domingo, 30 de junho de 2013

Catalunha: a luta continua!


A reivindicação independentista catalã tem estado aparentemente adormecida, mas ontem parece ter acordado quando cerca de 90 mil pessoas encheram o Camp Nou – o estádio do FC Barcelona – para assistir a um grandioso concerto.
Foi o Concert per la Libertat, no qual a cultura musical e a reivindicação política da Catalunha, assim como as cores nacionais catalãs, estiveram lado a lado e pretenderam dar um novo impulso no movimento para a independência. Os momentos musicais foram intercalados com a leitura de textos de escritores e poetas catalães, assim como vídeos com depoimentos de personalidades do mundo da cultura e da televisão, a apoiar o processo soberanista. A assistência dispôs de cartolinas vermelhas e amarelas com que decorou as bancadas do estádio e “construiu” um mosaico com a frase Freedom for Catalonia 2014, com o objectivo de pressionar a opinião pública internacional e ter apoios para a sua ambição independentista. À volta do estádio, segundo referiu a imprensa catalã, a venda de “produtos nacionalistas”, como bandeiras e camisolas, foi intensa, transformando o concerto numa grande festa. Muitos elementos dos órgãos do governo autónomo da Catalunha aderiram à iniciativa, embora tivesse havido declarações de grande prudência. A organização salientou que o concerto foi apenas mais um passo no processo libertador da Catalunha que aspira à realização de um referendo, mas que deseja uma transição pacífica e feliz, bem como a manutenção de laços de fraternidade com os povos vizinhos. Os tempos não estão fáceis para ninguém e os catalães também percebem isso.

O futebol é mesmo uma festa!

No mítico Estádio do Maracanã da cidade do Rio de Janeiro, disputa-se hoje a final da Taça das Confederações, em que se defrontam as selecções do Brasil e da Espanha. Até há poucos anos a hegemonia mundial do futebol era brasileira, mas nos últimos anos essa hegemonia deslocou-se para Espanha, cuja selecção é a actual campeã europeia e mundial.
Estamos a um ano da realização do próximo Campeonato do Mundo e o jogo de hoje, entre a selecção do país organizador e a selecção campeã mundial, apresenta-se como uma antevisão do que acontecerá em 2014. Era a final esperada e ambas as equipas lá chegaram sem terem sido derrotadas. O jogo começará às 23.00 horas de Lisboa e lá estarão Neymar e Iniesta, Xavi e Hulk, entre tantas outras estrelas do futebol mundial, num espectáculo que promete pela ambiência, pela incerteza e pela qualidade. A dirigir a equipa brasileira estará o nosso bem conhecido Luís Filipe Scolari, um homem que à sua maneira deu um importante contributo ao futebol português.
Todo o mundo está atento a este jogo e até na Índia, onde o futebol ainda não entusiasma multidões, o jornal Ananda Bazar Patrika ou আনন্দবাজার পত্রিকা (se o escrevermos em bengali) que se publica em Calcutta, chama à sua primeira página o jogo que hoje se disputa no Maracanã e as fotos de Neymar e de Iniesta.
O futebol é mesmo uma festa!
 

sábado, 29 de junho de 2013

A ridícula solidariedade europeia

A Comissão Europeia anunciou recentemente um programa de apoio ao desemprego jovem cujo montante poderá atingir os 8 mil milhões de euros, o que significa que os cerca de 5,7 milhões de jovens desempregados com menos de 25 anos que vivem na União Europeia, poderão vir a beneficiar de um apoio de cerca de 1400 euros cada um. O problema que a Comissão tão tardiamente reconhece é sério, pois a Europa corre o risco de ter uma geração perdida de jovens desempregados e há muitas vozes que entendem que estas medidas não são suficientes para inverter a situação.
O jornal i analisa hoje esta questão e recorda que em Agosto de 2012, num artigo publicado em jornais de toda a Europa, Durão Barroso calculara que o total de ajudas da Comissão Europeia à banca atingira 4,5 biliões de euros, isto é, cerca de 28 vezes o PIB português. Disse Barroso nesse artigo que “temos de acabar com o círculo vicioso no qual o dinheiro dos contribuintes - mais de 4,5 biliões de euros até agora - é utilizado para resgatar bancos”. Em síntese, o combate ao drama de quase 6 milhões de jovens sem emprego na Europa vai ser feito com uma verba que equivale a 0,177% do total de ajudas concedidas à banca até Agosto de 2012. Por cá, onde já foram injectados 6 mil milhões na banca, talvez possamos receber 150 milhões de euros para apoiar os jovens desempregados. Toda esta “solidariedade europeia” parece ridícula.

Tour de France: la 100ème édition

Começa hoje na Córsega a 100ª edição da Volta à França, a prova desportiva que mais entusiasma os franceses e que é, também, a prova de ciclismo mais importante de todas quantas se realizam no mundo. Este ano a prova terá 21 etapas e, para além dos dois contra-relógios individuais, contará com muitas etapas de montanha, quer nos Pirinéus, quer nos Alpes. Terminará em Paris no dia 21 de Julho e, pela primeira vez, a etapa final terminará ao pôr do sol, com a cidade de Paris já iluminada, para assinalar e dar brilho à 100ª edição deste grande acontecimento desportivo.
A corrida será disputada por 198 ciclistas de 22 equipas e conta com dois portugueses no pelotão: Rui Costa (dorsal 124) que ainda recentemente venceu a Volta à Suiça, e Sérgio Paulinho (dorsal 96) que em 2004 conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas.
Diariamente e a partir das 13.30 horas, a RTP2 acompanhará a corrida em directo, devendo notar-se que para além da sua vertente desportiva, a reportagem é sempre um cartaz turístico de excelência pela beleza e espectacularidade das imagens que divulga. A não perder, como se diz lá pelas estações televisivas.
 

