sexta-feira, 31 de julho de 2020

Donald Trump, the Presid-end


Por causa do covid-19 a crise económica e social deu a volta ao mundo e a todos afectou, mas nos Estados Unidos essa crise parece ser das mais profundas, não só porque a pandemia já causou mais de 150 mil óbitos, mas também porque a economia caiu 32,9% no segundo trimestre de 2020. Tratando-se do segundo trimestre consecutivo em queda, significa que os Estados Unidos entraram oficialmente em recessão e, porque se trata da maior economia mundial, o panorama é muito preocupante. Para além dos aspectos sanitários, os contornos da crise americana são visíveis sobretudo no desemprego, que já atinge cerca de 39 milhões de americanos.
Tudo isto acontece em ano eleitoral e, independentemente da má ou péssima governação de Donald Trump, será ele que vai acabar por “pagar as favas”, isto é, que não vai conseguir a sua reeleição. Se assim acontecer, os Estados Unidos e o mundo tirarão largo proveito de um novo clima de apaziguamento mundial, que gerará vozes e comportamentos estimulantes de confiança e de esperança para vencer a actual crise, que tem sido acelerada e aprofundada pelo discurso agressivo, arrogante e boçal de Donald John Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos.
Na sua última edição a revista alemã Der Spiegel vaticina o fim da presidência do Donald, mas antes ainda vai passar muita água por debaixo das pontes ou, como diz o povo, “até ao lavar dos cestos é vindima”.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Agrava-se a situação em Cabo Delgado


No âmbito da sua vida militar e da guerra colonial, muitos portugueses conheceram a actual província moçambicana de Cabo Delgado e, por isso, é natural que lhes interessem todas as notícias que de lá chegam.
Durante alguns anos era referido o interesse turístico e a descoberta de enormes reservas de gás natural, o que estava a atrair investimento estrangeiro para a região, mas em Outubro de 2017 foram efectuados ataques armados na vila de Mocímboa da Praia por alegados insurgentes islamistas, eventualmente com ligações a grupos radicais estrangeiros. Esses ataques violentos sucederam-se e estão identificados três em 2017, dezanove em 2018, trinta e quatro em 2019 e quarenta e três nos primeiros quatro meses de 2020, o que significa que a situação se está a agravar, com centenas de mortos e milhares de refugiados.
Parece não haver ainda um conhecimento sobre o que realmente se passa, mas já se fala em guerra civil, até porque as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique não estarão a dominar a situação, como mostram as estatísticas e o agravamento da situação.
Recentemente, o governo de Filipe Nyusi lembrou-se do êxito que um grupo mercenário do Zimbabwe obtivera em 1985 contra o quartel-general da Renamo e decidiu contratar o coronel zimbabweano Lionel Dick e o seu grupo, o Dick Advisory Group (DAG) para ajudarem a combater os insurgentes que há três anos aterrorizam a região de Cabo Delgado, o que foi noticiado pelo semanário Savana. Nesta altura a situação é muito complexa pois não se sabe quem são e o que reivindicam os atacantes. Alguns cenários apontam para uma poderosa rede criminosa ligada ao tráfico do marfim, dos rubis e das esmeraldas e outros referem o negócio da heroína, ambos com fortes ligações ao jhiadismo e ao Daesh. Porém há quem entenda que se trata de uma revolta contra a Frelimo ou mesmo o início de uma secessão de Cabo Delgado. O facto é que a situação se agrava.

