sábado, 31 de agosto de 2013

A memória das guerras napoleónicas

No dia 31 de Agosto de 1813 a cidade de San Sebastián (em castelhano) ou Donostia (em língua basca) foi incendiada, saqueada e quase totalmente destruída pelas tropas aliadas anglo-portuguesas do Duque de Wellington, que derrotaram as forças napoleónicas que ocupavam a cidade desde 1808.
Depois de em 1805 ter sido derrotado em Trafalgar, o imperador Napoleão decidiu impor um “bloqueio continental” aos navios ingleses e, através de tácticas diferentes, decidiu converter a Península Ibérica num estado-satélite de Paris. Grande parte do território espanhol foi então ocupado pelas tropas francesas, mas as três tentativas francesas para ocupar Portugal, acontecidas entre 1807 e 1810 – as chamadas invasões francesas – foram mal sucedidas, devido à reacção popular, à acção das tropas portuguesas e à ajuda inglesa comandada pelo Duque de Wellington.
A partir de 1811 a Espanha pretendeu libertar-se da tutela francesa e entrou num período que tem sido chamado a “guerra da independência”, com o objectivo de expulsar os franceses do seu território. Foi nesse quadro que as tropas aliadas anglo-portuguesas intervieram em Espanha e cercaram e reconquistaram a cidade de San Sebastián.
Esta ano, a cidade comemorou o bicentenário dessa dramática efeméride que foi a destruição da cidade e, também, a enérgica decisão dos seus moradores que em poucos dias tomaram a iniciativa de a reconstruir. Na sua edição de hoje, El Diario Vasco destaca exactamente essa memória histórica que foi o bicentenário do incêndio, saque e destruição de Donostia, inspirando-se num elemento da Guernica de Picasso para ilustrar a sua primeira página, numa alusão à destruição da cidade basca de Guernica pela aviação alemã no dia 26 de Abril de 1937.

Em política ainda não vale tudo

Os juízes do Tribunal Constitucional chumbaram o regime jurídico da chamada “requalificação de trabalhadores em funções públicas”, cuja fiscalização preventiva tinha sido pedida por Belém e, o nosso primeiro, fala agora em segundo resgate. Apesar das inúmeras pressões feitas por si e pelos seus comentadores de serviço, pela quinta vez e num espaço de dois anos, o Tribunal Constitucional rejeitou legislação aprovada pela maioria governamental. A palavra escândalo pode aqui ser aplicada com toda a propriedade.
Em tempos ele quisera mudar a Constituição da República, mas como não conseguiu e não se dá bem com a que temos, tem procurado atropelá-la com confrontos e ameaças constantes, até porque não tem nem espera vir a ter os 2/3 de deputados necessários para a alterar. Em qualquer Estado de direito, compete ao Tribunal Constitucional verificar se as normas e leis aprovadas pelo poder político estão em conformidade com a Constituição da República. E foi isso que os juízes fizeram, apesar das pressões públicas que lhes foram feitas. Por isso, se em dois anos de governo ele não conseguiu dar novo rumo à nossa situação económica e financeira (antes pelo contrário), isso é da sua responsabilidade exclusiva e não de quem fiscaliza e garante a legalidade constitucional. Assim, em vez de passar tanto tempo a ameaçar e a queixar-se dos outros, melhor seria que arranjasse soluções governativas que estejam de acordo com a lei, que é o que ele nem sempre  tem feito.
Desta vez, em nome da reforma do Estado, ele queria despedir 30 mil funcionários e esta travagem que o Tribunal Constitucional fez às suas intenções, já o levou a insinuar que poderá haver mais aumentos de impostos, porque não é sustentável este volume de despesa pública, mas também a colocar a hipótese de levar o país a pedir um segundo resgate. É preciso ter lata!

 

 

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A insensata diplomacia dos Tomahawk

Os Tomahawk estão prontos e, um pouco por todo o mundo, os jornais não falam noutra coisa, isto é, o ataque anglo-americano à Síria está em vias de se concretizar, independentemente das conclusões da missão de observação das Nações Unidas que está em Damasco. A decisão de bombardear a Síria foi preparada na imprensa internacional e está em linha com a política que tem sido seguida pelos Estados Unidos, pela Grã-Bretanha, pela França e por alguns alguns estados árabes conservadores que, desde há muitos anos, têm apoiado a oposição ao regime de Bashar al-Assad, dentro do espírito daquilo que se pensou ser a Primavera Árabe. Agora, é uma oportunidade para mostrarem os seus músculos aos que estão do outro lado e, até a França, aproveita estes casos para mostrar ao mundo que existe, que fabrica aviões e que é uma grande potência.
Na realidade, a Síria está a ser palco de uma longa e dura guerra de contornos muito complexos, onde o interesse internacional não decorre apenas da vontade de pôr fim a esta catástrofe humanitária, mas que resulta também dos interesses associados à exploração e transporte do gás natural sírio. De um lado estão a Síria, a Rússia, a China e o Irão e, do outro, os Estados Unidos, a União Europeia, a Turquia, a Arábia Saudita, Israel e o Qatar, além de alguns grupos anti-Assad, como a al-Qaeda e o Hamas.
Os Tomahawk são a diplomacia de um lado, mas não se sabe qual é a diplomacia do outro lado. O que se sabe é que a eventual queda do ditador sírio, pode fazer com que o poder caia nas mãos dos fundamentalistas islâmicos da al-Qaeda e esse é um dos grandes paradoxos desta guerra, isto é, aqueles que são considerados “terroristas” pelos americanos e pelos europeus, que já estão a beneficiar indirectamente das armas fornecidas aos rebeldes sírios, são os principais candidatos para substituir Bashar al-Assad. A diplomacia dos Tomahawk é como deitar gasolina na fogueira. Talvez fosse melhor outra diplomacia, que levasse em conta o que está a acontecer na Líbia, mas também no Iraque, na Tunísia e no Egipto.
 

