domingo, 31 de janeiro de 2021

Palmeiras ganhou e o exagero é português

Em tempos da preocupante pandemia que não nos larga, com as televisões a insistir no lançamento do pânico sobre a população através de um condenável sensacionalismo, o futebol é um dos escapes que vamos tendo nos espaços do nosso confinamento, para além da leitura, da música ou da escrita. 
O futebol, enquanto espectáculo colorido, dinâmico e por vezes com a harmonia de um bailado, suscita muito entusiasmo e, se não nos deixarmos levar pelo fanatismo e pelos excessos dos dirigentes, dos jornalistas e dos comentadores, é realmente um espectáculo muito atraente e divertido. 
Os portugueses gostam de futebol e actualmente a sua selecção é campeã da Europa. Há jogadores e treinadores portugueses um pouco por todo o mundo e, muitos deles, com reconhecido sucesso. Ontem, um desses treinadores, que se encontra no Brasil e se chama Abel Ferreira, levou a equipa da Sociedade Esportiva Palmeiras de S. Paulo, ou simplesmente Palmeiras, à vitória na Taça Libertadores da América, que é a maior prova entre clubes profissionais de futebol da América do Sul e uma espécie de Taça dos Campeões Europeus. A prova desperta grande entusiasmo em toda a América do Sul e os argentinos e os brasileiros, com 25 e 20 vitórias para cada um, têm dominado a competição que já foi ganha por equipas de sete diferentes países.
Tanto a imprensa brasileira como a imprensa portuguesa destacam essa notícia nas suas edições de hoje, mas o jornal A Bola ultrapassa todos e transforma o treinador Abel Ferreira num conquistador, o que é um exagero, mesmo para um jornal que como o seu nome diz, só se interessa pela bola de futebol. É mesmo um "patrioteirismo sem sentido" e a euforia brasileira foi bem mais contida. Portanto, parabéns ao treinador, mas nem tanto ao mar nem tanto à terra

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Vendée Globe 2021: oitenta dias de mar

Começaram a chegar a Les Sables-d’Olonne, na costa atlântica francesa, os participantes na 9ª Vendée Globe, a famosa regata em que os participantes fazem a circum-navegação do planeta em monocascos e em solitário, sem escala e sem assistência, passando obrigatoriamente pelos três cabos de referência do hemisfério sul – cabo da Boa Esperança, cabo Leeuwin e cabo Horn. 
As imagens transmitidas pelas televisões mostraram as dificuldades de uma prova desta natureza, longa, solitária e sem assistência, em que os participantes enfrentam todas as meteorologias, incluindo tempestades e calmarias, mares agitados e ausências de visibilidade. Terminar uma prova destas é um feito náutico e desportivo notável. 
Nesta edição, houve 33 velejadores que partiram no dia 8 de Novembro de Les Sables-d’Olonne. Ontem ainda estavam em prova 25 concorrentes e oito deles cortaram a linha de chegada em menos de 24 horas, o que mostra como a prova foi competitiva. Yannick Bestaven, um velejador francês de Saint-Nazaire de 48 anos de idade, foi o vencedor com o veleiro Maître Coq IV e concluiu a prova em 80 dias, 3 horas, 44 minutos e 46 segundos, o que significa que não foi batido o record de 74 dias, 3 horas, 35 minutos e 46 segundos conseguido em 2017. 
Apesar da melhoria tecnológica das embarcações, o factor determinante nesta prova é o vento, pois determina as velocidades dos veleiros e condiciona as rotas, tornando-as mais ou menos longas. Assim, enquanto em 2017 o navegador francês Armel Le Cléac’h percorrera 21.638 milhas, neste ano de 2021 o velejador Yannick Bestaven percorreu cerca de 28.584 milhas, isto é, mais alguns milhares de milhas, pelo que gastou mais seis dias na prova. 
Hoje o jornal L’Équipe presta-lhe uma justa homenagem.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O património ameaçado em Velha Goa

Embora o território de Macau tivesse gozado sempre de grande autonomia e quase pudesse ser classificado como um estado-nação governado por um Senado ou assembleia de moradores, durante os primeiros três séculos em que hasteou a bandeira portuguesa dependeu do vice-rei da Índia, instalado em Goa. Essa ligação administrativa e institucional durou até 1844 quando foi criada a província de Macau, Timor e Solor, dirigida por um governador nomeado em Lisboa, mas dessa relação histórica ficaram memórias e empatias, até porque os goeses são, ainda hoje, uma importante comunidade no território de Macau. Por isso, os jornais macaenses de língua portuguesa tratam muitas vezes os assuntos culturais goeses, sobretudo em relação à defesa e preservação da língua e do património portugueses em Goa. 
Ontem o jornal hoje macau publicou um artigo intitulado “Valha-nos Portugal”, com chamada de primeira página, em que o arquitecto goês Fernando Velho apela à intervenção de peritos portugueses para salvar a Basílica do Bom Jesus em Velha Goa, que está ameaçada pelas chuvas. Este monumento foi construído entre 1594 e 1605, faz parte do grupo de igrejas e conventos que a Unesco classificou em 1986 como Património Mundial e alberga o túmulo em prata de S. Francisco Xavier, considerado como o apóstolo do Oriente. 
No entanto, a preservação do património de origem portuguesa nos países da orla do oceano Índico, é um problema de cada um dos países onde se localizam. Se for do seu interesse, esses países podem pedir o apoio das instituições portuguesas. Porém, sejam elas públicas ou privadas, não podem ter qualquer intervenção nesse domínio sem que as autoridades locais a solicitem ou autorizem. Há protocolos culturais com alguns desses países, nomeadamente com a Índia. Que sejam activados ou reactivados. Que a Basílica do Bom Jesus e outros monumentos de origem portuguesa possam ser preservados.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A Índia, o Republic Day e a grande parada

