chinesa que aconteceu em 1999, a nova Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) da República Popular da China seria uma ponte comercial e cultural entre os dois países.
Uma ponte tem dois sentidos, mas passados cerca de 25 anos, parece que Portugal vai desaproveitando essa ponte e que, inversamente, tem sido a China que a tem usado para chegar mais rapidamente a Portugal e aos países de língua oficial portuguesa, não só em África, mas também no Brasil. A China tem relações privilegiadas com Moçambique desde os tempos coloniais e vem intensificando a sua estratégia de penetração nos outros países africanos de língua oficial portuguesa, mas a sua aposta no Brasil parece estar cada vez mais no centro da sua política internacional.
O jornal hojemacau que se publica na cidade de Macau, apresenta-nos na sua última edição uma fotografia dos presidentes do Brasil e da China, que além de estarem juntos nos BRICS, se encontraram na reunião do G20 realizada no Rio de Janeiro. Essa fotografia, como refere o título do jornal, é uma eloquente mensagem. Após a reunião do G20, o presidente Lula da Silva recebeu Xi Jinping na capital brasileira com honras de Estado e, enquanto ambos reiteraram a necessidade de acabar com a guerra na Ucrânia, de reconhecer um estado palestiniano e de acabar com as atrocidades israelitas no Médio Oriente, trataram de intensificar as suas relações económicas, aprofundando a cooperação em muitos outros domínios.
O Brasil é grande e Portugal é pequeno, mas o facto é que parece que andamos muito distraidos…

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O adeus do grande tenista Rafael Nadal

Rafael Nadal é, provavelmente, o maior atleta espanhol de todos os tempos e é considerado um dos maiores tenistas mundiais, juntamente com Rod Laver, Pete Sampras, Roger Federer e Novak Djokovic, sendo consideradas históricas as rivalidades que manteve durante muitos anos com o suiço Federer e com o sérvio Djokovic.
Na passada terça-feira jogou em Málaga a sua última partida de ténis profissional, no âmbito da Taça Davis, mas os seus 38 anos de idade não lhe perdoaram, pois perdeu com o holandês Botic van de Zandschulp e, como estava previsto, anunciou a sua retirada. Foi um momento de tristeza para Nadal, para os dez mil espectadores que assistiram à partida e para toda a Espanha. Os jornais espanhóis, tanto desportivos como generalistas, dedicaram-lhe as suas primeiras páginas e alguns deles escolheram para manchete a frase “Gracias Rafa”, mas o Mundo Deportivo escolheu a palavra “Eterno” para o classificar.
Durante cerca de duas dezenas de anos, o tenista Rafa Nadal foi um motivo de orgulho para os espanhóis, tendo conquistado 103 títulos ATP e sido o primeiro tenista mundial que venceu 22 Grand Slam, dos quais catorze aconteceram em Roland-Garros. Porém, também ganhou na Austrália (2 vezes), em Wimbledon (2 vezes) e no Open dos Estados Unidos (4 vezes) e, além disso, como se ainda fosse pouco, Nadal conquistou duas medalhas de ouro olímpicas, a primeira em singulares em Pequim (2008) e a segunda em pares no Rio de Janeiro (2016).
Rafael Nadal é, de facto (e não provavelmente), o maior atleta espanhol de todos os tempos.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

A COP 29, a Cimeira do G20 e as guerras

Na presente semana realizaram-se ou estão a acontecer duas importantes cimeiras mundiais: a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29) que está a decorrer em Baku, no Azerbeijão, e a Cimeira do Grupo dos Vinte (G20), que decorre no Rio de Janeiro.
Significa que, para além do seu contacto permanente no quadro das Nações Unidas e dos seus canais diplomáticos bilaterais, os países e os líderes mais poderosos do nosso planeta vão estar em contacto próximo para encontrar soluções para os problemas da humanidade e, de entre eles, o gravíssimo problema das alterações climáticas, que a edição do jornal londrino The Guardian ilustrava na sua edição de ontem com uma expressiva fotomontagem, em que tendo por fundo a silhueta da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, se reconhecem seis cabeças prestes a afundar-se - Joe Biden, Xi Jinping, Ursula von der Leyen, Narendra Modi, Vladimir Putin e Shigeru Ishiba.
A COP 29 tem como objectivo assegurar o financiamento necessário para que os países em desenvolvimento enfrentem os impactos climáticos e a transição energética, com redução da sua dependência dos combustíveis fósseis e a utilização mais intensa das energias renováveis; a Cimeira do G20 tem como principais pontos de discussão o combate às injustiças sociais, à fome e à pobreza, bem como as questões da transição energética e do desenvolvimento sustentável.
Porém, como é evidente, serão as questões da guerra na Ucrânia e o seu desenvolvimento mais recente, mas também as outras guerras que se vão travando, que irão ocupar todas aquelas delegações, tanto em Baku como no Rio de Janeiro… e bom seria que encontrassem caminhos para a paz e para o progresso a que aspiram os seres humanos de todas as longitudes.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Angola celebrou 49 anos de independência