 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Síria: os falcões preparam-se para atacar

A revolução e a guerra na Síria começaram, tal como na Líbia, como uma contestação ao regime autoritário que vigorava há décadas no país e que assentava numa luta contra a falta de liberdade e a corrupção. Pedia-se o fim do regime de Bashar El-Assad e a democracia. Era mais um episódio da Primavera Árabe. Porém, havia na Síria um outro ingrediente explosivo que é a luta sectária entre dois ramos do Islão - os xiitas e os sunitas - que também lutam no Líbano e no Iraque. Nesta complexa teia que é arco sul do Mediterrâneo e o Médio Oriente, ainda há Israel e a Turquia, o Egipto e o Irão. E os poderosos apoios internacionais que cada um dos beligerantes tem. Era necessário procurar a paz e parar a guerra, mas os poderosos não quiseram ou não foram capazes.
As mais recentes notícias sobre a Síria são muito preocupantes e nós sabemos muito pouco sobre o que lá se passa. O recente massacre resultante de bombardeamentos com gás tóxico ainda está por esclarecer, mas todos sabemos como pode ser manipulada a opinião pública mundial. Lembramo-nos do pretexto para os ataques aéreos a Belgrado, do pretexto para bombardear Bagdad e invadir o Iraque ou, ainda, do pretexto para intervir na Líbia: são sempre as imagens da televisão a pressionar a opinião pública, a denúncia de “crimes contra a Humanidade” e as declarações concertadas entre Washington e Londres. Agora, a cena é exactamente a mesma. Antes de se saber o que se passou no terreno já a opinião pública mundial está preparada para aceitar e apoiar uma acção militar contra a Síria. Os Tomahawk, os famosos mísseis de cruzeiro de longo alcance, estão prontos e a General Dyanamics precisa de os vender. Veremos como os aliados da Síria – Rússia, China e Irão – vão reagir se a ameaça se concretizar.

 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Um velho veleiro que é um embaixador

As regatas anualmente promovidas pela Sail Training Internacional – as Tall Ships Races – realizaram-se este ano no mar Báltico, com largada do porto dinamarquês de Aarhus, passagem por Helsínquia e Riga, sendo a etapa final concluída no porto polaco de Szczecin.
Os navios participantes e as suas tripulações constituídas maioritariamente por cadetes, tiveram oportunidade durante o mês de Julho e parte de Agosto, de participar num evento de grande impacto formativo e de acentuado estímulo à fruição do mar e das actividades que ele suscita, mas também de ter visitado quatro países do norte da Europa que fazem parte da União Europeia. Na lista de veleiros participantes não aparecem os navios dos países do sul da Europa, alguns deles dos mais belos que sulcam os mares, provavelmente por razões orçamentais. No entanto, apesar dos seus mais de oitenta anos de existência, o navio-escola italiano Americo Vespucci tem navegado pelo norte da Europa numa acertada política de show the flag e, este fim se semana, estará em Antuérpia onde espera alguns milhares de visitantes.
A edição de hoje do diário Gazet van Antwerpen homenageou o Americo Vespucci com uma bela fotografia na sua primeira página, em que o veleiro e a cidade parecem interagir, a mostrar a importância que estas embaixadas móveis têm na criação, manutenção ou reforço da imagem externa de um país. Curiosamente, no mesmo dia entrava no porto de Lisboa o navio-escola brasileiro Cisne Branco que está a realizar a "Comissão Europa 2013", uma missão diplomática com a duração de 7 meses. Ainda no mesmo dia, o navio-escola Sagres encontrava-se atracado no Alfeite.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Festas de Agosto, com touros e colhidas

O mês de Agosto é o grande mês da tauromaquia ou festa brava em quase toda a Espanha e até em muitas regiões de Portugal, sucedendo-se as corridas de touros, que uns entendem ser uma tradição cultural e até um património imaterial, enquanto outros consideram ser uma crueldade e um atentado violento contra os direitos dos animais. Qualquer destes pontos de vista suscita controvérsias e paixões, mas no meio dessa dicotomia opinativa está uma actividade empresarial ou um negócio que envolve muita gente, desde os criadores de gado até à organização e promoção dos espectáculos, passando por muitos protagonistas, com destaque para os cavaleiros e os toureiros. Portanto, goste-se ou não delas, as touradas são um grande espectáculo popular que move multidões e, em especial, os aficionados que saltam de corrida em corrida para satisfazer as suas emoções.
Estes comentários estão relacionados com a grande festa de Bilbau – a Aste Nagusia 2013 - e com a tourada ontem realizada na Praça da Vista Alegre de Bilbau, na qual actuou Saúl Jiménez Fortes, um toureiro de Málaga de 23 anos de idade, que foi colhido com gravidade pelo seu primeiro e único touro, tendo sido imediatamente operado na enfermaria da praça de touros.
O diário El Correo de Bilbau destaca esta colhida com uma impressionante foto, acompanhada pela legenda "espeluznante cogida de Jiménez Fortes", mas não informa sobre o estado do toureiro, nem sobre se está ou não livre de perigo mas, surpreendentemente, não deixa de salientar que “foi uma corrida tremendamente interessante”. São as contradições da festa brava.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um livro para ler e para reler

