segunda-feira, 30 de junho de 2014

O 6º Festival ao Largo começou em Lisboa

Uma vez mais e como consequência do êxito que constituiram as suas anteriores edições, as noites lisboetas vão ser animadas com bons espectáculos de música e bailado, pois na passada sexta-feira teve início a sexta edição do Festival ao Largo com um concerto comemorativo dos 70 anos do Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Durante um mês e  assinalando o início do Verão, o Largo de São Carlos e as ruas adjacentes vão transformar-se numa enorme sala ao ar livre que apresentará um cartaz com espectáculos de ópera, bailado, concertos sinfónicos e outras surpresas, para os quais não é necessário comprar bilhete e onde sempre aflui um numeroso público.
O programa é, portanto, muito variado e inclui uma Noite Russa (dias 10 e 11), bem como uma noite dedicada ao Dia Nacional de França, no âmbito da Semana de Paris em Lisboa (dia 14). No dia 16 apresentar-se-á a Orquestra de Instrumentos Chineses de Macau e, nos dias 18 e 19 de Julho, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, o Coro Juvenil de Lisboa e a Orquestra Sinfónica Portuguesa prestam homenagem a Elisabete Matos, a cantora lírica portuguesa mais reconhecida internacionalmente, num espectáculo que conta com a participação da homenageada e do barítono Sergei Leiferkus, como convidado especial. Para finalizar o festival a Companhia Nacional de Bailado apresentará, nos dias 25 a 27 de Julho, o bailado Orfeu e Eurídice.
O Festival ao Largo é, uma vez mais, uma boa oportunidade para usufruir de espectáculos de excelência num cenário de grande envolvência estética, mas é necessário chegar bem cedo para garantir um lugar sentado ou até mesmo de pé.

sábado, 28 de junho de 2014

O FMI volta a reconhecer os seus erros

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Com base em informações do Banco de Portugal, o Jornal de Notícias informa na sua edição de hoje que a dívida pública portuguesa tinha atingido em finais de Abril o valor de 225,8 mil milhões de euros, significando que aumentou cerca de 50 mil milhões de euros desde que o actual governo tomou posse. Este escandaloso aumento da dívida resulta de múltiplos factores, embora o principal seja uma consequência do programa de ajustamento imposto pela troika e que, fanaticamente, o governo adoptou como seu, rejeitando aquilo que se afigura como uma solução natural: a renegociação e a reestruturação de uma dívida que nos humilhará e nos esmagará por muito tempo.
Num documento preparado por um grupo de técnicos e que foi apresentado ao Conselho Consultivo do FMI, defende-se que existem vantagens em reescalonar as dívidas públicas quando existam dúvidas de sustentabilidade e, sem equívocos, o documento reconhece que teria sido melhor renegociar a dívida portuguesa antes do programa de ajustamento que tanto desemprego e tanta pobreza criou. Não é a primeira vez que essa ideia vem do FMI e foi isso que, há uns meses, foi defendido por 74 personalidades portuguesas e a que o governo não deu ouvidos. Há dias, o assunto ainda ficou mais claro numa intervenção televisiva do antigo ministro Bagão Félix que revelou que, depois de várias descidas, as taxas médias de juro do resgate português de 78 mil milhões de euros estão actualmente nos 2,9%, enquanto a Espanha que beneficiou de um resgate de 40 mil milhões de euros só para a banca, tem uma taxa de 0,5% e um período de carência de 10 anos. Temos, então, dois pesos e duas medidas na União Europeia e nos “terrenos” da troika, porque tudo temos aceitado passivamente. Este assunto não pode ser ignorado pelos jornalistas e esta subserviência tem que acabar, em nome da nossa dignidade.

A Língua Portuguesa: a nossa língua, a língua do mar, a língua da gente

A Língua Portuguesa celebrou ontem o seu 800º aniversário com algumas iniciativas realizadas em Lisboa, entre as quais a apresentação do Manifesto 2014 - 800 anos da Língua Portuguesa, assinado por alguns governantes e políticos, mas também por músicos, escritores, professores e jornalistas dos países onde se fala português. Nesse manifesto, os seus subscritores afirmam querer festejar nesse dia “esses oito séculos da nossa língua, a língua do mar, a língua da gente, uma grande língua da globalização” e que “na era da globalização, falar português, uma das grandes línguas globais do planeta, que partilha e põe em comum culturas da Europa, das Américas, de África e da Ásia e Oceânia, com centenas de milhões de falantes em todos os continentes, é um imenso património e um poderoso veículo de união e progresso”.
Esta precisão de calendário a definir o dia do nascimento da Língua Portuguesa é meramente simbólica e está relacionada com o facto do primeiro documento oficial escrito em português – o testamento de D. Afonso II – ser datado de 27 de Junho de 1214. Decorridos oitocentos anos, a Língua Portuguesa atravessa actualmente uma fase de afirmação,  expansão e internacionalização e, de acordo com o Instituto Camões, é falada por 244 milhões de pessoas, para além de ser a sexta língua mais falada do mundo, a quinta língua mais usada na Internet e a terceira mais utilizada nas redes sociais Facebook e Twitter.
O semanário Expresso das Ilhas que se publica na cidade da Praia, foi um dos poucos jornais que tratou este assunto e destacou esta efeméride na sua primeira página com uma citação de Amílcar Cabral,  o pai das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, para quem a educação era uma garantia do sucesso da própria luta de libertação nacional: “A língua portuguesa é uma das melhores coisas que os portugueses nos deixaram”.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A Copa do Mundo 2014 – comentário III

