sábado, 31 de agosto de 2019

O topo do mundo para o Jorge Fonseca

Eu nunca tinha ouvido falar no Jorge Fonseca e ontem fui surpreendido com a notícia de que se tinha sagrado campeão do mundo de judo na classe -100 kg, ao vencer o russo Niyaz Ilyasov. As televisões repetiram muitas vezes aquela notícia e anunciaram que, pela primeira vez, um judoca português tinha sido campeão mundial.
Para quem, como eu, pensava que o judo português era a Telma Monteiro e a sua sempre adiada ascensão ao topo do mundo, foi muita surpresa mas também foi uma grande satisfação. O hino nacional foi ouvido em Tóquio e foi muito emocionadamente cantado pelo Jorge Fonseca, que nasceu em São Tomé e Príncipe, mas que veio para Lisboa há cerca de 15 anos. Disse ele que ouvir o hino foi uma situação incrível e que esperava voltar a ouvi-lo muitas vezes, o que é muito animador quando estamos a um ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Poucos imaginam os sacrifícios, as privações, o trabalho e a persistência que são exigidos na preparação dos atletas de alta competição, mas o título de Jorge Fonseca certamente que o compensa de tudo isso.
Os jornais generalistas portugueses deram a notícia em primeira página, mas com muita discrição, enquanto dois jornais desportivos esqueceram o futebol por um dia e perceberam a importância do feito atlético do Jorge Fonseca, dedicando-lhe toda s sua primeira página. Aqui fica, também, o meu aplauso porque, exceptuando os hoquistas, são muito raros os campeões do mundo portugueses.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Evocação do referendo de 1999 em Timor

Depois dos chamados acordos de Nova Iorque assinados no dia 5 de Maio de 1999 entre Jaime Gama e Ali Alatas, em representação dos governos de Portugal e da Indonésia com a mediação de Kofi Annan, o secretário-geral das Nações Unidas, realizou-se no dia 30 de Agosto de 1999 um referendo em Timor Leste.
Nessa consulta não se falava em independência e, muito habilmente, perguntava-se aos timorenses se aceitavam ou não uma autonomia especial para o seu território. A resposta foi negativa e 78,5% dos timorenses optaram por rejeitar essa “oferta” de estatuto, o que nos termos dos acordos de Nova Iorque significava o fim do vínculo indonésio a Timor-Leste e a restauração do estatuto que tinha até à invasão indonésia do seu território. Estava aberta a porta para a independência de Timor-Leste e para a substituição das forças militares e policiais indónésias por uma Força Internacional para Timor-Leste (INTERFET).
A notícia da realização da consulta popular que foi acordada em 5 de Maio, provocou muitas acções de intimidação contra os independentistas e muitos assassinatos. Com os resultados de 30 de Agosto, as milícias pró-indonésias com a cumplicidade dos militares indonésios, criaram uma situação de generalizada violência e destruição no território, sobretudo na cidade de Dili, assassinando muitas centenas de pessoas e levando muitos milhares a refugiarem-se em territórios vizinhos. As infraestruturas do território foram destruídas quase completamente, incluindo casas, escolas, igrejas, hospitais, bancos e os sistemas de irrigação, de abastecimento de água e de electricidade. As televisões mostraram a tragédia vivida pelos timorenses durante vários dias, pois só no dia 20 de Setembro desembarcou a força das Nações Unidas comandada pelo major-general australiano Peter Cosgrove. Hoje, o jornal Público evoca o 20º aniversário do referendo que abriu as portas da independência a Timor Leste, com uma fotografia da "alegria do povo".

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Brexit no-deal está cada vez mais perto

A pedido do primeiro-ministro Boris Johnson, a rainha Isabel II aceitou ontem que o Parlamento britânico seja suspenso desde o dia 10 de Setembro até ao dia 14 de Outubro, isto é, até quando faltarem apenas  duas semanas da data prevista para o Brexit.
Com esta medida o radical governo britânico pretende assegurar que o Reino Unido abandone a União Europeia no dia 31 de Outubro, certamente sem acordo ou no-deal, ao mesmo tempo que pretende inviabilizar quaisquer tentativas de aliança entre a oposição trabalhista, os rebeldes conservadores e os deputados escoceses, para impedir essa saída sem acordo ou mesmo para conseguirem o afastamento de Boris.
As reacções a esta decisão foram imediatas pois o encerramento temporário do Parlamento é um sério ataque ao processo democrático e aos direitos dos deputados enquanto representantes eleitos pelo povo, havendo mesmo quem fale em golpe de estado. Muita gente não aceita a legitimidade política de Boris Johnson, pois foi escolhido por noventa mil cidadãos do seu partido, chefia um governo minoritário, não tem uma maioria no Parlamento e, desde que assumiu o cargo, não foi ao Parlamento uma única vez, o que é uma afronta à tradição democrática britânica.
O extravagante Boris Johnson, que toda a gente considera a versão britânica de Donald Trump, tem vivido obcecado com o Brexit e parece não entender as graves consequências que virão para a economia, para a sociedade e mesmo para a cultura do Reino Unido com este divórcio mal esclarecido. Por isso, a edição do The Times destaca hoje que "Johnson goes for broke", isto é, que Johnson nos leva à falência.
Ninguém se entende naquelas ilhas. Porém, como teremos oportunidade de ver, esta história ainda vai ter muitos mais episódios.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

