quinta-feira, 29 de setembro de 2016

R.I.P. D. Arquimínio Rodrigues da Costa

Faleceu no dia 12 de Setembro em São Mateus, a freguesia da ilha do Pico onde nasceu em 1924, aquele que foi o último bispo português de Macau. Chamava-se Arquimínio Rodrigues da Costa e tinha 92 anos de idade. Na sua última edição, o semanário O Clarim que se publica em português e que é propriedade da Diocese de Macau, homenageia o seu antigo Bispo, classificando-o como “diplomata, inteligente e amigo”.
Ainda adolescente foi  para Macau para frequentar o seminário de S. José, onde foi ordenado sacerdote e onde veio a ser professor. Depois de um período de férias nos Açores, de onde estivera ausente entre 1938 e 1956, seguiu para Roma onde frequentou o curso de direito canónico na Pontifícia Universidade Gregoriana, aí concluindo a sua licenciatura em 1959.
De regresso a Macau retomou as suas funções docentes e em 1962 tornou-se reitor do seminário de S. José. Segundo uma nota da diocese de Macau era um “professor competentíssimo, um sacerdote cheio de humildade e um poliglota, com destaque para o mandarim e o cantonense, em que fala e prega fluentemente”. Devido à ausência do respectivo titular, em 1963 foi nomeado governador do Bispado de Macau, mas em 1976 foi elevado à dignidade episcopal pelo Papa Paulo VI e foi nomeado definitivamente Bispo de Macau.
Dom Arquimínio Rodrigues da Costa serviu no território de Macau duas comunidades culturalmente heterogéneas durante cerca de cinquenta anos e teve o apreço e o reconhecimento dos macaenses e das autoridades portuguesas. Em 1988 pediu a sua resignação e pouco tempo depois fixou residência na sua ilha do Pico, ocupando-se nas tarefas de recuperação do seu património familiar em São Mateus e na cooperação com a igreja local.
Era um dos cincos Bispos naturais da ilha do Pico que, ao longo do século XX, serviram a igreja católica em Goa, Macau e Timor. Dezassete dias depois do seu falecimento aqui fica registado um louvor à sua acção missionária.

Tavares e o seu optimismo para o futuro

A edição semanal do jornal económico francês La Tribune publica hoje uma grande entrevista com Carlos Tavares, o português de 58 anos de idade que desde 2014 dirige o grupo francês PSA, cujas marcas de excelência são a Peugeot e a Citroën. A entrevista é destacada com uma fotografia que ocupa a totalidade da capa do jornal.
O conteúdo da entrevista é, sobretudo, a revelação de um pensamento ordenado sobre o futuro da indústria automóvel e de um gestor optimista. Tavares acredita que as necessidades de mobilidade das pessoas vai aumentar e que a procura do automóvel também vai continuar a aumentar, mas que terá de continuar a assentar na segurança e no conforto. Por isso, está confiante. De resto, os seus dois anos à frente do grupo PSA têm sido de grande sucesso em todos os domínios, uma vez que o grupo passou de um estado de quase falência para uma situação de grande dinamismo, assente numa nova cultura de empresa baseada nos conceitos de frugalidade e na agilidade, de que tem resultado um melhor ambiente empresarial, um diálogo frutuoso com os sindicatos e uma substancial melhoria dos resultados comerciais. Segundo Tavares, aproximam-se novos desafios, incluindo a instalação do grupo no grande mercado do futuro que é a Índia, mas o grupo PSA, tal como a maioria dos construtores automóveis, acumularam muitos anos de experiência e de sabedoria que, por exemplo a Apple e a Google não têm, o que constituiu um factor de segurança nos seus investimentos e actividades.
O grupo PSA está instalado em Portugal desde Fevereiro de 1964 através do Centro de Produção de Mangualde da PSA (CPMG), que é a maior empresa do distrito de Viseu e que ocupa o 9º lugar entre as maiores exportadoras do país, uma vez que cerca de 91% da sua produção é exportada. No ano passado, os seus 730 efectivos produziram 46.584 veículos de dois modelos: o Citroën Berlingo e o Peugeot Partner. Bem precisamos desta e de muitas outras PSA.
Boa sorte Carlos Tavares!

terça-feira, 27 de setembro de 2016

A paz na Colômbia como exemplo a seguir

Numa cerimónia pública realizada ontem na cidade colombiana de Cartagena, Juan Manuel Santos o Presidente da República da Colômbia e Rodrigo Londoño Jiménez (Timochenko) o chefe máximo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), assinaram um acordo de paz de 297 páginas que põe um ponto final a 52 anos de uma guerra civil, que causou mais de 260 mil mortos e seis milhões de desalojados.
Era o mais longo conflito armado da América Latina. Um minuto de silêncio, com o público de pé, antecedeu o acto simbólico, numa cerimónia que contou com a presença de Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, do rei emérito de Espanha João Carlos, de John Kerry o secretário de Estado dos Estados Unidos e de 15 chefes de Estado latino-americanos, entre os quais Raúl Castro.
Os emotivos discursos pronunciados foram muito ovacionados: Rodrigo Londoño disse que "em nome das FARC, peço perdão a todas as vítimas do conflito", enquanto Juan Manuel Santos afirmou que “esta é a libertação que dá o perdão. O perdão que não só liberta o perdoado mas também – e acima de tudo – o que perdoa”. O acordo assinado em Cartagena abre muito boas perspectivas para o futuro dos colombianos, mas também para todos os que procuram a paz noutras partes do mundo. Todos os jornais colombianos publicaram nas suas primeiras páginas a histórica fotografia da assinatura do acordo que acabou com uma tão longa guerra que o mundo aplaudiu, naturalmente a pensar num desfecho semelhante para a martirizada Síria. Como afirmou o Presidente Juan Manuel Santos “hay una guerra menos en el mundo, y es la de Colombia”.
Que o exemplo colombiano frutifique.

