segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Lula regressa à presidência do Brasil

As mais disputadas eleições presidenciais da história do Brasil realizaram-se ontem e ganhou Luiz Inácio Lula da Silva com 50,90% dos votos, que recebeu 60,3 milhões de votos e superou os 58,2 milhões de votos recebidos pelo actual presidente Jair Bolsonaro, isto é, com uma margem de pouco mais de dois milhões de votos num universo de mais de 156 milhões de eleitores.
Depois de ter governado o país entre 2003 e 2010, a partir do dia 1 de Janeiro de 2023 Lula da Silva voltará ao Palácio do Planalto para dirigir os destinos do Brasil e, como anuncia hoje o jornal carioca Extra, o Brasil “bota o retrato do Lula outra vez”.
No seu discurso de vitória, Lula disse que “o Brasil está de volta” na defesa do combate às alterações climáticas e na recolocação do Brasil no patamar internacional que lhe é devido, apelou à necessária reconciliação nacional e prometeu declarar o combate à pobreza como a sua principal prioridade.
Um dos seus desafios será o de encontrar formas para atenuar os efeitos da bipolarização que marcou os últimos anos da política brasileira, em que a presidência de Jair Bolsonaro acumulou demasiados erros e muitas polémicas, umas de natureza interna como foi a forma irresponsável como tratou a epidemia de covid-19, mas outros de ordem externa como foi o seu apoio a Donald Trump e o seu crescente isolamento internacional.
Ganhou a Democracia e o Brasil está de parabéns. Há uma onda de esperança na sociedade brasileira, mas também há um elevado grau de insatisfação das hostes bolsonaristas, pelo que o desafio de Lula da Silva será unir e pacificar os brasileiros. Só falta saber o que pensa e diz o derrotado Jair…

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Guterres e a luta contra a crise climática

Não é habitual que as Nações Unidas e o seu secretário-geral ocupem as manchetes dos jornais e, por isso, a edição de ontem do Diario de Avisos, o periódico de Tenerife, é mesmo um singular acontecimento que merece ser distinguido.
O jornal publica uma fotografia do secretário-geral António Guterres, destacando a sua persistente luta contra as alterações climáticas e a afirmação de que “la crisis climática nos está matando”, com base na informação de que as mortes por calor em maiores de 65 anos aumentaram cerca de 70% nos últimos cinco anos e que nos esperam mais incêndios, mais efeitos da seca e mais vítimas. A crise climática é um assunto muito urgente para merecer a atenção da humanidade, mas as respostas políticas têm sido muito tímidas e insuficientes, sobretudo por parte das grandes potências industrializadas.
Entretanto, os relatórios das Nações Unidas, da Organização Mundial de Saúde e de muitas organizações não-governamentais continuam a mostrar os efeitos do aquecimento global e o aumento das emissões nocivas de carbono, pelo que António Guterres declarou que isso prova que o mundo está num caminho rápido para o desastre, que pode tornar o nosso planeta inabitável, ao mesmo tempo que acrescenta que não se trata de ficção ou exagero. Porém, a comunidade científica vem afirmando que ainda é possível reduzir para metade as emissões poluentes até 2030, ao mesmo tempo que pressiona os governos mundiais a tomarem medidas para reduzir as emissões, apontando sete eixos temáticos de intervenção: colapso de ecossistemas, extinção das espécies, aumento do nível e aquecimento dos oceanos, seca, fome, doenças e calor extremo.
Como avisa António Guterres, o mundo está num caminho rápido para um desastre que pode tornar o nosso planeta inabitável.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O presidente é um incontinente verbal

