A crise que nos afectava em 2011
e que levou ao memorando de entendimento com a troika por vontade de quem
chumbou o PEC 4, aprofundou-se nos dois últimos anos. Os portugueses
empobreceram, perderam o emprego ou emigraram, enquanto o Estado aumentou a sua
dívida e o seu défice. A economia regrediu, aumentaram as falências, a procura
interna reduziu-se e não há investimento... apesar de não ter chovido. As cidades
e as ruas estão a tornar-se desertas e os espaços vazios para vender e para alugar
multiplicam-se. A insegurança é cada dia maior e existe uma ameaça de ruptura
social. O desespero e até a fome entraram na vida de muita gente.
Porém, estes resultados têm
responsáveis.
Durante dois anos fomos enganados
e o poder produziu um discurso mentiroso, arrogante e de grande insensilidade
social. Não estudaram. Não se prepararam. Tinham uma ambição desmedida. Diziam
que não haveria cortes nos subsídios nem nas pensões e mentiram. Diziam que não
subiriam impostos e mentiram. Diziam que nunca se desculpariam com o passado e
mentiram. Diziam que não pediriam mais tempo nem mais dinheiro e mentiram. Ouvi-los,
ou vê-los rodeados de guarda-costas, é um exercício confrangedor.
É verdade que os tempos são
difíceis, mas foram eles que semearam ventos e se deixaram humilhar pela troika. A Espanha não foi nisso. Agora,
vivem isolados numa espécie de condomínio de luxo, onde não faltam os carros
topo de gama, os assessores, as viagens e os guarda-costas, como se viu naquele
triste passeio a Alcobaça, em jeito de piquenique. Agora descobrem-se as
verdades e cada vez é mais evidente que o caminho tão servilmente percorrido tem
sido errado e tem servido para alimentar os especuladores que têm enriquecido
com as nossas desgraças. Já ninguém acredita neste caminho errado, nem em quem
nos conduz. Não acredita a oposição, nem acreditam os senadores do partido, nem
os amigos da coligação, nem os patrões, nem os sindicatos. Agora nem o FMI
acredita. É uma triste sina a nossa.
Entre outras graças, o FMI, em que o governo português acreditou subserviente e cegamente, acaba por não acreditar em si própria, na actuação que vem tendo nos resgates aos países do Sul.
ResponderEliminarSe não confiamos na troika, não confiamos no FMI, não confiamos no nosso próprio governo, o que vai ser (pelo menos a curto prazo) deste nosso povo à beira mar plantado?