domingo, 25 de setembro de 2016

Doñana: um parque único aqui tão perto

A excelente fotografia escolhida pelo Diario de Sevilla para ilustrar a sua edição de hoje fala por si só, pois mostra a boa saúde do Espacio Natural de Doñana que em 1994 foi declarado pela UNESCO como Património da Humanidade. Situado na Andaluzia e ocupando a margem direita do estuário do rio Guadalquivir, o Parque Nacional de Doñana é a maior reserva biológica espanhola e estende-se pelas províncias de Huelva, Sevilha e Cádis numa extensão de cerca de 50 mil hectares. É uma enorme área protegida e é notável pela grande variedade e diversidade da fauna e da flora, mas também pelos seus acidentes naturais, como por exemplo as lagoas, as marismas e as dunas. Nele habitam várias espécies de aves em perigo de extinção e uma grande população de garças mediterrânicas, além de nele se procurarem abrigo durante o inverno mais de meio milhão de aves aquáticas, em busca de temperaturas mais amenas.
O parque está incluido na Lista Verde da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o que significa que está de “boa saúde”, apesar do Verão excepcionalmente quente deste ano o ter ameaçado e ter gerado receios de poder ser considerado “em perigo”. A reportagem que o Diário de Sevilla hoje dedicou a Doñana merece aplauso, pois mostra como a imprensa não tem necessariamente de abusar dos temas sensacionalistas e da futebolice, como acontece frequentemente em Portugal.

Bosch e a “exposição europeia do ano”

Tem estado exposta em Madrid uma mostra com o título El Bosco. A Exposição do V Centenário, que foi organizada pelo Museu do Prado e foi dedicada à obra do pintor holandês Hieronymus Bosch (1450-1516). A exposição foi inaugurada no dia 31 de Maio com pompa e circunstância e estava previsto que terminasse no dia 11 de Setembro, mas a enorme afluência de público obrigou ao seu prolongamento por mais duas semanas.
A mostra tornou-se numa verdadeira “exposição europeia do ano”, tendo registado mais de 600 mil visitantes. Nunca uma exposição temporária tivera tantos visitantes no Museu do Prado. Segundo os relatos da imprensa, designadamente na edição de hoje do Diário de Notícias, os horários da visita foram substancialmente dilatados e houve filas diárias contínuas que obrigaram a horas de espera.
Um pouco de todo o mundo vieram excursões propositadamente para ver as 21 obras de Bosch que o Museu do Prado reuniu. Entre os 21 quadros apresentados na mostra, provenientes de nove países europeus e de cinco cidades americanas, encontrava-se o tríptico Tentações de Santo Antão, que foi um dos quadros mais apreciados pelo público e que pertence ao acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Esta obra regressará em breve ao seu lugar na exposição permanente nas Janelas Verdes, onde pode ser apreciado com o tempo e a contemplação que merece e que uma exposição temporária como a de Madrid não permite.
Portanto, atrevo-me a recomendar: se não viu, vá ver; se já viu, vá rever!

sábado, 24 de setembro de 2016

Um navio é sempre belo, mas um veleiro...

 
O diário Levante que se publica na cidade espanhola de Valência destaca na sua edição de hoje a visita ao seu porto do navio-escola Amerigo Vespucci, que está a efectuar a sua 80ª viagem de instrução de cadetes. O emblemático navio, que está a celebrar 85 anos de vida, largou do porto de Livorno e navegou pelo Atlântico e pelo mar do Norte. Agora esta “embaixada italiana” regressa a casa e, neste fim de semana no porto de Valência, abre as suas portas aos valencianos que, segundo diz o jornal, irão “al abordaje del buque escuela de la Marina italiana”.
O Amerigo Vespucci é, provavelmente, um dos mais belos veleiros do mundo e, habitualmente, participa nos grandes desfiles navais organizados pela Sail Training Association. O navio possui três mastros, mede cerca de cem metros de comprimento, desloca 4.700 toneladas e tem uma superfície vélica de 2.400 metros quadrados distribuida por 24 velas.
A cidade de Valência e o seu principal periódico não deixaram de assinalar a presença no seu porto do Amerigo Vespucci, certamente porque a identidade e a cultura valencianas são marítimas e mediterrânicas. Em Lisboa, porém, não seria assim. Apesar de muito ter  mudado nos últimos anos, a cidade e os seus jornalistas continuam de costas voltadas para o Tejo, para o mar e para as coisas do mar. No país que tantas vezes se reclama de país de marinheiros e que possui o navio-escola Sagres, que também é reconhecido como um dos mais belos veleiros do mundo, o interesse da imprensa pelo nosso património marítimo é mínimo.
Fernando Pessoa escreveu em 1915 na Ode Marítima que “um navio será sempre belo, só porque é um navio”, quando ainda não havia a  Sagres nem o  Amerigo Vespucci. É pena que poucos “gatekeepers” e poucos jornalistas portugueses tenham a opinião de Álvaro de Campos.