Os privilegiados é o título de um livro recente de Gustavo Sampaio que merece toda a nossa atenção, pois revela a forma despudorada e muitas vezes ilegal, como demasiados agentes políticos misturam o interesse público e o interesse privado ou, como escreve o autor, “como os políticos e ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos”. Porém, os protagonistas do livro não são apenas uns privilegiados mas, frequentemente, são uns indivíduos sem escrúpulos que enriqueceram à sombra do Estado e que com o emblema partidário na lapela, lesam o interesse público que deveriam defender e actuam em proveito próprio ou das organizações empresariais a que estão ligados. Muitas vezes, nem formação académica têm para a diversidade de cargos que abarcam e a forma como circulam do Estado para o meio empresarial e deste para o Estado, acumulando remunerações, prémios e mordomias, é reveladora de um mundo obscuro de interesses e de uma casta de gente sem princípios. Alguns enriqueceram em poucos anos de forma incompreensível. Outros adquiriram títulos académicos viciados. É uma vergonha para eles, mas também para todos nós que pagamos impostos.
Os privilegiados trata com detalhe e rigor quatro grandes temas - os conflitos de interesses na Assembleia da República, o fluxo de ex-políticos para as grandes empresas, os direitos adquiridos pela classe política (incluindo as subvenções vitalícias) e a colonização dos cargos dirigentes. O autor baseia-se numa exaustiva e rigorosa pesquisa documental, revelando muitos nomes e números que nos deixam verdadeiramente estarrecidos por ser inimaginável tanta promiscuidade, tanto egoísmo e tanta desonestidade intelectual. Talvez o livro devesse intitular-se “Os abutres” ou “Os Tubarões” ou “Os Miseráveis”.
Parabéns ao autor que, sendo jovem, é homem de coragem!

A luta contra o lixo no Rio de Janeiro

As autoridades da cidade do Rio de Janeiro decidiram criar um programa de limpeza – o Programa Lixo Zero – que visa diminuir a despesa com a limpeza urbana, melhorar a recolha selectiva de resíduos sólidos urbanos e, ao mesmo tempo, promover a educação ambiental e a criação de hábitos de higiene na cidade. Este programa tem sido desenvolvido em diversas cidades brasileiras, mas também em algumas cidades dos Estados Unidos e da Austrália, no pressuposto de que é necessária uma atitude mais consequente das autoridades municipais em relação à higiene urbana, mas também que os serviços de limpeza municipais são demasiado dispendiosos para a comunidade. O programa irá punir quem usar as ruas e os passeios para deixar pontas de cigarro, embalagens, copos de plástico ou outros resíduos, podendo as multas variar desde os 157 aos 3 mil reais. Ontem foi o primeiro dia do Lixo Zero com a actuação de cerca de seis dezenas de equipas de intervenção no centro do Rio de Janeiro e, ao fim do dia, tinham sido multadas 110 pessoas em flagrante, por atirarem lixo para a rua.
O programa em curso no Rio de Janeiro bem poderia ser aplicado em Lisboa ou em algumas zonas da cidade, pois estão literalmente ocupadas pelo lixo e, sobretudo, por dejectos de cães. É um problema de higiene pública e de degradação ambiental que resulta da falta de educação cívica dos moradores, mas também da ineficaz fiscalização das autoridades municipais.
Actuem e copiem o Rio de Janeiro!

O cisma dos engenheiros portugueses

Nos últimos dias foram divulgados alguns indicadores económicos relativos ao 2º trimestre de 2013 que, se não fossem resultantes de situações sazonais, seriam excelentes sinais de recuperação económica.
O desemprego caiu para 16,4%, isto é, teve uma quebra de 1,3% relativamente ao trimestre anterior (mais 1,4% em relação ao mesmo período de 2012), enquanto o produto cresceu 1,1% relativamente ao trimestre anterior (menos 2,0% em relação ao mesmo período de 2012). Enquanto o aparatik tem utilizado estes números com euforia e como propaganda, designadamente na televisão, outros têm ficado na expectativa para ver se estes sinais têm sustentabilidade. O próprio ministro da Economia foi um homem bem avisado e considerou surpreendente a dimensão da redução do desemprego, pelo que pediu “cautela” em relação a este indicador e, alguns dias depois, pediu “prudência” na análise dos dados relativos ao crescimento do produto.
Vem isto a propósito de uma informação veiculada pela Ordem dos Engenheiros, baseada nas declarações abonatórias que passou aos seus sócios: nos primeiros sete meses do ano emigraram 436 engenheiros, quase tantos como os 452 que emigraram em 2012 e mais do dobro dos 207 que emigraram em 2011. Haverá indicador mais preocupante do que este? Haverá algum país que se possa desenvolver com esta sangria de engenheiros? Ou será que os engenheiros portugueses “ouviram” o apelo do seu governo para emigrar? Numa altura em que precisamos dos melhores, o investimento feito na formação dos nossos engenheiros está a servir noutras paragens. Com este quadro, como é que há gente eufórica com o crescimento do produto no 2º trimestre?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Barroso arbitra o conflito de Gibraltar