Festival ao Largo 2013

No espaço fronteiro ao Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, vai realizar-se pelo quinto ano consecutivo, 0 Festival ao Largo 2013 dedicado à música sinfónica, ao teatro e ao bailado, no qual músicos, bailarinos, maestros e coreógrafos de renome nacional e internacional, proporcionarão ao público vários espectáculos ao ar livre e sempre de entrada gratuita. Este ano, certamente por dificuldades orçamentais, o Festival incluirá apenas onze espectáculos, que serão apresentados apenas às sextas-feiras e aos sábados, mas sempre às 22.00 horas.
O Festival ao Largo 2013 começou exactamente ontem e vai estender-se até ao dia 28 de Julho.  O programa que está a ser divulgado apresenta uma oferta suficientemente variada, que inclui apresentações da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do TNSC, para além da Companhia Nacional de Bailado.
O local é particularmente adequado para a realização de um festival deste tipo pelo seu enquadramento arquitectónico e constitui uma boa oportunidade para atrair público àquela zona da cidade. Tem sido assim todos os anos, embora as condições oferecidas aos espectadores não sejam muito confortáveis. Por isso, ou se vai cedo e se encontra um dos poucos lugares sentados ou, em alternativa, se assiste de longe, de pé e com pouca visibilidade.  Contudo, nas noites quentes de Julho que se avizinham, o Festival ao Largo é uma excelente proposta cultural. Se ainda não assistiu, experimente!

 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Uns são filhos e outros são enteados

A tenista portuguesa Michelle Brito derrotou a campeoníssima russa Maria Sharapova na primeira ronda do quadro principal do Torneio de Wimbledon. Antes desse encontro, era impensável este desfecho: a tenista portuguesa figurava no 131.º lugar do ranking mundial e iria ter uma luta desigual com a tenista que ocupa o 3º lugar do ranking mundial e que é uma das raras tenistas que já ganharam os quatro torneios do Grand Slam. Por isso, foi realmente um êxito desportivo invulgar e prestigiante, pelo que Michele Brito fez história no ténis português. Michele nasceu em Lisboa e tem 20 anos de idade, mas desde os nove anos que vive nos Estados Unidos com a família, exactamente para frequentar a Nick Bollettieri Tennis Academy, na Florida. 

Uns dias antes, o remador Pedro Fraga, natural e residente em Paranhos, conquistou a prova de skiff da Taça do Mundo de remo disputada em Elton Dorney, também na Inglaterra. Foi o primeiro título mundial para o remo português. Fraga é um atleta amador, mas já tem um palmarés desportivo notável. Antes remou em double scull em parceria com Nuno Mendes e obtivera um 5º lugar nos Jogos Olímpicos de 2012, uma medalha de prata nos Europeus de 2012 e 2010 e uma medalha de bronze em 2011. Este ano passou para o skiff e já ganhara a medalha de prata nos Europeus de Sevilha. 

Os jornais portugueses, generalistas ou desportivos, destacaram e quase todos "puxaram" a fotografia da tenista para a sua primeira página e até A Bola, por uma vez se esqueceu do futebol. Porém, nenhum deles se interessou pelo nosso campeão mundial de remo. Para os nossos jornalistas, há desportistas que são filhos e outros que são enteados ou, então, dão as notícias em função dos seus interesses pessoais. Como é diferente viver na Florida ou viver em Paranhos.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A nossa governação é uma triste sina

A crise que nos afectava em 2011 e que levou ao memorando de entendimento com a troika por vontade de quem chumbou o PEC 4, aprofundou-se nos dois últimos anos. Os portugueses empobreceram, perderam o emprego ou emigraram, enquanto o Estado aumentou a sua dívida e o seu défice. A economia regrediu, aumentaram as falências, a procura interna reduziu-se e não há investimento... apesar de não ter chovido. As cidades e as ruas estão a tornar-se desertas e os espaços vazios para vender e para alugar multiplicam-se. A insegurança é cada dia maior e existe uma ameaça de ruptura social. O desespero e até a fome entraram na vida de muita gente.
Porém, estes resultados têm responsáveis.
Durante dois anos fomos enganados e o poder produziu um discurso mentiroso, arrogante e de grande insensilidade social. Não estudaram. Não se prepararam. Tinham uma ambição desmedida. Diziam que não haveria cortes nos subsídios nem nas pensões e mentiram. Diziam que não subiriam impostos e mentiram. Diziam que nunca se desculpariam com o passado e mentiram. Diziam que não pediriam mais tempo nem mais dinheiro e mentiram. Ouvi-los, ou vê-los rodeados de guarda-costas, é um exercício confrangedor.
É verdade que os tempos são difíceis, mas foram eles que semearam ventos e se deixaram humilhar pela troika. A Espanha não foi nisso. Agora, vivem isolados numa espécie de condomínio de luxo, onde não faltam os carros topo de gama, os assessores, as viagens e os guarda-costas, como se viu naquele triste passeio a Alcobaça, em jeito de piquenique. Agora descobrem-se as verdades e cada vez é mais evidente que o caminho tão servilmente percorrido tem sido errado e tem servido para alimentar os especuladores que têm enriquecido com as nossas desgraças. Já ninguém acredita neste caminho errado, nem em quem nos conduz. Não acredita a oposição, nem acreditam os senadores do partido, nem os amigos da coligação, nem os patrões, nem os sindicatos. Agora nem o FMI acredita. É uma triste sina a nossa.