Gibraltar está sob a ameaça do Brexit

O território britânico de Gibraltar fica situado na orla oriental da baía de Algeciras, no extremo sul da península Ibérica. Foi tomado no dia 4 de Agosto de 1704 por uma esquadra anglo-holandesa, durante a Guerra da Sucessão espanhola e foi cedida definitivamente pelo Tratado de Utrecht de 1713, que confirmou à Inglaterra a “plena e inteira propriedade da cidade e castelo de Gibraltar, com o seu porto e fortalezas que lhe correspondem, para que a goze com inteiro direito e para sempre”. Hoje o Peñón, como lhe chamam os espanhóis, ocupa uma área de 6,8 km2 e tem uma população de cerca de 30 mil pessoas.
A Espanha sempre reivindicou a sua soberania sobre o rochedo de Gibraltar, mas a população gibraltina também a recusou sempre.
Existe uma íntima relação económica entre Gibraltar e as regiões vizinhas, porque Gibraltar emprega muitos milhares de espanhóis e importa muitos bens e serviços de Espanha, sobretudo produtos alimentares. Com o anunciado Brexit as relações entre o Reino Unido e a União Europeia vão mudar por completo e, naturalmente, também as relações entre Gibraltar e a Espanha. A vida em Gibraltar depende demasiado da sua vizinhança espanhola e os gibraltinos não apoiam o Brexit. Sabendo disso, as autoridades espanholas estão a ver uma oportunidade única para tratar o contencioso de Gibraltar de uma maneira que consideram justa e propõem uma solução que passa por uma cosoberania, pela dupla nacionalidade dos gibraltinos e por um estatuto de autonomia política que lhes permitiria manter um regime de governo praticamente igual ao seu actual auto-governo. Londres desconfia e afirma não estar disposta a perder a sua soberania sobre o Peñón, nem a fazer nenhum acordo de que os gibraltinos não sejam parte. Hoje, o diário ABC trata do assunto e já pinta as águas gibraltinas com as cores espanholas, mas certamente que o caso vai continuar sem solução por muito tempo.
 

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O sucesso da indústria militar francesa

Hoje, em Nova Delhi, o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, assina um contrato de venda de 36 aviões Rafale do fabricante francês Dassault Aviation, com um valor estimado de 7,8 mil milhões euros, os quais serão construídos em França e entregues à Índia a partir de 2019. O jornal Sud Ouest dá um enorme destaque a esta notícia, pela sua importância económica para a região da Aquitânia e em especial para Mont-de-Marsans, a principal base das actividades da Dassault Aviation. Além disso, depois das encomendas do Egipto e do Qatar, a Índia torna-se o terceiro cliente internacional do Rafale, o que perspectiva um grande sucesso comercial para a indústria francesa e para o futuro da região de Bordéus.
O negócio da venda de aviões à Índia, junta-se à venda de fragatas para o Catar, de submarinos para a Austrália, de helicópteros de combate para a Polónia e o Kuwait e de satélites de observação militar para o Egipto e para a Arábia Saudita, o que faz da França um dos maiores actores no mercado mundial de armamento. Segundo foi divulgado, nunca a França teve uma tão significativa actividade exportadora no sector do armamento, o que também levanta o problema das contrapartidas, isto é, há muitos países que não querem comprar apenas o material militar, mas que exigem a formação de parcerias e a transferência de tecnologia. Essa é uma das grandes dificuldades do negócio, não só porque os construtores pretendem proteger as suas inovações nesta área que é muito competitiva, mas também porque a especialização do emprego neste sector não o torna facilmente transferível para outro país. Actualmente a indústria francesa do armamento emprega directa ou indirectamente cerca de 165 mil pessoas, com uma elevada percentagem de profissionais altamente qualificados, mas prevê-se que serão criadas algumas centenas de postos de trabalho nos próximos tempos.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Junta-te aos bons e serás como eles...

Os dois principais jornais de referência portugueses escolheram hoje a mesma fotografia para ilustrar a sua primeira página e, por isso, merecem o meu aplauso. Estamos fartos de ver as primeiras páginas dos nossos jornais ocupadas com fotografias de dirigentes incompetentes, de políticos de qualidade medíocre e de treinadores de futebol que são autênticos palermas, mas também pelas historietas de vulgares e irrelevantes figuras da nossa vida social, pelo que esta decisão editorial merece ser saudada.
A eloquente fotografia foi tirada ontem em Nova Iorque por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas e a sua figura central é o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ladeado pelo ex-Presidente Jorge Sampaio e pelo ex-Primeiro-Ministro e candidato a Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres. São três grandes figuras da nossa Democracia, que nem sequer são oriundos da mesma família política, mas que se impuseram ao respeito de todos os Portugueses, o que é cada vez mais raro no nosso panorama político, em que os bons princípios democráticos e a procura do bem comum são ultrapassados pela ganância financeira e pela embriaguez pelo dinheiro, como se viu ultimamente com Barroso e com Portas. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa soube escolher as suas companhias, o que nem sempre aconteceu com o seu antecessor que acompanhava com Limas e com Loureiros. Essa escolha prestigia-o como Presidente de todos os Portugueses.
Como diz o povo, junta-te aos bons e serás como eles...