Ao contrário do que sucede em outras regiões do mundo onde a conflitualidade assume formas violentas ou de guerra, na questão de Gibraltar ainda prevalece o bom senso. O problema tem evoluído e passou de uma questão marítima localizada, para um conflito diplomático que a União Europeia foi agora chamada a arbitrar.
Inicialmente as autoridades espanholas protestavam pelas descargas de blocos de cimento feitas em águas espanholas, com o objectivo expresso de criar um recife artificial destinado a regenerar a fauna marinha, mas os pescadores espanhóis reagiram porque estava a ser destruída uma das suas melhores zonas de pesca, enquanto Gibraltar não tem sequer frota pesqueira. Como reacção, as autoridades espanholas reforçaram os controlos fronteiriços o que provocou uma fila diária de milhares de viaturas e muitas horas de espera, ao mesmo tempo que ameaçavam impor uma taxa de passagem de 50 euros a todos os turistas e habitantes de Gibraltar residentes em Espanha, que serão cerca de 7 mil e beneficiam de generosos privilégios fiscais.
Agora, a Espanha exige que as autoridades de Gibraltar retirem os blocos de cimento e desistam da criação do recife artificial mas, também, que actuem sobre o paraíso fiscal que é o seu território e sobre o contrabando de tabaco, os tráficos ilícitos e, em especial, sobre o branqueamento de capitais.
A pedido de Cameron e Rajoy, a Comissão Europeia aceitou arbitrar este conflito diplomático, embora a Grã-Bretanha não deixe de mostrar a sua vertente musculada. Numa missão oficialmente classificada de rotina, a fragata o H.M.S. Westminster atracou ontem em Gibraltar e a imprensa espanhola destacou esse facto com fotografias na primeira página, a recordar que a política da canhoneira ainda pesa muito ou que a mais eficiente arma diplomática que um país pode ter é a sua Navy.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

As eleições e a limitação de mandatos

Dentro de poucas semanas haverá eleições autárquicas em Portugal mas, lamentavelmente, muitos eleitores continuam sem saber quem são os candidatos em que poderão votar, por causa da polémica lei da limitação de mandatos que está a ser interpretada de maneira divergente pelos Tribunais. Assim acontece, por exemplo, em Lisboa e no Porto, mas também em muitas outras localidades, o que é um sinal bem negativo da nossa vida política que não é capaz de enfrentar as questões mais controversas e que é cada vez mais permeável à teia dos interesses privados que se sobrepõem ao interesse público.
Hoje o jornal i revela que essa proposta de lei foi apresentada na Assembleia da Reública e dada a conhecer aos deputados no próprio dia da votação que se realizou no dia 28 de Julho de 2005, tendo cada grupo parlamentar disposto de apenas três minutos para a debater. Os parlamentares queriam ir de férias e despacharam o assunto. Mais tarde surgiram as dúvidas, mas eles não trataram de as esclarecer.
Acontece que a Constituição da República (Lei Constitucional nº 1/89 de 8 de Julho) diz que “ninguém pode exercer a título vitalício qualquer cargo político de âmbito nacional, regional ou local” (artigo 121º), mas também diz que “todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos” (artigo 48º). Parece, portanto, haver contradição entre o direito de participação política e o princípio da exclusão do exercício vitalício de mandatos. Os parlamentares deveriam ter emendado as imprecisões da lei da limitação de mandatos mas, por distracção ou por irresponsabilidade, esconderam-se "na protecção dos amigos e dos interesses" e transferiram essa sua responsabilidade para os Tribunais. Assim, criaram esta verdadeira bagunça eleitoral e abriram a porta à manutenção de toda a espécie de dinossauros e caciques que as máquinas de propaganda se encarregarão de promover. Infelizmente, o povo não aprende e esta gente abusa.

sábado, 17 de agosto de 2013

É preciso ajudar o Egipto

O que se está a passar no Egipto é preocupante e recorda-nos a onda de violência que, de forma mais ou menos intensa, se tem verificado em diversos países do norte de África e do Médio Oriente. Julgou-se que era a Primavera Árabe e a libertação de regimes autocráticos, mas estamos perante o dilema do islamismo radical ou da ditadura militar. Afinal, a convulsão do mundo islâmico é mais profunda porque estamos perante situações bem diversas quanto às motivações e quanto aos desenvolvimentos, como mostram as quedas de Sadam Hussein e de Muammar Kadaffi, a guerra para afastar Bashar al-Assad, a instabilidade revolucionária na Tunísia ou a agitação popular na Turquia.
No caso do Egipto, após a destituição de Hosni Mubarak realizaram-se eleições presidenciais e foi eleito Mohamed Morsi. Parecia um caso bem sucedido da Primavera Árabe mas, descontentes  por não estarem a ser seguidas as orientações democráticas ou por estarem a perder privilégios, os militares egípcios prenderam Morsi e tomaram o poder no passado dia 3 de Julho. Desde então, muitos milhares de adeptos da Irmandade Muçulmana de que Morsi era dirigente, ocuparam as ruas do Cairo a denunciar o golpe militar e a exigir que o presidente eleito seja libertado e reocupe o seu lugar presidencial. O ponto mais alto da reacção a esse protesto aconteceu no dia 14 de Agosto, quando tanques e helicópteros armados atacaram os manifestantes e causaram cerca de cinco centenas de mortes e mais de três mil feridos. A violência continuou e propagou-se a outras cidades egípcias, num verdadeiro clima de pré-guerra civil. A situação é complexa para 85 milhões de egípcios que em grande parte vivem na pobreza e são analfabetos, mas que aspiram a uma vida melhor e mais digna.
A comunidade internacional tem que fazer qualquer coisa para rapidamente estabelecer o diálogo entre as partes para assegurar a paz entre os egípcios, sem cair no erro de se aliar a uma parte como, de certa forma, fez no Iraque, na Líbia ou na Síria.
 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Uma andorinha só não faz o Verão