A vergonha dos políticos-futeboleiros

Embora eu tivesse sido um praticante muito medíocre, o gosto pelo futebol tem vivido sempre comigo desde há muitos anos porque, apesar dos condicionalismos impostos pelo negócio, pelo necessidade de satisfazer adeptos e patrocinadores e das muitas exigências de um espectáculo que movimenta milhões, ainda continua a ter um largo espaço para a criatividade e para a performance atlética, o que também faz do futebol uma arte do espectáculo, tal como o circo, o teatro ou a dança. Além disso, o futebol é um espectáculo divertido, que entusiasma, que pode alimentar sãs paixões clubísticas e que tem a potencialidade de regular as tensões da sociedade.
Porém, de há uns anos para cá, o futebol tornou-se uma praga social do tipo jacinto-da-água, pois invade e quase devora tudo à sua volta. A componente desportiva quase desapareceu deste fenómeno de massas e são os interesses comerciais que dominam, enquanto as televisões se deixaram colonizar pelo futebol e dão guarida a um arraial mediático de mau nível, onde não faltam as acusações, os insultos e as contínuas suspeitas sobre o adversário. Nenhum outro assunto ocupa tanto espaço televisivo como o futebol e até as notícias sem interesse nenhum são repetidas dezenas de vezes. É um atentado à saúde mental do telespectador. Um espectáculo televisivo deprimente.
Nos últimos tempos surgiu uma nova espécie de gente que são as dezenas de comentadores futebolísticos, muitos deles trauliteiros encartados e alguns deles, imagine-se, deputados eleitos como nossos representantes no Parlamento. Vemos, então, os nossos representantes no Parlamento aos gritos histéricos por causa de um penalti, de um off-side ou de um erro de arbitragem.
Hoje o jornal i chamou-lhe “os políticos que dão toques na bola”, mas eu acho que, se eles são políticos, são medíocres e incapazes. São gente sem princípios e sem valores que apenas querem ganhar uns cobres e satisfazer as suas vaidades pessoais. São meros oportunistas sem vergonha nenhuma e, ao colocar a fotografia de alguns deles na sua primeira página, o jornal fez-me lembrar os cartazes afixados à porta dos saloons com a imagem dos  cowboys que tinham a cabeça a prémio no Far West...

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Plácido Domingo: a ovação em Salzburgo

O tenor espanhol Plácido Domingo, que actualmente conta 78 anos de idade, foi recentemente acusado nos Estados Unidos por supostamente ter assediado sexualmente nove mulheres, das quais sete nem sequer se identificaram.
Este tipo de acusações contra figuras proeminentes e ricas é comum no país mais poderoso do mundo, mas o senso comum percebe sem dificuldade que, muito provavelmente, se tratam de tentativas de extorsão que é uma prática comum numa sociedade em que o dinheiro é o valor mais importante de tudo.
Nestes casos de assédio sexual, real ou fictício, a moralidade americana é ridícula e extravagante, regendo-se por padrões muito diferentes dos padrões europeus e da cultura latina, chegando a haver acusações que resultam apenas de olhares ou de piropos, nem sempre mal intencionados.  Por isso, de vez em quando lá aparece na América mais um caso em que um indivíduo rico e famoso é vítima de uma acusação dessas. Foi assim, por exemplo, com Dominique Strauss-Kann, o antigo director do FMI e potencial candidato à Presidência da República Francesa, foi assim com Cristiano Ronaldo que foi e é o melhor futebolista do mundo e é, agora, com Plácido Domingo, considerado a maior estrela da ópera internacional. Todos eles são estrangeiros, estiveram na América e são ricos, pelo que são alvos interessantes para quem vive de extorsões e de indemnizações por tudo e por nada. Não sei se são culpados ou não das acusações que lhes têm feito, mas o facto é que lhes têm saído caras sob todos os pontos de vista.
Ontem Plácido Domingo apareceu pela primeira vez num espectáculo desde que surgiu a acusação e o público do Festival de Salzburgo ovacionou-o de pé antes e depois da sua actuação. Alguns jornais espanhóis, como por exemplo La Razón, juntaram-se ao público de Salzburgo e também aplaudiram o tenor. 

domingo, 25 de agosto de 2019

Fogo da Amazónia é uma questão política?