Ontem foi o Republic Day, um feriado nacional que na República da Índia celebra o dia 26 de Janeiro de 1950, a data em que entrou em vigor a Constituição e o novo país se tornou realmente independente do Reino Unido.
A independência da Índia tinha sido declarada ao mundo por Jawaharlal Nehru às primeiras horas do dia 15 de Agosto de 1947 e o seu discurso dessa madrugada inspirou o título do mais famoso livro sobre a conturbada independência da Índia, escrito por Dominique Lapierre e Larry Collins: Freedom at midnight. Foi então necessário redigir e aprovar um texto constitucional que substituísse a legislação colonial britânica que estava em uso e essa nova Constituição entrou em vigor no dia 26 de Janeiro de 1950. Essa data passou a ser o Dia da República que todos os anos é assinalada com “pompa e circunstância”, como nenhuma outra festa nacional indiana, destacando-se nessas celebrações a grandiosa India’s Republic Day Parade que se realiza em Nova Delhi, sempre com a presença de um Chief Guest ou Convidado de Honra, que em 1992 foi Mário Soares. 
Apesar da pandemia, a parada foi uma vez mais espectacular, não tanto pela apresentação de sofisticadas armas como se podem ver nas paradas de Moscovo, Beijing ou Pyongyang, mas pelo colorido e pelo exotismo dos fardamentos dos militares que participam no interminável desfile de batalhões das forças de terra, mar e ar indianas. Este ano a India’s Republic Day Parade foi ofuscada por milhares de agricultores indianos que foram a Nova Delhi protestar contra as reformas levadas a efeito pelo governo, rompendo barricadas, enfrentando a polícia e escalando as paredes do simbólico Red Fort de New Delhi. Segundo refere a imprensa, Rahul Gandhi e Pryanka Gandhi Vadra, os líderes do Partido do Congresso actualmente na Oposição, juntaram-se ao protesto em solidariedade com os agricultores. Acontece que estes dois dirigentes são bisnetos de Jawaharlal Nehru, netos de Indira Ghandi e filhos de Rajiv Ghandi e Sonia Gandhi, isto é, pertencem à mais importante família de políticos indianos... e, diz o destino, que um dia serão primeiros-ministros da Índia, tal como o pai, a avó e o bisavô.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

As eleições presidenciais de 2021

As eleições presidenciais realizaram-se ontem e 60,7% dos eleitores portugueses renovaram o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, o que significa que reconheceram mérito na forma como se conduziu como Presidente da República Portuguesa nos últimos cinco anos. Tem sido sempre assim desde 1974, isto é, o presidente em exercício sempre renovou o seu mandato e este ano não se esperava outra coisa. 
A vitória foi expressiva e não deixa qualquer margem para dúvidas, devendo assinalar-se que a campanha eleitoral decorreu sem casos e em boa ordem democrática, mas os comentadores tratarão de fazer as suas análises nos próximos dias. 
Por mais cinco anos, Marcelo Rebelo de Sousa vai ser o Presidente de todos os portugueses, mesmo daqueles que não votaram nele. O desafio vai agora ser bem mais difícil porque continuamos sem saber como vai evoluir a crise pandémica que se transformou numa grave crise sanitária, económica e social, nem sabemos como resistirá o governo ao desgaste provocado por um tão prolongado combate à pandemia, muitas vezes sob a crítica e a incompreensão dos seus adversários políticos que, mesmo sob o temporal, não lhe dão tréguas. 
Marcelo Rebelo de Sousa tem o apoio dos portugueses, é inteligente, culto e cosmopolita, mas o estilo marcelista é demasiado populista e de calculismo nos afectos, o que não é do meu agrado, tal como a sua ânsia de ser visto e admirado por toda a gente. Tem vivido obcecado com a sua imagem e cheguei a temer que o seu excessivo apego aos microfones e às câmaras, que encheu horas de telejornais, provocasse fenómenos de rejeição, porque por vezes o povo farta-se. Porém, o povo não se fartou e deu-lhe um expressivo voto de confiança. 
Pois que seja feliz e nos ajude a vencer a grave situação que o país atravessa.

Aniversário

Completam-se hoje dez anos sobre a data em que a ruadosnavegantes entrou na blogosfera e é com satisfação que assinalamos aqui esse facto, pois significa que conseguimos vencer o desafio a que nos propusemos de navegar sem qualquer programa pré-estabelecido, apenas por gosto pessoal e sem estar sujeitos a quaisquer constrangimentos partidários, religiosos, clubísticos ou de outra natureza. 
Durante dez anos estivemos envolvidos num exercício de escrita que muito nos ajudou a vencer a tendência para a atrofia do espírito e a combater a rigidez do pensamento, a que a idade naturalmente nos conduz. Aqui foram publicados 2856 textos sobre os mais diversos temas, uns mais oportunos e interessantes, mas outros mais enviesados e aborrecidos, mas seguindo sempre o nosso próprio pensamento na escolha temática e nas abordagens aos relatos, às opiniões, às críticas ou aos elogios. 
Algumas dezenas de leitores acompanharam regularmente o que aqui escrevemos, alguns deles a partir de locais geograficamente bem distantes, como nos revelam os nossos amigos do Google analytics. Estamos-lhes gratos e, de maneira especial, agradecemos aos leitores/amigos que nos animaram com os seus comentários. 
Há dez anos iniciamos a ruadosnavegantes com um texto intitulado “Eleições Presidenciais 2011” e, curiosamente, vamos iniciar a caminhada do nosso décimo primeiro ano de vida editorial com um texto que vamos intitular “Eleições Presidenciais 2021”, o que mostra que continuaremos a seguir a mesma forma de intervenção no espaço público. 
Naturalmente, iremos procurar que os nossos leitores continuem a encontrar aqui alguns assuntos interessantes.