domingo, 26 de julho de 2020

Trump-Biden: vem aí a batalha eleitoral


Na sua edição de hoje o jornal francês Le Télégramme recorda que estamos a cem dias das eleições presidenciais americanas, ou do fim do combate eleitoral entre o actual presidente Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden. Apesar da importância que esta escolha tem para o mundo, é muito estranho que este assunto ainda não esteja nas agendas dos grandes mass media internacionais e que seja um jornal da Bretanha a lembrar este momento simbólico da corrida presidencial e das eleições que se realizam no dia 3 de Novembro. Segundo as sondagens mais recentes o democrata Joe Biden está à frente de Trump nas intenções de voto por 8 a 10 pontos, enquanto o Texas, que é um estado decisivo em número de delegados e que em 2016 votou maioritariamente em Trump, divide agora os seus votos igualmente pelos dois candidatos. Estes dois indicadores são desanimadores para Trump e reforçam o entusiasmo da campanha de Biden.
Nos Estados Unidos, a crise do covid-19 já causou quase 145.000 mortos, 4 milhões de infectados e, só nas duas últimas semanas, revelou mais de um milhão de testes positivos. O homem que sempre se recusou a usar máscara aparece agora com ela presa ao rosto e essa mudança de atitude revela ignorância e arrogância, mas também uma enorme leviandade presidencial. Trump tem desvalorizado a gravidade da pandemia e tem atacado insistentemente Joe Biden, mas o seu estilo de permanente improvisão, de discurso confuso e de ziguezague parecem ter cansado os americanos. As eleições americanas vão ser um julgamento político de Donald Trump, não tanto pela situação económica do país ou pela desorientação nas relações internacionais, mas pela resposta que deu à pandemia do covid-19. Porém, nestes cem dias, alguns imprevistos poderão acontecer e um deles será o comportamento dos agentes políticos e sociais relativamente às questões raciais que renasceram com o assassinato de George Floyd.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Amália também é recordada no Oriente


A popularidade e o prestígio internacional de Amália Rodrigues (1920-1999) foram um fenómeno singular que aconteceu no Portugal do século XX, que então era um país periférico e sem voz na comunidade internacional, sobretudo porque foram construídos sem o apoio das máquinas promocionais do marketing que actualmente tudo nos impingem, incluindo sabonetes e pastas de dentes, destinos turísticos, formas de vestir e até os políticos em que acabamos por votar. Nos aspectos culturais também tudo se passa da mesma maneira e são as máquinas do marketing artístico e cultural, sempre apoiadas pela crítica que raramente é independente, que acabam por determinar as nossas escolhas estéticas. Isso acontece agora, mas não aconteceu com Amália Rodrigues que tudo conquistou com o seu enorme talento, com a sua inteligência e a sua capacidade para falar e cantar em várias línguas, incluindo o castelhano, o galego, o francês, o italiano e o inglês. O seu contributo para a história do fado – que em 2011 a UNESCO declarou como Património Imaterial da Humanidade – foi incalculável, ao introduzir a lírica de Camões e as cantigas trovadorescas de D. Dinis no seu repertório, mas também ao dar a sua voz à poesia de David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Carlos Ary dos Santos, Alexandre O’Neill ou Manuel Alegre. 
A sua carreira internacional iniciou-se em 1943 no Teatro Real de Madrid, mas a sua voz e a sua presença chegaram a todo o mundo durante mais de cinquenta anos. Ao recordar-se o centenário do seu nascimento, muitas homenagens lhe têm sido prestadas não só em Portugal, mas também nas geografias da diáspora portuguesa, incluindo Macau onde o jornal Ponto Final lhe dedicou toda a primeira página de uma edição, mas também em Goa, onde o fado continua a ser muito apreciado e a voz e o estilo único de Amália são uma referência para muitos jovens cantores goeses e um dos maiores símbolos da herança cultural portuguesa.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