domingo, 23 de junho de 2013

A Espanha, a política e a corrupção

O jornal espanhol La Razon destaca na sua edição de hoje o fenómeno da corrupção em Espanha e, embora reconheça que há milhares de cidadãos que dão os seus esforços de maneira voluntária e altruísta ao serviço da comunidade, reconhece que a corrupção é um mal que afecta a generalidade dos países. Assim, perante o aumento da corrupção espanhola, o jornal patrocinou o lançamento público de um manifesto que visa a reabilitação da política e o combate à corrupção, o qual foi imediatamente subscrito por quarenta personalidades.
O manifesto afirma que “a vida pública espanhola está a ser assolada por casos de corrupção, por uma crise institucional e de valores, assim como uma crise económica que põe em causa as instituições. Longe de cairmos em desespero ou indiferença, o nosso dever é defender o papel da política e da sociedade civil para superar a situação. Gerou-se a ideia de que o sistema não funciona e de que tudo é corrupção, mas só com o reconhecimento de que há uma grande maioria de políticos honestos que trabalham para o bem comum é que poderemos recuperar o prestígio e a confiança no nosso país”. O manifesto inclui depois cinco pontos e termina com o elogio da política: “é a política que nos permitirá acabar com os casos de corrupção, porque a corrupção consiste no aproveitamento ilícito do poder”.
Na Corruption Perceptions Index de 2012, que é o último que está publicado pela International Transparency, a Espanha figura em 30º lugar, enquanto Portugal ocupa a 33ª posição. Parece, portanto, que temos problemas semelhantes no campo da corrupção, mas por cá não há manifestos, nem o tema ocupa as primeiras páginas dos jornais. Em vésperas de sufrágio eleitoral, bom seria que os eleitores portugueses pensassem nestas coisas.

University of Coimbra – Alta and Sofia


Foi com esta designação - University of Coimbra – Alta and Sofia – que a 37ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO reunida em Phom Penh, no Cambodja, declarou a inscrição de mais um bem cultural português na Lista do Património Mundial da UNESCO.
A Universidade de Coimbra foi criada em 1290 e a sua candidatura a património da Humanidade nasceu há cerca de 15 anos, tendo evoluído com o tempo: do Paço das Escolas passou a incluir toda a Alta universitária e a Rua da Sofia, num conjunto de mais de 30 edifícios e acrescentou a vertente do património imaterial, com a produção cultural e científica, as tradições académicas e, ainda, o papel desempenhado ao serviço da língua portuguesa. Significa que, para além dos critérios no qual a candidatura vinha fundamentada e que diziam respeito ao valor patrimonial do conjunto de edifícios que integram a área da candidatura, foi acrescentado um terceiro critério que reconhece a Universidade de Coimbra como símbolo de uma “cultura que teve impacto na Humanidade”. Por isso, o que foi distinguido não foi apenas um conjunto de edifícios antigos, mas também um dos mais importantes símbolos da cultura e da língua portuguesa. Estão de parabéns os meus familiares e os meus amigos que frequentaram aquela universidade, em especial o meu irmão MC e o meu amigo ANF.
Segundo os relatos divulgados pela imprensa, a inscrição imediata da Universidade de Coimbra foi apoiada pelos 21 delegados de todo o mundo, por vezes com intervenções muito elogiosas para a importância que ela teve na divulgação da ciência e da língua portuguesa no mundo. O representante indiano referiu a importância da língua portuguesa como veículo de cultura e a sua influência expressiva na Índia, enquanto o delegado tailandês agradeceu a Portugal por ter levado a malagueta para a Tailândia.
A partir de agora, Portugal conta com 15 bens inscritos na World Heritage List da UNESCO.
 

O Brasil mexeu e já mudou

Apesar do seu tom conciliador e do reconhecimento da legitimidade das reivindicações populares por melhor qualidade de vida, melhor saúde e mais educação, o discurso da presidente Dilma Rousseff não travou o enorme protesto popular e o Brasil continua a sair à rua para se manifestar. A juventude está na primeira linha da indignação nacional porque não se sente representada nos partidos políticos, enquanto a classe média já percebeu que o seu poder de compra estagnou ou regrediu. É um fenómeno que não é só brasileiro e que também acontece aqui pela Europa, sobretudo nos países do sul.
O enorme potencial económico brasileiro tem estado a ser canalizado para benefício de uma minoria e poucos acreditam na classe dirigente brasileira para inverter a situação. Agora o povo exige uma mudança. Todos denunciam a escandalosa corrupção, que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Todos criticam o desregramento dos gastos públicos, agora evidenciado com os custos e os extra-custos dos estádios de futebol. Todos exigem mais investimento na saúde, na educação e no estado social, isto é, menos bola e mais escola. A amplitude dos protestos surpreendeu e ninguém imaginou que a luta contra o aumento dos bilhetes do transporte público pudesse gerar uma tão generalizada contestação, até porque foi uma situação aparentemente de menor importância que serviu de detonador. É sempre assim. Porém, a insatisfação da juventude e da classe média brasileiras exprimiu-se genuinamente, tem o apoio de mais de 75% da população e isso significa que o Brasil não vai voltar a ser o que era. O país mexeu e, com determinação, já mudou. Os brasileiros não vão perder esta oportunidade para conquistarem direitos sociais. Tudo vai correr bem!  