domingo, 24 de janeiro de 2021

O voto como afirmação de confiança

Hoje temos eleições presidenciais e, apesar das restrições a que estamos obrigados para evitar a propagação do covid-19, todos devemos ir votar. Votar é um dever e um direito e muitos portugueses ainda se lembram dos tempos em que não havia eleições ou, se as havia, nada mais eram do que encenações com que o antigo regime disfarçava as suas posturas não democráticas. 
Hoje vamos votar e cada um escolhe o candidato que melhor corresponda aos seus ideais e anseios, que melhor o represente ou que melhor nos represente a todos enquanto comunidade organizada, que desde há muitos séculos partilha território, língua, tradições e história. Hoje, nas assembleias de voto, haverá sete candidatos perfilados para receberem os nossos votos. Entre os candidatos há homens e mulheres, há conservadores e há progressistas. Todos apresentaram os seus programas e as suas ideias no espaço público em liberdade e sem quaisquer restrições. Os eleitores estão esclarecidos e podem livremente escolher. Assim, o que se deseja é que cada eleitor vá votar e que ninguém fique indiferente, porque hoje não se escolhe apenas um Presidente. O acto de votar é, em si mesmo, um sinal de resistência à crise pandémica que nos atormenta e nos ameaça. O nosso voto não escolhe apenas um Presidente da República, pois é também um sinal de confiança no futuro.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Biden and the morning after in America

Ontem foi o primeiro dia da presidência de Joe Biden como 46º Presidente dos Estados Unidos da América e é curiosa a forma como duas das mais prestigiadas revistas internacionais, como são The Economist e a Time, ilustraram as suas primeiras páginas. Até parece que abandonaram a sua rivalidade editorial e que combinaram a escolha da mesma temática para as suas primeiras edições da era pós-Trump. Se a Time mostra um Joe Biden pensativo perante o pandemónio em que encontrou o seu gabinete presidencial, já The Economist mostra Joe Biden de calças arregaçadas, armado de balde e esfregona, pronto para limpar as paredes vandalizadas da Casa Branca. 
Qualquer das ilustrações transmite na perfeição a realidade que terá sido o encontro do novo presidente dos Estados Unidos com os espaços da Casa Branca onde vai trabalhar, para conduzir a América com prosperidade e paz, para unir os americanos e para restaurar o prestígio dos Estados Unidos no mundo. Será a partir desta casa, que o seu antecessor deixou desgovernada e abandonada de uma forma irresponsável, que Joe Biden vai procurar que os Estados Unidos possam ser o farol do mundo na Política e na Economia, na Ciência e na Cultura. O mundo precisa que a mais poderosa nação do planeta seja uma referência e não seja um foco de permanente instabilidade como aconteceu durante a governação do empresário Donald John Trump, um dos quatro presidentes que não conseguiu ser reeleito e o único da história americana que teve dois impeachments.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A grave situação pandémica portuguesa

A situação pandémica em Portugal atingiu proporções muito dramáticas e já estão contabilizados 9.686 óbitos, enquanto os indicadores “novos casos por dia”, “internamentos, “internamentos em UCI” e “óbitos” continuam a aumentar, sem que seja possível fazer o achatamento da curva de progressão da pandemia. 
Jornal de Notícias destaca na primeira página da sua edição de hoje um sugestivo gráfico que mostra a evolução daqueles indicadores nos últimos cinquenta dias, onde fica a dúvida se ainda estamos perante uma segunda onda, ou se já entramos numa terceira onda, como afirmam alguns especialistas. A situação é demasiado grave e, nos últimos dias, o número diário de novos infectados chegou a cerca de catorze mil, enquanto os hospitais se aproximam da saturação e alguns profissionais de saúde estão próximos da exaustão. 
Não se conhece a explicação para esta situação, mas alguns invocam os relaxamentos natalícios, outros a euforia pela chegada das vacinas, outros ainda a faltas de medidas adequadas por parte das autoridades sanitárias. Mesmo numa situação tão grave como aquela que nos ameaça, não faltam os protagonistas do costume que que aparecem nas televisões a criticar e a dramatizar, em vez se unirem às autoridades para ajudar a vencer a crise. Não faltam especialistas, nem jornalistas, nem políticos para apontar todos os males ao governo e às autoridades sanitárias, como se fossem marginais e não zelassem pelo interesse público. No caso dos jornalistas é lamentável o esforço que fazem para construir a sua notícia verdadeira ou falsa, mas tão sensacionalista quanto possível, mesmo que para isso tenham que alarmar a população, criticar as autoridades sanitárias ou desacreditar o Serviço Nacional de Saúde. É um jornalismo da treta que não percebe como são difíceis os tempos que atravessamos.