A memória sempre presente de Amália


Se fosse viva, Amália Rodrigues completaria hoje cem anos de idade e os portugueses lembraram hoje essa figura singular da nossa vida cultural através de uma homenagem que lhe foi prestada pela Assembleia da República. Porém, as homenagens que lhe foram prestadas por iniciativa da sociedade civil e de muitas associações culturais mostram a grandeza de uma pessoa de forte personalidade e grande talento que, através da sua voz, se tornou conhecida e foi aplaudida internacionalmente. Num tempo de um Portugal sombrio, autoritário, paroquial e “orgulhosamente só”, Amália foi a outra imagem do país, foi o rosto e a voz da cultura portuguesa e foi aclamada e adorada pelos portugueses de todas as classes sociais e de todas as latitudes.
Em 1964, juntamente com muitos outros companheiros, tivemos o privilégio de conhecer e conviver com Amália Rodrigues durante alguns dias numa pequena ilha atlântica, onde se encontrava envolvida em actividades cinematográficas. Todos então pudemos apreciar a simplicidade e a riqueza humana daquela mulher sorridente, coloquial e sempre bem disposta, que então já era uma figura conhecida em meio mundo, onde se impusera pelo seu talento artístico e pela sua inteligência. Ela foi uma criadora que revolucionou o fado, ao dar voz aos poetas portugueses que levou até ao povo, mas também ao levar a música popular até às elites culturais. O sucesso de Amália foi sempre ascendente e o seu prestígio nacional foi inigualável, como era demonstrado pela devoção com que os portugueses a adoravam.
Em Outubro de 1999 deixou-nos, mas a devoção nacional por Amália continuou. Hoje, o seu rosto e a sua voz são memórias que continuam vivas no imaginário português.

“Vélorution” ou a nova moda da bicicleta


O semanário francês L’OBS destaca como tema principal da sua edição desta semana a vélorution ou a revolução das bicicletas nos centros urbanos que, de uma maneira entusiástica, está a levar cada vez mais pessoas a adoptar a bicicleta como meio de transporte, mas também como um instrumento de lazer e de prática de exercício físico.
A maioria das autoridades autárquicas tem incentivado as práticas ciclistas em nome do ambiente e da diminuição da circulação automóvel, da redução da poluição e da melhor qualidade do ar.
Lisboa está na primeira linha da vélorution portuguesa, sendo considerada a cidade europeia mais sustentável e sido eleita a Capital Verde Europeia 2020, o que aconteceu pela primeira vez a uma cidade do sul da Europa. Essa eleição resultou da avaliação de um júri que apreciou a evolução positiva que Lisboa tem registado em todas as doze áreas-chave, entre as quais se contam a energia, água, mobilidade, resíduos, qualidade do ar ou ruído. Porém, a adaptação da cidade de Lisboa tem vários problemas, o primeiro dos quais é a própria geografia da cidade dispersa sobre colinas, sobretudo na zona histórica da cidade, onde as ruas são estreitas. Por outro lado, esta rápida alteração da filosofia de transporte urbano que se aplaude, poderá estar a ser feita a um ritmo demasiado apressado, o que está a gerar conflitualidade entre os ciclistas que se assumem como os utentes prioritários e exclusivos da via pública e os automobilistas com hábitos enraizados de muitos anos e que até pagam imposto de circulação. As revoluções precisam de tempo para serem aceites. Nos próximos tempos vai ser necessário muito bom senso para circular em Lisboa, quer de automóvel, quer de bicicleta.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Poderá ser o novo Renascimento europeu