A selecção portuguesa terminou a sua participação no Mundial 2014 e vai regressar a casa, tal como acontece com as selecções da Espanha, Itália, Inglaterra, Rússia, Croácia e Bósnia-Herzegovina, o que significa que mais de metade das 13 equipas europeias que participaram na competição foram eliminadas, o que até faz parecer que a crise que tem afectado a Europa também já chegou ao futebol.
Havia muitas expectativas em torno da selecção portuguesa criadas por uma comunicação social e por muitos jornalistas absolutamente apostados no endeusamento dos jogadores e na criação de cenários fantasiosos, como aquele que ainda acreditava ser possível o apuramento português, depois da derrota com a Alemanha e do empate com os Estados Unidos. A palavra “milagre” encheu as páginas dos jornais e os discursos dos comentadores, pelo que muita gente foi levada a acreditar que tudo se havia de resolver no último instante.
Ontem, a magra vitória obtida sobre a equipa do Gana serviu para minimizar a nossa desilusão colectiva, mas não escondeu que a equipa portuguesa não esteve à altura das circunstâncias pois correu pouco, falhou no passe e, sobretudo, foi inconsequente no remate. Em Brasília não aconteceu o tal “milagre”. Porém, hoje o jornal Record parece querer “tapar o sol com a peneira” e veio dizer-nos que o apuramento “afinal era possível”. Não é verdade. Com aquele futebol apático e incaracterístico, sem alma e sem garra, não era possível ou, como o seleccionador Bento afirmou com muita lucidez, apenas “tivemos o que merecíamos”.
É certo que fica algum amargo de boca porque das equipas europeias que foram eliminadas nenhuma totalizou os 4 pontos que a equipa lusitana conseguiu e até houve algumas selecções que foram apuradas para a fase seguinte da prova com os mesmos 4 pontos, casos da Grécia, da Nigéria, dos Estados Unidos e da Argélia. Porém, isso são apenas acidentes de percurso, porque a realidade é simples: no Grupo G houve duas equipas que foram melhores do que a equipa portuguesa.
Quanto ao resto, a Copa do Mundo tem sido boa. Foram realizados 48 jogos e foram marcados 136 golos, o que dá uma média de 2,83 golos por jogo. Para quem gosta de futebol...

quinta-feira, 26 de junho de 2014

A herança histórica portuguesa em Macau

O território de Macau é uma região administrativa especial da República Popular da China com uma população um pouco superior a meio milhão de habitantes. Apesar de ter sido administrado pelos portugueses desde meados do século XVI até Dezembro de 1999, a língua portuguesa nunca se impôs significativamente à população local e tem havido justificados receios de que neste novo quadro politico-administrativo do território venha a desaparecer, apesar ser uma das suas línguas oficiais.
Porém, a par de um grande desenvolvimento económico e da construção de grandiosos edifícios e outras infraestruturas, as autoridades do território têm procurado preservar o património arquitectónico de origem portuguesa existente em Macau e, em 2005, conseguiram que o seu centro histórico e as construções da colina da Guia – fortaleza, capela e farol – fossem incluídos na Lista do Património Mundial da UNESCO “por constituirem um testemunho único da confluência de características estéticas, culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”. Significa, portanto, que a preservação da herança cultural portuguesa é uma aposta duradoura das autoridades de Macau.
Nesse sentido, também está a protecção das simbólicas Portas do Cerco, conforme destacou na sua edição de ontem o jornal Tribuna de Macau, ao noticiar que o Conselho do Património Cultural as classificou como “património histórico do território”, pelo que  a solução de utilizar a própria infraestrutura do posto fronteiriço das Portas do Cerco (antiga fronteira entre Macau e a República Popular da China) para instalar a paragem do Metro Ligeiro da linha que segue para a China Continental, deve manter a harmonia paisagística e arquitectónica no local. Assim continuará, bem visível, a simbólica frase ali inscrita em 1871 no tempo do governador António Sérgio de Sousa:
A Pátria honrai que a Pátria vos contempla.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Há mais desporto para além do futebol

 
Ontem foi um dia de muitas emoções para o desporto português, sobretudo em relação ao futebol. Jogando em Manaus, a selecção nacional não foi além de um empate com a equipa dos Estados Unidos e, com esse resultado, só pode esperar o seu afastamento da Fase Preliminar do Campeonato do Mundo, tal como já aconteceu com as selecções da Espanha e da Inglaterra, entre outras.
Não é difícil explicar o que aconteceu, porque se somos talentosos no futebol, os outros também não são piores do que nós. Por isso, é normal que a equipa portuguesa perca com a Alemanha e não ganhe à equipa dos Estados Unidos. O que não é normal, parece-me, é a verdadeira tontice que tem sido o endeusamento e a subserviência aos nossos jogadores, por vezes chamados os eleitos ou os amigos de Paulo Bento, feita pelos incontáveis enviados especiais que se passeiam pelo Brasil e pelas dezenas de comentadores que nos entram em casa todos os dias, cansando-nos com as suas banalidades. Humildemente, eu penso que é nessa absurda idolatria deste binómio jornalistas/comentadores que estão as causas desta má prestação lusitana no Brasil, pois esses experts tudo fizeram para nos convencer, a nós e aos jogadores, de que tudo era fácil, desde que o joelho do Ronaldo estivesse bom. Exageraram no elogio e venderam-nos imagens de grande confiança, desde a entrada nos autocarros e os adeptos entusiasmados, até aos treinos e às conferências de imprensa. E como ponto alto deste provincianismo e desta dose maciça de selecção estiveram as perguntas mais imbecis que se poderiam ter feito:
Quem vai ganhar? Por quantos? Quem vai meter os golos?
Felizmente que há mais desporto para além deste futebol, destes jogadores-vedetas e destes jornalistas-subservientes, como ontem também se viu.
O ciclista Rui Costa (Póvoa de Varzim) que é o actual campeão do mundo de ciclismo, venceu pela terceira vez consecutiva a Volta à Suiça, enquanto o ciclista Tiago Machado (Vila Nova de Famalicão), que poucos conhecerão, triunfou na Volta à Eslovénia. Absorvidos com o futebol, apenas alguns jornais noticiaram estes acontecimentos na sua primeira página, mas nenhum noticiou que, também ontem, a selecção nacional de voleibol venceu a Holanda por 3-1 e está na frente do Grupo E da Liga Mundial de Voleibol, quando estão disputados 2/3 da competição.
Já que o futebol não nos dá as alegrias que gostaríamos, regojizemo-nos ao menos com os êxitos internacionais dos nossos ciclistas e voleibolistas.