Perante a enorme calamidade que está a afectar a Amazónia e da onda de indignação e de protesto que se gerou no país e no exterior, o presidente Jair Bolsonaro decidiu alterar o seu discurso e começou a mostrar alguns sinais de preocupação. Sentiu a sua cadeira a tremer e percebeu que a função presidencial é bem mais complexa do que aquilo que ele pensava. Alguém lhe sussurrou ao ouvido que fosse mais moderado e menos arrogante no seu discurso e que fizesse qualquer coisa para enfrentar a situação na Amazónia, pois o protesto do povo estava a aumentar.
Sob forte pressão nacional e internacional, o Jair autorizou a utilização das Forças Armadas no combate às queimadas na Amazónia, mas há quem defenda que esta iniciativa já é tardia e que a calamidade ambiental é irreversível. Há mesmo quem escreva que o Exército vai apagar um fogo posto pelo próprio presidente ou quem o acuse de um crime de lesa-pátria, devido aos estímulos que concedeu ao desmatamento ilegal de grandes áreas para exploração económica. Outros referem o risco do Brasil de Bolsonaro perder a soberania sobre a Amazónia, que é considerado o pulmão do planeta. Bolsonaro é, portanto, um político sem qualquer futuro como os brasileiros estão agora a ver.
Apesar de tudo parecer resultar de uma atitude política de passividade perante os grandes grupos económicos dos quais o Jair parece depender em demasia, o facto é que tem havido alguma solidariedade internacional para com a situação e a Argentina colocou-se na primeira fila, apesar de todos os seus problemas internos.
O assunto é tão importante que foi posto na agenda da 45ª reunião do G7 que está a decorrer em Biarritz, a par do tema da paz no nosso planeta, das questões do comércio mundial e da sustentabilidade ambiental. Afinal o fogo da Amazónia é muito mais que um incêndio florestal, pois tornou-se numa questão política.

sábado, 24 de agosto de 2019

O ataque aos fogos na selva boliviana

Os trágicos incêndios que estão a devastar a Amazónia e a angustiar o mundo, não estão a acontecer apenas no Brasil, pois também estão a afectar a Bolívia, sobretudo na Chiquitania, que é a região mais oriental do país e que faz fronteira com o Brasil e com o Paraguai.
Porém, enquanto Jair Bolsonaro tem alimentado a polémica, ao negar as evidências e ao retardar as medidas necessárias, o seu colega boliviano Evo Morales tomou medidas imediatas e, uma delas, foi a decisão de contratar o  Boeing 747 da empresa americana Global Super Tanker Services, que tem a sua base em Colorado Springs e que é considerado o maior avião de combate a incêndios do mundo, pois pode transportar 74 toneladas de água e de retardante. Só existe uma destas unidades, conhecida por 747 Supertanker, que foi adaptada em 2015 para a luta contra os incêndios e que, actualmente, já interveio com sucesso na Califórnia, no Chile e em Israel. Agora, na Bolívia, as primeiras notícias revelam que a acção do Supertanker “comienza a sofocar el incendio”, como revela a edição de hoje do jornal boliviano Cambio.
A Chiquitania ou Chiquitos é uma região boliviana que inclui um conjunto de seis cidades fundadas pelos missionários jesuítas na primeira metade do século XVIII, cujas igrejas sobreviveram à sua expulsão pelas autoridades espanholas e que em 1990 foram declaradas Património Mundial pela Unesco.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A Amazónia arde e está muito ameaçada

Desde há cerca de duas semanas que o fogo vem consumindo extensas áreas florestais da região amazónica brasileira, mas também da Bolívia e, pelo conjunto de protestos internos e internacionais que nos chegam através das televisões, só podemos concluir que o que está a acontecer resulta da acção do homem e não de quaisquer causas naturais.
Segundo foi revelado, desde o início do ano já foram registados 73 mil focos de incêndio na Amazónia brasileira, o que significa quase o dobro do que se verificou no ano passado, daí resultando a perda de uma área de floresta equivalente ao território da Alemanha.
Os principais acusados por esta enorme tragédia ambiental são a ambição e a ganância dos produtores de gado e de soja que, através de queimadas não controladas e de incêndios, pretendem desmatar e aumentar as suas áreas de produção, aparentemente com o consentimento implícito do governo de Jair Bolsonoro. Porém, em vez de actuar, o governo brasileiro vem responsabilizando as ONG que defendem a Amazónia, acusando-as de provocarem os incêndios florestais com o fim de o atacarem politicamente, o que é mais uma fantasia do Jair e da sua limitada inteligência.
O facto é que o mundo está angustiado com o que se passa na Amazónia, que é um dos pulmões do planeta. O desequilíbrio ambiental que está a ser provocado pode ser irreversível e as Nações Unidas, a União Europeia, a Alemanha, a França e outros países têm protestado contra o que está a acontecer, para além do natural protesto dos prejudicados da primeira linha que são os brasileiros.
O jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, diz hoje em primeira página que o Brasil “pegou fogo”.  Realmente, desde que, no primeiro dia do ano de 2019, o Jair chegou à presidência, não cessam as notícias desagradáveis e negativas sobre o Brasil. Começa a ver-se que o Brasil merecia um presidente melhor.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