No dia 11 de Novembro de 2024 a República Popular de Angola celebrou o 49º aniversário da sua independência e o Jornal de Angola deu o devido destaque a essa efeméride, numa altura em que o país vive um período de grande estabilidade política, dinamismo económico e afirmação internacional.
A luta armada pela independência de Angola teve início em 1961 com o assalto às cadeias de Luanda (4 de Fevereiro) e o ataque às fazendas do norte, onde foram mortas centenas de pessoas (15 de Março). Depois de alguma hesitação, no dia 13 de Abril, surgiu a famosa declaração de Salazar: 
“Para Angola, rapidamente e em força”. 
Começava a guerra entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças nacionalistas da UPA, do MPLA e, mais tarde, da UNITA, que alastrou do Norte para o Leste do território angolano e se prolongou até 1974. Não há unanimidade quanto à avaliação do estado da guerra em Angola em 1974, pois há quem defenda que Portugal controlava militarmente a situação e que os movimentos de libertação estavam a perder em todas as frentes, numa altura em que Angola vivia um tempo de progresso e prosperidade, mas também há quem sustente que o isolamento internacional de Portugal estava a levá-lo à derrota militar. 
Com o 25 de Abril, iniciou-se um complexo processo de descolonização, fortemente condicionado pela existência de três movimentos de libertação com ideários e apoios internacionais diferentes. A independència veio a ser proclamada pela voz de Agostinho Neto ao princípio da noite de 11 de Novembro de 1975. Foi há 49 anos. Seguiram-se tempos muito difíceis, mas o povo angolano ultrapassou todas as adversidades e tem vindo a construir um grande país que os portugueses admiram.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Os novos complexos militares-industriais

A edição de hoje do The Wall Street Journal destaca em primeira página e com uma fotografia a 4 colunas, o novo caça furtivo chunês Shenyang J-35A, que foi apresentado pela Força Aérea do Exército de Libertação Popular da China (PLAAF) no Air Show China 2024 realizado em Zhuhai.
Este caça de última geração representa um importante passo na modernização militar chinesa e é considerado um avanço no programa de armamento que visa igualar as capacidades dos caças furtivos dos Estados Unidos, nomeadamente o F-22 e o F-35, isto é, pretende “desafiar a influência americana naquela região asiática e reforçar as suas pretensões sobre Taiwan”. O caça J-35A é o resultado de uma década de pesquisa e desenvolvimento centrado na Shenyang Aircraft Corporation e junta-se ao caça J-20, que entrou ao serviço em 2017.
O novo caça foi apresentado na exibição aérea de Zhuhai, na qual também se exibiu o caça russo Sukhoi Su-57 o que, segundo os especialistas, “aponta para uma crescente cooperação militar entre a China e a Rússia”.
O mundo está a ficar muito perigoso. Antigamente “contavam-se espingardas”, mas nos tempos mais recentes contam-se aviões, mísseis e drones, enquanto se incentivam as indústrias do armamento, como se uma confrontação estivesse próxima. Os chamados complexos militares-industriais estão a ressuscitar e o investimento na defesa parece estar a aumentar um pouco por todo o lado.
Luís de Camões, no Canto IV de Os Lusíadas, pela voz do velho Restelo perguntava a Vasco da Gama quando em 1497 partia para a Índia:
                    A que novos desastres determinas
                    De levar estes Reinos e esta gente?
Será que os líderes mundiais pensam nos desastres a que podem conduzir os seus Reinos e as suas gentes?

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Contestação e violência em Moçambique