domingo, 22 de junho de 2014

A crise, a ganância e as fraudes na banca

Foi em Setembro de 2008 que o Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimento americanos, declarou falência depois de ter acumulado gigantescos prejuízos devido à crise no mercado imobiliário originada pela criação de produtos financeiros (conhecidos por subprime), suportados em créditos hipotecários de alto risco concedidos a famílias americanas que não tinham capacidade financeira para os pagar. Era a derrota da gananciosa e fraudulenta actividade da banca que levara a que a dívida do Lehman Brothers superasse os 430 mil milhões de euros, isto é, mais do dobro do PIB de Portugal! O contágio foi intenso e, um ano depois, tinham fechado 273 bancos americanos!
A falência do Lehman Brothers tem sido considerada como o detonador de uma crise financeira que atravessou o Atlântico e levou à falência de muitas empresas e à perda de milhões de empregos na Europa. Então, quando se verificou que também havia muitos “lehman brothers” na Europa, foram injectados na banca muitos milhões de euros sob várias formas para superar a situação, “porque os bancos eram demasiado grandes para falir”. Apesar disso, um pouco por toda a Europa houve bancos que faliram ou foram nacionalizados, por exemplo na Grécia, na Espanha, no Chipre, na Bélgica e até na Alemanha. Raramente foram pedidas responsabilidades por gestão ruinosa, por práticas fraudulentas, evasão fiscal, manipulação contabilística ou, simplesmente, por roubo. A impunidade foi quase total, pouco foi alterado e continuaram as obscenas remunerações, os bónus e as mordomias faraónicas dessa gente. Tem reinado o silêncio e a promiscuidade do costume entre banqueiros, políticos e jornalistas. A culpa parece ter morrido solteira.
Aqui tivemos o caso BPN, mas também os casos BPP e BCP, o Banif e, agora, o BES, cuja sucursal de Angola não sabe a quem emprestou 5,7 mil milhões de euros, embora se suspeite que, tal como no BPN, uma boa parte tenha ido parar às contas de alguns administradores e tenham alimentado grandes negociatas. Lamentavelmente, muitos dos nossos "políticos de aviário" continuam sem perceber nada disto e, em vez de se curvarem aos banqueiros para que lhes garantam o futuro, deveriam repensar as razões por que chegamos a este tão lamentável “estado da Nação” e ter a coragem de mudar de rumo, com melhor governo, melhor oposição e mais respeito pelos portugueses. Ao menos valha-nos o Pai e o Filho, porque o Espírito Santo...

sábado, 21 de junho de 2014

Sanjoaninas, a grande festa terceirense

As Festas Sanjoaninas que se realizam na cidade de Angra do Heroísmo e que são “as maiores festas profanas dos Açores”, iniciaram-se ontem com um vasto programa que se estende até ao dia 29 de Junho com actividades culturais, recreativas, etnográficas, desportivas e gastronómicas. As festas têm uma origem que remonta ao povoamento da ilha Terceira e são um verdadeiro ex-libris da cidade de Angra do Heroísmo e até da própria ilha Terceira, atraindo muitos visitantes que têm a oportunidade de conhecer os costumes e as tradições culturais dos terceirences. Este ano as Sanjoaninas evocam a passagem do 30º aniversário da inscrição da cidade na Lista do Património Cultural da Humanidade da UNESCO, que se verificou em 1983 e que constitui um motivo de grande orgulho dos angrenses.
As Sanjoaninas satisfazem o peculiar temperamento festeiro dos terceirenses e iniciaram-se com um cortejo de abertura em que participaram 110 figurantes e cinco carros alegóricos mas, provavelmente, o seu ponto mais alto são as marchas de São João que desfilam na noite do dia 23 de Junho. É realmente um desfile espectacular de dança, cor, música e muita alegria. Estão inscritas 28 marchas, sendo uma oriunda do Canadá e duas da ilha de São Miguel, estimando-se que desfilem mais de 1600 marchantes, sem contar com os músicos das filarmónicas que os acompanham. O outro ponto de grande interesse popular das Sanjoaninas é a Feira Taurina que entusiasma os terceirenses e mobiliza interesses a nível ibérico e que inclui corridas de praça, touradas à corda e largadas de touros. No sentido integrar a comunidade açoriana da diáspora as Sanjoaninas terão a participação de representações vindas do Brasil, dos Estados Unidos da América e do Canadá, além de bandas musicais da Califórnia e de uma marcha do Canadá.
Como não poderei estar em Angra do Heroísmo, irei procurar acompanhar as festas através da RTP Açores.

A Copa do Mundo 2014 – comentário II

A Copa do Mundo 2014 está hoje no seu décimo dia, quando já estão disputados 26 dos 48 jogos da fase preliminar ou fase de grupos, sempre debaixo de um grande entusiasmo, conforme temos visto na televisão e lido nos relatos da imprensa. O futebol tornou-se um fenómeno global e, para quem gosta do espectáculo, tem sido uma verdadeira festa em que já foram marcados 77 golos, o que corresponde a uma média de 2,96 golos por jogo. Independentemente das prestações individuais de alguns jogadores que o tempo confirmará ou não, podem desde já ser destacadas algumas equipas – a Espanha e a Inglaterra que já estão eliminadas e a Holanda, o Chile, a Colômbia e a Costa Rica, que já asseguraram o apuramento para a fase seguinte.
A equipa da Costa Rica é a grande surpresa deste campeonato porque, num grupo que integra três antigos campeões mundiais, já cometeu a proeza de bater o Uruguai (3-1) e a Itália (1-0), daí resultando o seu apuramento e a eliminação da Inglaterra, que perdeu com a Itália (2-1) e com o Uruguai (2-1).
A derrota inglesa com o Uruguai resultou de dois golos marcados por Luis Suárez que joga no Liverpool, embora a eliminação da Inglaterra tenha resultado da vitória costariquenha sobre a Itália com um golo marcado por Bryan Ruiz, um futebolista que este ano alinhou na equipa do Fulham que disputou a Premier League. Significa que a Inglaterra foi eliminada do Campeonato do Mundo pelas prestações insuficientes dos seus jogadores, mas também pelos golos dos seus adversários que jogam na Inglaterra. Hoje, a edição do The Times revela um singular fair play ao destacar na sua primeira página a fotografia de Bryan,” the man who put England out of the World Cup”. 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