R.I.P. Percival Noronha

A notícia chegou esta manhã vinda de Goa e informava que, aos 96 anos de idade, falecera o comendador Percival Noronha.
Percival Noronha era bom amigo, era um conhecedor profundo da cultura goesa e esteve toda a sua vida ligado ao património cultural de Goa, quer no tempo da administração portuguesa do Estado da Índia, quer depois quando o território foi integrado na União Indiana. Conhecia como ninguém as ruas e as pedras da Velha Cidade onde se movimentava com naturalidade, como se aquele espaço museológico ainda estivesse no seu esplendor do século XVII. Conhecia os monumentos militares e religiosos e a sua história, a arte indo-portuguesa desde o mobiliário à joalharia, as tradições culturais religiosas e profanas e, também, as pequenas coisas que não estão escritas nos livros e que verdadeiramente fazem a história de Goa. Investigadores do mundo inteiro, sobretudo portugueses, recorriam aos seus saberes e nele encontravam sempre grande disponibilidade e alguma coisa de útil para as suas pesquisas. Humilde e discreto, vivia na sua casa do bairro das Fontainhas. Era um símbolo da cultura de Goa e, provavelmente, o goês mais conhecido nos meios académicos portugueses.
Afirmava a sua íntima ligação cultural a Portugal sem quaisquer complexos e era um símbolo da amizade luso-goesa, contrariando muitas vezes as correntes anti-portuguesas que, por moda ou por conveniência política, por vezes se manifestavam em Goa. Em 2014, muito justamente, tinha sido condecorado pelo governo português com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e sei bem quanto isso o orgulhou.
Goa fica muito mais pobre com o desaparecimento de Percival Noronha e eu aqui lhe presto a minha homenagem.

domingo, 18 de agosto de 2019

Obras sumptuosas e mania das grandezas

No canto sudoeste da Europa onde o processo histórico constituíu dois estados soberanos – Portugal e Espanha – há muitas coisas em comum e uma delas é a mania das grandezas, embora essa circunstância não seja apenas um vício ibérico.
Acontece que, em ambos os países ibéricos, depois de um longo período de isolamento internacional e de desenvolvimento assimétrico em relação aos países mais desenvolvidos, a integração europeia acontecida em 1986 trouxe entusiasmo, dinamismo e substanciais ajudas comunitárias para recuperar o tempo perdido. O dinheiro chegou em doses maciças e deslumbrou muita gente, o que permitiu a modernização da agricultura e do tecido empresarial, o apoio à formação profissional e muito mais coisas. Porém, a construção de infraestruturas terá sido o sinal mais visível do novo-riquismo ibérico com as autoestradas e rotundas, os portos e as marinas, as pontes e os túneis, os estádios de futebol, as piscinas e os pavilhões gimno-desportivos. Nestas, como em muitas outras actividades, a participação comunitária a fundo perdido era geralmente superior a 50% e porque essas construções davam votos, poucos se preocuparam com a efectiva necessidade desses investimentos, nem com o pagamento da componente não comparticipada. Daí nasceram muitas dívidas que caíram no saco da dívida pública e que hoje apoquentam os governos ibéricos.
Vem isto a propósito da notícia de hoje da edição de Sevilha do jornal ABC que revela que, vinte anos depois do Mundial de Atletismo de 1999, o Estádio de la Cartuja que custou 130 milhões de euros, fechou por falta de uso e de manutenção, além de ter graves problemas estruturais na sua cobertura. Por cá não faltam exemplos semelhantes, desde os sumptuosos estádios de Aveiro, de Leiria e do Algarve, até às dezenas de piscinas e pavilhões encerrados por falta de uso ou de manutenção. Era um tempo de vacas gordas, mas também era a mania das grandezas.

Boris Johnson: le bad boy de l’Europe

O Reino Unido tem passado por uma grande turbulência política desde que, no dia 23 de Junho de 2016, se realizou o referendo para decidir da sua permanência ou saída da União Europeia. Os partidários do Brexit ganharam com 52% dos votos, mas essa margem foi tão escassa que o país ficou dividido e não se tem entendido quanto ao futuro. Os primeiros-ministros David Cameron e Theresa May não conseguiram resolver a situação e, no dia 24 de Julho, foi a vez de Boris Johnson tomar posse como primeiro-ministro.
Naturalmente, Boris Johnson anunciou que iria trabalhar para unir o país e que uma das suas prioridades era garantir a saída do Reino Unido da União Europeia, que está marcada para o dia 31 de Outubro, apesar da oposição do Partido Trabalhista e de um sector do seu próprio Partido Conservador. Embora esteja há menos de um mês a ocupar o nº 10 de Downing Street, o facto é que não há notícias que mostrem que Boris Johnson esteja a unir o que quer que seja e, perante a ameaça de sair sem um acordo com Bruxelas, amontoam-se os estudos a apontar para as trágicas consequências económicas e sociais para os britânicos, a juntar às ameaças de secessão por parte de escoceses e irlandeses do norte.
Boris Johnson é uma figura muito controversa, tem muito apoio de Donald Trump e, tanto a sua vida política como pessoal, têm estado sujeitas a muitas polémicas. Esta semana a edição do L’Express escolheu uma fotomontagem para ilustrar a sua capa, na qual Boris Johnson exibe um fósforo na mão, numa insinuação de que é um incendiário político. Chama-lhe o bad boy de l’Europe e procura mostrar o que nos espera com o Brexit, que tem data marcada para daqui a cerca de 70 dias.