A imprensa anunciou hoje que, de acordo com o INE, no segundo trimestre de 2013 o produto interno bruto cresceu 1.1%. Com muita imaginação, o jornal i deu à notícia o título - Provavelmente a melhor notícia do Verão - em clara alusão ao slogan da marca de cervejas de onde provém o actual ministro da economia. Outro jornal dizia que o PIB português voltou a crescer ao fim de 913 dias. Outro, ainda, revelava que no 2º trimestre, a economia portuguesa fora a que mais crescera em toda a União Europeia. Ninguém tem dúvidas de que, como diria o comentador de Azurém, é uma boa notícia, um sinal de que podemos estar a inverter um ciclo depressivo com dois anos e meio e, evidentemente, um estímulo para a confiança dos agentes económicos.
Porém, surgiram imediatamente uma série de declarações disparatadas e enviezadas a respeito da realidade e destes números, que não foram veiculadas pelo governo, mas por alguns analfabetos que, cheios de imbecilidade e de sabujice, não perceberam o significado deste valor de 1.1%.
Na realidade, a nossa economia está 2% pior do que estava em 2012 e estes números não nos podem enganar e, o que é preocupante, pouco tem sido feito para travar este ciclo depressivo. A marcha concertada entre troika e o governo que levou a um desemprego intolerável, que mandou emigrar uma geração de jovens qualificados, que agrediu os reformados sem dó nem piedade, que despede os funcionários públicos, que corta nas prestações sociais, que olha para o país com a insensibilidade de um contabilista, não é o caminho certo como já todos concluiram. Por isso, esta pode ser a melhor notícia do Verão, mas não nos pode iludir. E o ministro da economia foi inteligente, prudente e sensato nas declarações que fez.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Ainda não estamos no vale tudo

O chefe de Estado solicitou ao Tribunal Constitucional a verificação da conformidade de normas do diploma que estabelece o regime jurídico da requalificação de trabalhadores em funções públicas, designadamente com o conceito constitucional de justa causa de despedimento, o regime dos direitos, liberdades e garantias e o princípio da proteção da confiança. Não se esperava outra coisa. Os nossos governantes têm despudoradamente deixado que a troika e os seus funcionários nos humilhem, aceitando um ajustamento que não tem tido os resultados desejados e que, inversamente, tem tido efeitos secundários brutais, que todos sentimos no desemprego e na emigração, na pobreza e na perda de direitos sociais, mas também na desertificação das nossas cidades e na morte do nosso comércio tradicional.
A estratégia continua a ser a mesma: o ataque ao funcionalismo público e aos pensionistas como se eles não fossem pessoas e não merecessem o respeito do Estado que servem ou serviram. A ideia de reduzir o peso do Estado e de despedir funcionários é controversa, mas eles insistem, tendo criado um programa de rescisões por mútuo acordo e um novo regime de mobilidade especial, que no prazo de um ano conduzirá ao despedimento de muitos funcionários, pois quem não aceitar rescindir com o Estado, tomará o caminho da chamada requalificação e, logo a seguir, o desemprego. Pretende o Rosalino, dessa forma, reduzir em cem mil o número de funcionários públicos até ao final da presente legislatura, isto é, em 2015, embora o governo continue sem apresentar um programa coerente para a reforma do Estado. Cortam no que está mais à mão, mas continuam a dar emprego aos amigos e a gastar à tripa forra em assessores, carros de luxo, seguranças e muitas mais mordomias que vemos nas televisões e nos escandalizam. O que está em causa e que o Tribunal Constitucional vai apreciar é a possibilidade de despedimento na função pública e essa questão não pode ser tratada apenas como uma questão económica, porque é um grave problema social e uma questão jurídica.
Os juízes do Tribunal Constitucional têm uma difícil missão porque se confrontam com aqueles que têm agido à margem da lei e querem equilibrar as contas públicas e reduzir o endividamento do Estado à custa dos mais fracos e mais desprotegidos. É necessário que o Tribunal Constitucional lhes diga, uma vez mais, que não vale tudo.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Gibraltar está ventoso e com neblinas