 

sábado, 22 de junho de 2013

A UNESCO valoriza o nosso património

Reunida na cidade coreana de Gwangju, a UNESCO inscreveu mais um documento português na lista do património Memória do Mundo - o Diário da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499), cuja autoria é atribuida a Álvaro Velho. Este importante documento da História da Expansão Portuguesa pertence ao acervo da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP) e faz parte de um conjunto de 299 documentos classificados pela UNESCO na sua Memory of World que, a partir de agora, inclui seis documentos portugueses – a Carta de Pero Vaz de Caminha (2005), o Tratado de Tordesilhas (2007), o Corpo Cronológico (2007), o Relatório da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul (2011), os Arquivos dos Dembos (2011) e o Diário da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia (2013). Sobre o documento agora classificado, a UNESCO salientou tratar-se de “um testemunho verdadeiro da forma como Vasco da Gama, à frente da sua frota, descobriu a rota marítima para a Índia”, acrescentando que esta foi uma aventura “sem precedentes” e “um momento determinante que mudou o curso da História”, para além de constituir uma das maiores explorações marítimas realizadas pelos europeus naquela época.
Entretanto, o Comité do Património Mundial da UNESCO actualmente reunido no Camboja, está a apreciar um outro pedido português: a classificação da Universidade de Coimbra. Neste caso, a eventual classificação da velha Universidade, juntar-se-ia aos 14 sítios (culturais ou naturais) portugueses que estão incluidos na World Heritage List da UNESCO.


 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Um rei dos mares que visita Lisboa

O porta-aviões americano USS Dwight D. Eisenhower chegou ontem ao porto de Lisboa para uma visita de três dias, tendo ficado fundeado próximo da Trafaria, provavelmente devido às restrições de navegação a que está sujeito em Lisboa por ter propulsão nuclear. Embora o porto de Lisboa receba frequentemente a visita dos grandes navios de cruzeiro, não é habitual receber os grandes porta-aviões cuja imponência não deixa indiferentes os lisboetas, ao mesmo tempo que os tripulantes do navio têm o privilégio de admirar um cenário espectacular que é a entrada no porto de Lisboa, a serra de Sintra e o casario da cidade.
O USS Dwight D. Eisenhower é um dos mais poderosos navios de guerra do mundo com 4800 pessoas embarcadas, das quais cerca de 30% são mulheres. É uma verdadeira cidade flutuante e transporta 120 pilotos e 62 aéreos, designadamente caças F18 e helicópteros Hawkeye, Seahawk e Browler.
A visita de um navio desta dimensão e com uma tão numerosa tripulação é um acontecimento mediático e tem um significativo impacto em algumas actividades económicas da cidade em vésperas do regresso do navio aos Estados Unidos. Conforme revela hoje o Diário de Notícias, entre os tripulantes do porta-aviões encontra-se Roy Logan, um luso-descendente de 27 anos de idade que vem a Portugal pela primeira vez e que era esperado no cais pelo avô Domingos da Costa Duarte, residente em Aveiro.
 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A indignação e o protesto são globais!

A insatisfação e o protesto globalizaram-se e depois dos distúrbios acontecidos em Londres e Paris, da chamada Primavera Árabe, das manifestações na margem mediterrânica da Europa e dos protestos na Turquia, a insatisfação chegou ao Brasil numa extensão inesperada. Porém, todos parecem estar de acordo em relação ao protesto e o famoso Caetano Veloso escreveu que “os protestos são uma demonstração genuína da insatisfação da população”.
A insatisfação nem sempre tem uma origem ou um detonador precisos, mas acaba por unir os cidadãos que recusam aceitar passivamente as políticas que não os protegem, que lutam contra a corrupção, que condenam o enriquecimento ilícito e que reagem contra a violência do poder e dos poderosos.  O protesto é cada vez mais dirigido ao establishment e aos poderes que podem alternar-se, mas que se perpetuam na mesma lógica. No caso brasileiro o detonador foi o aumento dos transportes, mas existem outras razões como a corrupção generalizada, a violência policial e o comportamento dos políticos. O início da Taça das Confederações, a que seguirão o Mundial de Futebol e os Jogos Olímpicos acordaram o subconsciente dos brasileiros para os astronómicos gastos com os estádios e com a organização desses eventos mais ou menos sumptuários num país a reclamar por mais saúde, mais educação e menos pobreza.  Não se trata de um protesto de um partido ou facção contra outro partido ou facção, mas de uma reacção maioritária da população, dos jovens e das pessoas mais qualificadas, mobilizadas a partir das redes sociais. Como titula o Correio Braziliense “as manifestações desnorteiam a velha política” que está posta em causa. São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza e muitas outras cidades estão a mostrar a sua indignação. Como compreendemos os nossos irmãos brasileiros daqui deste lado do Atlântico!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A troika é uma criadora de desemprego



O jornal catalão La Vanguardia colocou hoje na sua primeira página um título que alude directamente ao nosso país - Portugal descubre el paro masivo bajo la tutela de la troika. Na realidade, o actual nível de desemprego é um problema recente e muito preocupante em Portugal, coincidindo com a adopção das políticas de austeridade impostas pela troika.
Quando em 1983 o país passou por uma grave crise económica, o governo tomou medidas excepcionais de contenção salarial e pediu ajuda ao FMI no sentido de corrigir o desequilíbrio das suas contas externas, daí resultando uma intensa contestação social. Como resultado desta situação verificou-se um aumento do desemprego, que em 1985 alcançou um valor histórico de 8.7%. Depois, a economia portuguesa estabilizou, o país entrou na CEE, foi adoptada a moeda única e o desemprego nunca mais atingiu o valor de 1985.
Até que em 2008 surgiu a actual crise económica e em 2009 o desemprego subiu dois pontos percentuais na União Europeia e, também, em Portugal, onde atingiu 10.6%. Depois, o desemprego iniciou uma escalada em Portugal e em 2010 subiu para 12.0%, em 2011 para 12.9%, em 2012 para 15.9% e, nesta altura, aproxima-se dos 18%. Como diz o La Vanguardia, foi com a tutela da troika e dos seus aliados internos que Portugal descobriu o desemprego massivo e caiu na espiral recessiva em que vivemos. Era suposto que a troika nos ajudasse, mas afinal…  