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Um enorme disparate americano na Síria

 
Depois de dez meses de negociações, os americanos e os russos assinaram um acordo para um cessar-fogo na Síria a partir da noite da passada segunda-feira (dia 12 de Setembro), que permitisse o imediato acesso humanitário às zonas da cidade de Aleppo cercadas pelas forças armadas da Síria e o fim dos bombardeamentos aéreos.
Tudo parecia correr bem, apesar de terem sido anunciadas muitas violações aos acordos assinados e de ter havido muitas movimentações tácticas de grupos armados a aproveitar a trégua. Como é normal, houve acusações dos russos e houve acusações dos americanos. Até aí era tudo mais ou menos compreensível...
Porém, no passado sábado (dia 17 de Setembro) a aviação americana, ou da chamada coligação internacional, realizou quatro ataques aéreos contra as tropas do governo sírio em Jebel Tharda, perto do aeroporto de Deir al-Zor, daí resultando a morte de 62 soldados e mais de 180 feridos, ao mesmo tempo que essa acção abriu caminho para uma grande ofensiva do Daesh contra as forças do governo de Bashar al-Assad. O Pentágono emitiu um comunicado em que reconhece a sua responsabilidade no ataque, afirmando que foi um erro e que as forças da coligação internacional não tiveram a intenção de alvejar militares ou instalações sírias. Entretanto, os falcões do Reino Unido e da Dinamarca já confirmaram a sua participação no ataque, tal como os da Austrália.
Hoje, o Daily Telegraph que se publica em Sydney, para além de mostrar um F-18 Super Hornet da RAAF voando sobre a Síria e de afirmar que a operação foi um erro de consequências fatais, destaca que no ataque de Deir al-Zor os “aviões australianos estiveram entre os que tomaram parte nesta operação”, isto é, o jornal australiano já parece pedir contas a quem teve responsabilidade neste atentado à paz.
Esta acção vai marcar fortemente todo o futuro da guerra na Síria e as opiniões públicas ocidentais vão reagir perante este disparate americano e dos seus amigos. A pergunta que se faz é se se tratou realmente de um erro, ou de uma falta de coordenação ou de uma acção deliberada que violou os acordos de cessar-fogo e beneficiou o Daesh. Será que Donald Trump tem razão e que Barack Obama e os seus conselheiros são os pais do Daesh? Será que a Europa deve ser tão seguidista em relação aos disparates americanos? O que estará ainda para acontecer?

domingo, 18 de setembro de 2016

A Espanha está sem ventos de mudança

No dia 20 de Dezembro de 2015 realizaram-se eleições gerais em Espanha, sem que delas resultasse um partido ou uma coligação de partidos com votos ou deputados suficientes para suportar um governo. Os líderes das principais forças políticas espanholas - Mariano Rajoy pelo PP, Pedro Sanchéz pelo PSOE, Pablo Iglesias pelo Podemos e Albert Rivera pelo Cidadanos – não conseguiram chegar a nenhum acordo de governo. Por isso, no dia 26 de Junho de 2016 as eleições foram repetidas, tendo-se apurado aproximadamente os mesmos resultados, isto é, PP (33%), PSOE (23%), Podemos (21%) e Cidadanos (13%), pelo que o impasse político se mantém em Espanha e até existe um cenário possível de terceiras eleições. Significa que o bipartidarismo espanhol em que o PP e o PSOE se intercalavam no exercício do poder acabou e que a Espanha está a perder peso político internacional, em consequência das suas incertezas políticas.
Entretanto, no próximo dia 25 de Setembro vão realizar-se eleições autonómicas na Galiza e na Comunidade Autónoma do País Basco. O diário ABC divulga hoje as previsões eleitorais e, tal como está a acontecer com o eleitorado nacional que se mantém estável e repartido por quatro forças políticas, também os eleitorados galego e basco se mostram sem tendências de mudança. Assim, prevê-se que o PP consolide a sua maioria na Galiza, o mesmo sucedendo no País Basco com o Partido Nacionalista Vasco (PNV) que, para continuar a governar vai a precisar do apoio do Bildu, uma coligação de pequenos partidos independentistas bascos.  Em síntese, quer a nível nacional, quer a nível autonómico, os ventos de mudança não sopram em Espanha e os eleitores mostram-se pouco estimulados na mudança do  seu sentido de voto.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A ganância do Durão envergonha Portugal

Quando no passado mês de Junho foi anunciado que José Barroso ia assumir as funções de chairman da Goldman Sachs International, levantou-se um coro internacional de protestos que, desde então, parece estar a subir de tom.
A Provedora de Justiça europeia e muitos eurodeputados pediram a intervenção da Comissão Europeia e Jean-Claude Juncker, o seu actual presidente que sucedeu exactamente a Barroso, decidiu não meter a cabeça na areia. Vai daí informou-o que passaria a ser recebido em Bruxelas, “não como antigo presidente, mas como um representante de um interesse sujeito às mesmas regras dos lobistas”. Na prática, isso significa que nas suas deslocações à capital do poder político europeu e até nos contactos que mantiver com responsáveis europeus, Barroso deixa de ser recebido como um ex-presidente e passa a ser recebido como qualquer lobista, devendo todos os seus contactos ficar registados para memória futura. Evidentemente que esta decisão ainda carece de avaliação da Comissão de Ética da UE e de confirmação, mas até pode acontecer um agravamento da sansão e Barroso poder vir a perder regalias, designadamente a sua robusta pensão de reforma. Numa petição que circula na blogosfera e que já tem 140 mil assinaturas, é afirmado que o comportamento de Barroso desonra os funcionários europeus e a própria União Europeia, pedindo-se a suspensão da sua reforma dourada e vitalícia.
Tem sido uma humilhação continuada. Cego pela sua ganância e pela sua ambição, Barroso escolheu um caminho desprestigiante para o seu futuro que nos está a envergonhar aos olhos do mundo. Já em Junho o Libération parecia adivinhar este folhetim.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Como está doente a Justiça em Portugal!