As eleições gerais moçambicanas foram realizadas no passado dia 9 de Outubro, com o propósito de eleger o novo Presidente da República, os 250 deputados da Assembleia da República e os membros das dez assembleias provinciais. Alguns dias depois, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou que Daniel Chapo, o candidato do partido Frelimo que está no poder, tinha vencido as eleições com 71% dos votos e que o partido conquistara 195 dos 250 assentos parlamentares. A CNE informou, também, que o Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) conquistara 31 assentos e que a Renamo conquistara 20 assentos parlamentares.
O Podemos contestou estes resultados com base na sua própria contagem de votos e reivindicou que o seu candidato Venâncio Mondlane vencera a corrida presidencial com 53% dos votos e que o partido conquistara 138 assentos parlamentares, ameaçando lançar uma greve e uma contestação nacional se a Frelimo fosse declarada vencedora. De facto, a oposição conseguiu mobilizar a população um pouco por todo o território nacional num movimento de contestação dos resultados eleitorais e, no dia 28 de Outubro, Venâncio Mondlane apelou à formação de um governo de unidade nacional em que participassem todos os partidos da oposição, para formar uma frente unida contra a Frelimo. Entretanto, aconteceram assassinatos, há violência nas ruas da capital, distúrbios em várias cidades, estão contabilizadas mais de três dezenas de mortos e muitos reclamam a “reposição da verdade eleitoral”. Há dois dias, o jornal O País informava que “manifestantes assaltam o centro de Maputo”, enquanto o semanário Savana, que é crítico da Frelimo, escolheu como título “Guerrilha urbana”, parecendo mais uma sugestão ou um apelo aos manifestantes do que uma notícia.
A realidade é que a situação é grave e que aqui esperamos que a razão e a pacificação cheguem depressa a Moçambique.

domingo, 10 de novembro de 2024

Vendée Globe: volta ao mundo solitária

Partem hoje de Les Sables-d’Olonne, no departamento francês de Vendée, situado na orla do golfo da Biscaia, os concorrentes à 10ª edição da Vendée Globe 2024. Trata-se de uma corrida à volta do mundo para navegadores solitários, em que contornarão à vela e sem escala nem assistência exterior, o cabo da Boa Esperança, o cabo Leeuwin e o cabo Horn, que são considerados os três grandes cabos do nosso planeta.
Serão quarenta velejadores - 34 homens e 6 mulheres - sobretudo franceses, mas também suiços e britânicos, havendo ainda um velejador de outras nacionalidades, nomeadamente americana, japonesa, chinesa, belga, alemã, italiana e holandesa. As embarcações monocascos de 18 metros (60 pés) são aprovadas pela regulamentação da International Monohull Open Class Association (IMOCA) e percorrerão cerca de 45 mil quilómetros à volta do mundo, numa prova que para além da competição desportiva, é um inacreditável desafio e uma formidável aventura humana. Na 8ª edição da Vendée Globe, realizada em 2016/2017, o vencedor foi o velejador francês Arnel Le Cléac'h que concluiu a prova em 74 dias, 3 horas e 36 minutos, isto é, em menos de 80 dias. É o record que persiste e que, naturalmente, todos querem bater.
Ontem, alguns jornais franceses como o Ouest France que se publica em Rennes, dedicaram a sua primeira página à Vendée Globe e ao entusiasmo que rodeava os preparativos da partida.
Que os ventos sejam favoráveis aos quarenta navegadores que, além de sabedoria e experiência náuticas, precisam de coragem física e mental para enfrentar este desafio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Donald vai ser o 47º presidente dos EUA

Donald Trump ganhou as eleições presidenciais americanas e os jornais de todo o mundo publicam nas suas edições de hoje a fotografia do homem que vai regressar à Casa Branca como o 47º presidente dos Estados Unidos, que passa a ter maioria no Congresso, no Senado e no Supremo Tribunal e que, portanto, se torna o homem mais poderoso, ou perigoso, do planeta. Tanto nos Estados Unidos como no estrangeiro, ninguém questiona a vitória de Donald Trump. O jornal The New York Times diz que “Trump storms come back” e o jornal espanhol El País escreve que ”Trump vuelve com todo el poder”, embora alguma imprensa se mostre preocupada, como por exemplo o jornal elPeriódico de Barcelona que escreve que “El huracán Trump inquieta a Europa” e o jornal Público pergunte “Como irá o mundo sobreviver a Trump?”.
Porém, o mais expressivo dos jornais hoje publicados no mundo, talvez seja o taz, a abreviatura do die tageszeitung, um jornal diário que se publica em Berlim. Em vez de publicar a foto do triunfante Donald, com ou sem a reaparecida Melania e o filho Barron de 2,06 metros de altura, o jornal escolheu uma fotomontagem que nos mostra muitas núvens sobre a Casa Branca, significando que pairam núvens sobre o futuro dos americanos e sobre todos nós. Diz-se que “uma imagem vale mais que mil palavras” e, neste caso, a capa do taz é um bom exemplo de jornalismo.
Depois de tudo o que vimos, ouvimos e lemos nos últimos meses sobre a política americana e sobre as personalidades dos candidatos, parece que mais do que a vitória de Donald Trump e dos Republicanos, o que aconteceu foi a derrota de Kamala Harris-Joe Biden e dos Democratas.
Agora há que dar tempo ao tempo para sabermos o que vai acontecer, sobretudo no Médio Oriente e na Ucrânia, mas também quanto ao real significado da prometida promessa do Donald - “Make America Great Again” - embora haja núvens no horizonte e, sobretudo, sobre a Casa Branca.
Lá como cá, nem sempre ganham aqueles que gostaríamos que ganhassem.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Eleições americanas: incerteza até ao fim

