terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Federer é o nome maior do ténis mundial

No passado dia 29 de Janeiro o tenista suíço Roger Federer triunfou no Australian Open e com essa vitória somou o seu 18º triunfo em torneios do Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), reforçando a sua liderança nesse prestigiado ranking. Essa circunstância, assim como as suas 89 vitórias em torneios ATP e o recorde de 302 semanas como número 1 mundial entre 2004 e 2012, fazem de Roger Federer não só um dos maiores tenistas de todos os tempos, mas também um dos maiores desportistas da actualidade.
O jornal desportivo francês L’Equipe decidiu entrevistar Roger Federer que, apesar dos seus 35 anos de idade, revelou ter o sonho de conquistar vinte títulos do Grand Slam e de estar presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, uma vez que nas suas quatro participações olímpicas nunca conseguiu uma medalha de ouro em singulares. Esta ambição e esta confiança são verdadeiramente notáveis numa tão longa e desgastante carreira desportiva.
Segundo a revista Forbes, Roger Federer foi em 2016 o 4º desportista mais bem pago do mundo, tendo tido um rendimento de 77 milhões de dólares de salários, prémios e contratos publicitários, mas uma parte dos seus rendimentos são canalizados para a sua Fundação Roger Federer que auxilia crianças carentes na África do Sul, que é a terra natal da sua mãe. Federer fala fluentemente quatro línguas, tem quatro filhos e teve a sua primeira vitória em torneios ATP no dia 4 de Fevereiro de 2001 em Milão. Grande Federer!

O Donald é um perigo para a paz mundial

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Os Estados Unidos são a superpotência militar do planeta, tendo um orçamento militar  da ordem dos 600 mil milhões de dólares (cerca de 570 mil milhões de euros), que é três vezes superior ao da China e sete vezes superior ao da Rússia, superando o gasto combinado dos sete países que o seguem na lista dos maiores orçamentos militares, conforme revela hoje o jornal El Periódico de Barcelona.
Note-se que o orçamento militar americano é três vezes superior ao Produto Nacional Bruto português! Porém, Donald Trump ainda acha pouco e anunciou que vai pedir ao Congresso um reforço de 54 mil milhões de dólares no orçamento militar, correspondente a um aumento de 9%, porque “já são horas dos Estados Unidos voltarem a ganhar guerras”. Na sua declaração, Donald Trump disse que o exército americano iria ser melhorado, bem como todas as suas capacidades ofensivas e defensivas, para que seja ”maior, melhor e mais forte que nunca”. Depois, assumindo-se como o fanfarrão do costume, disse esperar que não seja necessário utilizá-lo, mas que “ninguém se vai meter connosco”. Depois de criticar o dinheiro que os americanos têm gasto nas guerras do Médio Oriente nas últimas décadas, afirmou que a partir de agora a América lutará para ganhar ou simplesmente não combaterá. O El Periódico salienta que esta opção de Donald Trump é um “regalo para la industria armamentística que ya de por sí vive una época dorada gracias a conflictos como los de Yemen y Siria, que han disparado el gasto militar de Arabia Saudí y los países del Golfo”.
Segundo tem sido afirmado, este aumento da despesa militar americana vai afectar significativamente o orçamento da protecção ambiental, da cooperação internacional e, provavelmente, as pensões e o sistema de saúde. O Donald é mesmo um perigo até, ou sobretudo, para os americanos.