A SIC transmitiu no passado dia 8 de Setembro uma entrevista com o juiz Carlos Alexandre, o homem que tem nas mãos alguns dos mais importantes e polémicos processos judiciais que correm em Portugal. Depois do que tem acontecido nesse campo, com medidas de coação desproporcionadas e com constantes violações do segredo de justiça, a entrevista da personagem não me interessou. Não vi.
Porém, na edição de 10 de Setembro do jornal Sol e talvez partindo  daquela entrevista, o Presidente da República veio “aconselhar reserva aos juízes”, isto é, deu um raspanete ao meritíssimo juiz Alexandre. Depois, nos jornais e nos espaços de comentário televisivo, começaram a aparecer as demolidoras opiniões dos comentadores sobre o juiz de Mação.
Consegui aceder à entrevista e fiquei embasbacado com aquilo que vi e ouvi. Foi demasiado mau para o juiz, para as gentes de Mação, para os antigos alunos da Faculdade de Direito, para o Ministério Público, para o Estado e para o respeito que os portugueses ainda têm pela Justiça. A personagem é fraca. Trabalha sem descanso e não tem tempo para ler, nem para escrever, nem para ir ao teatro, a concertos, a exposições ou a museus. Continua agarrado ao pequeno mundo de Mação e confidencia que os seus colegas o conhecem como o "saloio de Mação”. Sem pudor e traindo a sua função de árbitro entre a acusação e a defesa de qualquer processo, ele toma partido. Diz que “não tenho dinheiro ou contas bancárias em nome de amigos” (eventualmente para pagar o seu BMW 520) e isso é, obviamente, um juízo de valor sobre um caso que está a investigar e do qual ainda não foi deduzida acusação. Um juiz deve dar garantias de imparcialidade relativamente aos cidadãos, mas este juiz serviu-se da comunicação social para antecipar um julgamento popular num caso em que ele próprio tem revelado incompetência e parcialidade, parecendo não confiar no julgamento em tribunal. Uma vergonha que merece o repúdio de toda a gente e é uma afronta ao Estado de Direito.
Não se sabe o que o homem quer, mas há que desconfiar. Eu desconfio desta gente humilde, séria e trabalhadora. Eu desconfio de gente tão pequena. Talvez o Conselho Superior da Magistratura, que vai apreciar a entrevista, também desconfie. Como está doente a Justiça em Portugal!

Um ciclista que faz vibrar a Colômbia

Toda a imprensa colombiana destaca hoje a vitória do ciclista Nairo Quintana na Vuelta 2016, dedicando-lhe as suas primeiras páginas e publicando a sua fotografia a seis colunas, ora a pedalar nas montanhas espanholas, ora a exibir o troféu conquistado. É o novo herói nacional da Colômbia! Os títulos escolhidos pela imprensa colombiana são muitos semelhantes: Nairo Rey de España, Orgullo colombiano, Nairo conquistó España, Nairo qué orgullo, Baño de gloria, etc.
Não é habitual tanta uniformidade jornalística em torno de um acontecimento ou de uma figura popular, sobretudo num país muito diverso e multicultural que tem em mãos o complexo processo de desmobilização das FARC, mas talvez seja por isso que o feito desportivo de Quintana está a ser aproveitado para estimular sentimentos de unidade nacional que andaram perdidos durante muitos anos sob o efeito do narcotráfico e da guerrilha. Um país que tem quase cinquenta milhões de habitantes e que, depois do Brasil, é o mais populoso país da América do Sul, precisa de símbolos nacionais inequívocos, como até agora tem sido Gabriel Garcia Márquez, o Prémio Nóbel da Literatura de 1982. Embora num outro plano de notoriedade e de popularidade, o ciclista Nairo Quintana e a sua vitória em Espanha beneficiaram naturalmente de uma excelente cobertura televisiva, que deu a conhecer ao mundo o seu desempenho atlético e a sua inequívoca vitória sobre o britânico Chris Froome. A Colômbia acompanhou e está orgulhosa do seu ciclista.
Depois do fim da guerra com as FARC, o Presidente Juan Manuel dos Santos teve agora um prémio merecido que o ajuda a cimentar a paz e a unidade nacional que persegue e de que a Colômbia precisa.

O independentismo catalão reapareceu

Ontem celebrou-se o Dia Nacional da Catalunha, conhecido por La Diada, em que cinco cidades catalãs – Barcelona, Tarragona, Salt, Lleida e Berga – acolheram manifestações independentistas convocadas pela Assembleia Nacional da Catalunha. Todos os jornais catalães destacaram esse acontecimento e um deles foi o ara, um diário de Barcelona que se publica em catalão. Segundo os dados fornecidos pela Polícia Municipal de cada uma das localidades em que houve concentrações, cerca de 875 mil pessoas participaram nas cinco manifestações independentistas, com Barcelona a acolher 540 mil manifestantes. Entre eles, esteve presente Carles Puigdemont, que se tornou o primeiro presidente do governo da Catalunha a participar naquela manifestação nacionalista e que declarou que espera poder convocar “eleições constituintes” até Setembro de 2017.
O Dia 11 de Setembro ou La Diada, que assinala o dia da derrota dos catalães e da sua definitiva integração na Espanha em 1714, transformou-se nos últimos anos num símbolo do processo de luta  pela independência da Catalunha. Com cerca de 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha possui uma língua e cultura próprias, assim como uma longa tradição industrial e um importante sector turístico. Segundo uma sondagem realizada no passado mês de Julho, metade da população catalã apoia a independência da região.
Porém, o governo de Madrid  tem rejeitado todas as pressões independentistas. No momento actual, em que não há sinais claros para ultrapassar o impasse político espanhol resultante das duas últimas eleições legislativas, a pressão catalã aumenta. Seguramente que o problema da independência da Catalunha, que tem estado adormecido, vai voltar às agendas das autoridades de Barcelona e de Madrid.