Azulejos de Brasília expostos em Lisboa

Não é uma exposição grande em extensão, mas é uma grande exposição e uma bela iniciativa da Fundação Athos Bulcão que se integra nas comemorações do Ano do Brasil em Portugal 2013. Intitula-se Azulejos em Lisboa – Azulejos em Brasília e está patente no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, muito bem enquadrada no espaço e na exposição permanente do museu.
A exposição faz um interessante paralelo entre as azulejarias brasileira e portuguesa e homenageia Athos Bulcão, o principal representante da moderna azulejaria brasileira e um dos autores mais representados em Brasília, embora tenha obra dispersa por outras cidades brasileiras e tenha assinado algumas obras no estrangeiro. O seu estilo inspira-se na azulejaria barroca portuguesa, sobretudo nas temáticas compositivas, nas paletas de cores e na lógica do processo de montagem. Diz-se que ele é “o artista da capital” e que o seu trabalho “conferiu alma a Brasília, com sua capacidade de intervenção na arquitectura, utilizando o azulejo e as inovações do seu uso”, o que muitas vezes enriqueceu as concepções arquitectónicas e o trabalho do seu amigo Oscar Niemeyer.
A interessante exposição pode ser vista até ao dia 28 de Julho e é sempre uma oportunidade para revisitar um dos mais belos museus de Lisboa.

domingo, 16 de junho de 2013

Rui Costa: uma vitória ciclista na Suiça

Exceptuando o futebol e o hóquei em patins, os êxitos desportivos dos atletas portugueses nas competições internacionais não são habituais e, por isso, a vitória que o ciclista Rui Costa hoje obteve na 77ª edição da Volta à Suiça merece justo destaque.
Natural da Póvoa de Varzim e com 26 anos de idade, o ciclista repetiu a vitória que já obtivera em 2012, tendo triunfado em duas das nove etapas da prova: a etapa-rainha de 206 quilómetros entre Meilen e La Punt e o contra-relógio final de 26,8 quilómetros disputado entre Bad Ragaz e Fulmserberg.
A imprensa suiça já noticiara que o “ciclista português deu espectáculo na montanha” e hoje destaca o brilhantismo e a autoridade com que Rui Costa triunfou na prova. Foi a 15ª vitória profissional do ciclista português, que foi muito aplaudido pela comunidade portuguesa que viajou até Fulmserberg para o apoiar no seu contra-relógio e que, naturalmente, vibrou com a vitória do nosso compatriota.
Entusiasta do desporto, aqui deixo os parabéns ao ciclista e os meus votos para que, brevemente, também possa dar semelhantes alegrias desportivas aos portugueses que vivem em França. Porém, também aqui fica um lamento pela marginalização a que são votados estes atletas, mesmo na imprensa e na televisão desportivas, absolutamente vergadas ao futebol, às transferências e aos contratos de treinadores e jogadores, por vezes de categoria irrelevante.

 

 

sábado, 15 de junho de 2013

Não lancem gasolina para a fogueira

A administração americana decidiu apoiar a oposição síria e assegurar-lhe o fornecimento de armas, com base na informação de que as forças de Bashar al-Assad tinham utilizado gases tóxicos contra as forças rebeldes. Esta decisão é controversa e parece ser uma cedência ao lobby da indústria do armamento, muito semelhante ao que se passou em relação ao Iraque e a Saddam Hussein, com as suas supostas armas de destruição massiva. Na União Europeia seguiu-se o mesmo caminho e a França e o Reino Unido também se preparam para fornecer armamento aos rebeldes, enquanto o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Síria parece ser o passo seguinte.
Ao contrário do que sucedeu no Iraque e na Líbia, o governo sírio tem aliados poderosos e os russos já reagiram e apressaram-se a declarar que os argumentos americanos não eram convincentes e que a sua decisão complicará os esforços de paz.
As Nações Unidas tinham reconhecido recentemente, através de um relatório da sua Comissão Independente de Inquérito, que tinham sido encontradas provas do uso de “quantidades limitadas” de gás tóxico em quatro locais, mas que não foi possível determinar “o tipo de agentes químicos usados”, nem identificar quem os usou. Além disso, a investigação detectou a prática de outros crimes contra a humanidade cometidos por ambos os lados do conflito, incluindo tortura e pilhagem, embora mais intensas por parte do governo e das milícias suas aliadas.
Como acontece em todas as guerras há excessos nos dois lados e é a população que sofre. Assim, é incompreensível que, em vez de parar com o fornecimento de armas e de se pressionarem os dois contendores para cessarem os combates e os massacres, para abrir o caminho da paz e para minimizar o risco de alastramento regional, alguns países atirem gasolina para a fogueira.

Dívidas, défices e dignidade nacional

A Espanha vive um período muito difícil, com a economia em recessão e com um desemprego de 26,7%, ao mesmo tempo que “a dívida pública dispara”, como hoje noticia em primeira página o jornal económico espanhol La Gaceta.
Quando em 2007 começou a actual crise económica europeia, a dívida pública espanhola era de 36,3% do PIB e, cinco anos depois é de 88,2% do PIB, tendo o montante da dívida passado de 380,66 para 922,82 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 132%. No mesmo período, a dívida pública portuguesa passou de 63,6% do PIB para 123,6% do PIB e o montante da dívida passou de 103 para 204 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 98%. Estes números significam que a situação espanhola é mais grave do que a situação portuguesa, mas enquanto os nossos vizinhos reagem com um sentido de dignidade nacional, os nossos dirigentes aceitam humilhar-se e submeter-se aos interesses dos especuladores que tanto nos conduziram à actual situação. Por isso, não se entendem a agressividade da troika, nem as entrevistas encomendadas a Abebe Selassie, nem as intromissões de Wolfgang Schäuble, nem o servilismo vergonhoso de Gaspar, nem o quase autoritarismo de Passos. Basta de fanatismo e de humilhação!
Além disso, o problema europeu também é muito grave. No mesmo período de 2007 a 2012, a dívida pública global da União Europeia aumentou em média 51% e, exceptuando a Suécia, a dívida aumentou em todos os seus Estados-membros. O desemprego europeu passou de 10,3 para 10,9% nos últimos 12 meses, há 17 países com um défice orçamental superior a 3% e há 14 países cuja dívida pública é superior a 60% do respectivo PIB. Afinal parece que o nosso problema não era uma consequência da má governação anterior, nem tão pouco se resolvia com um corte de gorduras como foi largamente apregoado por quem agora nos governa. Ao menos aprendam com a dignidade espanhola.