Toda a imprensa europeia destaca o acordo a que se chegou em Bruxelas para ultrapassar a crise provocada pela pandemia e para aproveitar esta oportunidade para reconstruir a Europa numa perspectiva de mudança energética e digital, mas também numa nova visão ambiental que minimize as ameaças provocadas pelas alterações climáticas. A fotografia em que se felicitam a presidente da Comissão Europeia Ursula van der Leyen e o presidente do Conselho Europeu Charles Michel ilustrou a primeira página de alguns jornais e mostra que é nos momentos difíceis que se reforça a unidade. Foi dito que é um momento histórico e, de facto, podemos estar perante um novo Renascimento que ilumine a Europa e os europeus.
A Europa carece cada vez mais de unidade para vencer as tendências nacionalistas que tendem a minar o projecto de paz e de solidariedade que nasceu em 1957 e que hoje é a União Europeia. O acordo agora conseguido vai no bom sentido e é um momento alto para o projecto europeu, não só por procurar reparar os danos económicos e sociais provocados pela pandemia do covid-19, mas também por dar início à própria modernização desse projecto e nele envolver as novas gerações.
Porém, sobretudo em Portugal, é necessário que os agentes políticos e os jornalistas tenham uma atitude pedagógica perante o público, o que nem sempre acontece, pois parece que ficam deslumbrados com os números e deixam no ar a ideia de que tudo serão facilidades. Afirmar que “o governo vai ter 18 milhões de euros por dia” ou escrever que “Portugal vai ter 6000 milhões de fundos por ano” é enganoso ou até mesmo mentiroso, pois cria ilusões nos portugueses. Para que não seja uma oportunidade perdida, esse dinheiro vai implicar a apresentação de projectos compatíveis com o acordo alcançado, criatividade, imaginação, realismo, muita responsabilidade e vontade política de mudança. É um enorme desafio.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Um acordo europeu que ilumina o futuro


A pandemia que a partir de Março afectou seriamente o modo de vida no mundo e que causou prejuízos económicos e sociais incalculáveis, ainda está longe de estar ultrapassada, apesar de começarem a aparecer notícias referindo a possibilidade de estar próxima a descoberta de uma vacina eficaz. Entretanto, em paralelo com a luta contra o covid-19, também estão a ser tomadas medidas para combater a crise económica e social como o lay-off, o teletrabalho, diferimento de obrigações fiscais e muitas outras.
Porém, a dimensão desta crise que vem sendo considerada como a mais grave que o mundo alguma vez suportou, levou a União Europeia a procurar uma saída. Assim, os 27 líderes europeus reuniram em Bruxelas para encontrar uma resposta coordenada à crise provocada pela pandemia e ao fim de cinco dias e de mais de 90 horas de negociações, chegaram a um acordo. As declarações produzidas por diversos líderes revelaram muita euforia e muita confiança naquilo a que chamaram um acordo histórico. São muitas centenas de milhões de euros que constituirão um fundo de recuperação destinado a combater a crise provocada pelo covid-19, a modernizar a economia, a combater as alterações climáticas e a apoiar as transições energética e digital, que será financiado pela emissão conjunta de dívida nos mercados financeiros, através da Comissão Europeia. Os números que estão a ser divulgados são tão grandes que obrigam a um estudo sobre o seu destino e sobre os seus destinatários no espaço europeu.
António Costa, que parece ter sido um importante protagonista nestas negociações, afirmou: “No conjunto, nestes [próximos] dez anos, Portugal terá para executar um total de 57,9 mil milhões de euros. Obviamente, é um enorme desafio”. É realmente muito dinheiro e bom seria que, desde já, se instalasse um sentido de responsabilidade e de independência, que prevenisse e travasse os oportunistas e os abusadores que, como se tem visto desde 1986, são verdadeiras aves de rapina especializadas na pilhagem de dinheiros comunitários. 

domingo, 19 de julho de 2020

Hagia Sophia como nova bandeira de quê?