As mentiras, as trapalhadas e o desnorte

Os nossos governantes andam muito desorientados e, perante as persistentes dificuldades do nosso país e as suas más políticas, reagem com mentiras, trapalhadas e demasiadas desculpas de mau pagador. A propaganda falhou e o insucesso é uma realidade. Depois da monumental farsa que foi a história da saída limpa e dos piores resultados eleitorais que os seus partidos obtiveram nas recentes eleições, o desnorte dos governantes e dos seus mais fiéis seguidores é completo e muito preocupante, enquanto o silêncio do homem do leme nos causa muita apreensão. Já não há disfarces possíveis.
O caso do ataque aos funcionários públicos é um exemplo de fanatismo e dava para rir se não fosse um assunto tão sério. Esta manhã os jornais anunciaram que o governo recusava repor os subsídios de férias dos funcionários públicos, com base nas declarações do ministro Maduro que ontem afirmou que, depois da decisão do Tribunal Constitucional, aqueles que já tinham recebido o subsídio de férias com cortes, não teriam direito a qualquer ajustamento. Aparentemente, o ministro Maduro estava seguro do que dizia, tendo as suas declarações sido apoiadas pelo irrevogável ministro Portas e por esse exemplo de boçalidade política que é o deputado Montenegro. Porém, o ministro Guedes veio hoje desmentir o ministro Maduro e anunciar que os funcionários públicos que já tivessem recebido a totalidade ou parte do subsídio de férias com o corte que estava previsto, vão afinal receber o valor em falta.
Demitiu-se o ministro Maduro por ter sido desautorizado? Não tem ponta de vergonha, nem tem coragem para isso. Significa, portanto, que ninguém se entende no governo e que muitos de nós nunca sabemos quanto vamos receber ao fim do mês. Esta gente não tem consideração nenhuma pelos portugueses. A desconfiança é total. Antes tinham a desculpa do Pinto de Sousa e da troika, agora desculpam-se com o Tribunal Constitucional. É demasiada mediocridade e muito amadorismo. É uma completa trapalhada. Andam com os passos trocados. A nau está meter água por todo o lado.

Espanha: novo rei, nova esperança?

A partir de hoje o Príncipe das Asturias tornou-se o Rei de Espanha com o nome de Filipe VI, sucedendo a seu pai Juan Carlos I que esteve no trono durante 39 anos e que dele saiu, exactamente no mesmo dia em que a Espanha também deixou de reinar no futebol mundial. Os desafios do novo rei constitucional e Chefe de Estado são enormes, porque a Espanha continua debaixo de uma crise económica e social gravíssima, os movimentos independentistas estão muito vivos e a contestação ao regime monárquico está a agitar-se nas ruas e nas redes sociais. 
Um sou um republicano moderado, isto é, não acredito que a República tenha todas as virtudes do mundo, nem creio que a Monarquia seja o mais desprezível dos sistemas políticos. Cada país ou cada comunidade escolhe o sistema que melhor se ajuste às suas realidades culturais e económicas e, de uma forma mais geral, ao seu projecto de sociedade, não sendo certo que a República Francesa seja melhor do que a Monarquia Belga, nem que a Monarquia Sueca seja melhor do que a República Finlandesa. A forma do poder é uma questão que tem um carácter simbólico, que cada país resolve de maneira soberana como melhor entende.
Por razões de ordem diversa que não serão aqui analisadas, a República Portuguesa tem especiais relações históricas e institucionais com as Monarquias Espanhola e Inglesa, olhando para o que se passa nos palácios da Zarzuela ou de Buckingham com um interesse que vai para além da simples curiosidade. Assim, somos levados a uma  curiosa comparação entre Filipe, Príncipe das Asturias (Espanha) que agora sobe ao trono com 46 anos de idade e Carlos, Príncipe de Gales (Inglaterra) que, aos 65 anos de idade continua à espera, havendo quem considere que nunca será Rei da Inglaterra. Numa altura em que as monarquias estão cada vez mais fora de moda e já não são suficientemente representativas nem exemplares, o novo Rei pode realmente representar uma renovada esperança para a sobrevivência e para a unidade da própria Espanha... y viva España!

terça-feira, 17 de junho de 2014

Ainda a troika e os efeitos colaterais

Ontem tratamos aqui dos efeitos colaterais provocados pela acção concertada da troika e do governo, destacando o facto de cerca de 150 mil famílias, que representam cerca de 6,3% das famílias portuguesas, terem deixado de cumprir o pagamento dos empréstimos que contrairam para a compra de habitaçãp própria.
Hoje, o Diário de Notícias destaca naturalmente essa “enorme tragédia” que foi a derrota portuguesa na sua “estreia desastrada” no Mundial de Futebol, com a fotografia de Ronaldo a personificar essa derrota, mas isso não foi devido à troika. Porém, o jornal também informa que “341 portugueses abandonam o País todos os dias” e que “no último ano emigraram 128 mil portugueses”, acrescentando ainda que, apenas em dois anos, saíram de Portugal quase 250 mil pessoas, entre emigrantes permanentes e temporários. A acrescentar a esta dramática realidade demográfica está a quebra de natalidade que, em conjunto com a emigração, estão a conduzir o país a uma grave redução da população e ao seu rápido envelhecimento.
Este problema agravou-se com o programa de ajustamento económico e financeiro que lançou a nossa economia na recessão e no brutal aumento do desemprego. Esse agravamento é, portanto, uma consequência das políticas de austeridade da troika, que o governo cegamente adoptou e não deixa de ser mais um gravíssimo efeito colateral dessa austeridade, que põe em causa o nosso futuro como nação que tem um passado e uma história. Na sua actuação dominada pelo fanatismo e pela cegueira, os nossos governantes não vêem que estão a hipotecar o nosso futuro pela via demográfica e que, cada vez mais, há uma geração de jovens que sentem não ter direito a uma vida digna no seu país e que emigram, ao mesmo tempo que os que por cá ficam não têm estabilidade económica nem segurança para organizarem a sua vida e procriarem. É um caso de ausência de visão estratégia. É uma situação verdadeiramente dramática. "A que novos desastres determinas de levar estes reinos e esta gente", é o que lhes perguntaria Camões (Os Lusíadas, Canto IV, est.97).

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ataques da troika e efeitos colaterais

Quando ocorre uma situação de conflito de qualquer natureza, seja numa guerra, num simples jogo de futebol ou até nas relações humanas, há umas acções que podem ser classificadas como ofensivas e outras que são classificadas como defensivas. As acções ofensivas destinam-se a produzir efeitos mais ou menos severos sobre o adversário, mas quando ocorrem efeitos diferentes daqueles que se procuravam, estamos perante os chamados efeitos secundários ou efeitos colaterais.
As acções conduzidas em Portugal pela troika entre 2011 e 2013 foram acções ofensivas, que se destinaram sobretudo a retirar rendimentos aos funcionários públicos e aos pensionistas, que se traduziram no desemprego, no empobrecimento e na emigração generalizada, mas tiveram muitos efeitos colaterais, observáveis no recuo da qualidade de vida e nos retrocessos na educação, na saúde, na cultura e na ciência.
Hoje o Diário de Notícias revela um outro importante efeito colateral que se verificou em Portugal: o número de famílias que não pagam casa subiu e chega à beira de 150 mil. Estes números aproximam-se do máximo de incumprimento de 150.300 que se verificou em Junho de 2012. Na realidade, só no corrente ano de 2014 houve mais 4083 famílias que deixaram vencer o crédito da casa, ou seja, uma média diária de 80 portugueses deixaram de conseguir liquidar o empréstimo à habitação. Segundo o Banco de Portugal há 6,4% de famílias portuguesas que deixaram de  cumprir o pagamento dos empréstimos à compra de casa própria, enquanto uma responsável da  DECO afirmou que “estamos a sentir que as famílias estão numa situação muito mais difícil do que no ano passado e do que no início da crise”, até porque "no início da crise as dificuldades foram diluídas porque havia almofadas das famílias, amigos e dos próprios e hoje essa rede de proteção é inexistente".
Quem é que nos falou na saída limpa? Quem é que nos disse que o país está muito melhor? Ora aqui está mais uma consequência da brutalidade do ataque feito pela troika aos portugueses, com a subserviente e insensível compreensão do passos perdido.