A Democracia é frágil mas prevaleceu

“A Democracia é frágil mas prevaleceu”, afirmou Joe Biden no seu discurso de posse como 46º presidente dos Estados Unidos e essa foi a frase escolhida pelo Diário de Notícias para título da sua edição de hoje. 
Depois da turbulência gerada por essa figura que foi o derrotado Trump, que se revelou insignificante e menor, havia uma quase angústia pelo que poderia acontecer no dia 20 de Janeiro em Washington. Porém, as cerimónias decorreram com toda a normalidade, dentro da anormalidade que é a situação pandémica que se vive, mas também da ameaça de que pudessem surgir eventuais perturbações causadas pelos mais fanáticos apoiantes do anterior presidente. Afinal, parece que a cena do Capitólio foi “só fumaça” e que, embora de muita gravidade, foi mais uma das trapalhadas em que se meteu o anterior inquilino da Casa Branca. 
O Donald saiu pela porta pequena e, a menos que tenha deixado o terreno minado, em breve vai ser esquecida a sua desastrada passagem pela Casa Branca, apesar de ter atraído muitos milhões de votantes. O mundo vai respirar melhor e espera-se que os Estados Unidos possam rapidamente restaurar o seu prestígio no mundo e que se imponham pelo exemplo. Joe Biden e Kamala Harris afirmaram o seu desígnio de unir os americanos e revitalizar a democracia americana e, no seu discurso, o novo presidente apontou o objectivo de “fazer da América um farol para o mundo”. Cada vez mais, o mundo precisa de faróis que o guiem, mas também é necessário que Biden e Harris sejam os faroleiros de que a América precisa.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Biden’s Inauguration Day

A verdadeira novela que foi encenada na noite de 3 de Novembro em que Donald Trump cumpriu a promessa que antes fizera de que não reconheceria os resultados eleitorais, chegou ao fim esta manhã. Foram 78 dias que serviram para mostrar aos americanos como este indivíduo estava impreparado para dirigir os Estados Unidos e, se dúvidas houvesse, os acontecimentos que ocorreram no dia 6 de Janeiro no Capitólio vieram mostrar a sua impreparação, o seu narcisismo e a sua falta de carácter. 
Hoje é o Biden’s Inauguration Day ou cerimónia de tomada de posse de Joe Biden e Kamala Harris. A chegada de um novo Presidente e de uma nova Administração é sempre um dia de festa em Washington, porque é o início de um novo ciclo e a consagração do princípio democrático da alternância do poder, mas desta vez tudo será diferente. A festa está antecipadamente ensombrada pela grave crise epidémica que atinge o país, pelos recentes acontecimentos insurrecionais e pelo irresponsável amuo do Donald que decidiu quebrar a tradição e não assistir à cerimónia, a que assistirão os ex-presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, acompanhados pelas respectivas mulheres, bem como o vice-presidente Mike Pence. Numa derradeira manifestação de narcisismo, o Donald deixou a Casa Branca no helicóptero presidencial e foi apanhar o Air Force One com rumo à Florida. 
Os americanos e o mundo certamente que desejam ao novo Presidente dos Estados Unidos muito sucesso para restituir o prestígio e a dignidade perdidas com Donald Trump, mas também para unir as forças políticas e sociais americanas e para assegurar uma política internacional que estimule a paz, a estabilidade e o progresso.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

THE END... este é um filme para esquecer.

Dentro de algumas horas toma posse Joe Biden como o novo presidente dos Estados Unidos. Os americanos e o mundo vão suspirar de alívio se tudo correr bem. Washington está em estado de sítio porque um perigoso e vingativo indivíduo que viveu quatro anos na Casa Branca continua a gritar que houve fraude, o que não é verdade como verificaram todas as instâncias judiciais. Todos esperam que Donald Trump saia de cena e que terminem as angústias causadas pela arrogância, pelas mentiras e pela falta de carácter daquele homem. 
Não será necessário recorrer à memória para elencar alguns dos maiores atropelos que ele fez à boa ordem americana e à estabilidade do mundo, pois basta citar a denúncia dos Acordos de Paris, a construção do muro na fronteira mexicana, o abandono das agências especializadas das Nações Unidas ou a forma desastrosa como enfrentou a pandemia causada pelo covid-19
Porém, a “cereja no topo do bolo” foi o que aconteceu no dia 6 de Janeiro, quando num comício realizado em Washington, o Donald afirmou gostar de passear na Pennsylvania Avenue, onde se encontravam os seus fanáticos apoiantes, incitando-os a um último acto de lealdade para com ele e para que avançassem para o Capitólio, onde decorria a sessão do Congresso que iria validar a sua derrota eleitoral. Falando num relvado nas traseiras da Casa Branca, o Donald insistiu uma vez mais na sua narrativa de fraude eleitoral e disse à multidão: “Vamos marchar até ao Capitólio”. O que aconteceu depois foi visto em directo na televisão. Foi uma vergonha que manchou a América, mas o mundo espera que Joe Biden faça esquecer este filme tão mau da história americana recente e que seja de facto The End, como refere o jornal Le Télégramme de Brest.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Futebol como símbolo da identidade basca