No passado dia 10 de Junho, com base numa recomendação do Conselho de Estado da Turquia, o presidente Recep Tayvip Erdoğan assinou um decreto que determina a reclassificação da Basílica de Santa Sofia, também conhecida como Hagia Sophia, que em 1934 tinha sido convertida em museu e se tinha tornado um símbolo do secularismo e da moderna Turquia sob a direcção de Mustafa Ataturk. O majestoso edifício que é famoso pela sua enorme cúpula que é um exemplo único da excelência da arquitectura bizantina, foi inicialmente construído no século VI para servir de catedral de Constantinopla, mas em 1453 com a queda do Império Romano do Oriente a cidade foi renomeada como Istambul e a catedral foi transformada em mesquita, até que em 1934 foi adaptada como museu. Com a decisão agora tomada por Erdoğan, a Hagia Sophia vai voltar a ser uma mesquita, o que mostra a complexidade de quinze séculos de História das relações europeias e turcas ou das tradições cristãs e islâmicas.
A decisão turca gerou críticas internas e interessou a opinião pública europeia pois a reconversão da Hagia Sophia vem sendo interpretada como uma jogada nacionalista ditada pelas ambições políticas internas de Erdoğan, mas também pelos desejos turcos de verem o seu país tornar-se uma potência regional e de, eventualmente, se poderem entusiasmar num afrontamento político e religioso à Europa que não deseja ter  um polo de instabilidade na sua fronteira oriental. O jornal Público diz que Erdoğan está a enterrar de vez a Turquia laica e, de facto, assim parece.
Paradoxalmente, a Turquia continua a pertencer à NATO, enquanto faz negócios com a Rússia e apazigua as suas tensões com o Irão. É mesmo complexa aquela região do mundo.

sábado, 18 de julho de 2020

A crise sanitária parece estar para durar


A imprensa espanhola vem utilizando a palavra rebrotes para caracterizar a situação que se vive no país em que, aparentemente, estão a reaparecer os focos infecciosos de covid-19, pelo que diversas comunidades autónomas estão a reforçar as medidas sanitárias de protecção, incluindo o confinamento social obrigatório e outras medidas incluindo o uso obrigatório de máscaras. O jornal catalão el Periódico anuncia que nas comunidades autónomas da Catalunha e de Aragão o vírus avança sem controlo, mas as notícias relativas à Andaluzia e à Galiza também são preocupantes.
Por outro lado, as notícias que nos chegam da Austrália e dos Estados Unidos, bem como do Brasil e da Índia, revelam que ainda estamos muito longe de ultrapassar a crise pandémica que nos está a afectar desde Março e que, provavelmente, teremos que continuar a esperar pelo aparecimento de uma vacina que nos devolva a esperança em relação à normalização da nossa vida.
Apesar de todas as medidas adoptadas para superar a crise sanitária, o facto é que a crise económica também se agrava, pois a confiança dos agentes económicos tem dado poucos sinais de recuperação. Todos vemos que os aviões voam com poucos passageiros, que os restaurantes continuam vazios e que a maioria das lojas continua sem clientes. Começa a desenhar-se uma situação de calamidade mundial com muito desemprego e muita pobreza, o que nem os mais radicais adeptos da teoria dos ciclos económicos tinha previsto.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Macau: o património português à deriva


O Centro Histórico de Macau foi classificado pela Unesco e entrou na lista do Património Mundial da Humanidade em 2005, mas quinze anos depois, o legado português deixado naquele território ao longo de quase cinco séculos, numa fusão entre as arquitecturas e as tradições culturais chinesas e portuguesas, parece estar em perigo. Na sua edição de hoje, o jornal Macau hoje titula que o património está à deriva e ilustra essa manchete com a fotografia do Farol da Guia, que é o mais antigo farol das costas chinesas.
A classificação da Unesco representou um ponto alto na afirmação da permanência cultural portuguesa em Macau ao integrar vários sítios e construções históricas como o edifício e o largo do Leal Senado, a Santa Casa da Misericórdia, as igrejas da Sé, de São Lourenço, de Santo António, de Santo Agostinho, de São Domingos, as Ruínas de São Paulo e o Largo da Companhia de Jesus, além do Farol da Guia. O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia tem criticado a gestão do património histórico em Macau, sobretudo o simbólico farol, denunciando que já quase se não vislumbra por estar entalado entre prédios altos que descaracterizam aquela colina. Porém, a mesma crítica é feita em relação a outros edifícios classificados, cada vez mais desenquadrados da nova paisagem urbana macaense. Significa, portanto, que a construção urbana tem mais força que a protecção do património, apesar da pressão que tem sido feita sobre as autoridades da Região Administrativa Especial de Macau para que tome medidas decisivas para reduzir a altura dos edifícios em construção e dos edifícios que vierem a ser construídos. Porém, será uma luta bem difícil, provavelmente inglória.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Um Dia da Bastilha inédito e com máscara