 

As reconfortantes declarações do rei Pelé

A propósito da Taça das Confederações que é organizada pela FIFA e se vai disputar no Brasil, o rei Pelé foi entrevistado pelo diário desportivo espanhol as que, na sua edição de hoje, destacou algumas das suas afirmações e, em especial, aquela em que o entrevistado diz que “Cristiano se mereció ganar el Balón de Oro”.
A Bola de Ouro surgiu em 1956 por iniciativa da revista francesa France Football e, de entre os seus vencedores destacam-se os futebolistas portugueses Eusébio (1965), Luís Figo (2000) e Cristiano Ronaldo (2008). Em 2010 o prémio do jornal francês foi fundido com o prémio Jogador do Ano da FIFA e passou a ser designado por Bola de Ouro da FIFA, distinguindo o futebolista com melhor desempenho mundial no ano anterior. Desde 2009 e, portanto, nas suas últimas quatro edições, o prémio do melhor futebolista do mundo foi atribuido ao argentino Lionel Messi, enquanto Cristiano Ronaldo já acumulou quatro segundos lugares (2007, 2009, 2011 e 2012).
Para os simpatizantes portugueses do futebol, estes consecutivos segundos lugares de Cristiano Ronaldo têm sido muito frustantes e, quiça, injustos. Por isso, a declaração daquele que a FIFA considerou “o melhor futebolista do século” é bastante reconfortante para quem aprecia o talento de Ronaldo e não ignora que há um lobby que tem promovido o igualmente talentoso Lionel Messi.

 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A lusitana paixão pela austeridade

Segundo os últimos indicadores do Eurostat o desemprego em Espanha é de 26,7% e em Portugal é de 17,5% e este indicador é, seguramente, um dos mais decisivos no que respeita à situação económica e social dos países ibéricos. Cada um deles, à sua maneira, reage a esse grave problema económico e social, porque ele representa um factor de empobrecimento nacional, significa a recessão e a quebra da produção nacional e, sobretudo, provoca a corrosão do tecido e da coesão social.
Porém, a Espanha não aceitou a tutela da troika e hoje, uma vez mais, reage às políticas de austeridade impostas pelos credores e pelos seus patronos, como destaca o El País ao anunciar que “Rajoy y Rubalcaba unen su voz para pedir a Europa menos austeridad”.
Aqui em Portugal é diferente e, com indiferença, incompetência e seguidismo cego, prossegue a atitude de submissão com que os nossos dirigentes obedecem à troika e nos humilham.
O Diário de Notícias destaca hoje que o nosso primeiro prometeu ao FMI que vai cortar o dobro da despesa já em 2013, o que significa o agravamento da austeridade e a obediência a uma instituição que, ainda recentemente, assumiu erros nas políticas que impôs à Grécia. Será que não há imaginação para fazer diferente? E como se articula o discurso anti-FMI do homem do leme com esta submissão do nosso primeiro? E como é que, com estes cortes na despesa e a consequente quebra de rendimento das famílias, se estimula a procura interna e se cria emprego? Ao fim de dois anos de governo, a paixão pela austeridade prossegue e as suas trágicas consequências estão à vista.

 

 

 

O novo A350 apesar da crise europeia

Hoje, nos céus de Toulouse vai realizar-se o primeiro voo do A350 e esse facto representa um sucesso tecnológico para o consórcio Airbus que, sendo essencialmente francês, alemão, inglês e espanhol, pode em certa medida ser considerado um projecto europeu. A edição de hoje do jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse, destaca esse acontecimento com justificado regozijo.
O Airbus A350 XWB (eXtra Wide Body) é um avião comercial de longo alcance e é o mais recente símbolo da competição entre a Europa e a América pelo domínio do mercado mundial da aviação, protagonizada pela Airbus e pela Boeing. Depois do enorme sucesso que foi o A330, a Boeing respondeu com o projecto B787 Dreamliner, mas o novo A350, que hoje voará pela primeira vez, parece ser a resposta do consórcio europeu para competir com o B787 e o B777, apresentando-se como um avião mais eficiente em termos de consumo de combustível e de mais baixo custo operacional.
As companhias aéreas acolheram com grande entusiasmo o novo avião e, nesta data, já estão consolidadas 548 encomendas, sendo essa lista encabeçada pela Emirates (100), Qatar Airways (80) e Cathay Pacific (36). Nessa lista de encomendas também se encontram a TAM – Linhas Aéreas de Moçambique (27) e a TAP Portugal (12). Espera-se que o novo avião entre ao serviço durante o primeiro semestre de 2014.