sábado, 17 de agosto de 2019

R.I.P. Alexandre Soares dos Santos

A notícia da morte de Alexandre Soares dos Santos aos 84 anos de idade não foi inesperada porque era sabido que padecia de doença grave, mas é muito dolorosa. Com a sua morte desaparece mais uma figura de referência do universo empresarial português, num tempo em que temos assistido ao desaparecimento de verdadeiros empreendedores e ao nascimento (e queda) de aventureiros gananciosos que se disfarçaram de empresários e têm afundado várias empresas portuguesas.
Alexandre Soares dos Santos, tal como Américo Amorim e Belmiro de Azevedo, também foi um visionário que criou um negócio na área da distribuição, que satisfez uma necessidade social, que apoiou a produção agro-alimentar portuguesa e que, directa e indirectamente, empregou muita gente. À frente do grupo Jerónimo Martins desde 1968, foi com a sua visão que aquela pequena empresa familiar se tornou num dos maiores grupos empresariais portugueses, não só pela sua dimensão e robustez únicas no panorama nacional, como pela sua bem sucedida internacionalização, nomeadamente na Polónia e na Colômbia. As suas preocupações sociais e culturais levaram-no a muitas iniciativas de interesse para o desenvolvimento do país, de que a Fundação Francisco Manuel dos Santos é uma das mais notáveis.
Embora não o conhecesse, nem partilhasse muitas das suas ideias, nem gostasse do seu estilo demasiado contundente e polémico, aqui lhe presto a minha homenagem.
Homens como este fazem muita falta a Portugal.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A crise em Hong Kong continua sem saída

Desde o passado mês de Junho – já passaram 11 semanas – que têm acontecido grandes manifestações na Região Administrativa Especial de Hong Kong da República Popular da China (RPC) em protesto contra a intenção do governo da ex-colónia britânica para levar por diante um projecto de lei que prevê a possibilidade de extradição para a RPC de pessoas acusadas de crimes contra essa mesma RPC. 
Enquanto as autoridades de Hong Kong defendem que a lei se destina a assegurar a segurança interna do seu território, os manifestantes temem que a lei proposta seja a cobertura para que a lei chinesa tenha cada vez mais aplicação em Hong Kong e constitua uma efectiva restrição às liberdades públicas no seu território.
Os protestos de rua têm sido contínuos e os confrontos entre a polícia e os manifestantes têm sido muito violentos, com a polícia a recorrer à utilização de gás lacrimogéneo e os manifestantes a provocar tumultos e muita destruição, de que têm resultado muitos feridos e algumas detenções. Entre outras acções de afrontamento das autoridades, os manifestantes forçaram a entrada no Parlamento e ocuparam o aeroporto internacional de Hong Kong.
A senhora Carrie Lam, que é a chefe do governo de Hong Kong, já anunciou a sua decisão de suspender o projecto de lei e alertou para a gravidade da situação que se está a viver em Hong Kong, mas as manifestações continuam e, na sua última edição, The Economist pergunta: “Como é que isto vai acabar?”
Há muita gente que teme uma intervenção militar chinesa, que poderá acontecer a pedido do governo local em caso de necessidade da manutenção da ordem pública ou de auxílio em caso de catástrofes, isto é, quer na China quer no mundo, muitos temem a repetição de uma intervenção musculada semelhante ao massacre de Tiananmen, que aconteceu em Junho de 1989 em Pequim.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Viva Viana mais a Romaria das Romarias