Grandes potências confrontam-se no mar

A edição de ontem do jornal Le Fígaro destaca que “o confronto entre as grandes potências mundiais se joga nos oceanos” e ilustra essa frase com uma fotografia do porta-aviões chinês Liaoning, a navegar com algumas fragatas. De acordo com o jornal, o mar tornou-se o centro dos grandes jogos estratégicos, salientando que depois do fim da guerra fria, os oceanos se tornaram um palco de confrontos potenciais entre as grandes potências e que, por isso, as potências emergentes asiáticas estão a modernizar as suas frotas.
De facto, há actualmente muitas zonas de tensão que se estendem do Atlântico ao mar do Sul da China, passando pelo oceano Índico, pelo golfo de Aden e pelo Mediterrâneo oriental, havendo concentração de meios navais em muitas dessas áreas. Os Estados Unidos mantém a supremacia naval no mundo através de uma dezena de super porta-aviões, mas os países asiáticos estão a reforçar-se. Assim, para além do Liaoning, a China tem um segundo porta-aviões em construção e parece que uma terceira unidade faz parte dos seus planos de reforço militar. A Índia que já dispunha dos porta-aviões Viraat e Vikramaditya, reforçou-se recentemente com o novo Vikrant, totalmente construído e equipado nos estaleiros de Cochim. Até a Tailândia tem o Chakri Naruebet, o seu porta-aviões de bandeira, enquanto a Austrália e o Japão não tardarão a “sentir-se ameaçados” e a requerer o reforço da sua defesa. Parece que estamos a chegar a um tempo semelhante ao da guerra fria, numa escalada a que então se chamou neokeynesianismo militar, isto é, perante “as ameaças” aumentavam as despesas militares dos rivais e perante o aumento das despesas militares dos outros, também aumentavam as nossas, numa verdadeira espiral de despesa militar. Nessa corrida, os porta-aviões são importantes porque têm que ser cheios de aviões e de helicópteros. Então como agora, é a indústria do armamento que ganha.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

São os jornais e jornalistas que temos...

O fenómeno do futebol é no nosso país, por mérito absoluto, por moda ou porque dá de comer a muita gente, uma actividade que tomou conta da comunicação social e que ocupa um destacado lugar na informação portuguesa. Nenhuma outra actividade tem a cobertura que a imprensa dá ao futebol, que é tratado como uma coisa mais importante do que a política, a economia, a cultura e as artes, a ciência e a tecnologia ou a vida internacional. Os jornais gastam páginas e as televisões consomem horas a tratar da vida dos jogadores, dos treinadores, dos árbitros e dos dirigentes, das transferências e dos penaltis, dos foras de jogo e dos cartões. O futebol tornou-se uma coisa doentia, não pelo que se passa sobre os relvados, mas pela forma cega e obsessiva como é tratado por muitos jornais e jornalistas. É pena que assim seja, mas é.
Ontem dois portugueses brilharam no panorama desportivo internacional. O treinador José Mourinho levou a sua equipa do Manchester United a vencer a Taça da Liga inglesa e o ciclista Rui Costa venceu a Volta ao Abu Dhabi, derrotando os grandes nomes do ciclismo mundial. Os jornais generalistas portugueses entenderam que o assunto não era importante e os jornais desportivos deram-lhe um pequeno canto das suas primeiras páginas, ocupadas pelas fotografias do Jonas, do Mitroglou e do Soares ou pelos discursos dos candidatos à presidência do Sporting. Assim aconteceu com a edição de hoje de A Bola.
Estes Mourinhos e estes Costas fazem muito pela nossa auto-estima e é lamentável que os jornais portugueses quase os ignorem.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Amadeo, pintor vanguardista português

O Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado tem estado a apresentar uma exposição dedicada a Amadeo de Souza-Cardoso, que evoca a apresentação que o pintor fez das suas obras no Porto e em Lisboa em 1916.
Amadeo vivia em Paris e já era um pintor reconhecido com exposições colectivas em Paris, Berlim, Nova Iorque, Chicago, Boston e Londres, mas no início da 1ª Guerra Mundial regressou a Portugal e, no ano de 1916, realizou exposições em Novembro no Porto e em Dezembro em Lisboa.
A exposição agora organizada intitula-se "Amadeo de Souza-Cardoso/Porto Lisboa/2016-1916” e foi apresentada no passado mês de Dezembro no Museu Soares dos Reis no Porto e, desde o dia 12 de Janeiro, no Museu do Chiado em Lisboa.
Dizem as críticas que as exposições de 1916 provocaram escândalo e debate. Em Lisboa,  a exposição proporcionou o encontro entre Amadeo e Almada Negreiros, que era um entusiástico admirador de Amadeo e que se referiu à exposição como “mais importante do que a descoberta do caminho marítimo para a Índia”. A exposição tem atraido muitos visitantes que esperam em demoradas filas e distribui-se por 7 salas, onde se apresentam 81 obras, das quais 52 pertencem a instituições públicas e 29 a colecções privadas.
Amadeo e a sua obra bem mereciam um espaço mais amplo, para que as pessoas não esperassem tanto tempo e não se acotovelassem nas pequenas salas onde as obras estão expostas.