 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A reabilitação urbana é uma urgência



Nas nossas cidades está a verificar-se uma rápida degradação do património devido a um natural processo de envelhecimento, à sobrecarga de usos ou à inadaptação a novos modos de vida, num processo que se tem agravado com a grave crise financeira com que nos confrontamos desde há quatro ou cinco anos. Esta situação afecta a harmonia arquitectónica da cidade e perturba a vida económica e social dos cidadãos, sendo também um desperdício de activos que poderiam estar a gerar rendimento à comunidade. Por isso, a reabilitação é uma necessidade evidente.
A reabilitação urbana é uma actividade muito importante devido ao seu enorme efeito multiplicador na economia e no emprego, mas também ajuda a combater o pessimismo, a desconfiança e a incerteza da comunidade, que aumentam com o convívio quotidiano com a degradação das estruturas urbanas, dos edifícios e do espaço público. Ao atrair actividades e recursos, a reabilitação urbana tem efeitos mobilizadores não só para as indústrias da construção e dos materiais de construção, mas também para o mercado do arrendamento, para o turismo e, de uma forma geral, para o investimento. Assim, nas actuais circunstâncias e como contributo para a saída da crise que atravessamos, a reabilitação urbana terá que ser uma prioridade para o governo, para os municípios, para as empresas e para os cidadãos.
A imagem do que se passa por exemplo em Lisboa, na avenida Fontes Pereira de Melo, em que alguns edifícios em elevado grau de degradação estão ao lado do famoso Hotel Sheraton, ilustra esta realidade e pode adjectivar-se como uma situação esteticamente chocante. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

O Festival dos Mastros de São Teotónio

A tradição alentejana de ornamentar o espaço público com flores de papel é um acontecimento notável da arte popular portuguesa e um acto de culto pelas tradições culturais, que está habitualmente associado às vilas de Campo Maior e do Redondo, mas que também tem raízes noutras localidades. Uma delas é a vila de São Teotónio, no concelho de Odemira, localizada bem próximo da Zambujeira do Mar, onde de dois em dois anos se realiza o Festival dos Mastros.
 Desde o passado dia 8 e até ao fim do mês de Junho decorre a 16ª edição do Festival dos Mastros, durante o qual as ruas e os mastros da vila estarão enfeitados com milhares de flores de papel preparadas pela população ao longo de muitos meses.
As ruas floridas são sempre um acontecimento de grande beleza estética, mas também mostram a enorme capacidade popular de cooperar, de perseguir objectivos e de concretizar ideias. As pessoas fazem e não ficam à espera que lhes venham fazer. Por isso, ver ou rever as ruas floridas do Alentejo é sempre uma agradável itinerância e, neste caso, uma boa oportunidade para visitar São Teotónio o que, naturalmente, é muito recomendável.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os efeitos da crise no comércio local



O Jornal de Notícias destaca hoje em primeira página que todos os dias fecham 6 lojas na cidade do Porto e essa notícia é realmente alarmante, sobretudo porque se refere a uma situação com que nos deparamos quotidianamente nas cidades e nas vilas, nas ruas, nos centros comerciais e um pouco por toda a parte. Em subtítulo o jornal acrescenta que “os comerciantes não aguentam o aumento de impostos, a subida do preço das rendas e a falta de clientes”.
O comércio local é um dos vectores da vida da comunidade e o seu declínio arrasta o declínio da comunidade e dos seus modos de vida. Todos conhecemos essa deprimente realidade recessiva que é mais um sinal do empobrecimento, da desertificação e do desconsolo nacionais, mas também da cegueira de muitos dos nossos dirigentes que parecem indiferentes perante os dramas humanos que estão por trás de cada uma das lojas que fecham. Julgo que não são conhecidas estatísticas actualizadas relativas ao encerramento de pequenas empresas e das chamadas lojas do comércio local, mas é hoje evidente que esse número está a aumentar descontroladamente e que esse facto representa a destruição de uma estrutura económica tradicional e a ruptura com um modelo de actividade comercial que dava emprego a muita gente e, consequentemente, contribuía para a estabilidade e para a coesão social. E se isto está a acontecer de forma tão acelerada é preciso travar este declínio e escolher outro caminho que não este.

Publicidade objectiva e sem sofisticação

Por vezes, nas nossas deambulações pela província, encontramos pontos de venda ou pequenas lojas que resistem à hegemonia das grandes superfícies, à pressão das suas campanhas publicitárias e à diversidade da sua oferta comercial. Esses pequenos espaços são geridos familiarmente, não devem ter contabilidade organizada, raramente se modernizam e vão resistindo às diversas formas de fiscalização económica. Vendem aquilo que produzem, sobrevivem com base na fidelidade da sua clientela e na oferta de produtos genuínos que inspiram confiança. Representam uma tradição cultural do encontro entre a oferta e a procura e, em certo sentido, são uma herança dos tempos da troca directa e da economia não monetária e, em muitos casos, até constituem um quase serviço público.
No entanto, até nesses lugares se vão tomando medidas para manter a clientela ou para intensificar a procura, surgindo uma atitude de informação ao público ou, dito de outra maneira, utiliza-se a publicidade. Trata-se de uma actividade semelhante ao que se passa com a promoção dos dentífricos, dos champôs ou dos detergentes, mas também com os destinos turísticos, as marcas de automóveis ou os serviços de comunicações móveis, embora não tenha semelhante grau de sofisticação. Quando um ponto de venda de batatas, hortaliças, morcelas e farinheiras, informa que “os melhores enchidos caseiros do planeta estão desta porta para dentro”, está a fazer publicidade à sua maneira e de uma forma eventualmente mais objectiva e mais séria do que a sofisticada publicidade dos detergentes que lavam mais branco.
 