Expresso, 21 de Outubro de 2022
O cartoonista António, nome artístico de António Moreira Antunes é reconhecido como um talentoso caricaturista político português, cujo nome artístico é apenas António e que tem uma extensa obra publicada regularmente na nossa imprensa. Porém, em 2012 foi convidado para desenhar as caricaturas de mais de cinquenta personalidades da vida portuguesa destinadas à decoração da estação do Metropolitano de Lisboa no Aeroporto e esse trabalho é, porventura, a sua obra mais apreciada.
Na última edição do semanário Expresso foi publicado um cartoon com a sua assinatura e que se intitula “O incontinente”. Nesse cartoon, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa vomita letras e palavras, mostrando-se um incontinente que tudo comenta e a qualquer hora, tanto em Portugal como no estrangeiro. Comenta a política e o futebol, a meteorologia e os festivais, a economia e os casos judiciais, os acidentes e a política internacional. Tanta opinião cansa. Fala do que não devia. Viaja demais e nunca se esquece de levar consigo microfones e cornetas. Com tantas aparições, quase sempre diz vulgaridades ou banalidades, como “ninguém está acima da lei”, ou comenta taxas de juro, estratégia militar, incêndios florestais e orçamento do Estado, quando este ainda está em discussão no lugar próprio que é o Parlamento. É um exagero. É um protagonismo desproporcionado e até ilegítimo. Os seus serviços anunciam os locais e as horas onde Sua Excelência aparece e, ao ver microfones ou câmaras, não resiste. Se vê telemóveis aproveita para se expor ou para tirar as suas próprias selfies. Antigamente, era comentador num só canal televisivo, mas agora comenta em todos os canais, jornais e redes sociais. É um caso extremo de incontinência comunicacional como escreveu Eduardo Cintra Torres, ou como caricaturou António. Sem dúvida.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Carlos III e Rishi Sunak: que futuro?

No passado dia 20 de Outubro a primeira-ministra britânica Liz Truss demitiu-se, cerca de 45 dias depois de ter tomado posse, reconhecendo não poder cumprir o mandato para que tinha sido eleita pelo Partido Conservador. Cinco dias depois, porque temia a realização de eleições antecipadas, o mesmo partido escolheu Rishi Sunak, o ex-ministro das Finanças do governo de Boris Johnson, para ocupar o mesmo cargo, tendo sido largamente distribuída uma fotografia em que o novo rei Carlos III o recebia no Palácio de Buckingham para cumprir a tradição e formalizar-lhe o convite para constituir governo. A escolha de Rishi Sunak é uma novidade da política britânica por causa da sua idade, do seu inexpressivo passado político e da sua origem asiática. Não lhe faltam adversários políticos, não só no Partido Trabalhista, mas também no seu próprio partido, o que o levou a dizer aos seus correligionários a frase “unite or die”, que mostra como os Conservadores estão divididos. Por tudo isso e mais a situação económica britânica, as expectativas não são muito altas e há muita gente a pedir eleições, mas o rei cumpriu o seu dever, sem se saber qual o conteúdo da conversa havida entre Carlos III e Rishi Sunak. O popular tablóide Daily Mail publica uma fotografia do encontro e escolheu como título “Leave it to me, Your Majesty!”, parecendo revelar as grandes preocupações do novo Rei quanto ao futuro do governo Sunak, que até podem ser o prenúncio de outras preocupações bem maiores.
Entretanto, setenta e cinco anos depois da independência da Índia, do fundo dos seus túmulos, tanto o Mahatma Gandhi como Jawaharlal Nehru devem ter sorrido.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Que estabilidade no governo de Itália?

O jornal diário berlinense Die Tageszeitung, conhecido como taz, destaca na sua edição de ontem a situação política na Itália, ilustrando-a com uma imagem da Torre inclinada de Pisa, a famosa construção iniciada em 1173 sobre um subsolo instável que, logo à nascença, sofreu uma inclinação de cerca de cinco graus que persistiu até à actualidade.
Essa imagem remete os leitores para a situação de menor estabilidade do governo italiano chefiado por Giorgia Meloni, que tomou posse no sábado. Meloni tem 45 anos de idade e foi, desde a sua juventude, uma fervorosa apoiante do Movimento Social Italiano, um partido neofascista inspirado no legado do ditador Benito Mussolini e no seu lema “Deus, Pátria e Família”.
Em 2012, Giorgia Meloni foi uma das fundadoras do Fratelli d’Italia, um novo partido da extrema-direita italiana e, em 2022, venceu as eleições de 25 de Setembro (26%), em coligação com a Lega Nord de Matteo Salvini (9%) e a Forza Italia de Silvio Berlusconi (8%). A Europa não conhecia uma situação destas desde 1945 e está alarmada. As declarações de Meloni e dos seus ministros têm sido muito prudentes para não assustarem os seus parceiros europeus, nem a Europa de onde chegam os fundos comunitários, nem os mercados financeiros que controlam a elevada dívida italiana e os respectivos juros. A palavra de ordem parece ser estabilidade e, num forte sinal dessa estabilidade, foi escolhido Antonio Tajani para ministro dos Negócios Estrangeiros, um homem que antes presidiu ao Parlamento Europeu.  A dúvida está em saber como vai este governo italiano conciliar interesses tão diversos e até opostos, incluindo eurocépticos, separatistas, amigos de Putin, neofascistas, nacionalistas e outros.
A imagem da Torre de Pisa remete-nos para a instabilidade, mas o facto é que aquela torre resiste inclinada há vários séculos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Xi Jinping, o líder indiscutível da China