O País Basco está em festa! O seu Athletic Bilbao FC, que é um símbolo da identidade basca por não aceitar atletas “não nascidos, não desenvolvidos ou sem ascendência no País Basco”, ganhou ontem em Sevilha a Supercopa de España de Fútbol 2021 ao bater o famoso Barcelona FC e o seu astro Lionel Messi. 
O futebol é um fenómeno que potencia paixões em todo o mundo e essa paixão tem em Espanha uma das suas máximas expressões. As grandes equipas representam mais do que os aspectos desportivos ou as rivalidades futebolísticas, pois são vistas como os símbolos dos regionalismos e dos nacionalismos, sobretudo na Catalunha e no País Basco, mas também em outras regiões autónomas espanholas. 
O principal clube do País Basco é o Athletic Bilbao FC que foi fundado em 1898 e que no seu historial tem oito vitórias no Campeonato de Espanha e vinte e quatro triunfos na Copa do Rei de Espanha, mas que na realidade tem vivido sempre ofuscado pela hegemonia do Real Madrid e do Barcelona FC, que são dois dos mais famosos clubes do mundo. Porém, este ano o Athletic bateu aquelas duas equipas e ontem levantou a supertaça. David venceu Golias. Todos os jornais bascos, designadanente El Correo, ocuparam a sua primeira página e escreveram: Ni Barça ni Madrid… Athletic! 
A fotografia escolhida para ilustrar as edições da imprensa basca mostra bem a euforia e o orgulho que, justificadamente, invadiram Bilbau e todo o País Basco.

domingo, 17 de janeiro de 2021

1961 foi o ano maldito para Salazar

A propósito do 60º aniversário do assalto ao paquete Santa Maria que ocorreu no dia 21 de Janeiro de 1961, a revista Visão inclui na sua mais recente edição uma reportagem sobre os acontecimentos que fizeram de 1961 “o ano maldito para Salazar”. 
A reportagem tem o título “o início do fim do Império” e embora os seus textos sejam curtos, inclui expressivas fotografias que tornam esta edição um documento de muito interesse para reavivar a memória dos seus leitores, sobretudo os mais jovens. 
O regime dirigido por Salazar atravessava grandes dificuldades desde as eleições presidenciais de 1958 e aumentara a repressão sobre as forças oposicionistas internas, enquanto nas Nações Unidas nasciam sucessivas resoluções condenatórias do colonialismo português, com os aliados da NATO a criticarem o regime português e com o primeiro-ministro indiano Nehru a reclamar a posse dos territórios do Estado da Índia. 
No início de 1961 houvera a violenta repressão da revolta popular angolana da Baixa do Cassange e John Kennedy chegava à presidência dos Estados Unidos como apoiante da descolonização das colónias portuguesas. Seguiu-se o assalto ao paquete Santa Maria, depois o ataque a algumas instalações policiais e prisionais na cidade de Luanda e, no dia 15 de Março, aconteceu o início da revolta e dos massacres da UPA no norte de Angola. Em Abril aconteceram a tentativa liderada pelo general Botelho Moniz para afastar Salazar e o início da partida de contingentes de soldados para Angola, “rapidamente e em força”, o que iniciava uma longa guerra que durou até 1974. Nesse mesmo mês de Abril reuniu em Casablanca a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) que uniu os movimentos que reivindicavam a independência das colónias; em Julho, por pressão da República do Benim, o forte de S. João Baptista de Ajudá foi abandonado e incendiado; em Novembro, um avião da TAP da linha Lisboa-Casablanca foi assaltado em pleno voo e lançou panfletos contra o regime sobre várias cidades portugueses; em Dezembro as tropas da União Indiana invadiram e ocuparam ao fim de poucas horas os territórios do Estado da Índia. 
Foi o ano maldito para Salazar e foram demasiados acontecimentos que minaram o regime que ainda sobreviveu até 1974.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

A epidemia e a difícil situação de Manaus

A incapacidade para resolver os casos crescentes de covid-19 que vão acontecendo um pouco por todo o mundo gera situações de grande dramatismo para os doentes, mas também para os profissionais de saúde, para as autoridades sanitárias e para toda a sociedade. De vez em quando, a imprensa relata situações de desespero por falta de tudo o que seria necessário para intervir, nuns casos por carência de pessoal médico e de enfermagem, noutros casos por falta de espaços hospitalares, de camas e de material e, em especial, de ventiladores. 
O Brasil regista actualmente 207.095 óbitos por covid-19, um trágico número só ultrapassado pelos Estados Unidos e tem mais de oito milhões de infectados. Nas suas edições de hoje a imprensa brasileira destaca a situação dramática que se vive na cidade de Manaus, a capital do estado do Amazonas, que se tornou o principal foco de propagação de covid-19 no Brasil e onde os hospitais têm falta de oxigénio. Dizem os jornais que em Manaus houve mais óbitos em 2021 do que nos nove meses que decorreram de Abril a Dezembro de 2020 e relatam mortes por falta de ar em alas hospitalares inteiras, onde acabaram as reservas de oxigénio. O jornal Folha de S. Paulo diz mesmo que “Manaus mergulha no caos” e, perante essa realidade, as autoridades estaduais determinaram a transferência de doentes para outros estados. 
Porém há fortes críticas ao governo federal e aos estados “seus aliados” devido à forma “bolsonarista” como tem sido tratada esta “gripezinha”, inclusive por não ter sido feita a atempada encomenda de vacinas, pois até agora nenhuma remessa chegou ao Brasil.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Único: o Donald foi impugnado duas vezes