Elas aí estão!
São as Festas de Agosto em Viana do Castelo ou a Romaria da Senhora da Agonia, provavelmente, as mais famosas festas populares que se realizam em Portugal.
Diz-se que esta centenária festa é a Romaria das Romarias de Portugal, porque mobiliza uma cidade e a região do Alto Minho, mas também porque atrai muitos milhares de visitantes encantados pela religiosidade, pela cor, pelos sons e por uma contagiante alegria popular.
Logo no dia 16 de Agosto realiza-se o sempre esperado Desfile da Mordomia que muitos consideram o verdadeiro ex-libris das Festas, mas todos os dias há outros motivos de interesse cultural, como a Procissão do Mar da Senhora da Agonia, o Cortejo Histórico-etnográfico que envolve cerca de três milhares de participantes, os desfiles de bombos e cabeçudos e muitos outros coloridos desfiles que animam o povo e a cidade durante vários dias. Naturalmente, não faltarão os concertos musicais, os fogos de artifício e a feira onde o visitante encontrará de tudo.
Como pano de fundo, há a inesquecível voz que Amália emprestou à composição de Pedro Homem de Melo e Alain Oulman, que continua a ser um quase-hino da Romaria da Agonia:
Se o meu sangue não me engana
Como engana a fantasia
Havemos de ir à Viana
Ó meu amor de algum dia
Porém, numa festa culturalmente tão extraordinária só fica um pequeno lamento, porque a Romaria da Senhora da Agonia bem merecia um cartaz promocional muito mais criativo.

A dinâmica da cultura portuguesa em Goa

Quando se aproximam sessenta anos do traumático fim do Estado Português da Índia e quando a chamada geração da saudade vai desaparecendo pela natural sequência da lei da vida, os sinais de resistência da cultura portuguesa à crescente indianização do Estado de Goa continuam a ser muito fortes. Apesar de existir um Consulado-Geral em Goa e algumas instituições culturais públicas e privadas portuguesas que, certamente desenvolvem algumas actividades culturais, o facto é que são as iniciativas da sociedade civil e em especial das novas gerações de goeses, que estão a revelar-se com muito interesse e com um enorme dinamismo em prol da cultura portuguesa.
A música, de que os goeses são singularmente entusiastas, tem sido o principal veículo de promoção da cultura portuguesa em Goa, especialmente através do fado. Foi assim antigamente, mas depois de 1961 esse interesse estagnou ou passou a ser politicamente desadequado à nova realidade goesa. Porém, nos últimos anos tem havido vários jovens que se têm dedicado ao fado e alguns músicos que se tornaram exímios executantes da guitarra portuguesa.
O recém-criado Centre for Indo-Portuguese Arts (CIPA) vai inaugurar em Pangim, no próximo dia 15 de Agosto, a sua Madragoa – casa do fado e mandó. É, seguramente, um momento alto da vida cultural goesa, no qual se juntam dois dos mais talentosos músicos goeses – Orlando de Noronha e Carlos Meneses – a acompanhar a voz da fadista Sonia Shirsat.
Já que não posso estar lá como gostaria, daqui envio o meu forte aplauso à iniciativa daqueles bons amigos que espero seja gratificante, contagiante e duradoura.

sábado, 10 de agosto de 2019

Comemorar Elcano e ignorar Magalhães

Há 500 anos, no dia 10 de Agosto de 1519, largaram de Sevilha e desceram o rio Guadalquivir as cinco naus – Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago – que sob o comando de Fernão de Magalhães se propunham chegar às ilhas Molucas navegando para ocidente.
Foi, provavelmente, a mais famosa de todas as viagens de exploração marítima que o mundo conheceu e a bordo seguiam cerca de 242 participantes, incluindo 139 espanhóis, entre os quais 64 andaluzes, 29 bascos, 15 castelhanos e 7 galegos, a que se juntavam 31 portugueses, 26 italianos, 19 franceses, 9 gregos, 5 flamengos, 4 alemães e, ainda, gente de outras nacionalidades. Era uma verdadeira tripulação multinacional.
A viagem foi uma epopeia sob todos os pontos de vista. Magalhães veio a morrer em combate com os nativos da ilha de Mactan, nas Filipinas, no dia 27 de Abril de 1521. Sucedeu-lhe o português Duarte Barbosa, seu cunhado, que alguns dias depois foi morto numa emboscada na ilha de Cebu. O comando da expedição foi depois assumido por João Lopes Carvalho, outro português, mas que veio a ser demitido em 16 de Setembro.
Nesse dia, quando apenas sobreviviam as naus Trinidad e Victoria, Gonzalo Gómez de Espinosa tornou-se o capitão-general da expedição e Elcano foi escolhido para comandante da nau Victoria. Foi ele que, sendo figura secundária nesta expedição, veio a chegar a Sevilha com a única nau que completou a viagem. Como se diria em futebolês, Elcano entrou em campo já em período de descontos, mas foi ele quem marcou o golo decisivo. A Espanha agarrou-se a esse golo e pouco mais lhe interessa na evocação dessa efeméride e nas festividades que vai fazendo. O orgulho espanhol e a sua mentalidade hegemónica não têm emenda.
É nesse contexto que o veleiro Pros, de 21 metros, partirá hoje de Sevilha para percorrer 44 mil milhas numa viagem que será a réplica daquela que Magalhães iniciou em 1519 e que foi concluída por Elcano em 1522. O veleiro terá uma tripulação de 7 ou 8 membros, que foram escolhidos entre 140 voluntários e que irá rodando entre cada uma das grandes etapas da viagem. A viagem intitula-se Tras la estela de Elcano e é uma iniciativa da associação particular, embora tenha o apoio da Comisión del V Centenario de la Circunnavegación.
O Diário de Sevilla deu grande destaque a esta iniciativa a que chamaram ruta de Magallanes, mas escreve que "el velero zarpa para emular la gesta de Elcano", isto é, comemora Elcano e ignora Magalhães.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Donald dificulta soluções na Venezuela