 

domingo, 9 de junho de 2013

Afinal, eles também erram…


O Fundo Monetário Internacional (FMI) produziu um relatório sobre o programa de ajuda à Grécia que levantou muita polémica e que, no essencial, assume que a situação económica grega foi mal estudada e que foi subestimado o impacto da austeridade, além de criticar os seus parceiros da troika. Segundo o FMI, o programa de apoio à Grécia foi mal concebido e essa crítica tem-se repetido porque os dois planos de ajustamento negociados produziram uma recessão maior do que era esperado, não reduziram a dívida grega que já atingiu 175% do PIB e levaram o desemprego para um valor de quase 30%.
Os erros cometidos na Grécia pela troika, também parece estarem a verificar-se em Portugal, pois estão a conduzir ao agravamento da recessão, da dívida, do desemprego e da coesão social. Tudo ou quase tudo tem piorado. Assim, é cada vez mais evidente que é necessária uma renegociação do memorando e do programa de ajustamento, pois até muitos dos apoiantes do governo já viram que a estratégia do passos-gasparismo está errada e as críticas à troika e aos seus erros aumentaram, mesmo no círculo mais próximo do Ministro das Finanças. E, pasme-se, também ele veio reconhecer que tem errado e que “seria demasiado demorado apontar os erros que já cometeu”, tendo dado como exemplo o facto de ter pensado fazer a consolidação das contas públicas sem primeiro fazer a reforma do Estado. No mesmo dia e com o seu habitual ar de arrogância intelectual, o mesmo ministro cometeu um grave erro científico ao atribuir às condições meteorológicas a quebra na construção civil e a queda do investimento.
São demasiados erros e prejuízos. São demasiados sofrimentos e angústias. Porque não se demite?




sábado, 8 de junho de 2013

O tempo dos jacarandás em Lisboa


O tempo dos jacarandás chegou a Lisboa!
É o tempo em que essas exóticas árvores de origem sul-americana florescem, embelezam as suas copas e libertam as suas flores lilazes sobre as ruas, as praças e os jardins de Lisboa. É um espectáculo de grande beleza que dura apenas duas ou três semanas, entre os últimos dias de Maio e os meados de Junho, durante o qual a cidade adquire uma beleza singular com as copas das árvores coloridas de lilaz e com a formação de tapetes floridos da mesma cor que se espalham pelo chão. 
Os jacarandás são uma espécie originária da América do Sul (jacaranda mimosifolia) e foram introduzidos com sucesso em Portugal no início do século XIX. Segundo foi noticiado há algum tempo, haverá mais de duas mil árvores na cidade e já são poucas as áreas da malha urbana de Lisboa, onde não existam. 
Não é fácil estabelecer um roteiro dos locais da cidade que nos podem oferecer o cenário mais sugestivo para apreciar e mais atractivo para fotografar os jacarandás, embora a avenida D. Carlos I, a avenida da Torre de Belém, a rua Castilho, o Campo Pequeno, o Parque Eduardo VII e o Largo do Carmo, sejam habitualmente considerados como os melhores locais para desfrutar esse espectáculo cromático. É realmente um dos melhores espectáculos que Lisboa tem para oferecer aos seus residentes e visitantes.

España ganadora



Amanhã, em Paris, disputa-se a final do Torneio de Roland-Garros que é um dos mais importantes torneios de ténis do mundo e que, juntamente com o Open da Austrália, o Torneio de Wimbledon e o Open dos Estados Unidos, integra o chamado Grand Slam do ténis. O torneio nasceu em 1891 e ao longo do tempo teve diferentes formatos e diferentes designações, tendo adoptado o seu actual nome em 1928, quando passou a ser disputado no estádio de Roland-Garros. 
O mais destacado campeão do Torneio de Roland-Garros é o espanhol Rafael Nadal que já venceu sete edições do torneio. Este ano, depois de na sexta-feira ter batido o sérvio Novak Djokovic, actual número um do ranking mundial, Rafael Nadal volta a estar na final em busca do seu 8º título e, pela frente, terá David Ferrer que também é espanhol. Não é a primeira vez que na final do torneio francês se encontram dois tenistas espanhóis, mas desde 2002 que isso não acontecia, pelo que se trata de um acontecimento desportivo muito singular, que hoje é destacado nas primeiras páginas da imprensa espanhola. O diário madrileno La Razón é um desses jornais e, apesar das dificuldades por que passa o país, aproveita a oportunidade para estimular a auto-estima espanhola e titula: España ganadora
E, desportivamente falando, é uma grande verdade!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Privatizar os Correios? Não, obrigado!



No Memorando de Entendimento assinado no dia 17 de Maio de 2011 entre o governo português e a troika, estava incluída a privatização dos Correios de Portugal, vulgarmente conhecidos pela sua histórica sigla: CTT. Sempre me pareceu um exagero, até porque a receita proveniente da sua venda não tem qualquer significado na amortização da nossa dívida pública. Passou-se o mesmo com a EDP e com a ANA. Mas há dois anos, vivíamos em situação de aperto financeiro, os especuladores cercavam-nos e até poderia ter sido um compromisso aceitável. 
Porém, os tempos mudaram e o governo até já anunciou que “chegou o momento do investimento”. Sendo assim, o processo de privatização dos CTT não faz sentido nenhum, porque a sua venda é, objectivamente, um desinvestimento, como já evidenciou o recente encerramento de 124 das suas estações. Apesar da tendência europeia para a privatização dos correios e para a liberalização total do sector postal, os CTT não são uma empresa qualquer, pois são um instrumento de coesão social e territorial que atenua a desertificação do interior e serve populações carenciadas, para além de terem um historial centenário e serem reconhecidos como um dos melhores operadores mundiais. Acontece, ainda, que nos últimos anos os CTT têm rendido ao Estado dividendos superiores a 50 milhões de euros anuais, ou seja, a empresa não é deficitária e contribui de forma significativa para a receita pública. Então, porquê vendê-la? Por este andar e com esta teimosia privatizadora, ainda acabam a vender as Berlengas, a Torre de Belém ou a ilha do Corvo.