A amizade dos povos de Angola e Portugal

A verdadeira trapalhada que emergiu em Portugal nos últimos anos e que envolve tantos bancos, tanto dinheiro e tanta gente importante, parece não se confinar apenas ao território nacional, surgindo alegadas ramificações a interesses situados noutros países. Muita gente se envolveu e deslumbrou com os negócios e com o dinheiro, tirando partido patrimonial da situação. Muitos enriqueceram com donativos,  comissões e prémios de muitos milhões. Foi uma pouca vergonha e a Justiça acordou muito tarde para esta situação que se adivinhava estar a acontecer.
Num país que não é perfeito, a Justiça também não é perfeita e os seus agentes têm cometido erros grosseiros, nomeadamente com a sistemática violação do segredo de justiça, que é um atentado à dignidade das pessoas e se traduz num julgamento popular na praça pública. O Ministério Público português tem usado e abusado dos seus poderes e, directamente ou por via da comunicação social, tem promovido alguns inaceitáveis julgamentos populares. A suspeita é sempre a mesma: corrupção, fuga ao fisco, branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
Um dos últimos acusados é um alto dirigente angolano e, de imediato, o governo angolano classificou como “inamistosa e despropositada” a forma como o Ministério Público português divulgou essa acusação e alertou que ela ameaça as relações bilaterais, enquanto o  Jornal de Angola destaca que estão ameaçadas as relações com Portugal. É uma posição precipitada e ameaçadora que não tem justificação. Acontece que existe em Portugal o princípio da separação de poderes e, sobre essa matéria, os governos não interferem. Angola sabe que a Justiça portuguesa é independente do poder político. Sabendo-se que é assim, as autoridades governamentais angolanas não devem tomar posições que belisquem a amizade e os interesses dos povos de Angola e de Portugal, que devem estar acima dos comunicados do Ministério Público português, ou seja, os governos não se devem meter nisto.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Evocando a memória de José Afonso

Foi há 30 anos, no dia 23 de Fevereiro de 1987, que aos 57 anos de idade faleceu José Afonso. Hoje os jornais portugueses esqueceram essa data e não evocaram esse homem que é uma referência da cultura portuguesa do século XX e um dos maiores símbolos da luta pela Democracia em Portugal. O jornal i foi a excepção e, por isso, aqui deixo o meu aplauso a esse jornal e à sua equipa editorial.
Quando há poucos meses a Academia sueca distinguiu Bob Dylan com o Prémio Nobel da Literatura e a crítica internacional lembrou nomes de alguns poetas-cantores como Jacques Brel, Leonard Cohen, Chico Buarque ou Patti Smith que suscitaram muitas emoções com as suas palavras cantadas, eu lembrei-me naturalmente de José Afonso. A sua voz, a estética das suas canções e os seus inspirados textos continuam a ser tão emocionantes como nos tempos da Resistência, mas também continuam a ser símbolos de modernidade musical e referências culturais para muitos portugueses. 
Num país que, por vezes, parece não ter memória e que idolatra futebolistas, banqueiros e políticos de segunda categoria, a evocação do talentoso José Afonso é um dever de cidadania.