Os Estados Unidos, e em especial a administração Trump, continuam apostados em lutar contra a Venezuela e o chavismo, porque não querem que mais um regime político de tipo cubano se instale na América do Sul.
A campanha contra Nicolás Maduro e o seu regime tem revestido diversas formas, embrulhadas em eventuais golpes de estado, ajuda humanitária, carência de medicamentos, crises no meio militar e outras formas sensacionalistas de sensibilizar a comunidade internacional que, de facto, não sabemos se são apenas acções de propaganda. Porém, daquilo que vamos sabendo, quer as Forças Armadas, quer o aparelho judiciário continuam ao lado de Maduro, enquanto o auto-proclamado presidente Guaidó não consegue ir mais além de ter sido recebido pelo Donald e não arrisca uma viagem à Europa que certamente não lhe correria da mesma maneira.
Apesar de todas as contradições do processo político venezuelano, desde Maio que têm decorrido negociações mediadas pela Noruega, Uruguai e União Europeia, entre o governo de Nicolás Maduro e representantes de Juan Guaidó.  As últimas rondas de negociações têm decorrido em Barbados, embora os americanos insistam que essas negociações devem ter apenas um ponto: o afastamento de Maduro. Nada como esta exigência mostra a efectiva ingerência dos Estados Unidos na vida venezuelana e como a oposição de Guaidó, infelizmente para os venezuelanos, não passa de um instrumento da política externa americana. Agora, a administração Trump foi mais longe e impôs sanções económicas totais contra a Venezuela, sendo a primeira vez que esta medida foi tomada nos últimos 30 anos. Parece-me que foram longe demais e só vieram complicar a situação na Venezuela. Nicolás Maduro, porque terá um sentido de dignidade bolivariana que outros não têm, abandonou a negociações com a oposição, conforme revela hoje o diário 2001 de Caracas. Podia esperar-se outra coisa?

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

As armas de fogo e o choro da América

Nas últimas horas a América tremeu devido à violenta ocorrência de dois tiroteios e, na sua edição de hoje, o jornal Houston Chronicle escolheu como título a frase “uma nação chora”.
Aconteceu um tiroteio na manhã do passado sábado num centro comercial em El Paso, no Texas, de que resultaram 20 pessoas mortas e mais de duas dezenas de feridos; cerca de 13 horas depois, num bar em Dayton, no Ohio, aconteceu um outro tiroteio de que resultaram 9 mortos e mais 27 feridos. Perante estes dois casos, ambos resultantes do racismo branco e do seu radicalismo de ódio e violência, a imprensa americana não só relatou a dor que afectou a sociedade americana, mas também reagiu contra a facilidade com que é possível aos americanos possuir armas de fogo em sua casa e, de vez em quando, utilizá-las na rua. Porém, o assunto é muito antigo e não parece que o lóbi da National Riffle Association abdique das suas posições liberais nesta matéria e que os americanos venham a ser limitados na sua liberdade de compra de armas de fogo.
O facto é que as estatísticas mostram que todos os dias morrem 85 pessoas vitimadas por armas de fogo e que, com os dois casos ocorridos do passado fim-de-semana e quando se está no 216º dia do ano, segundo a Gun Violence Archive já estão contabilizados 251 tiroteios, em cada um dos quais morreram “pelo menos quatro pessoas excluindo o atirador”. Muitos políticos exigem leis mais rigorosas para a posse de armas e acusam Donald Trump de estar a alimentar tensões raciais, designadamente com o seu declarado ódio aos hispânicos, responsabilizando-o pelo que aconteceu em El Paso e em Dayton.  
Depois de cada massacre a América fica chocada com as tragédias e chora, mas nada tem feito para combater esta realidade que faz do país mais poderoso do mundo, também um dos mais perigosos países do planeta.