O 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) terminou ontem e aprovou uma emenda à sua carta magna que eleva o estatuto do seu secretário-geral, pelo que Xi Jinping foi reeleito para um terceiro mandato como “líder indiscutível da China”. Nunca, desde o falecimento de Mao Tse-Tung em 1976, um líder chinês conquistara tanto poder como aquele que foi conferido a Xi Jinping. A imprensa mundial deu notícia desse acontecimento e publicou a fotografia do todo-poderoso líder chinês, assim acontecendo com a edição de hoje do The Wall Street Journal.
O mundo fica agora na expectativa do que vai acontecer no futuro e vai lembrar-se do discurso de Xi Jinping na abertura do Congresso, em que reafirmou que Taiwan faz parte da China e disse que essa questão “é um assunto do povo chinês e deve ser resolvido apenas pelo povo chinês”, numa clara alusão às posições americanas que assumem a defesa e a autonomia de Taiwan, mas também a sua afirmação de que “não renunciaremos nunca ao uso da força e reservamos a possibilidade de adoptar todas as medidas necessárias”.
Os dados estão lançados há muito tempo. A China insiste na reunificação ou no regresso de Taiwan à mãe-pátria, enquanto as mútuas provocações ou as tensões diplomáticas que acontecem, como a visita de Nancy Pelosi a Taiwan ou os exercícios militares no estreito de Taiwan, vão alimentando esta importante questão que Xi Jinping vai quere resolver durante o seu mandato.

R.I.P. Adriano Moreira

O Professor Adriano Moreira faleceu ontem com cem anos de idade, que completara no passado dia 6 de Setembro. Nesse dia, prestei-lhe a minha homenagem neste meu espaço comunicacional e elogiei-lhe a sua sabedoria, a sua inteligência, a sua sensatez e a sua devoção à causa pública.
Eu tinha por ele uma estima reverencial e uma grande admiração pela sua agradável postura social, pelo que dizia e pela forma como dizia, que se traduzia numa permanente aprendizagem para quem o escutava. Eu ouvi-o muitas vezes e li muito do que escreveu. Cruzei-me com ele pela primeira vez há 54 anos quando foi meu professor no ISCSP e, mais tarde, reencontrei-o no ISNG da Marinha Portuguesa, onde ele ensinava Ciência Política e eu tratava das aulas de Economia e Finanças.
Os anos passaram e em 1998 encontrei-o como curador da Fundação Oriente, a instituição cultural a que estive ligado durante alguns anos, onde por diversas vezes conversamos, sobretudo a respeito da Marinha a que ambos estávamos ligados por razões sentimentais.
Em Fevereiro de 2017 fui convidado pelo Instituto D. João de Castro, a que ele então presidia, para falar sobre “Goa contemporânea”. Recordo-me do evidente interesse com que o Professor Adriano Moreira acompanhou a minha exposição e das elogiosas palavras que no fim me dirigiu que, embora excessivas porque foram ditadas pela amizade, tanto me emocionaram.
Hoje, a voz da sociedade portuguesa é unânime na homenagem a este homem que foi uma personalidade marcante da nossa vida política e cultural durante tantos anos.