domingo, 15 de junho de 2014

A Copa do Mundo 2014 - comentário I


Fonte: www.fifa.com/worldcup/photos
Estamos no quarto dia do Mundial de Futebol e, depois de oito jogos já disputados, sucedem-se o entusiasmo das torcidas, as boas exibições das equipas, os erros dos árbitros, os resultados imprevistos e os golos.
O ambiente que nos chega do Brasil é de festa, mas por aqui também há uma onda de euforia futeboleira que percorre Portugal, alimentada pela televisão que tem estado dominada pelas transmissões contínuas, pelas notícias, pelas entrevistas, pelas reportagens e pelos compromissos publicitários, para além de ter mobilizado algumas dezenas de comentadores.
Dois dos grandes favoritos à vitória final começaram as suas prestações com sortes diferentes. O Brasil entrou a ganhar mas a imprensa brasileira foi contida, destacando “a vitória sofrida” e o papel do “anjo japonês”. A Espanha entrou a perder e, com muita impaciência, a imprensa espanhola destacou um “siniestro total”, uma “roja de vergüenza” e o “ridiculo para empezar”. Houve vitórias do México, Holanda, Chile, Colômbia, Costa do Marfim, Costa Rica e Itália. Entre os que entraram a perder, para além da Espanha, destacam-se a Grécia e o Uruguai.
O mais importante jogo realizado até agora foi o Espanha-Holanda, que reeditou a final do anterior Campeonato do Mundo, que a Espanha vencera. A Holanda esteve demolidora e ganhou com muito mérito por 5-1. Nunca um campeão do mundo sofrera tal humilhação. O primeiro golo holandês foi marcado por Robin van Persie, um futebolista com 30 anos de idade que joga no Manchester United. Foi uma obra de arte, um voo que a fotografia da FIFA tão bem captou. Foi, até agora, o melhor golo e o melhor momento deste Mundial.
Com estes artistas haverá alguém que não goste do espectáculo do futebol!

sábado, 14 de junho de 2014

Em Defesa da Independência Nacional

Há cerca de 60 anos foi proposto um modelo político e económico para assegurar a paz e a prosperidade na Europa, que começou por juntar seis países, mas que tem sido sucessivamente alargado e que, no essencial, tem correspondido aos ideais dos seus fundadores. O modelo tem evoluído entre uma prática intergovernamental e uma tendência federalista que tem prevalecido através de uma complexa e muito burocrática rede de instituições que, além de serem demasiado dispendiosas, parecem viver fechadas sobre si próprias e afastadas das populações que deveriam servir. Esse centralismo ou essa materialização do ideal federalista, a que o Reino Unido sempre reagiu, foi uma criação dos burocratas e dos apátridas que se instalaram nos corredores comunitários mas, nos últimos anos, começou a revelar-se irrealista, utópico e até ditatorial.
A União Europeia, que deveria ser uma parceria entre iguais, deixou-se arrastar por interesses hegemónicos e as soberanias nacionais foram transferidas, em maior ou menor grau, para Bruxelas e Estrasburgo e, mais recentemente, também para Frankfurt. A arrogância da troika e as intromissões da Comissão Europeia no nosso quotidiano tornaram-se intoleráveis e ofendem os sentimentos soberanos de uma nação com uma identidade bem definida e com nove séculos de História. É preciso romper com esta subserviência a que nos temos obrigado e restaurar a dignidade nacional.
O livro agora publicado pelo economista João Ferreira do Amaral - Em Defesa da Independência Nacional – é um manifesto patriótico de um grande pensador, que reage “à ditadura europeia” e que deve ser lido cuidadosamente e muito meditado. É um livro que invoca as nossas raízes históricas e culturais e que nos revela como a nossa soberania está ameaçada por “uma legião de burocratas europeus”. Todos sabemos que assim é. Por isso, é um livro a não perder.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Eles comem tudo… e não deixam nada

Há pouco tempo, na sua descarada campanha de propaganda, o governo vangloriava-se por aquilo a que chamou saída limpa, pois o programa de ajustamento económico-financeiro conduzido pela troika tinha sido um sucesso, mas muitas declarações então produzidas cobrem agora de ridículo os seus autores, pelo menos aqueles que ainda têm vergonha na cara. Nesse campo do ridículo destacou-se o irrevogável ministro que até instalou um relógio na sede do seu partido para assinalar o tempo que faltava para o restauro da nossa soberania, comparando-a com o restauro da nossa independência em 1640. Era tudo arrogância e auto-satisfação. Os vícios do anterior governo estavam corrigidos. A credibilidade externa do país estava recuperada. Os famosos mercados estavam rendidos à eficiência lusitana. Os juros da dívida baixavam continuadamente. A economia dava sinais de recuperação e só as exportações não ajudavam por causa dos trabalhos de manutenção na refinaria de Sines.
Três anos depois da chegada da troika, a realidade começou a ver-se com clareza e a decepção é completa, pois não só se agravaram as principais variáveis macroeconómicas, como o nosso tecido social se degradou enormemente. Acusaram-nos de vivermos acima das nossas possibilidades e decidiram empobrecer-nos, enquanto o seu novo-riquismo pacóvio tem esbanjado os nossos impostos, com as suas multidões de assessores, os seus carros pretos de alta cilindrada e as suas viagens faraónicas. A dignidade e a independência nacionais foram violadas perante a passividade dos nossos governantes. A necessária reforma do Estado ficou na gaveta. A base social de apoio do governo é cada vez mais estreita. Os recentes ataques feitos ao Tribunal Constitucional são um mau exemplo de convívio democrático e revelam que os nossos governantes não se sabem dar ao respeito.
Hoje, os jornais dizem que “cortes salariais regressam para 400 mil” (Jornal de Notícias), que “carta ao FMI promete mais rescisões no Estado” (Diário de Notícias) e que “governo quer novos cortes na função pública já em Agosto” (Jornal i).
Esta gente andou a enganar-nos e só nos lembramos d’Os vampiros de Zeca Afonso porque, tal como acontecia antigamente, eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada.