domingo, 11 de setembro de 2016

Para que o mundo nunca esqueça

Perfazem-se hoje 15 anos sobre a data em que um grupo de 19 terroristas da al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais americanos e desencadearam uma série de ataques suicidas contra alvos na região de Nova Iorque. Dois desses aviões colidiram intencionalmente contra as Torres Gémeas do complexo empresarial do World Trade Center na cidade de Nova Iorque, matando todos os seus passageiros e alguns milhares de pessoas que trabalhavam nessas torres. O terceiro avião sequestrado colidiu com o Pentágono e o quarto caiu num terreno rural depois de alguns dos seus passageiros terem reagido e tentado recuperar os comandos do avião. Foram quase três mil mortos e a América e o mundo viveram com emoção essa terrível tragédia, até porque terá sido a maior catástrofe alguma vez transmitida em directo pela televisão.
A cidade de Nova Iorque reagiu à destruição e à dor. Enfrentou a adversidade e, em 2014, ficou concluido o One World Center (WTC 1), exactamente no local onde antes estiveram implantadas as Torres Gémeas. O novo edifício é também um memorial que recorda o 9/11 e tornou-se o edifício mais alto dos Estados Unidos e um dos mais altos do mundo com 1.776 pés (541,3 metros).
Foi há 15 anos que a tragédia aconteceu e não pode ser esquecida. Para muitos analistas, foi então que começou uma guerra de características e desenvolvimentos imprevisíveis que levou à intervenção americana em sete países, incluindo o Iraque, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Iémen, Somália e Síria e que tem espalhado a insegurança um pouco por todo o mundo.
Hoje a imprensa americana, incluindo o quase centenário Daily News que se publica na cidade de Nova Iorque homenageou as vítimas do 11 de Setembro. Nós aqui também.

O novo interesse de Macau pelo português

O governo de Macau, ou com mais rigor, o governo da Região Administrativa Especial de Macau, dirigido desde 2009 por Fernando Chui Sai On, anunciou que a partir do ano lectivo que agora se inicia, a língua portuguesa passa a ser um “projecto com prioridade de apoio”, nos termos enunciados no Plano Quinquenal que agora foi divulgado. Assim, deverá ser definido um número mínimo de horas para a aprendizagem, quer nas escolas particulares, quer no ensino regular, de forma a assegurar rapidamente uma “maior generalização da língua portuguesa”. Nesse sentido, as autoridades de Macau pretendem alargar a cooperação com Portugal e criar condições para que os estudantes macaenses possam prosseguir estudos superiores em Portugal, o que também significa a necessidade de aumentar o número de bolsas especiais do Fundo de Acção Social Escolar para apoiar os estudantes dos cursos de português e de tradução de chinês e português. A notícia é do jornal Tribuna de Macau e, naturalmente, agrada aos defensores da língua portuguesa.
Porém, o apoio à aprendizagem de línguas não se restringe ao português, pois o Plano Quinquenal aponta para que os estudantes macaenses falem quatro línguas e escrevam três – português, inglês e mandarim.
Decorridos quase cinco séculos de contactos e de presença na península de Macau, a língua portuguesa nunca se impôs como língua franca e, como se costuma dizer, “ninguém fala português em Macau”. Pode ser que esta política do governo de Macau melhore uma situação que as autoridades portuguesas que administraram o território até 1999, nunca quiseram ou puderam resolver. 

sábado, 10 de setembro de 2016

Síria. Boas notícias. Tenhamos confiança.

O mundo acordou esta manhã com uma notícia surpreendente e que poucos matutinos tiveram a oportunidade de anunciar. O diário espanhol El País foi um dos jornais que anunciou um acordo de cessar-fogo na Síria a partir de segunda-feira, o que foi confirmado ao longo do dia pelas televisões que divulgaram imagens de John Kerry e de Sergei Lavrov, a assegurar em Genebra o seu empenhamento junto dos respectivos aliados para que o cessar-fogo seja cumprido e para que parem todos os combates, assim como os voos dos aviões do regime de Bashar al-Assad sobre as posições da oposição. Se a trégua agora anunciada entre o regime sírio, apoiado pela Rússia, e as forças rebeldes, apoiadas pelos EUA, for efectiva, ao fim de uma semana os governos americano e russo comprometem-se a colaborar no terreno, planeando ataques aéreos conjuntos contra as forças do autoproclamado Estado Islâmico e da frente al-Nusra.
Após os falhanços dos encontros entre Kerry e Lavrov no passado mês de Agosto e de Barack Obama e Vladimir Putin no seu encontro durante a cimeira do G20 na China, parecia existir um clima de desconfiança que, no entanto, acabou por ser ultrapassado em Genebra. Porém, Sergei Lavrov acrescentou que foram assinados cinco documentos, que devem manter-se secretos para não pôr em causa o frágil consenso alcançado entre os dois países, que desde há vários meses tentam chegar a um entendimento e que, inclusive, até anunciaram em Fevereiro um acordo de cessar-fogo que não foi cumprido. Estamos, pois, perante uma boa notícia e há que ter confiança.