Hoje celebra-se a festa nacional francesa ou Dia da Bastilha, que assinala o histórico episódio do dia 14 de Julho de 1789 em que o povo da cidade de Paris se revoltou e tomou a Bastilha, uma fortaleza medieval que era utilizada como prisão. Com este acontecimento e o movimento popular que se gerou, iniciaram-se as grandes transformações que ficaram conhecidas como Revolução Francesa e que tiveram impacto no fim dos poderes absolutas das realezas, numa nova estratificação social e numa nova ordem internacional.
A tomada da Bastilha tornou-se o acontecimento mais simbólico da Revolução Francesa e celebra-se todos os anos com uma grande festa nacional em que se realizam paradas militares por todo o país, bem como arraiais, bailes populares e fogos-de-artifício, com particular destaque para o grande desfile militar que se realiza nos Campos Elísios, na cidade de Paris, a que assiste o Presidente da República. Tal como os americanos são fascinados pelo 4 de Julho de 1776, os franceses deslumbram-se com o 14 de Julho de 1789.
Porém, devido às actuais circunstâncias pandémicas, os festejos que hoje vão acontecer em França vão ser bem diferentes do habitual e, apesar de estarem previstos muitos desfiles militares, o jornal Ouest France que se publica em várias cidades da Bretanha, prevê que os militares, os paramilitares e os antigos combatentes franceses vão hoje desfilar, mas que irão aparecer de máscara. Sinais dos tempos.

domingo, 12 de julho de 2020

A crise pandémica ainda está para durar


O número de pessoas infectadas por covid-19 está a aumentar um pouco por todo o mundo, contrariando uma tendência de regressão que se verificava desde há várias semanas e que estava a devolver a confiança ao mundo. Esse facto está a acontecer em Portugal, sobretudo na região de Lisboa, mas também em várias regiões da Espanha, casos da Catalunha e da Andaluzia. Em França, o jornal La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, também destaca os maus sinais que estão a mostrar que o surto pandémico está em reactivação.
Porém, acontece que na luta pela atracção do turismo internacional parece haver critérios de apuramento e de divulgação do número de novos infectados ao gosto de cada um e esse facto deixa-nos na dúvida quanto à realidade pandémica na Europa. Já me cansam, sem nada me esclarecer, os inúmeros comentadores que diariamente ocupam as nossas televisões e nos inundam com os seus sábios palpites apoiados em atraentes gráficos, verdadeiros ou não, porque dependem dos números, verdadeiros ou não, com que são desenhados.
Era muito interessante comparar o que esses comentadores dizem agora com o que diziam há dois meses, para verificarmos como temos sido anestesiados. O que temos de mais certo é a incerteza quanto ao que está para vir e, por isso, até há quem diga que o pior ainda não chegou.
Entretanto, falava-se muito das vacinas que estavam quase prontas em vários países do mundo, mas o covid-19 já apareceu há quase um ano e de vacinas não há notícias. Assim, continuemos mais ou menos confinados, usemos máscaras, mantenhamos o distanciamento social, lavemos as mãos muitas vezes e esperemos por melhores dias.