O Carnaval de Santa Cruz de Tenerife

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Um pouco por toda a parte, aproximam-se os festejos do Carnaval cuja origem remonta à Antiguidade, mas que os povos ibéricos transplantaram para as regiões por onde andaram, como aconteceu no Brasil onde, actualmente, é a mais popular de todas as suas festas. Porém, nas ilhas Canárias, festeja-se o Carnaval de Santa Cruz de Tenerife que é muito apreciado pelos cultores dos carnavais e é considerado o segundo maior do mundo, apenas superado pelo Carnaval do Rio de Janeiro.
O Carnaval de Santa Cruz de Tenerife tem a sua origem no século XVIII e, depois de ter sido hostilizado ou proibido pelo regime franquista, ressuscitou depois de 1976 e, pouco tempo depois, foi declarado como Fiesta de Interesse Turístico Internacional, pelo enorme impacto que passou a ter na indústria turística da ilha. O seu programa é muito vasto e nele se destaca a eleição da Rainha do Carnaval, que acontece na quarta-feira anterior aos dias de Carnaval.
Essa eleição aconteceu ontem durante uma gala que foi transmitida pela televisão, na qual as 16 candidatas desfilaram com exuberantes trajes, alguns dos quais pesariam bem mais de cem quilos, segundo salientou a imprensa. A vencedora chama-se Judit López Garcia e a sua fotografia ocupa a primeira página de todos os jornais de Tenerife, um dos quais anuncia uma edição especial de 23 páginas a cores sobre a gala da eleição da Rainha! Se não é um grande exagero, parece.

Dinamismo e vontade geram investimento

Apesar da imprensa portuguesa andar distraída e não mostrar interesse nos surpreendentes resultados económicos positivos do ano de 2016, sobretudo no que respeita à redução do défice público, à contenção da dívida externa, à redução do desemprego e ao crescimento económico, houve quem tivesse salientado a grande quebra no investimento como aspecto negativo. Porém, todos deveriam saber, incluindo a oposição ao actual governo, que as intenções de investimento dos agentes económicos não dependem da vontade dos governos e que requerem tempo para que os agentes económicos realizem estudos de vária ordem para preparar a tomada de decisões.
Hoje, ao folhearmos o Faro de Vigo, fomos confrontados com a notícia de que irão ser investidos 430 milhões de euros no porto de Leixões para melhorar a sua competitividade e para o converter no porto de referência do noroeste peninsular. Segundo diz o jornal na sua primeira página, "o governo luso lança-se na liderança da região galaico-portuguesa".
Esse investimento decorrerá até 2026, prevê a construção de um novo terminal de contentores para duplicar a actual capacidade disponível e, em termos financeiros, utilizará fundos públicos, contributos comunitários e uma forte participação da iniciativa privada. É realmente um grande investimento que irá dinamizar a região norte do nosso país. Recorde-se que em Julho de 2015 foi inaugurado o novo Terminal de Cruzeiros que, além de ser uma notável obra de arquitectura assinada pelo Arquitecto Luís Pedro Silva, também fez aumentar em cerca de 50% o número de navios de cruzeiro e de turistas que visitaram Leixões. Significa que, nestas coisas do investimento, o papel dos governos é importante mas não é suficiente, como se vê neste caso em que tudo resulta do dinamismo e do entusiasmo da APDL. Viva a APDL!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Há que esclarecer isto, mas com rapidez