A nova relação entre Cuba e a América

Na sequência da aproximação que se vem verificando entre os Estados Unidos e o governo cubano, aconteceu na passada 4ª feira um voo comercial entre Miami e Cienfuegos, que encerrou cerca de 55 anos de isolamento entre os dois países. Tratou-se do voo AA 903 da American Airlines que, utilizando um Airbus 319, saiu do Aeroporto Internacional de Miami para Cienfuegos na costa sul da ilha de Cuba. Pouco depois, um segundo voo descolou do mesmo aeroporto para a cidade cubana de Holguin.
Conforme relatou el Nuevo Herald que se publica em Miami, foi uma festa não só para os passageiros deste primeiro voo inaugural que muito aplaudiram, mas também para as autoridades aeroportuárias cubanas que receberam este primeiro voo regular com grandes manifestações de entusiasmo por entre canhões de água, enquanto os pilotos desfraldavam as bandeiras de Cuba e dos Estados Unidos quando o avião deslizou na pista. E havia razões para tanta festa. Foram 55 anos de isolamento e de teimosia política de ambas as partes, com claros prejuízos económicos e culturais, mas também emocionais, sobretudo para os cubano-americanos residentes nos Estados Unidos e para a generalidade da população cubana.
O desbloqueamento das relações e da tensão entre os Estados Unidos e o regime cubano que estes voos ajudam a concretizar é, para muitos observadores, o resultado da persistência do Papa Francisco, mas também é um sinal do pragmatismo político de Raúl Castro e de Barack Obama. Deverá ser este pragmatismo ou esta real politik que deverão sempre nortear as relações internacionais, na base da cooperação e do respeito mútuo. Só dessa forma se ultrapassam conflitos como este que durou 55 anos.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A guerra da Síria está sem solução à vista

A recente reunião do G20 na cidade chinesa de Hangzhou, proporcionou um encontro entre Barack Obama e Vladimir Putin que durou mais tempo do que o previsto. Entre os assuntos abordados durante mais de uma hora estiveram a situação na Ucrânia e, sobretudo, a guerra na Síria que, desde 2011, provocou mais 290 mil mortes e obrigou milhões de pessoas a fugir do país. Alguns jornais, caso do Financial Times, destacaram este encontro publicando a fotografia dos dois líderes face to face em Hangzhou.
Este tipo de encontros entre políticos que já se conhecem há muito tempo poderia abrir o caminho para bons resultados, mas segundo foi divulgado pelas agências noticiosas, o encontro mostrou que ainda não é possível obter um cessar-fogo, pois o principal ponto de discórdia continua a ser o futuro de Bashar al-Assad, um aliado histórico da Rússia que o vê como parte da solução para o conflito, enquanto os Estados Unidos o consideram uma parte do problema por se tratar de um líder autoritário, na linha do que foram Sadam Hussein e Muammar Kadafi. Porém, esse é apenas o ponto de partida da discórdia, porque há muitos mais. Os Estados Unidos já se meteram demasiado no conflito e a opinião pública americana não está a gostar disso, o que tem levado Donald Trump a acusar Obama e Clinton de serem os pais do Estado Islâmico. Devagar, devagarinho, a Rússia e o seu aliado Irão, estão a marcar pontos nesta disputa, em que os interesses dos aliados e dos adversários regionais de Bashar al-Assad são importantes. A Europa mostra-se incapaz de receber refugiados e parece assustada com a Turquia. A luta comum contra o Estado Islâmico e a Frente Nusra que a todos devia unir, parece ser uma questão secundária. Finalmente, o dramático sofrimento do povo sírio e da nação curda parecem não comover esta gente.
Obama e Putin encalharam. Desapontaram-nos. As negociações são difíceis, mas esperemos que sejam John Kerry e Sergei Lavrov a desencalhar uma solução apesar da enorme complexidade do problema. Repetimos o aqui escrevemos no dia 27 de Agosto: entendam-se!

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

"Lisboa na Rua", para animar a cidade

Este ano e pela oitava vez, a EGEAC que é a empresa municipal que faz a gestão dos equipamentos e promove a animação cultural da cidade de Lisboa, está a promover a realização do Lisboa na Rua.
Trata-se de um festival que até ao dia 1 de Outubro permite assistir de forma livre e gratuita a uma grande diversidade de espectáculos populares e eruditos, muitos dos quais não costumam ser apresentados na rua.
Lisboa está, portanto, em festa. O festival decorre ao longo de cinco fins de semana em dezenas de espaços públicos da cidade e acolhe bandas de jazz de várias proveniências, o fado pelas vozes de Gisela João, Camané e Carlos do Carmo, além de grandes orquestras como a Orquestra Gulbenkian e a Orquestra Metropolitana de Lisboa e outros intervenientes.
O programa do festival Lisboa na Rua contempla iniciativas em zonas periféricas da cidade e não apenas no seu centro histórico, sendo uma oportunidade singular para animar a cidade e torná-la mais atraente para os residentes e para os visitantes. De facto, não é vulgar que numa qualquer cidade se tenha acesso gratuito a concertos de jazz, fado, música clássica e arte sonora, telas de cinema em locais improváveis, teatro, exposições, performances e passeios literários, animando as ruas, as praças e os jardins. O  meu aplauso.