Voos anulados e os reembolsos esperados


Desde o passado mês de Março que muitos milhares de voos comerciais foram cancelados por causa da crise pandémica e que, por isso, ficaram em terra muitos milhões de passageiros que tinham adquirido os seus bilhetes para viajar. Como é sabido, as companhias aéreas pararam toda a sua actividade de transporte de passageiros, nuns casos por sua própria iniciativa e em outros casos por determinação das autoridades sanitárias, tendo sido esse um primeiro sinal a evidenciar a gravidade da situação económica gerada pela crise pandémica. Na sua edição de hoje o diário francês Le Parisien trata deste assunto numa perspectiva que não tem sido habitual, pois lembra que segundo a lei europeia os passageiros têm direito a um crédito (voucher) ou ao reembolso do custo do bilhete em caso de anulação do voo. Trata-se de um problema muito complexo e de difícil resolução, quer no plano económico, quer no plano jurídico, pois a decisão de anular voos resultou de uma situação de emergência imprevista em que tanto os passageiros, como também as companhias aéreas e as autoridades sanitárias, não têm culpa directa no que aconteceu, embora deva prevalecer o princípio de que quem recebeu o dinheiro por um serviço que não prestou o deva restituir. Será, por isso, mais um rude golpe na recuperação económica das companhias aéreas.
No caso da companhia aérea açoriana SATA, foi tomada a decisão de emitir vouchers a quem viu o seu voo anulado e, por essa razão, um voo que estava previsto termos realizado em meados de Março foi compensado com a emissão de um voucher com um ano de validade. Será que as grandes companhias aéreas vão fazer a mesma coisa?

sexta-feira, 10 de julho de 2020

EUA: a crise pandémica alastra


O número de pessoas infectadas pelo covid-19 nos Estados Unidos já ultrapassou os três milhões e a edição de hoje do jornal USA TODAY publica um elucidativo gráfico que mostra que demorou 98 dias para que houvesse um milhão de infectados, que passaram 44 dias até houvesse dois milhões de infectados e que os três milhões de infectados foram atingidos ao fim de apenas 26 dias. A sequência 98 - 44 - 26 fala por si e certamente que assusta o povo americano. Embora o persistente discurso presidencial de Donald Trump continue a afirmar que a situação está controlada, estes números mostram como a situação se está a agravar e a assumir proporções incontroláveis e cada vez mais preocupantes, sobretudo na Califórnia, no Texas e na Florida.
Os Estados Unidos já contabilizam mais de 135 mil óbitos resultantes da crise pandémica, o que representa cerca de 25% do total de óbitos já verificados em todo o mundo e, este facto, mostra a leviandade e a incompetência com que a presidência dos Estados Unidos tem tratado este problema. Donald Trump, tal como alguns outros líderes mundiais de que o mais caricato exemplo é Jair Bolsonaro, têm-se mostrado incapazes de gerir as dificuldades que a pandemia trouxe aos seus países e têm optado por comportamentos irresponsáveis e por maus exemplos.
Da capacidade científica dos Estados Unidos esperava-se uma vacina que aliviasse o mundo e fosse um sinal de esperança, mas o que nos chega do outro lado do Atlântico são os maus exemplos do seu presidente e um descontrolo sanitário que parece aprofundar-se.

terça-feira, 7 de julho de 2020

EUA: o derrube de estátuas vai ter regras


Na sequência da morte de George Floyd, acontecida no dia 25 de Maio na cidade americana de Minneapolis por acção de agentes da polícia local, os Estados Unidos e o mundo reagiram contra o racismo e a violência policial, participando em muitas manifestações em que foram vandalizadas estátuas e monumentos. Essas acções aconteceram sobretudo nos Estados Unidos, onde muitas estátuas foram derrubadas, quase sempre perante a passividade da polícia. Os alvos da indignação popular foram algumas figuras locais relacionadas com ao tráfico ou a utilização de mão-de-obra escrava não só africana como europeia, os confederados que foram derrotados na guerra civil americana que levou à abolição da escravatura e outras figuras da história americana. De entre estas, os manifestantes parecem ter escolhido Cristóvão Colombo como o símbolo da escravidão no país e do genocídio dos povos aborígenes, pelo que as suas estátuas foram o alvo privilegiado dos manifestantes na generalidade das cidades. Que triste sorte a deste homem que, depois de ter sido glorificado durante quinhentos anos, se tornou o alvo dos derruba-estátuas americanos!
Porém, o bom senso está a reaparecer e estuda-se legislação que estabeleça regras para a remoção de símbolos ligados aos confederados da guerra civil ou a figuras com registos inequívocos de intolerância racial. Ao mesmo tempo começam a corrigir-se alguns desmandos populares devidos à ignorância e à emotividade. Em Baltimore, no estado de Maryland, a estátua de Cristóvão Colombo que tinha sido atirada à água no porto interior, foi recuperada e essa recuperação foi destacada no jornal The Sun, que se publica em Baltimore.