O jornal Público divulgou ontem que o Fisco deixou sair cerca de 10 mil milhões de euros para offshores, também conhecidos por paraísos fiscais, exactamente no período de 2011 a 2014, quando o aperto das nossas contas públicas foi maior e quando o mesmo Fisco, pomposamente assumido como Autoridade Tributária, perseguia os contribuintes, oferecia carros de luxo a alguns deles e penhorava a casa a muitas famílias.
O que se passou é muito grave, porque é muito dinheiro. De quem era esse dinheiro? É mais do que pagamos em juros da dívida num ano e refere-se apenas a duas dezenas de transferências. Tanto dinheiro a fugir de Portugal! O Núncio, que fazia parte da equipa de Portas e de Cristas, era o responsável pelo Fisco e não viu ou não quis ver. Deixou que durante o seu mandato não fosse publicada a informação estatística sobre as transferências transfronteiras que os bancos forneciam ao Fisco e, dessa forma, avalizou essas traficâncias. Não tratou de investigar o que se passava. Afinal o seu estilo arrogante era só isso. Não tinha a ver com competência, nem com seriedade, nem com ética no desempenho de funções públicas. Foi negligente e incompetente. A quem serviu ele? Será que agiu como se trabalhasse para um qualquer escritório de advogados e que não soube distinguir interesses? Agora é preciso esclarecer rapidamente o que se passou, até porque os amigos do Núncio já se julgam branqueados e até parece quererem voltar ao poder.
Num segundo plano de responsabilidades está o todo poderoso Fisco que, afinal é forte com os fracos e fraco com os fortes. Quem beneficiou com tudo isto? Que tudo possa ser esclarecido rapidamente.
E anda aquela meia dúzia de deputados da primeira fila, demagogos e irresponsáveis, a berrar sob a batuta do Montenegro por causa dos SMS do Domingues e do Centeno...

Portugal e Cabo Verde: relações fortes

Na passada segunda-feira na cidade da Praia realizou-se a IV Cimeira entre Portugal e Cabo Verde, na qual foram discutidos assuntos de interesse comum. As questões financeiras dominaram a Cimeira e estão bem presentes no Programa Estratégico de Cooperação (PEC), que vinha sendo negociado e que foi rubricado entre António Costa e Ulisses Correia da Silva. O jornal Expresso das Ilhas chamou-lhe “A Cimeira dos afectos” porque se multiplicaram as declarações de amizade produzidas por ambas as partes e dedicou a sua primeira página ao acontecimento.
À margem da Cimeira, o Primeiro-Ministro português foi recebido pelo Presidente da República Jorge Carlos Fonseca, inaugurou a Escola Portuguesa na cidade da Praia e contactou com a comunidade portuguesa.
Embora esta Cimeira pareça ser mais uma acção de rotina da diplomacia portuguesa, o facto é que serviu para lembrar às duas partes que "a relação entre Portugal e Cabo Verde é única, se funda na afectividade e na concretização de objectivos comuns", como declarou o primeiro-ministro português. Na realidade, se no campo da Lusofonia existem evidentes elos de afectividade que a História e a Língua criaram entre os vários países, esses elos são porventura mais fortes entre os portugueses e os caboverdianos, até porque não haverá português que não aprecie as mornas e a cachupa, nem caboverdiano que não seja do Benfica ou do Sporting. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Recomeçou uma dura luta por Mossul

Depois de uma pausa de algumas semanas, por certo devida ao inverno e à tomada de posse do novo presidente dos Estados Unidos, as forças iraquianas apoiadas por milícias iraquianas, por forças curdas e, ainda, por militares americanos, ingleses e turcos, retomaram a ofensiva sobre Mossul, que fora iniciada há quatro meses. “A reconquista de Mossul começou”, escreveu o jornal inglês The Independent, mas também vários jornais americanos.
A parte oriental da cidade já foi recuperada no mês passado, mas a batalha pela sua parte ocidental afigura-se mais difícil porque, tal como aconteceu em Allepo, também em Mossul predominam as ruas estreitas por onde não podem entrar os carros de combate e onde viverão cerca de 650 mil civis. Assim, as acções aéreas dos russos e sírios sobre Allepo que tanto foram criticadas, podem agora repetir-se em Mossul por parte da aviação aliada. A História mostra que a reconquista de uma cidade pode demorar muitos meses e a reconquista de Mossul pode demorar muito tempo, mas o facto é que Donald Trump prometeu vitórias sobre o Daesh e quer resultados rápidos.
Entretanto, a cidade síria de Deir Ezzor, que fica situada a cerca de 340 milhas para oeste de Mossul e é defendida pelo regime sírio, está cercada desde há muito tempo pelo Daesh, sendo os seus 90 mil habitantes abastecidos por helicópteros. Nessas condições, uma derrota do Daesh em Mossul poderá fazer com que as suas forças se desloquem para Deir Ezzor para reforçar o cerco àquela cidade.
Significa, portanto, que a derrota do Daesh em Mossul pode representar o seu reforço em Deir Ezzor e que, como sucede em quase todas as guerras, a solução deste complexo e trágico conflito passa por entendimentos entre aqueles que têm forças no terreno e, em especial, entre americanos e russos.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Um prémio como pretexto de luta política