domingo, 23 de outubro de 2022

Venezuela y Colombia se abrazan

A desintegração do império espanhol das Américas ou Grã-Colômbia foi um processo liderado por Simón Bolivar e que, depois de muitas lutas, deu origem em 1831 à formação de três estados, respectivamente a Venezuela, o Equador e a Nova Granada, que em 1886 adoptou o nome de Colômbia.
A fronteira entre a Venezuela e a Colômbia tem 2.219 quilómetros de extensão e a definição das fronteiras sempre teve alguma controvérsia, pelo que, desde o início do século XX, as relações entre os dois países têm tido altos e baixos e, por vezes, têm sido conflituosas, apesar dos laços históricos, geográficos e culturais entre os dois países.
Já no século XXI, o presidente colombiano Álvaro Uribe acusou a Venezuela e o seu presidente Hugo Chávez de darem guarida aos guerrilheiros colombianos das FARC. Os dois países cortaram relações diplomáticas, trocaram ameaças e “contaram espingardas”, mas com o presidente Juan Manuel Santos a tensão serenou. Depois com o presidente Iván Duque, a partir de 2019 o governo colombiano voltou a cortar relações diplomáticas e a criar tensões destinadas a afastar do poder o presidente venezuelano Nicolás Maduro.
Com a recente eleição de Gustavo Petro, que assumiu a presidência da Colômbia no passado domingo, a possível normalização das relações entre os dois países gerou optimismo e esperança dos dois lados da fronteira e o jornal venezuelano Últimas Notícias destaca que “Venezuela y Colombia se abrazan”. Provavelmente, os 50 milhões de colombianos e os 30 milhões de venezuelanos já festejam esta notícia.

sábado, 22 de outubro de 2022

O governo de Itália e um incerto futuro

Como consequência das eleições realizadas no dia 25 de Setembro, tomou hoje posse o novo governo italiano chefiado por Giorgia Meloni, que substitui o governo de unidade nacional que foi liderado por Mario Draghi. O novo governo resulta de uma coligação de direita em que se uniram os Fratelli de Italia de Giorgia Meloni, a Forza Italia de Silvio Berlusconi e a Liga Norte de Matteo Salvini, sendo o mais direitista governo italiano desde os tempos de Benito Mussolini e da 2ª Guerra Mundial. Os 24 ministérios serão distribuídos pelos Fratelli de Italia (8), pela Forza Italia (6) e pela Liga Norte (4), havendo seis ministérios que serão ocupados por técnicos. 
A Itália e a Europa interrogam-se sobre o que vai acontecer com esta coligação de uma direita pós-fascista e extremista, com uma direita liberal populista personalizada em Berlusconi e uma extrema-direita regionalista, separatista e anti-europeia representada por Salvini. Embora estes partidos tenham feito grandes ziguezagues ideológicos nos últimos tempos por táctica eleitoral, os seus princípios são nacionalistas, populistas, eurocépticos, anti-emigrantes e anti-federais. A Europa está preocupada.
Este será o 68º governo italiano desde 1946 e pela primeira vez será presidido por uma mulher, mas enfrenta enormes desafios, incluindo uma recessão iminente, uma inflação crescente, o aumento das contas da energia e, sobretudo, a guerra da Ucrânia sobre a qual não parece haver uma posição unânime no governo. 
A Itália que é a terceira maior economia da Zona Euro, pode inaugurar uma nova era de governos de extrema-direita na União Europeia, mas vai certamente introduzir muita incerteza na vida política europeia num futuro próximo. O jornal romano La Repubblica destaca hoje o título Meloni, patria e famiglia, que nos remete para ideologias de tipo fascizante.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

A crise britânica e o sonho de Liz Truss

Os jornais de quase todo o mundo publicaram a fotografia de Liz Truss, a primeira-ministra britânica que ocupou o nº 10 de Downing Street apenas por 45 dias. Esta insólita demissão é o resultado de várias trapalhadas cometidas por alguns dos seus ministros, da fragmentação do seu partido e da contestação resultante da crise económica e social por que passa o Reino Unido, mas também da forma imprudente e insensata como ela conduziu a sua governação, pois tendo sido escolhida por se apresentar como a herdeira política de Margareth Thatcher ou da Dama de ferro, veio a comportar-se como uma Dama de barro, conforme hoje se lhe refere o diário espanhol ABC.
Este acontecimento político teve repercussão mundial e foi mais um caso a afectar o prestígio internacional do Reino Unido e a evidenciar o desnorte da sua governação, sobretudo desde que, no dia 31 de Janeiro de 2020, se consumou o Brexit. Muitos britânicos ainda não compreenderam a mudança e na Escócia, as repartições públicas, continuam a hastear a bandeira da União Europeia.
A persistente instabilidade política no Reino Unido já levou a oposição trabalhista a pedir eleições antecipadas. Talvez seja a solução mais apropriada, pois a actual situação de incerteza política e de crise social pode acelerar o processo de fragmentação do Reino Unido, sobretudo pelos fortes sentimentos separatistas da Escócia e da Irlanda do Norte.
O sonho de Liz Truss se tornar uma Margareth Thatcher do século XXI gorou-se, mas é tão grande a diversidade de ideias e de interesses dentro do Partido Conservador, que já ninguém acredita que a estabilidade possa surgir sem que haja eleições antecipadas.