O ambiente político americano continua muito tenso e o responsável por essa situação é Donald Trump que, contra todas as evidências e julgamentos, continua a não aceitar a sua derrota eleitoral. O incitamento que fez aos seus apoiantes para ocuparem o Capitólio no dia 6 de Janeiro foi um desafio à democracia americana e um acto insurrecional sem precedentes. Por isso, a Câmara dos Representantes votou ontem a sua destituição e o resultado final saldou-se por 232 votos a favor (222 votos democratas e dez votos republicanos) e 197 votos contra dos congressistas republicanos. Entre os dez votos republicanos que condenaram Trump estava o voto do congressista David Goncalves Valadao, um lusodescendente nascido nos Estados Unidos em 1977, mas cuja família emigrara dos Açores em 1969. 
Donald Trump tornou-se no único presidente da história dos Estados Unidos a ser condenado com dois impeachments, enquanto a actual situação fez emergir Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes, como a corajosa acusadora que, sem papas na língua, disse que Trump incitou esta insurreição armada contra o Estado e a Constituição, pelo que deve ser afastado do seu cargo por ser um perigo para a nação. O impeachment aprovado não implica a destituição do Donald, pois terá que ser também aprovado pelo Senado por uma maioria de dois terços, o que significa que terá que haver 17 senadores republicanos a juntar o seu voto aos cinquenta senadores democratas. Apesar de esta votação só ocorrer após a posse de Joe Biden, numa altura em que os senadores já estarão menos condicionados pelo medo e pelas ameaças dos radicais, tudo o que vai acontecer é uma incerteza. É mesmo uma incerteza. Certo, apenas, é que Donald Trump será sempre uma vergonhosa figura a manchar a história dos Estados Unidos da América.

Covid-19: de mal a pior, mas até quando?

Dentro de 24 horas o nosso país vai entrar em confinamento geral e a generalidade dos portugueses vai ficar sujeita ao dever de recolhimento domiciliário e, sobretudo, vai ter que obedecer às regras do bom senso. O país vai fechar devido ao elevado risco de contágios, como hoje sugere a capa do jornal i. Assim, tal como acontece por toda a Europa, onde estão impostas muitas restrições para combater a pandemia, com confinamento geral pelo menos na Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Holanda e Áustria, também Portugal adoptou medidas severas que, naturalmente, vão perturbar alguns sectores da economia, mas que são recomendadas pelo estado sanitário do país. 
Há cinco dias apenas, o jornal Público escreveu que, com 118 óbitos, estávamos no “princípio do pior”, mas a minha boa vontade traiu-me e eu escrevi, cheio de confiança, que era o “princípio do melhor”, na esperança de que aqueles 118 óbitos tivessem sido um pico na curva estatística e que nos dias seguintes a situação melhoraria. O Público acertou e eu errei. De facto, houve depois 111 óbitos e a seguir 102, 122, 155 e, ontem, 156. Tocaram todos os alarmes. Há actualmente mais de 116 mil pessoas infectadas, além de 4.240 pessoas internadas e 596 pessoas em unidades de cuidados intensivos. Nunca a situação epidemiológica em Portugal foi tão grave, tal como na vizinha Espanha onde a situação também é semelhante, tendo a imprensa anunciado hoje que há um "récord de contagios en España com casi 39.000 en un solo dia”. Estamos, portanto, absolutamente confinados e o que nos perturba é que continuamos sem saber até quando teremos o vírus à porta das nossas vidas.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

As vacinas, o Natal e o relaxamento social

Os países ibéricos estão a passar por um acentuado agravamento da crise pandémica nos últimos dias e alguns especialistas atribuem esta situação a algum relaxamento que se verificou durante o período de Natal, embora não haja unanimidade a esse respeito. 
Em Espanha passou-se a mesma situação e o jornal catalão La Vanguardia chama-lhe relajación de la Navidad, enquanto o Diário de Cadiz refere la resaca de Navidad. As autoridades sanitárias portuguesas atenuaram as medidas de confinamento no Natal mas os resultados foram decepcionantes, o que tem servido para que alguns comentadores e os políticos do costume tenham espaço e tema para falar, abusando do habitual argumento de que “eu tinha avisado”, mesmo quando não tinham avisado nada. O facto é que a chamada terceira vaga chegou pelo que, nos próximos dias, são de esperar algumas medidas mais severas de confinamento. 
As notícias da chegada das primeiras vacinas geraram uma natural onda de euforia e terá sido essa euforia, mais que a animação de Natal, que deram origem à relaxação portuguesa e à la resaca de Navidad espanhola. Porém, o que nos interessa é que a pandemia esteja em vias de regredir rapidamente para que possamos recuperar o nosso modo de vida, sem medo, sem máscara e sem distanciamento social.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A Pátria honrai que a Pátria vos contempla