A menos de dois dias das eleições presidenciais americanas, muitos jornais apresentam nas suas capas as fotografias dos dois candidatos, enquanto as sondagens indicam que estão empatados, o que significa uma grande incerteza para os Estados Unidos e para o mundo. A disputa entre Donald Trump e Kamala Harris tem sido centrada nas suas características pessoais e nas questões do aborto, da imigração, da economia, dos impostos, da inflação, do combate ao crime e das alterações climáticas. Esses são os temas que mais interessam os 244 milhões de eleitores anericanos, dos quais 75 milhões já votaram antecipadamente. 
Porém, para aqueles que no mundo acompanham as eleições americanas, as crises no Médio Oriente e na Ucrânia são, certamente, os temas mais importantes e sobre eles, ambos os candidatos têm sido muito cautelosos, tanto em relação ao eleitorado judeu, como em relação ao eleitorado árabe e palestiniano.
Na Europa, que tem sido politicamente irrelevante nestes conflitos e que tem lidado muito mal com eles, a personalidade truculenta, grosseira e inculta de Donald Trump é uma coisa que preocupa e assusta, pelo que Kamala Harris tem a preferência dos europeus, embora muitos critiquem o seu alinhamento umbilical com Israel e com a política prosseguida por Joe Biden, que continua a fornecer armamento ao regime brutal de Netanyahu e, implicitamente, a apoiar o gernocídio em Gaza e a destruição na Cisjordânia e no Líbano. 
Como escreve hoje o novaiorquino Daily News é uma fateful choice, mas se eu fosse americano, certamente que nunca daria o meu voto ao Donald, nem às suas boçalidades.

sábado, 2 de novembro de 2024

Cultura e tradição lusitana na Califórnia

houve um desfile, uma tourada, apresentação de folclore, várias missas católicas, procissões e uma ampla oportunidade de partilhar a comida, a língua e a cultura da comunidade portuguesa, que é “muito poderosa” e que “vive escondida nas terras agrícolas da Califórnia” e, em especial, no seu Vale Central. Curiosamente, a reportagem é ilustrada com uma fotografia de uma tourada em que intervém o matador mexicano Israel Tellez, embora o texto também refira a actuação de um grupo de forcados.
Na actual conjuntura política americana, os votos da comunidade portuguesa da Califórnia valem muito – são um pouco mais de 350 mil portugueses e lusodescendentes, de acordo com o censo dos Estados Unidos de 2020. Por isso, os deputados John Duarte, David Valadao e Jim Costa não faltam às festas portuguesas e recordam ao povo as suas raízes familiares lusitanas, sobretudo açorianas,

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A inquietação global e “le défi chinois”

O jornal Global Times é um tablóide publicado sob a orientação do Partido Comunista Chinês e que, no Ocidente, é considerado como um instrumento da propaganda chinesa. Na sua última edição, o jornal destaca a fotografia de uma força naval do Exército de Libertação Popular da China (Chinese People’s Liberation Army ou PLA), em que se destacam os porta-aviões Liaoning e Shandong.
Segundo refere o jornal, estas unidades encontraram-se em Outubro pela primeira vez num exercício de treino conjunto realizado no Mar Amarelo, no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional, salientando que “a capacidade de combate de um grupo de dois porta-aviões é maior do que a simples soma de dois porta-aviões”. A fotografia publicada mostra que a força naval incluia pelo menos 11 unidades navais de escolta, designadamente contratorpedeiros, fragatas e navios de reabastecimento, para além de caças multifuncionais Shenyang J-15 embarcados nos porta-aviões, que a fotografia mostra a voarem em formação sobre a força naval.
Na actual conjuntura mundial, em que a Ocidente e a Oriente se acumulam fricções e declarações que inquietam o mundo, com os Estados Unidos a viver sob uma grande incógnita eleitoral, com a Europa desunida e em contínua desagregação e com os BRICS a levantarem a sua voz a reclamar uma nova ordem mundial, esta “reportagem encomendada” do Global Times pretende mostrar ao mundo o crescente poderio militar da República Popular da China.
Em 1967 o jornalista francês Jean-Jacques Servan-Schreiber publicou o livro “Le défi américan”, que foi um best-seller desse tempo com milhões de exemplares vendidos. Se fosse vivo, 57 anos depois, talvez Servan-Schreiber escrevesse agora o ”Le défi chinois”…