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Nem no futebol o tempo volta para trás

O futebolista francês Karim Benzema, que integra a equipa do Real Madrid, venceu o troféu Bola de Ouro de 2022, anualmente atribuído pela revista France-Football, enquanto o senegalês Sadio Mané que joga no Bayern de Munique e o belga Kevin De Bruyne, que actua no Manchester City, ficaram nos lugares imediatos. O jornal L’Équipe noticia esse acontecimento com a frase Le Ballon à la Maison, pois desde 1998 que nenhum francês ganhava aquele troféu que Zinedine Zidane, Jean-Pierre Papin e Michel Platini já tinham ganho, mas que há 34 anos fugia aos franceses.
Este ano o melhor português foi Rafael Leão que joga no AC Milan, que ficou em 14º lugar, enquanto Cristiano Ronaldo ficou em 20º lugar. Na classificação da Bola de Ouro de 2022, ainda obtiveram posições de grande destaque os futebolistas Bernardo Silva (22º) e João Cancelo (25º), ambos jogadores do Manchester City.
Depois de 17 anos em que se posicionou sempre como o melhor futebolista português e em que ganhou o troféu cinco vezes (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017), em que ficou sete vezes em segundo lugar (2007, 2009, 2011, 2012, 2015 e 2018) e em que obteve um terceiro lugar (2019), Cristiano Ronaldo obteve em 2022 a mais fraca posição de sempre, o que mostra que o tempo não perdoa, ou que o tempo não volta para trás. Em 23 anos de actividade futebolística, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro foi nomeado 18 vezes para a escolha do Ballon d’Or, o que é um feito desportivo notável, mas os seus 37 anos de idade e de talento não perdoam.
Parabéns a Karim Benzema e os nossos votos para que os jogadores portugueses possam ascender a posições de relevo no futebol mundial, como as de Cristiano Ronaldo, mas também de Luís Figo (2000) e de Eusébio (1965), que também ganharam a Bola de Ouro.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Vozes que defendem a paz para a Ucrânia

Alberta é uma das dez províncias do Canadá, tem uma superfície de cerca de 660 mil quilómetros quadrados e mais de quatro milhões de habitantes.
A sua capital é a cidade de Edmonton, embora a sua principal cidade seja Calgary, que fica situada a cerca de 290 quilómetros e que é a quarta cidade canadiana, depois de Toronto, Montreal e Vancouver.
Nesta província, cuja superfície é sete vezes maior do que Portugal, desde o dia 11 de Outubro que a primeira-ministra é uma jornalista e política de 51 anos de idade chamada Marlaina Danielle Smith, conhecida apenas por Danielle Smith. Com uma longa carreira política a nível provincial, no passado dia 6 de Outubro de 2022 ganhou a eleição para líder do United Conservative Party (UCP), de que resultou a sua designação como a 19ª primeira-ministra da província canadiana de Alberta. Como consequência da sua ascensão ao mais importante cargo político daquela província, o jornal Calgary Sun entrevistou Danielle Smith e publicou essa entrevista na sua edição de hoje. A entrevista aborda questões como o orçamento provincial, a criação de uma polícia rural, a adopção de viaturas eléctricas e… a guerra na Ucrânia. 
Danielle Smith, cujo bisavô Philipis Kolodnychy foi um imigrante ucraniano que chegou ao Canadá em 1915 durante a 1ª Guerra Mundial, afirmou que “valoriza a sua própria herança ucraniana” e, sem fazer uso dos argumentos que as partes apresentam para condenar ou para aceitar a invasão russa da Ucrânia, afirmou: “achieving peace is my greatest concern for Ukraine. That will be done with measured diplomacy, not virtue-signalling”.
Num tempo em que tanto se fala de guerra, de mísseis, de drones e de ameaças nucleares, é muito interessante - por ser uma raridade - que um jornal escolha a palavra PEACE como título de primeira página.