domingo, 4 de agosto de 2019

Férias a crédito são nova forma de vida

A notícia de La Voz de Galicia é surpreendente, sobretudo depois da grave crise financeira de 2008 da qual nem o sistema financeiro nem os contribuintes já se livraram. Quando mais de cem mil galegos fazem as suas férias com recurso ao crédito, significa que já estamos num novo paradigma das relações entre rendimento e consumo ou, então, que ninguém aprendeu as lições do passado recente. E o que é válido para a Galiza deve ser válido para Portugal, porque os galegos e os portugueses são demasiado parecidos e tanto os comportamentos gananciosos da banca como os apetites irresponsáveis de quem a ela recorre para financiar as suas férias ,são certamente muito parecidos tanto para norte como para sul do rio Minho.
Não está em causa a necessidade de fazer férias, de descansar das rotinas laborais e de desfrutar de um ambiente diferente durante algum tempo para recuperar energias, mas o que admira é a nova forma de vida que se vem acentuando de fazer férias a crédito, seja para uma estadia no Algarve, para uma viagem aos Açores, para um cruzeiro no Mediterrâneo ou, até mesmo, para uma estadia “paradisíaca” nas Sheychelles. O "viaje agora e pague depois" tornou-se uma moda.
As economias europeias estão cada vez mais alavancadas na poderosa indústria do turismo e as férias de uns tornaram-se num negócio para muitos outros, como nos anos mais recentes se vê claramente em Portugal. Nessa lógica, o recurso ao crédito é um alimento essencial para alimentar essa indústria, embora seja perturbador para o princípio individual de que as poupanças que cada um faz com sacrifício para adiar o consumo para melhor oportunidade, se transformam em créditos para quem vai consumir sem que já tenha poupado. Antigamente ainda havia a compensação dos juros, mas agora é a banca que tudo engole na sua ganância e irresponsabilidade social.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Acordo de paz e o futuro em Moçambique

Ontem na Gorongosa, na província moçambicana de Sofala, o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram um acordo para a cessação definitiva das hostilidades e afirmaram unir-se para assegurar o seu cumprimento.
O acto ficou ensombrado por um ataque acontecido numa localidade próxima algumas horas antes da cerimónia, em que foram atingidos um camião e um autocarro de passageiros. Os autores deste ataque estão por identificar, embora as suspeitas recaiam sobre alguns elementos da Renamo que não aceitam o acordo agora assinado ou que contestam a liderança de Ossufo Momade. Significa, portanto, que a paz agora alcançada ainda carece de consolidação concreta, embora seja um esperançoso sinal para o futuro de Moçambique, sobretudo se os protagonistas do acordo de 2019 e a sociedade moçambicana não esquecerem os erros do passado que levaram ao insucesso dos acordos de paz feitos em 1992 e 2014, entre o governo e o então líder da Renamo Afonso Dhlakama. A reconciliação é sempre um processo difícil e, por isso, o antigo presidente Joaquim Chissano mostrou um entusiasmo limitado pelo acordo agora assinado, embora tivesse dito que confiava que “às três é de vez”.
Moçambique vai receber o Papa Francisco em Setembro e vai ter eleições gerais  e das assembleias provinciais no dia 15 de Outubro, pelo que o acordo agora assinado é um importante contributo para a unidade do país em torno do progresso e da unidade nacional, mas também para que seja mais efectivo o combate aos bandos fundamentalistas armados que têm actuado na província de Cabo Delgado. O expressivo sorriso exibido pelos subscritores do acordo na fotografia publicada pelo jornal O País, é muito estimulante para os moçambicanos.

Terá sido 1519 o ano que mudou o mundo?

A última edição da revista francesa Le Nouvel Observateur, por vezes conhecida como Le Nouvel Obs, destaca o ano de 1519 como o seu tema principal, classificando-o como o ano que mudou o mundo. A revista que tem uma larga circulação em França ilustra a sua capa com imagens associadas a alguns relevantes acontecimentos que ocorreram nesse ano de 1519 e que, de facto, influenciaram o processo histórico mundial e que constituem temas que merecem reflexão e evocação. Esses acontecimentos escolhidos pelo Obs são os seguintes:

● A partida de Fernão de Magalhães para as Molucas navegando para ocidente, numa viagem que veio a ser concluída por Juan Sebastián de Elcano e acabou por ser a primeira volta ao mundo;

● A morte de Leonardo da Vinci, uma das grandes figuras do Renascimento europeu e que se destacou como pintor, escultor, cientista, inventor, matemático, engenheiro, poeta e músico, entre muitas outras actividades;

● A morte do imperador Romano-Germânico Maximiliano I (filho de Leonor de Portugal) e a luta pela sua sucessão entre Francisco I de França e Carlos I de Espanha (casado com Isabel de Portugal) que este resolveu a seu favor, tornando-se no poderoso imperador Carlos V; 

● O início da conquista do México por Hernán Cortéz, simbolizada pela figura de La Malinche, a nativa azteca com quem se casou e que se veio a tornar num controverso símbolo da campanha de Cortéz que destruíu o império azteca de Moctezuma II.

Quando uma importante revista de política, negócios, economia e cultura como a Obs dedica tanto espaço à História é porque o tema é importante e oportuno. A História é sempre um exercício de memória e sem memória não temos futuro. Porém, não é linear e indiscutível que o ano de 1519 tenha sido o ano que mais tenha mudado o mundo.