Navegar é preciso

Estamos a três semanas de se iniciar a famosíssima regata - The Tall Ships Race 2014 - que este ano decorre entre os dias 3 de Julho e 5 de Agosto numa área muito limitada do Mar do Norte e que partirá de Harlingen (Holanda), com paragens em Fredrikstad e Bergen (Noruega) e em Esbjerg (Dinamarca), estando prevista a participação de oito dezenas de veleiros, incluindo o lugre português Santa Maria Manuela. Os veleiros participantes já começaram a convergir para a área de partida e um desses navios é o Kruzenshtern, que é o segundo maior veleiro do mundo e serve de navio-escola da Marinha russa, que esta semana visitou o porto francês de Le Havre e mereceu honras de primeira página no jornal Le Havre Presse.
Trata-se de uma barca com 4 mastros e 114 metros de comprimento que foi construída em 1926 nos estaleiros alemães de Bremerhaven, que foi utilizado no transporte de minério entre o Chile e a Alemanha, que serviu depois de navio-escola alemão no mar Báltico e que veio a ser capturado pelos Aliados e entregue à Rússia como compensação de guerra. Em 1954 adoptou o seu actual nome e foi integrado na Marinha russa.
A visita de um navio ao porto de Le Havre, situado na região administrativa da Alta Normandia que tanto sofreu durante a 2ª Guerra Mundial, é um acontecimento de rotina. Porém, o destaque que a imprensa local dá à visita de um veleiro é esclarecedor do interesse pelas actividades marítimas e pelo simbolismo dos grandes veleiros. Aqui, neste “jardim à beira-mar plantado”, continuamos a utilizar uma retórica de grande maritimidade, mas na realidade continuamos de costas voltadas para o mar quando, cada vez mais, “navegar é preciso”.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A guerra no Iraque e a lição da História

Lajes, 16 de Março de 2003
As notícias que nos últimos dias nos têm chegado do Iraque são demasiado preocupantes e mostram que, com todas as suas trágicas consequências, a guerra se intensifica nas regiões da antiga Mesopotâmia, que foi um dos berços da nossa civilização.
Ontem, chegou uma informação anunciando que “os rebeldes tomaram o controlo total de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, após dias de combates” e, mais tarde, outra notícia destacava que os rebeldes apoderam-se da província de Ninive e de sectores das províncias iraquianas de Kirkuk e Saladino”. Hoje, uma outra notícia informa que “militantes islâmicos avançam sobre a maior refinaria iraquiana na cidade de Baiji. Significa que a guerra se instalou no norte do Iraque e que as autoridades de Bagdad estão a perder o controlo da situação. Estas forças, ora designadas por rebeldes ora por militantes, estão agrupadas em torno do grupo jihadista EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) que já controla a cidade de Mossul e que, aparentemente, também já controla a maior refinaria do país. Na Síria, no contexto da sua luta contra o governo de Bashar al-Assad, os jihadistas também têm sob o seu controlo as regiões do leste do país, que fazem fronteira com o Iraque. Desta forma concertada, o EIIL procura expandir os territórios sob o seu controlo, a fim de criar um Estado islâmico entre a Síria e o Iraque. Esta preocupante situação tem origens muito complexas, sobre as quais não é fácil emitir opinião.
Nestes casos, porém, a História ajuda-nos e mostra-nos que na origem desta turbulência e desta guerra está a famosa cimeira realizada em 2003 na Base das Lajes, nos Açores, quando George W. Bush (E.U.A.), Tony Blair (Reino Unido) e José Maria Aznar (Espanha) foram recebidos pelo primeiro-ministro português Durão Barroso na tarde de 16 de Março de 2003, para uma cimeira que culminou quatro dias depois, na madrugada de 20 de Março, com o início da intervenção militar contra o regime de Saddam Hussein, porque alegadamente este possuia armas de destruição maciça, incluindo armas químicas. Era mentira como todos, um a um, reconheceram depois. E aqui temos como uma mentira dos falcões do costume e dos seus ajudantes, levou a instabilidade, o desassossego e a guerra até às regiões da antiga Mesopotâmia. Então, como a fotografia mostra, Barroso sorria.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Os caminhos da paz no Médio Oriente

Há duas semanas o Papa Francisco esteve numa visita oficial de três dias ao Médio Oriente, com passagens pela Jordânia, pela Palestina e por Israel, com o objectivo de relançar o diálogo inter-religioso e contribuir para a resolução do conflito israelo-palestiniano que continua a agravar-se. De entre os inúmeros encontros do Papa Francisco destacam-se aqueles que manteve com Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestiniana, e com Shimon Peres, o presidente de Israel, aos quais fez um convite para se juntarem a ele no Vaticano para que, em conjunto, rezassem pela paz. Aludiu, então, às “consequências trágicas do prolongado conflito” e disse que “chegou a hora de se colocar um ponto final numa situação que se tornou cada vez mais inaceitável”.
Ontem, duas semanas depois do desafio lançado, o líder da Igreja Católica reuniu e rezou nos jardins do Vaticano com os presidentes de Israel e da Palestina, juntando simbolicamente nesse singular encontro, os cristãos, os muçulmanos e os judeus. A fotografia do abraço entre Shimon Peres e Mahmoud Abbas, apadrinhado pelo Papa e aparentemente muito afectuoso, ilustrou muitas primeiras páginas dos jornais, como por exemplo The Wall Street Journal.
Independentemente dos resultados deste encontro, ele é um expressivo sinal e representa um forte contributo para ultrapassar o conflito que tem oposto israelitas e palestinianos, mas que também tem envolvido o mundo árabe  e os aliados de Israel, num contínuo processo de ameaça à paz mundial. Com esta iniciativa, fica evidenciado quão importante pode ser o papel do Papa e da Igreja Católica como potenciadores do diálogo e da paz em situações de conflito. Numa declaração ontem produzida, o Papa Francisco disse que “para ter paz é preciso mais coragem do que para fazer a guerra” e que “é preciso coragem para dizer sim ao encontro e não ao conflito, sim ao diálogo e não à violência, sim às negociações e não às hostilidades, sim ao respeito dos pactos e não às provocações, sim à sinceridade e não à duplicidade. Para tudo isto, é preciso coragem e grande esforço de ânimo”.
A iniciativa do Papa que apelou a um "diálogo a todo o custo", é uma lição para os líderes mundiais e um desafio para aqueles dois dirigentes que não podem ignorar por mais tempo o desejo de paz dos seus povos e devem colocar um ponto final no conflito que assola o Médio Oriente há várias décadas.