domingo, 16 de outubro de 2022

A questão de Taiwan e o pensamento de Xi

O 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) teve ontem o seu início em Pequim e os seus trabalhos vão durar uma semana. O congresso realiza-se de cinco em cinco anos e é o mais importante acontecimento da vida política chinesa pois reúne mais de dois mil delegados de todo o país e, no último dia, anuncia os nomes dos sete membros do Comité Permanente do Politburo de PCC, incluindo o actual secretário-geral Xi Jinping.
Ontem Xi Jinping fez o discurso de abertura do congresso e foi directo ao assunto que mais interessa à China e ao mundo, dizendo:

- Trabalharemos com a maior sinceridade e faremos todos os esforços em prol da reunificação pacífica [de Taiwan], mas não renunciaremos nunca ao uso da força e reservamos a possibilidade de adoptar todas as medidas necessárias.

- A resolução da questão de Taiwan é um assunto do povo chinês e deve ser resolvido apenas pelo povo chinês.

Xi Jinping disse, ainda, que “a reunificação da pátria deve ser alcançada e vai ser alcançada” e condenou “o separatismo e a interferência estrangeira” na questão de Taiwan, que é um caso de enorme tensão no Pacífico ocidental e no mundo. O caso nasceu em 1949, durante a guerra civil, quando as tropas comunistas de Mao Tse-Tung tomaram o poder e o general Chiang Kai-shek e o seu governo nacionalista se refugiaram na ilha Formosa ou Taiwan. Desde então, a China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos: Taiwan afirma-se como uma república soberana, mas a China insiste que é um território chinês dominado indevidamente por separatistas. Esse é o problema que gera o braço de ferro entre chineses e americanos, pois os Estados Unidos são o principal aliado de Taiwan e têm repetidamente afirmando que defenderão a ilha em caso de intervenção militar do regime de Pequim. O Congresso do PCC e as declarações de Xi Jinping foram notícia na imprensa ocidental e o jornal basco berria destacou a figura do líder chinês, mostrando Mao Tse-Tung como a sua sombra. Porém, não restam dúvidas que está ali o mais grave ponto de tensão do nosso planeta.

A bagunça governamental no Reino Unido

Os jornais britânicos têm concentrado o seu noticiário na crise política que está a atravessar o Reino Unido e que se tem acentuado desde que, no dia 6 de Setembro, as funções de primeira-ministra foram assumidas por Liz Truss.
Vários desses jornais, como o diário The Guardian, utilizam a palavra chaos e alguns comentadores dizem que o cenário é explosivo com a inflação a subir, o agravamento dos custos da energia, a decadência do National Health Service e a multiplicação de greves nos transportes, nos correios, na justiça e na saúde. Por outro lado, Liz Truss é considerada uma “vira casacas” política e ideológica, pois já defendeu a abolição da monarquia britânica e foi uma activíssima defensora da continuidade do Reino Unido na União Europeia, mas por ambição política sempre deu o dito por não dito. Porém, veio a chegar ao poder ao assumir-se como herdeira política de Margareth Thatcher, a “dama de ferro” de quem os conservadores britânicos têm saudades.
Uma das primeiras medidas de Liz Truss foi avançar com um plano económico e um mini-orçamento absolutamente desastrados, por quererem agradar a gregos e a troianos e por implicarem um défice gigantesco. As reacções foram fortes e o chanceler Kwasi Kwarteng, seu amigo e apoiante, foi demitido. Os parlamentares conservadores entraram em estado de choque e já pensam na substituição de Truss por algum dos candidatos que ela derrotou na corrida à liderança, ou mesmo pelo próprio Boris Johnson.
Entretanto, um deputado conservador afirmou que era insustentável que um partido histórico e o governo da sexta maior economia do mundo “tenham uma bagunça de primeiro-ministro”. Nem David Cameron, que falhou no Brexit, nem Theresa May, nem Boris Johnson, estiveram à altura das suas funções. Liz Truss vai pelo mesmo caminho.