O caso já dura há vários dias e está nas primeiras páginas de vários jornais espanhóis e ingleses, que hoje destacam a fotografia do HMS Illustrious (um porta-helicópteros que está ao serviço da Royal Navy desde 1982 e que no seu currículo operacional tem a participação na guerra das Falklands/Malvinas), a sair da sua base de Portsmouth com rumo a Gibraltar. Essas fotografias mostram algumas pessoas a assistir à largada do navio e agitar bandeiras, como se o mesmo fosse para a guerra. O jornal Público, também escolheu a fotografia do HMS Illustrious para noticiar as ameaças, as provocações e a presença de navios de guerra nas águas de Gibraltar.
A Grã-Bretanha ameaça a Espanha com medidas legais “sem precedentes”, enquanto o governo espanhol não recua na sua intenção de reforçar os controlos de fronteira e de aplicar uma taxa de 50 euros aos veículos que atravessem a fronteira. Há informações de que a Espanha admite levar o assunto às Nações Unidas e outras em que se expressa o desejo de unir a causa argentina pelas Malvinas à reivindicação espanhola por Gibraltar. Aparentemente nenhum dos dois países está disposto a ceder num assunto muito complexo que já tem três séculos e que sempre tem servido para reactivar os velhos sentimentos destes dois países que são membros da União Europeia.
Tudo isto era dispensável se não fosse o seu orgulho nacionalista, bem como a obcessão por agradar às opiniões públicas nacionais e, assim, assegurar localmente os votos e a manutenção do poder.  

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Évora: imaginação e arte contemporânea

O diário espanhol El Pais destaca hoje na sua primeira página uma pequena notícia com o título: Portugal combate la crisis com cultura - un palacio de Évora renace como asombroso museo. O desenvolvimento da notícia esclarece que o velho palácio da Inquisição de Évora que é propriedade da Fundação Eugénio de Almeida, foi transformado num “impressionante centro cultural” destinado a exposições, concertos e ciclos de conferências e num importante museu que reúne a valiosa colecção de arte daquele coleccionador.
Nos tempos actuais em que a crise económica e social continuamente nos ameaçam, esta iniciativa daquela Fundação é muito elogiada pelo El Pais, que recorda que a cidade de Évora foi declarada Património da Humanidade em 1986 e está apenas a 100 Km de Badajoz e a 150 Km de Lisboa, parecendo sugerir aos seus leitores uma visita.
Para arrancar com o Fórum Fundação Eugénio de Almeida que foi inaugurado no dia 11 de Julho, funcionou a imaginação: foi enviado um convite a centenas de artistas de todo o mundo, famosos e menos famosos, para que apresentassem propostas de trabalhos destinados a integrar uma grande exposição mundial. As propostas chegaram de todas as partes do mundo por via digital. Chegaram 700 e foram escolhidas 450 obras oriundas de mais de cinco dezenas de países, que foram reproduzidas em tamanho idêntico e agrupadas por temas. O projecto chama-se Portas Abertas e estará patente até ao dia 9 de Outubro. É um grande projecto artístico internacional que apresenta obras de grande diversidade de conteúdos, linguagens e estéticas da arte contemporânea global, ficando provado que na cultura mundial já não existe um centro e uma periferia. O que é interessante é que foi um jornal espanhol a elogiar esta iniciativa, certamente porque os jornalistas portugueses não têm tempo para essas coisas.
 

Ronaldo é o ciclone deste Verão

Aproxima-se o início dos campeonatos de futebol nos diversos países europeus e cada equipa, sobretudo as mais ricas ou com maior capacidade de endividamento, contrataram os melhores actores – treinadores e jogadores.
Apesar das suas dificuldades económicas e sociais, a Espanha está na primeira linha dessas contratações futebolísticas com que gasta muitos milhões, mas também do entusiasmo futebolístico que alimenta a rivalidade entre os castelhanos e os catalães, ou entre o Real Madrid e o Barcelona, ou entre Ronaldo e Messi-Neymar. As equipas preparam-se para a grande corrida que durará alguns meses e, para isso, fazem as chamadas pré-temporadas para recuperar os seus atletas e para afinar as suas tácticas, enquanto os jornais se encarregam de promover tudo isto e alimentar as expectativas. É assim por toda a Europa, mas em especial na Europa do Sul, onde a imprensa desportiva é mais lida do que a imprensa de informação geral.
Porém, o que nos surpreende é o que se passa com Cristiano Ronaldo. A imprensa espanhola chama-o frequentemente às suas primeiras páginas, não só porque reconhece o seu valor futebolístico, mas também como um caso de grande popularidade. A edição de hoje do jornal desportivo as destaca-o mais uma vez e chama-lhe o ciclone de Verão. Ele é realmente um ídolo e o mais famoso português da actualidade.

 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O regresso à diplomacia das canhoneiras

É costume utilizar-se a expressão diplomacia das canhoneiras ou gunboat diplomacy  para classificar as exibições de poderio militar-naval em que, perante situações de conflito de interesses, há uma parte que pressiona, intimida ou ameaça a outra parte. Essa prática, a que por vezes se chama demonstração naval, foi um instrumento da política internacional muito utilizado na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX, especialmente pela Grã-Bretanha e, depois, pelos Estados Unidos, mas não foi um instrumento utilizado apenas por estes países. Hoje continua a ser utilizado por esses e por muitos outros países, pretendendo ser a razão dos fortes e dos poderosos para humilhar e vergar os mais fracos.
É o que está a suceder em Gibraltar, em que a diplomacia das canhoneiras regressou com toda a força e a edição de hoje do  jornal madrileno La Gaceta destaca essa realidade, com uma fotografia a lembrar os negros anos da 2ª Guerra Mundial. Porém, ninguém imaginava que no século XXI houvesse dois Estados-membros da União Europeia, que são duas monarquias e que são governados por dois governos conservadores, entrassem neste jogo que é ridículo e muito perigoso. Era necessário mais bom senso e mais razoabilidade. Com tantos problemas que existem na Europa e nestes dois países, não vem nada a propósito arranjar mais este. Ingenuamente, eu até pensava que os nossos políticos eram fracos e irresponsáveis, mas afinal os Cameron e os Rajoy são farinha do mesmo saco.
 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