sábado, 4 de julho de 2020

Hoje não se festeja o Independence Day


Hoje é o dia 4 de Julho, que é o Dia da Independência dos Estados Unidos e, também, o Dia Nacional dos Estados Unidos, em que se celebra a assinatura em 1776 da Declaração de Independência das Treze Colónias que, através desse documento, anunciaram a sua separação formal do Império Britânico. A Declaração que foi preparada por Thomas Jefferson foi assinada em Filadélfia por 56 os congressistas.
No processo histórico de construção da unidade nacional e de afirmação internacional dos Estados Unidos, esta data e aquele documento foram sempre elementos de grande exaltação patriótica e de coesão entre todos os americanos, de origens étnicas e culturais muito diferentes. 
A partir da 1ª Guerra Mundial o país adquiriu definitivamente o estatuto de grande potência que foi reafirmado depois da 2ª Guerra Mundial. Em todos os campos da actividade humana – da ciência à economia, da tecnologia às artes – os Estados Unidos tornaram-se a referência universal e por isso, a voz dos seus presidentes é ouvida com muita atenção em todo o planeta. Foi sempre assim, embora o país esteja agora a atravessar um momento bem difícil com a presidência de Donald Trump que deslustra os seus antecessores e envergonha muitos dos seus compatriotas com a sua impreparação, ignorância e grosseria. A juntar a essa circunstância, a crise pandémica do covid-19 também se está a revelar devastadora nos Estados Unidos e, por essas duas razões, que só aparentemente não estão ligadas, os americanos não irão hoje celebrar o seu Fourth July como habitualmente, conforme mostra o jornal La Opinión que se publica em espanhol em todo o território americano. Porém, há que ter confiança e esperar que em 2021 não haja Trump nem covid-19.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Fronteiras abertas, renasce a esperança


Depois de terem estado encerradas durante 107 dias, as fronteiras entre Portugal e Espanha foram ontem reabertas com a simbólica presença das principais autoridades políticas de ambos os países, isto é, o Rei Filipe VI e o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e os primeiros-ministros António Costa e Pedro Sánchez. Longe vão os tempos em que se dizia que “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. Agora de Espanha vem o turismo e o recrudescimento da actividade económica, mas a imprensa tratou este assunto de forma desigual, pois enquanto a generalidade da imprensa portuguesa, apenas com duas excepções, não assinalou este acontecimento, muitos jornais espanhóis publicaram a fotografia das quatro entidades que estiveram na fronteira Elvas/Badajoz, a revelar quão importante foi a reabertura das fronteiras e este reencontro ibérico. De resto, bastou ver a satisfação ou mesmo a euforia com que Valença do Minho recebeu os seus vizinhos galegos, para vermos como a abertura das fronteitras pode ser uma boa alavanca para a recuperação económica do país e é, seguramente, um sinal de esperança nestes tempos de incerteza.
É realmente lamentável o provincianismo de uma boa parte da imprensa portuguesa que ontem destacava a demissão dos treinadores de futebol do Benfica e do Braga, o cartão de cidadão que demora cinco meses a ser entregue ou que o vírus destruiu 192 mil empregos. Sobre a TAP ou sobre a abertura das fronteiras, muito pouco.