sábado, 3 de setembro de 2016

A Índia celebra Madre Teresa de Calcutá

Amanhã o Vaticano vai canonizar a beata Madre Teresa de Calcutá e a grande Índia, que é um país maioritariamente hindu e onde a religião católica não terá sequer 2% de seguidores na sua população, não só teve sempre uma grande admiração por esta religiosa católica, como se mostra emocionada e orgulhosa com a sua santificação, o que é reflectido por toda a imprensa indiana. A capa da revista Outlook de Nova Delhi é apenas um exemplo da homenagem que a Índia está a prestar a Madre Teresa, que se naturalizou indiana e que a Índia tomou como um dos seus símbolos. O caso justifica a nossa admiração, até porque a Índia tem mostrado alguma intolerância religiosa relativamente a muçulmanos e católicos.
Nascida em 1910 numa família albanesa em Skopje na actual República da Macedónia, a jovem Agnes Gonxha Bojaxhiu entrou aos 18 anos na irlandesa Ordem das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto em Dublin, onde tomou o nome de Teresa. Em 1929 foi enviada depois para Calcutá e aí ensinou durante alguns anos numa escola para raparigas de famílias abastadas, antes de se entregar ao serviço dos mais pobres. No início de 1948, instalou-se num bairro de lata de Calcutá com essa determinação de ajuda, mas algumas das suas antigas alunas juntaram-se à sua antiga professora, tornando-se com ela nas primeiras Missionárias da Caridade.
De aspecto muito frágil e envolta num sari branco com três riscas azuis, Madre Teresa tornou-se num símbolo da ajuda aos “mais pobres dos pobres”, aos quais dedicou a vida, o que veio a ser reconhecido em 1979 com a atribuição do prémio Nobel da Paz.
Madre Teresa morreu em 1997 com 87 anos de idade, mas as suas Missionárias da Caridade tornaram-se um símbolo do apoio aos que sofrem com a miséria, a fome e a doença, sobretudo os leprosos e os moribundos. Hoje são cerca de cinco mil a intervir um pouco por todo o mundo. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A apreensão pela mudança no Brasil

A destituição de Dilma Roussef, a presidente eleita do Brasil, que no passado dia 31 de Agosto foi decretada por votação do Senado pode ter aberto uma caixa de pandora de imprevisíveis consequências para o país, até porque ocorre num período de grande recessão económica. O Brasil ficou mais dividido e, mais do que isso, ficou sob ameaça de ingovernabilidade e de confrontações nas ruas. Porque tudo o que se passa no Brasil nos interessa, voltamos ao assunto.
O Brasil é um país muito extenso, muito plural e de uma grande diversidade cultural, mas onde coexistem dois mundos distintos e com enormes diferenças observáveis nos graus de desenvolvimento dos diferentes estados, assim como nos desiguais rendimentos da população e na sua qualidade de vida, o que se torna evidente na brutal diferença entre a vida do “asfalto” das cidades e a pobreza e a violência das favelas.
De um lado têm estado o governo, o PT e Dilma Roussef e, do outro lado, uma parte importante do sistema judicial e a generalidade dos mass media. De um lado estão as classes de rendimentos mais altos das grandes cidades do sudeste e do sul do país e, do outro lado, estão os pobres e os remediados do nordeste e do norte. Esta simplificada apreciação parece poder confirmar-se através da divisão da própria imprensa brasileira que alinhou com as partes em confronto. Enquanto o Diário de S. Paulo destacou em primeira página o título “Viva a Democracia” e em sub-título “Congresso Nacional enterra governo Dilma, PT e Lula”, o jornal Correio do Brasil do Rio de Janeiro escolheu como título “Chega ao fim a democracia brasileira”. Deste lado do atlântico, ficamos sem saber se funcionou a Democracia ou se, pelo contrário, a Democracia foi asfixiada. Sabemos, contudo, que o voto de 61 senadores destituiu uma presidente eleita por mais de 54 milhões de brasileiros e que a esperança de milhões de cidadãos para saírem do seu ciclo de probreza sucumbiu perante esta acção democrática ou golpe parlamentar das oligarquias brasileiras.
O mundo ainda não compreendeu o que se passou em Brasília.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A enorme incerteza da política brasileira

Depois de cerca de nove meses durante os quais a presidente brasileira Dilma Roussef teve o seu mandato suspenso, o Senado votou ontem a favor da sua destituição com 61 votos a favor e 20 votos contrários. Dilma Roussef foi condenada e perdeu o seu mandato porque assinou três decretos de créditos suplementares sem autorização do Congresso e utilizou dinheiros da banca pública para financiar programas do governo. Tratou-se de manobras contabilísticas que nas democracias ocidentais ocorrem com frequência e que, embora estejam nas margens da ilegalidade, ninguém considera de índole criminosa.
Seguiu-se uma segunda votação destinada a decidir se Dilma Roussef perderia os seus direitos políticos e ficaria impedida de exercer cargos públicos, mas esta votação foi-lhe favorável. Houve 42 votos favoráveis à cassação desses direitos mas Dilma teve 36 votos a sua favor, tendo havido 3 abstenções.
Poucas horas depois, nos termos constitucionais, foi empossado Michel Temer, antigo vice-presidente de Dilma Roussef, apesar de estar impedido de ser eleito para cargos públicos durante oito anos por ter violado as leis eleitorais brasileiras e ter o seu nome envolvido em graves processos judiciais. Provavelmente, o mundo tremeu de espanto com a destituição da presidente eleita pelo voto popular, até porque entre os senadores que ontem empossaram Michel Temer em Brasília, há uma imensa maioria que enfrenta processos judiciais, sobretudo por corrupção, incluindo o próprio Temer que está envolvido no caso Lava Jato e no escândalo da Petrobras, assim como Eduardo Cunha que era o presidente da Câmara dos Deputados e que é considerado o mentor da destituição ou impeachment de Dilma Roussef que, curiosamente, é uma das poucas figuras políticas eleitas no Brasil sem ligações a qualquer caso de corrupção. Hoje o Correio Braziliense pergunta, acertadamente, o que virá após o impeachment. Depois do enorme sucesso dos Jogos Olímpicos, os senadores brasileiros deram um valente tiro no pé e puseram a incerteza na política brasileira e o nome do país nas páginas humorísticas da imprensa mundial. É pena, é mesmo muito triste ver o Brasil assim.