As práticas feudais foram ressuscitadas

A ser verdade aquilo que diz a última edição do jornal luso-canadiano Correio da Manhã – o jornal português de maior circulação no Canadá, que se publica às terças-feiras em Toronto e tem uma tiragem de 25 mil exemplares - é absolutamente ridículo que quatro políticos ocupem 100 polícias no Algarve. Meia dúzia deles ainda se poderia aceitar, mas um cento... só por exibicionismo ou má consciência. Assim, com este tipo de despesismo, não há país que aguente e nunca haverá impostos suficientes para custear esta aparatosa ou discreta comitiva que acompanha e serve Suas Excelências, como se uma estadia nas praias algarvias fosse um assunto de Estado. Provavelmente, nem Ceausescu, nem Mobutu, nem Kadaffi foram tão longe.
Por vezes, Suas Excelências deixam-se fotografar com ar descontraído e em atitude de passeio, chegando a parecer-se com pessoas como nós, mas com este tipo de comitiva ficamos a saber que é tudo uma encenação. Afinal, mesmo na praia, esta gente não está de consciência tranquila e provavelmente tem medo do povo, pois só assim se compreende a mobilização de tantos polícias e, provavelmente, de outros tantos súbditos a servir de motoristas, assessores, talvez cozinheiros e eu sei lá que mais. Até parece que regressamos à Idade Média, uma vez que Suas Excelências escolhem comportar-se como verdadeiros senhores feudais. Queixamo-nos que não temos policiamento suficiente e que andar pelas nossas ruas é um exercício de risco. Pudera, a polícia que pagamos com os nossos impostos está ocupada com Suas Excelências. 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um filme popular, divertido e comovente

Depois do êxito que teve em França, onde em seis semanas registou mais de um milhão de espectadores, o filme A Gaiola Dourada ou La cage dorée (na sua versão original), foi estreado em Portugal. Realizado por Ruben Alves, um jovem realizador luso-descendente, o filme conta com leveza, alegria e humor, a história de um casal de emigrantes portugueses em França. A mulher é porteira e o marido é trabalhador da construção civil, sendo esses protagonistas interpretados por Rita Blanco e Joaquim de Almeida. São a Família Ribeiro.
Ora, nós temos vivido por aqui um tempo de incerteza e de grande preocupação, com os cortes nos salários e nas pensões, com o desemprego e o aumento da pobreza, com o aumento enorme de impostos e com o descrédito, a mentira e a falta de pudor de quem nos governa. Ora nós temos aguentado tudo isto, desde há dois anos, suportando gente que nos prometeu facilidades e que tanto criticou os outros, mas que tem revelado incompetência e amadorismo e não vemos maneira de sair disto. Há mais insegurança nas ruas, há menos confiança no amanhã, há cada vez maior risco de ruptura social, há uma crescente degradação do espaço público, há uma contínua ameaça governamental ao Estado social e ao nosso modelo de vida, sem qualquer consideração por quem trabalhou. Andamos preocupados e tristes. Sem esperança e sem vontade de rir.
Então, se há um filme que nos diverte, que nos faz rir e até nos comove, não hesitemos em vê-lo, até porque todos temos dentro de nós um pouco (ou muito) da Família Ribeiro. É bem divertido!
 

domingo, 4 de agosto de 2013

Gibraltar como manobra de diversão

Os principais jornais diários espanhóis de tendência conservadora, respectivamente o La Razón e o ABC, mas também o social-democrata El País, destacaram o rochedo de Gibraltar nas suas edições de hoje: “El Gobierno despliega un plano de mano dura contra Gibraltar”, “se acabó el recreo en Gibraltar” ou “La Armada volverá al Peñon”.
Gibraltar é uma colónia ou território ultramarino britânico situado no extremo sul da península Ibérica que foi ocupado militarmente em 1704, mas que a Espanha cedeu definitivamente à Grã-Bretanha em 1713 pelo Tratado de Utrech.
Os tempos correram e a Espanha tem reivindicado o “peñon” mas, nos referendos realizados em 1967 e em 2002, os 30 mil gibraltinos escolheram maciçamente permanecer sob a soberania britânica. O problema é muito complexo e a reivindicação espanhola sobre Gibraltar não pode ignorar as reivindicações marroquinas sobre Ceuta e Melilla ou os direitos portugueses sobre Olivença.
Porém, de vez em quando, certamente para distrair a opinião pública espanhola, é agitada a bandeira do nacionalismo e acentua-se a reivindicação por Gibraltar. Agora, numa altura em que o partido do governo e o seu líder Mariano Rajoy estão a ser acusados de corrupção, o pretexto para lembrar Gibraltar foram as descargas de entulho feitas em águas espanholas e os privilégios de 7 mil gibraltinos que vivem em Espanha e que pagam impostos muito moderados em Gibraltar. O governo espanhol que suporta tantas dificuldades, decidiu disfarçá-las e até encara a possibilidade de recorrer à Marinha espanhola para “cercar Gibraltar” como resposta às “provocações britânicas”. Só pode ser uma manobra de diversão, a mostrar como vão as coisas pela União Europeia.