O Prémio Camões é considerado a mais importante distinção que premeia um autor de língua portuguesa. Foi criado em 1988 por acordo entre os governos de Portugal e do Brasil, sendo anualmente atribuído a autores que, pelo conjunto da sua obra, tenham contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.
Entre os escritores galardoados figuram os nomes de Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto, José Craveirinha, Vergílio Ferreira, Rachel Queiroz, Jorge Amado, José Saramago, Sophia de Melo Breyner, Pepetela e Mia Couto.
Em 2016 o júri do prémio escolheu o escritor brasileiro de origem libanesa Raduan Nassar. Ontem no Museu Lasar Segall em S. Paulo, realizou-se a cerimónia da entrega do Prémio Camões, na presença do Ministro da Cultura brasileiro Roberto Freire e do Embaixador de Portugal, um acontecimento cultural que a edição de hoje da Folha de S. Paulo destaca na sua primeira página com uma fotografia a quatro colunas.
Aconteceu que durante a cerimónia Raduan Nassar não fez o habitual discurso de agradecimento próprio destas circunstâncias, mas aproveitou para fazer um contundente ataque ao governo de Michel Temer que acusou de golpista e repressor, ao mesmo tempo que fez o elogio de Dilma Rousseff pela sua integridade.
O Ministro Roberto Freire reagiu com dureza e disse que Raduan deveria renunciar ao prémio de 100 mil euros, mas durante a sua intervenção foi intensamente vaiado pela assistência, o que revela alguma insatisfação pelos rumos da política brasileira. Porém, o que aqui nos interessa sublinhar é que um evento que deveria ser de natureza cultural se transformou num acontecimento de luta política.

Espanha: uma inédita condenação real

 
Depois de vários meses de julgamento, o Tribunal Provincial de Palma de Maiorca anunciou ontem a sentença do caso Nóos, no qual estavam acusados a Infanta Cristina, irmã mais nova do Rei Filipe VI de Espanha, e o seu marido Inaki Urdangarín, por alegado desvio de fundos públicos, fraude e tráfico de influências.
O Tribunal concluiu que Inaki Urdangarín tinha uma posição institucional privilegiada que o levou a conseguir contratos de forma irregular nas Baleares e condenou-o a uma pena de prisão de seis anos e três meses pelos crimes de prevaricação, peculato, fraude, tráfico de influência e dois crimes contra as Finanças Públicas, enquanto a sua mulher foi absolvida dos crimes de natureza fiscal de que estava também acusada.
Numa primeira reacção à notícia, a Casa Real salientou apenas o seu profundo respeito pelo princípio da independência do poder judicial.
Absuelta y condenado é o título mais comum da imprensa espanhola e todos os jornais destacam hoje a notícia, enquanto nos seus editoriais o tema serve para tudo. Enquanto os jornais mais afectos à Monarquia salientam que a Infanta Cristina foi absolvida e que a honra dos Bourbons ficou salvaguardada, os jornais menos afectos à Monarquia destacam que a condenação de um cunhado do Rei, é um facto que nunca acontecera nas monarquias europeias e é um sinal da decadência do sistema monárquico.
O que não há dúvida é que, lá como cá, mas também um pouco por toda a parte, a ganância tomou conta de muitos espíritos que não olham a meios para enriquecer e que, para isso, utilizam todas as armas de influência e todas as práticas ilícitas para atingir os seus fins. Lá como cá, parece valer tudo. Porém, parece que agora a justiça começa  a ser igual para todos.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Goa recebeu António Costa em apoteose

