Um
relatório de 82 páginas intitulado Despesa
fiscal 2014 que o governo tornou público e que alguma imprensa comentou, salienta
que os benefícios fiscais concedidos pelo Estado em sede de IRS — como as
deduções à colecta de despesas com saúde, habitação, educação e protecção
social — têm vindo a encolher de ano para ano desde a chegada da troika.
O relatório constitui um bom documento de esclarecimento público sobre a despesa fiscal, um conceito que agrupa o
conjunto de medidas vulgarmente conhecidas por benefícios fiscais e que são destinadas a incentivar determinados
comportamentos ou actividades económicas.
O relatório revela a dureza das
políticas adoptadas pelo governo/troika
ou pela troika/governo, ao mostrar
que entre 2011 e 2014 se verificou uma redução de 35% das despesas fiscais das
Administrações Públicas, resultante das políticas restritivas impostas no
âmbito do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro. Essa redução
correspondeu a uma diminuição de cerca de 4,81
mil milhões de euros, sendo que essa “poupança governamental” representou uma
redução na despesa fiscal global das Administrações Públicas de cerca de 2,6%
do PIB. O relatório enumera e descreve as diferentes modalidades da despesa
fiscal e, relativamente às deduções à colecta em sede de IRS, revela que estas
passaram de 3743 milhões de euros em 2011, para 2728 milhões de euros em 2014.
Como titula o Jornal de Notícias, as “Famílias perdem
mil milhões no IRS”, como consequência da redução dos limites nas deduções à
colecta e, em termos médios, só com os cortes nas deduções nas despesas de
educação, saúde e habitação, a factura do IRS custou mais de 250 euros a cada
agregado familiar. O corte mais substancial verifica-se na saúde que conta agora com menos 433 milhões de euros do que em 2011,
isto é, menos 67% da verba disponível há quatro anos. Logo atrás encontam-se as
verbas previstas para o crédito à habitação que no mesmo período caíram 376
milhões de euros (62%) e para a educação em que a redução das despesas foi de 32
milhões de euros (11%). Assim, o
reembolso de IRS, que até há pouco tempo era sinónimo de alívio para as Famílias
e que muitas vezes era utilizado para ajudar a pagar seguros ou créditos à
habitação, está cada vez mais curto. Naturalmente que esta quebra no rendimento
das pessoas, a juntar aos enormes impostos
directos e indirectos, tem inúmeras consequências negativas para a sociedade e é
um factor de empobrecimento.
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