sábado, 3 de agosto de 2013

Alto Douro Vinhateiro


A UNESCO classificou o Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade em 2001, na categoria de paisagem cultural, o que premeia a região vinícola demarcada mais antiga do mundo, decretada em 1756 pelo Marquês de Pombal. Foi uma decisão muito apreciada e muito justa, porque consagrou uma região cuja paisagem natural é muito bela, mas que a acção do homem transformou e valorizou, primeiro ao actuar sobre as montanhas e, depois, ao intervir no próprio rio Douro, que atravessa a região.
Ao longo dos séculos o xisto maciço foi removido daquelas íngremes e estéreis encostas, foram construídos socalcos quase inacessíveis, plantaram-se vinhas e nasceu o vinho do Porto. O seu transporte em barcos rabelo até aos armazéns em Vila Nova de Gaia, foi uma grande epopeia até há bem poucos anos, quando foi decidido o aproveitamento hidroeléctrico da bacia hidrográfica do Douro e foram construídas diversas barragens que tornaram o rio navegável. A paisagem duriense alterou-se, enriqueceu-se e a região tornou-se um pólo turístico de grande valor económico e que hoje atrai actividades e recursos para a região. Uma visita ao Alto Douro Vinhateiro é um verdadeiro deslumbramento e eu, que agora tive a oportunidade de revisitar a região, não só enchi o peito de ar bem puro, como ofereci aos meus olhos uma visão de grande espectacularidade, lembrando-me de alguns filhos da terra como Miguel Torga, Aquilino Ribeiro e Guerra Junqueiro

 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A vida está má para todos

A revista GQ é uma revista mensal para homens, luxuosa e sofisticada - segundo ela própria se classifica - que trata de moda e de estilos, com artigos sobre temas que lhes interessam como por exemplo a alimentação, cinema, fitness, sexo, música, viagens, desporto, tecnologia e livros.
A foto de capa dessa revista tende a ser apelativa e serve dois objectivos porque, por um lado, pretende atrair compradores para a revista e, por outro, proporciona a promoção da figura fotografada e permite-lhe ganhar algum dinheiro.
Ora, na sua última edição a revista contratou a apresentadora, actriz e letrista Catarina Furtado – é assim que a senhora é apresentada – para posar em estilo de “matadora”, com o pretexto de ter sido eleita Mulher do Ano. Não se sabe que título é esse, nem quem participa nessa eleição. É um evidente exagero de marketing!
O que sabemos é que, segundo revelam as redes sociais, a senhora ganharia 30 mil euros mensais que lhe eram pagos pela nossa RTP e que, generosamente, no ano passado aceitou fazer um desconto de 20%, o que significa que a mesma RTP lhe abona mensalmente 24 mil euros. Pessoalmente, acho que a senhora não tem actividade nem méritos que justifiquem os obscenos montantes que lhe são pagos com dinheiros públicos, isto é, dos meus impostos, pois que o seu grande atributo é o nome do pai. Apesar disso e porque a vida está má para todos, a senhora decidiu fazer umas fotografias insinuantes para se manter com popularidade e “sacar” mais umas massas para o seu pecúlio. Em fase descendente de uma carreira profissional incaracterística de animadora televisiva, ela aproveitou esta oportunidade e não se saiu bem. Naturalmente, a senhora pode tirar as fotografias todas que quiser, mas desta vez, mesmo vestidinha, deu um tiro no pé. Basta olhar para a capa da revista e apreciar o estilo de Madame Furtado.

 

O imparável dinamismo chinês


O canal do Panamá tem 82 quilómetros de extensão, faz a ligação entre o oceano Atlântico e o oceano Pacífico e por ele passam, anualmente, cerca de 13 mil navios que correspondem a 4% do comércio mundial. O canal começou a ser construído em 1880 sob a direcção do engenheiro francês Ferdinand de Lesseps, com base na sua própria experiência na construção do canal do Suez, que havia sido concluído em 1869, mas depois de vicissitudes e interrupções diversas, o canal só veio a ser concluído em 1914. É usualmente aceite que, durante a sua construção, terão morrido 5.609 trabalhadores vitimados sobretudo por doenças tropicais. O canal que foi uma maravilha tecnológica no seu tempo e que tem sido modernizado, já não pode corresponder às necessidades actuais. Assim, a China não perdeu tempo e entrou em acção, tendo estudado várias alternativas para a construção de um novo canal na Nicarágua. O novo canal já está escolhido, terá uma extensão de 200 quilómetros e será mais profundo e mais largo do que o canal do Panamá. Segundo informa o diário La Prensa de Manágua, o Congresso nicaraguense acaba de aprovar a concessão da construção do canal a um grupo de Hong Kong e, além do canal, o grupo deverá construir dois portos de águas profundas, um oleaduto, uma linha férrea e um aeroporto internacional, podendo explorar o canal nos próximos cem anos. Tudo para começar em finais de 2014 e para ficar concluído em 2019! As autoridades nicaraguenses acreditam que este projecto irá tirar o país e os seus 6 milhões de habitantes da pobreza e do subdesenvolvimento.