Quando há poucos dias visitamos Goa, pudemos apreciar como ainda estavam presentes as emoções de muitos goeses que se referiam à visita do Primeiro-Ministro António Costa como um acontecimento que só gerara sentimentos de entusiasmo semelhantes, quando da visita privada do General Vassalo e Silva em 1980 e da visita oficial do Presidente Mário Soares em 1992. De facto, quando nos dias 11 e 12 de Janeiro visitou oficialmente a terra de origem do seu pai, António Costa foi recebido como um filho da terra e como o primeiro chefe de governo europeu de origem goesa, mas também soube cativar o entusiasmo popular quando afirmou sentir-se orgulhoso das suas origens e revelar que o pai o tratava por Babush, uma palavra que em concanim significa menino.  
Os goeses gostaram de António Costa que soube impor-se pela sua simpatia.
A edição de Fevereiro da revista Goa Today dedicou-lhe a sua primeira página, que inclui cinco artigos distribuídos por nove páginas e publica doze fotografias  do Primeiro-Ministro português. Nunca tinha sido dado tanto espaço editorial a Portugal ou aos portugueses. São textos muito laudatórios e que não são nada habituais na imprensa goesa, pois ainda há alguns receios pela afirmação de sentimentos de portugalidade, em consequência dos traumáticos acontecimentos de 1961. Se as visitas do navio-escola Sagres ainda mobilizaram o protesto de uma dúzia de activistas da Goa, Daman & Diu Freedom Fighters Association, o facto é que António Costa os calou. Contudo, se nada de substantivo for feito imediatamente para incrementar as relações culturais e outras entre Portugal e Goa, esta visita perder-se-á no tempo e a memória portuguesa continuará a declinar em Goa. António Costa deve ter ficado a saber que ou Portugal investe culturalmente em Goa, ou Goa prosseguirá na sua caminhada para a indianização cultural.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Cresce o repúdio contra o pateta Donald

Quando no dia 22 de Janeiro aqui escrevemos que em relação a Donald Trump era preciso esperar para ver, tínhamos em mente que as promessas feitas em todas as campanhas eleitorais raramente são cumpridas. Essa é, quase sempre, a lógica dos vencedores que tudo prometem para ganhar votos. Afinal, com alguma surpresa, verificamos que no caso do novo Presidente dos Estados Unidos nem foi preciso esperar para ver, porque numa simples semana ele se encarregou de cumprir as suas promessas mais reacionárias, mais agressivas e mais ousadas, pondo em risco a estabilidade do seu país e a própria estabilidade do mundo. 
As medidas tomadas contra os refugiados estão a agitar a América e milhões de americanos têm vindo protestar para as ruas. Até Barack Obama, que era suposto não se meter na vida do Donald, já veio criticar algumas das medidas presidenciais que denunciam um homem arrogante e fanfarrão, envolto em dinheiro e ignorância, sem princípios nem valores e sem qualquer respeito pelos Direitos Humanos. É caso para perguntar como foi possível ter sido escolhido um indivíduo destes para a Casa Branca.
Fora dos Estados Unidos também cresce a preocupação quanto ao rumo que este impreparado timoneiro está a dar ao governo de uma tão grande nau e, como dizia ontem o El Periódico de Barcelona, o repúdio é mundial. O mundo não vai bem e até será necessário criar uma nova ordem mundial, mais justa e mais equilibrada, mas não é isso o que o Donald está a fazer, com as suas políticas social e economicamente restritivas que, devido às interdependências que a globalização criou, vão acabar por prejudicar os americanos.
A América merecia melhor e, no actual estado de conflitualidade mundial, não era preciso ninguém para atirar mais gasolina para uma fogueira que arde em várias regiões do planeta.