Tendo estado
afastado das minhas rotinas durante alguns dias e de algumas das minhas fontes
de informação habituais, só agora tive conhecimento da entrevista que Alípio
Dias deu ao jornal i e que julgo ter sido publicada na edição do dia 22
de Março a propósito do 40º aniversário do 25 de Abril. O lead da notícia era um bocado enganador, pois a entrevista era muito mais substantiva: “Mandei
fechar o Banco Borges às 10 da manhã. Já não tínhamos notas”.
Alípio Dias é uma personalidade relevante do nosso regime democrático:
economista, docente universitário, deputado pelo PSD, Secretário de Estado das
Finanças e do Orçamento em cinco governos constitucionais, vice-governador do
Banco de Portugal, Presidente do Banco Totta & Açores e Administrador do
BCP, entre outras funções desempenhadas. A sua entrevista é fluente, muito
interessante e, sem comentários, dela destaco algumas passagens.
Sobre o serviço militar obrigatório: O governo ter acabado com o
serviço militar obrigatório foi um erro gravíssimo. Não digo que durasse três
anos e tal, mas 12 a 14 meses, sim […] porque se misturavam pessoas de norte a
sul, gente que não tinha nada com gente que tinha tudo, havia uma miscigenação,
uma amálgama, mas aproximava as pessoas, havia camaradagem. Digo-lhe uma coisa:
se não fosse a Marinha, a minha vida tinha sido outra.
Sobre as negociações com a troika: Hoje há muita incompetência, é
por isso que estamos na situação em que estamos. E é por isso que as
negociações com a troika são o que são. Eu fiz as negociações com o FMI: havia
coisas que eles não aceitavam, havia outras que não aceitávamos nós. Por isso
digo que há incompetência e há desonestidade intelectual. Não é possível manter
isto.
Sobre a geração que está hoje no
poder: Falta-lhe ser educada. Education, no sentido inglês do termo. Esta
geração não teve education, permitem-se fazer tudo, não respeitam
constituições, não respeitam leis. Tenho muito respeito pelo Pedro, mas não
pode ser. Ele não pode dizer o que disse ao Bloco de Esquerda na Assembleia da
República, tem de responder. Mas sabem que estão a conduzir uma política errada
[…] Porque é que Vítor Gaspar saiu? Percebeu que esta política só nos conduzia
à desgraça e não quis participar nisto, safou-se. […] Hoje há muita
incompetência, é por isso que estamos na situação em que estamos. E é por isso
que as negociações com a troika são o que são.
É militante do PSD. Já
explicou isso a Passos Coelho? Não posso não ser leal e tenho as quotas
pagas até 2019. Enviei uma carta ao primeiro-ministro e ao Presidente da
República. Acho que estamos no limite, mas o Pedro está convencido de que o
divino Espírito Santo o iluminou. Eu acho que estão a abusar. Há uma coisa que
vem na Constituição: Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação
e independência, ao desenvolvimento, bem como o direito de insurreição contra
todas as formas de opressão... Estamos a chegar a esta parte. Escrevi para
chamar a atenção e dizer, cuidado, podemos chegar aqui.