O maior desportista espanhol de sempre

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O tenista espanhol Rafael Nadal venceu ontem em Paris pela nona vez o torneio de Roland-Garros e, se ainda não era considerado a maior figura de sempre do desporto espanhol, na sua edição de hoje o diário desportivo Marca tratou de lhe atribuir esse título. A imprensa espanhola e alguma imprensa internacional destacam hoje esse feito desportivo e, numa altura de alguma instabilidade e muita preocupação em Espanha por razões políticas, aparece a figura de Rafael Nadal como um símbolo da tenacidade, do orgulho e até da unidade espanholas.
Nascido nas Ilhas Baleares e com 28 anos de idade, Rafael Nadal tem um currículo impressionante no ténis mundial, no qual se inscrevem 14 vitórias individuais em torneios do Grand Slam, que inclui os quatro torneios de ténis mais importantes que se disputam no mundo - Torneio de Wimbledon, Torneio de Roland-Garros, Open da Austrália e Open dos Estados Unidos - um feito só superado pelo tenista suiço Roger Federer.
Além disso Nadal ganhou 27 títulos em torneios ATP World Tour Masters 1000, fez parte da equipa espanhola que venceu a Taça Davis por quatro vezes e, em 2008, conquistou o título olímpico em Pequim.
A Espanha que está a vir para as ruas a reclamar por consultas populares, num caso por um plebiscito sobre a Monarquia após o anúncio da abdicação do rei Juan Carlos e, noutro caso, a reivindicar por um ou mais referendos sobre a independência de algumas das suas comunidades autónomas, encontra no desporto um factor de unidade nacional e, neste momento, o seu elo de união mais forte parece ser Rafael Nadal.

domingo, 8 de junho de 2014

As Festas de Lisboa estão de volta

As Festas de Lisboa estão de volta para animar a cidade durante o mês de Junho, com um programa intenso e diversificado, mas quase sempre de acentuado cunho popular. A cidade transforma-se e mobiliza-se para receber os festejos nas quentes noites de Junho, enquanto as ruelas estreitas e as pequenas pracetas dos bairros históricos, sobretudo em Alfama, na Bica e Bairro Alto, são ornamentadas a preceito para acolher os arraiais populares. Um pouco por toda a cidade, sobretudo nos bairros tradicionais, há animação de rua, com bailes populares, festivais, cinema, exposições, competições desportivas, teatro de rua e música, para além de um sem número de pequenos restaurantes que, em mesas decoradas com vasos de manjericos, servem a indispensável sardinha assada, o caldo verde, o chouriço assado, a sangria e, mais recentemente, a cerveja. A sardinha assada é, de resto, um dos mais expressivos símbolos das festas da cidade, mas é preciso ter atenção ao encomendar porque, nesta altura, há a tendência para despachar muita sardinha congelada... 
No entanto, a mais entusiasmante das iniciativas das Festas de Lisboa são as marchas populares que desfilam na Avenida da Liberdade no dia 12 de Junho a partir das 21:00 horas, que este ano têm como tema a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto, uma obra publicada há 400 anos e que, desta maneira, tem uma divulgação acrescentada. Entre outros motivos de grande interesse, as Festas da Cidade incluem uma outra dimensão cultural muito curiosa, pois integra dois patrimónios imateriais da Humanidade – o fado lisboeta e os “castelleres de Sants”, as torres humanas que vêm de Barcelona e que se inspiram na tradição catalã do século XVIII. Por outro lado, as Festas da Cidade também têm um motivo adicional de interesse que são as transmissões televisivas dos jogos da selecção portuguesa no Campeonato do Mundo de Futebol, que poderão ser um factor de maior entusiasmo com as bandeirinhas, os cachecóis e os outros ícones futebolísticos.
As festas encerrarão no dia 3 de Julho com um concerto de Fausto Bordalo Dias na Torre de Belém.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A memória do dia D ou do dia mais longo

Ficou registado na História como o Dia D e aconteceu há 70 anos, no dia 6 de Junho de 1944. A literatura e o cinema elegeram-no como “o dia mais longo” e como um dos seus temas preferidos, que continua a suscitar o interesse dos estudiosos da Segunda Guerra Mundial. Tratou-se da maior invasão anfíbia de todos os tempos, na qual estiveram envolvidos mais de cinco mil navios que, só nesse dia, desembarcaram 160 mil homens e todo o apoio logístico de que necessitavam, numa frente de desembarque de mais de 80 quilómetros nas costas francesas da Normandia. A complexa invasão das forças aliadas, sobretudo americanas, inglesas e canadianas, foi designada por operação Overlord e a ela estiveram ligados importantes comandantes aliados como Eisenhower, Montgomery e Bradley, mas também, do outro lado, Von Rundstedt e Rommel. A guerra avassalava a Europa desde 1939, mas a partir desse dia alterou-se a correlação de forças e iniciou-se a libertação da França ocupada pelos nazis e a caminhada militar das forças aliadas em direcção à Alemanha. Um ano depois, a Alemanha nazi sucumbia e Berlim era ocupada.
Hoje, 19 chefes de Estado, entre os quais Obama, Putin, Isabel II e Hollande, evocarão esse dia em diversas cerimónias em que ainda participarão 1800 veteranos de guerra. A imprensa francesa associa-se a esta efeméride e Le Figaro destaca que o mundo festeja a liberdade, pois esse dia representou o princípio do fim do nazismo, de Adolf Hitler e do III Reich de tão horrível memória.
Nos tempos conturbados por que passamos, a celebração desta efeméride tem a virtualidade de a todos recordar o que foram os horrores daquela guerra, mas também da necessidade de hoje assegurar entendimentos que preservem a paz. Bom seria que se lembrassem do que fizeram, ou não fizeram, por exemplo na Líbia, na Síria ou na Ucrânia.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Caminhando com os passos trocados…