O jornal Ponto Final é um dos três jornais em língua portuguesa da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China (RAEM) e foi fundado em 1991 quando o território era administrado pela República Portuguesa. 
Actualmente o chefe do Executivo de Macau é Ho lat-seng e a RAEM, que vivia um período de prosperidade, está agora a sofrer as vicissitudes económicas devidas à crise pandémica. As medidas tomadas pelas autoridades sanitárias macaenses não diferem das que são tomadas em outros países, embora em grau diverso. Na sua edição de hoje o jornal destaca, entre outros assuntos, as limitações que continuam a ser impostas aos estrangeiros para pretendam entrar em Macau, até que a situação epidémica tenha um claro abrandamento. Naturalmente, esta medida é criticada, porque lá como cá, qualquer medida das autoridades sanitárias é criticada pelos que entendem que se foi longe demais e pelos que entendem que se ficou aquém do possível e necessário. Porém, o que aqui se destaca é a fotografia das Portas do Cerco que foi escolhida pelo jornal para sugerir a fronteira da RAEM com o território da RPC. 
Nessa fotografia pode continuar a ler-se a frase “A Pátria honrai que a Pátria vos contempla”, que desde 1871 encima o arco das Portas do Cerco e que desde 1836 é a divisa dos navios da Armada, como determinou o Ministro da Marinha e Ultramar José da Silva Mendes Leal. Aquela frase mostra a íntima relação que houve entre Macau e a Marinha, mas também parece mostrar que as autoridades macaenses preservam a herança cultural portuguesa.

domingo, 10 de janeiro de 2021

A neve e o frio que tanto nos afectam

No início da semana o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alertou num comunicado que se aproximava a depressão Filomena centrada a sul do arquipélago dos Açores e que os seus efeitos se iriam sentir no arquipélago da Madeira e no sul do continente, isto é, previam-se dias de chuva, vento forte, agitação marítima e muito frio. 
Assim aconteceu e a ilha da Madeira esteve sob temporal, enquanto o continente está a ser varrido por uma onda de frio, com as temperaturas nocturnas a descerem abaixo de zero em quase todo o país e com queda de neve em muitas regiões, incluindo no Alentejo. Não estamos habituados a este frio. Não há aquecimento que lhe resista. A depressão Filomena está a ser demasiado dura. 
Porém, a Filomena entrou pela vizinha Espanha e não foi mais moderada para com os espanhóis. Antes pelo contrário, pois levou o frio a todo o território e cobriu de branco quase todo o país. A região de Madrid foi coberta pelo maior nevão registado nas últimas décadas, que cortou várias estradas e bloqueou centenas de automobilistas, levou ao encerramento do aeroporto e provocou cortes no abastecimento de electricidade. A capital espanhola está paralisada e o frio é intenso, enquanto nos Picos da Europa, no reino das Astúrias, a estação de Veja de Liordes registou a temperatura mínima de -35.6 graus, que é um recorde absoluto desde que há registos. Será mais uma manifestação das alterações climáticas em curso? 
O jornal El País dedica a sua primeira página à nevada que cobriu Madrid, deixando apenas um pequeno espaço sobre o triste final do mandato de Donald Trump.

sábado, 9 de janeiro de 2021

É o princípio do pior ou do melhor?

Depois de uma certa euforia que se verificou com a chegada das primeiras vacinas contra o covid-19, as últimas notícias têm sido devastadoras e preocupantes. Ontem foi anunciado que nas últimas 24 horas houve 10.176 de novos casos de pessoas infectadas e 118 óbitos. Nunca os números tinham sido tão elevados em Portugal e o jornal Público escreve na sua edição de hoje que é “o princípio do pior”. 
Porém, como o espaço público está cheio de pseudo-especialistas que nos vão enchendo a cabeça com as mais desencontradas das suas verdades, fica-nos a dúvida sobre se é realmente o princípio do pior como hoje titula aquele jornal ou se estamos apenas a pagar a factura dos descuidos e de alguma extravagância que a época natalícia propiciou. Por outras palavras, fica-nos a dúvida sobre se é o princípio do pior ou se é o princípio do melhor. O facto é que o assunto é muito sério e que, para além das normais medidas preventivas de defesa pessoal para evitar contágios, há cada vez menos lugar para facilitismos e para exposições desnecessárias. 
Tão grave como o covid-19 é que nos descuidemos e que baixemos os nossos níveis de actividade física e intelectual ou que nos rendamos à quebra das nossas rotinas. Por isso, para além dos cuidados que a situação pandémica a todos obriga, há que manter muita serenidade e muita confiança, porque há que pensar que os dias melhores estão para vir. Significa, portanto, que há que ter todos os cuidados, mas que também é preciso pensamento positivo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Ainda o Donald e o assalto ao Capitólio

A imagem de alguns fanáticos a assaltar o Capitólio, publicada pelo The New York Times e por muitos outros jornais, vai ficar gravada na história dos Estados Unidos, tal como as fotografias do ataque às Torres Gémeas acontecido no dia 11 de Setembro de 2001. O que aconteceu no dia 6 de Janeiro de 2021 e que todo o mundo viu em directo pela televisão, foi uma quase insurreição armada contra as instituições democráticas americanas tentada por algumas centenas de indivíduos, que se deslocaram de diferentes regiões dos Estados Unidos para apoiar o presidente cessante e para evitar que a vitória eleitoral de Joe Biden fosse certificada. 
O que vimos foi impensável, com o próprio Presidente dos Estados Unidos a incitar um bando de fanáticos para usarem a violência e assaltarem o Capitólio, o que veio a ser considerado pelo vice-presidente Mike Pence como “um dia sombrio na história da capital dos Estados Unidos”. As reacções internas e internacionais foram de unânime condenação e acentuam a vergonha e a desonra que constituiu o comportamento de Donald Trump, havendo uma forte corrente interna que pede o seu imediato afastamento por demência, por abuso de poder ou por traição ao seu juramento constitucional. 
Faltam duas semanas para que o novo presidente tome posse e até lá ainda vai correr muita água debaixo das pontes, pelo que nenhuma das declarações de Trump merece credibilidade. Naturalmente, esta triste comédia vai ser estudada para saber se houve ou não houve um plano de Trump para se manter no poder que falhou, mas também para elogiar o comportamento sensato de Mike Pence, que muito contribuiu para que o plano de Trump falhasse.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O fim do Donald e a invasão do Capitólio