O governo veio dizer que o Tribunal Constitucional põe em causa a governação do país, por este ter chumbado três normas do Orçamento do Estado para 2014. Ao actuar por esta via de confronto, o governo mostra não perceber que tem que cumprir a Constituição e as leis da República e dá um mau exemplo ao país, pois destabiliza a sociedade e a economia, quando devia ser um factor de estabilidade de que o país tanto precisa.
Há três anos o primeiro-ministro Passos prometeu cumprir o programa acordado com a troika e admitiu mesmo “surpreender e ir mais além [das metas] do acordo”. Assim fez e, durante três anos, foi um obediente e submisso servo da troika, tornou-se um campeão das políticas de austeridade que empobreceram o país e fizeram com que a dívida pública não parasse de aumentar. A mentira e a propaganda tornaram-se práticas comuns e foram enormes os desvios entre o que foi prometido e aquilo que efectivamente foi feito. O modelo que adoptou para vencer a crise - aumento de impostos e corte em salários e pensões – foi um completo fracasso que empobreceu o país, criou muito desemprego e aumentou as desigualdades económicas e sociais. Havia alternativas, mas ele adoptou a arrogância, o auto-convencimento e a teimosia. Já na fase final do chamado ajustamento ainda tentou fazer o número da saída limpa, mas até esse foguetório foi uma completa farsa. Sintetizando, perante a humilhação que a troika nos impôs, o primeiro-ministro teve um comportamento subserviente, sem a dignidade e a firmeza que o seu cargo exigia e a que o obrigava o nosso passado como nação com nove séculos de história e com importantes contributos para o progresso da Humanidade. Passos escolheu caminhar com os passos trocados… e o eleitorado deu-lhe apenas 27,71% de votos nas recentes eleições europeias.
Agora, olha para o lado e em vez de reconhecer a sua abusiva tendência para governar à margem da lei, vem queixar-se do Tribunal Constitucional e ameaçar-nos com novos aumentos de impostos. O ajudante Portas e as cornetas de Marques Mendes e Marco António, não se calam. Realmente, esta gente passou-se! Anda tudo com os passos trocados.
Entretanto, ainda sobre a decisão do Tribunal Constitucional, o primeiro Passos não esclarece se a troika foi embora ou ainda anda a passear por aí, mas assiste, subserviente e sem reagir, às declarações insultuosas e aos diktacts de Barroso e de Olli Rehn, da malta do FMI e da Moody’s ou, ainda, do Arnaut, que é o mais recente servo da Goldman Sachs. Nesta estória, aquele que está em Belém e que jurou “cumprir e fazer cumprir a Constituição”, fica silencioso e embevecido a olhar para a camisola 12 da selecção que lhe foi oferecida.

terça-feira, 3 de junho de 2014

A monarquia espanhola em renovação

O rei Juan Carlos I de Espanha decidiu abdicar do seu trono porque “uma nova geração reclama com justa causa o papel de protagonista”, quando o país atravessa uma situação de profunda crise económica que tem deixado graves cicatrizes no tecido social. Independentemente da diversidade dos ideais de cada espanhol, o facto é que Juan Carlos parece ter sabido conviver com o franquismo sem se deixar dominar por ele e que, depois da morte de Franco, assegurou a estabilidade e a unidade nacionais durante 39 anos, apesar de nunca ter estado imune a muitas críticas. Na sua declaração televisiva aos espanhóis, o Rei disse acreditar que o seu filho Felipe, de 46 anos de idade, está preparado para assegurar a estabilidade e a defesa da monarquia e da democracia espanholas.
Nestas circunstâncias, ainda durante o corrente mês de Junho,  Felipe Juan Pablo Alfonso de Todos los Santos de Borbón y Grecia poderá tornar-se Felipe VI, enquanto a sua mulher Letízia Ortiz Rocasolano, uma antiga jornalista de Oviedo,  que já tem direito aos títulos de Princesa das Astúrias, de Girona e de Viana, Duquesa de Montblanc, Condessa de Cervera e Senhora de Balaguer, será a Rainha de Espanha.
Todos os jornais espanhóis, mas também muitos jornais internacionais, destacaram hoje esta notícia mas, provavelmente, poucos foram tão explícitos como o ara, um jornal de Barcelona nascido em 2010 e que é o jornal de maior audiência, escrito exclusivamente em catalão. De facto, quando a generalidade da imprensa espanhola presta homenagens ao rei Juan Carlos I ou elogia as capacidades do futuro rei Felipe VI, o ara destaca o processo da Catalunha e o grito popular republicano, como os grandes desafios que esperam o novo Rei e a própria Espanha. Desafios complexos, mas inadiáveis. Naturalmente, a transição régia vai gerar movimentações políticas e sociais em Espanha e, sem qualquer dúvida, todos estes desenvolvimentos serão acompanhados com muito interesse em Portugal.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A herança cultural portuguesa de Ceuta

 
Na capa da edição de hoje do diário El Pueblo de Ceuta destaca-se o escudo português, que serve de enquadramento à imagem de Juan Jesus Vivas, o homem que desde 2001 preside à cidade autónoma espanhola de Ceuta. Para além das fotografias, a capa do jornal tem o título “o desgoverno de Vivas” e o ante-título “o executivo de Vivas acumula escândalo atrás de escândalo”. Porém, não são o “escândalo” ou o “desgoverno” referidos na notícia que motivam este apontamento, mas tão só o escudo português. De facto, o escudo português faz parte da bandeira de Ceuta e, diz-se, Portugal também está na alma de Ceuta.
Foi na manhã do dia 22 de Agosto de 1415 que os portugueses desembarcaram e tomaram a cidade de Ceuta, que a partir de então se tornou a primeira cidade europeia em África, mas também a primeira cidade euro-africana do mundo global que se começava a formar. Na expedição comandada pelo próprio Rei D. João I, integravam-se os seus três filhos mais velhos e, para além da tropa portuguesa, havia soldados ingleses, galegos e biscainhos. Quando em 1640 foi restaurada a independência portuguesa, depois dos 60 anos em que vigorou a União Ibérica, os moradores portugueses da cidade decidiram continuar ligados à Coroa espanhola, sem que o novo Rei de Portugal se opusesse. Porém, apesar de se desligarem de Portugal, os moradores de Ceuta conservaram a sua bandeira igual à de Lisboa e o escudo português, para além de manterem a sua matriz cultural portuguesa.
Cientes da importância da memória histórica para a afirmação da sua identidade, as autoridades de Ceuta já estão a preparar as comemorações dos 600 anos da chegada dos portugueses a Ceuta, como testemunho da sua entrada na modernidade e como símbolo de um espaço multicultural onde convergem quatro culturas e quatro religiões, tendo por pano de fundo a herança cultural portuguesa.