As cenas que ontem nos foram mostradas em directo pelas televisões pareciam vir de uma república das bananas ou ser cenas de um qualquer filme histórico sobre a tomada da Bastilha em Paris no ano de 1789 ou o assalto ao Palácio de Inverno em Petrogrado no ano de 1917. Aquilo não poderia passar-se nos Estados Unidos, mas de facto tratava-se da invasão do Capitólio, o simbólico edifício que na cidade de Washington aloja o Congresso, isto é, as duas câmaras constitucionais - o Senado e a Câmara dos Representantes. É, portanto, a sede da Democracia americana. 
Ontem decorria a sessão presidida pelo vice-presidente Mike Pence, para confirmar os resultados eleitorais de 3 de Novembro passado, quando algumas centenas de desordeiros encorajados por Donald Trump invadiram o Capitólio, supostamente para impedir os trabalhos do Congresso. As cenas que vimos em directo mostravam um clima insurrecional que envergonha a América e faz rir o mundo. Houve quatro mortos e 52 pessoas foram detidas. Só depois o Congresso recomeçou os seus trabalhos, tendo formalmente declarado a vitória de Joe Biden e de Kamala Harris. 
Donald Trump perdeu mais uma tentativa para reverter a sua derrota eleitoral e continua a mostrar evidentes sintomas de demência ao não querer deixar a Casa Branca. O Partido Republicano e o seu vice-presidente abandonaram-no. As redes sociais suspenderam-lhe as contas. Muitas personalidades como Obama e George W. Bush condenaram-no e nem uma só voz respeitável apareceu a defendê-lo. Não se sabe se chegou a perguntar se Washington já estava a arder, mas o que se passou coloca Donald Trump numa galeria de gente que não merece o respeito de ninguém, tanto na América como no mundo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

R.I.P. Carlos do Carmo

Carlos do Carmo faleceu aos 81 anos de idade e a comunicação social foi unânime no elogio a um homem que era a voz e uma referência obrigatória na história do fado, mas que também era um homem de cultura e um defensor de causas. 
A sua carreira artística passou por inúmeros palcos internacionais e começou em 1980 no Olympia de Paris, mas também por muitos outros palcos em todos os continentes, tendo recebido vários prémios internacionais como o Prémio Goya em Espanha, o Grammy Latino de Carreira em Hollywood e a Grand Médaille de Vermeil da cidade de Paris, a mais alta distinção cultural da capital francesa e, segundo as palavras do Presidente da República “foi a voz de Portugal cá dentro e lá fora, prestigiando não apenas o fado como toda a nossa cultura”. A sua voz foi sempre estimulante, tanto nos tempos da Ditadura, como nos tempos da Democracia. No seu repertório incorporou textos de grandes poetas, em particular do seu amigo Ary dos Santos que com ele assinou o famoso álbum Um Homem na Cidade, editado em 1997. Foi um dos principais embaixadores da Candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade e a sua carreira foi distinguida com várias condecorações.
Carlos do Carmo falava fluentemente francês, inglês, alemão e espanhol e foi um defensor da língua e da cultura portuguesa, como reconhece na sua edição de hoje o jornal macaense Ponto Final que destaca que a sua voz também aproximou Macau de Portugal. Era um lutador por causas políticas e sociais e afirmava-se um homem de esquerda e um defensor dos ideais do 25 de Abril. 
As cerimónias fúnebres de Carlos do Carmo realizam-se hoje.

sábado, 2 de janeiro de 2021

2021: nova esperança e novos desafios

O novo ano já corre há mais de 24 horas e sucedem-se os balanços sobre o que foi o ano de 2020, enquanto se fazem previsões sobre o que vai acontecer em 2021. 
Temos vivido num quadro de incerteza que nos foi trazido pela crise pandémica e o aparecimento de vacinas que asseguram protecção para o covid-19, que aconteceu nas últimas semanas do ano, foi um facto que deu uma renovada esperança ao mundo. Portanto, o ano de 2021 é um ano de esperança, como destaca o Correio Braziliense na sua primeira edição do ano. 
Porém, depois dos fogos de artifício e dos tradicionais festejos que assinalaram a entrada no novo ano, a realidade apresenta-se com muitos desafios para ultrapassar os gravosos efeitos sociais e económicos da pandemia, que alteraram o nosso modo de vida e o nosso sistema de valores, o modo de produção da nossa sociedade, os padrões de consumo e as características do trabalho, do emprego e do lazer. Nada vai ser como antes e, por isso, confrontamo-nos com os desafios de um tempo diferente que está a chegar, num quadro mais impessoal de convivência e da chamada transição digital que nos obriga a ficar cada vez mais dependentes de um computador. 
Nessas circunstâncias, a geração dos mais velhos que é a minha, vai ter maior dificuldade de adaptação ao mundo que se está a desenhar e, por isso, vai ser cada vez mais necessário resistir ao ghetto que nos pode cercar, lutar contra a crescente desumanização do quotidiano e reforçar a solidariedade e o convívio com os amigos para que não fiquemos submersos pelo que aí vem.
Naturalmente, para todos aqui ficam os desejos de um Bom Ano.