sábado, 15 de outubro de 2022

Turquia, Erdoğan e os esforços pela paz

A imprensa turca destaca nas suas edições de ontem o encontro havido entre Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdoğan, que se reuniram à margem da cimeira asiática em Astana, a capital do Cazaquistão, com a generalidade dos jornais turcos a publicar a fotografia dos dois líderes. Segundo os relatos publicados, Putin propôs ao seu homólogo turco que o gás russo possa vir a ser exportado através da Turquia, que poderia tornar-se num grande centro de distribuição, isto é, “a Turquia é a mais confiável rota para o gás destinado ao mercado europeu”, como titula a edição inglesa do diário Daily Sabah.
Este facto mostra claramente que a guerra também é um pretexto para fazer negócios, não só na venda de armamento em larguíssima escala, mas também em muitas outras áreas, como a distribuição de gás, em que até os países ibéricos se mostram interessados.
No actual contexto de guerra, de tragédia humanitária e de enorme destruição, que alimentam a inflação, geram a recessão global e provocam o retrocesso civilizacional do mundo, as conversas entre Putin e Erdoğan, que preside a um país fundador da NATO, mostram que é possível o diálogo, bem como uma rápida saída para o conflito. Em Julho, foi exactamente Erdoğan que, em parceria com as Nações Unidas, conseguiu o acordo que permitiu que fosse retomada a exportação de cereais ucranianos. Em Setembro, também a mediação diplomática turca levou à troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia. Agora, Putin e Erdoğan encontraram-se e, certamente, também discutiram a saída para esta guerra. Porém, no mesmo dia, vimos e ouvimos Jens Stoltenberg (pela NATO) e Josep Borrell (pela União Europeia) a assumirem-se como os mais agressivos e ameaçadores falcões do ocidente e adversários do regime russo.
Entretanto, torna-se evidente que a Ucrânia e Volodymyr Zelensky são, cada vez mais, os pretextos que estão a ser usados para um confronto de interesses mais global.

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

A mediação no conflito ucraniano

O jornal The National que se publica na cidade-ilha de Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, destaca como manchete da sua edição de ontem, o apelo do xeque Mohamed para que a Rússia e a Ucrânia conversem e se entendam. Numa altura em que a tensão à volta da Ucrânia se agrava e em que se fala mais de mísseis, de sistemas de defesa anti-aérea e de produção de mais armamento, a voz dos Emirados é prudente e sensata, apelando a conversações entre as partes e à paz, isto é, recusando a lógica que tem prevalecido de destruir ou de enfraquecer o adversário. O xeque Mohamed sabe que nesta guerra não haverá vencedores e que todos sairão a perder.
Os Emirados Árabes Unidos são uma confederação de sete monarquias ou emirados árabes, cujo primeiro-ministro e vice-presidente é o xeque Mohamed, a designação honorífica de Mohammed bin Rashid Al Maktoum, que também é o emir do Dubai. Este homem que é muito poderoso e governa uma das regiões mais ricas do mundo, além de ser o sexto maior produtor de petróleo do mundo, visitou São Petersburgo e encontrou-se com Vladimir Putin, a quem informou da sua política de apoiar a paz e a estabilidade e “pediu a continuação de políticas sérias para resolver a crise ucraniana, independentemente de quão difícil ou complexa possa ser”. Note-se que os Emirados desempenharam um papel fundamental de mediação na recente troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia e que, antes de de visitar São Petersburgo, o xeque Mohamed esteve em Kyev.
Estamos, portanto, perante um activo mediador no conflito ucraniano e os seus esforços nesta causa justificam o nosso aplauso.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Ucrânia: “olho por olho, dente por dente”

O ataque desferido contra a ponte de Kerch foi um duro golpe e uma humilhação para o orgulho russo e veio mostrar que a paz ainda pode estar longe, pois parece abrir uma nova etapa do conflito para a qual se pode aplicar a expressão “olho por olho, dente por dente”, significando que as partes utilizam respostas e punições na mesma proporção dos danos que lhes foram causados. De facto, quarenta e oito horas depois do humilhante ataque à ponte de Kerch, os russos retaliaram e atacaram fortemente Kyev e mais de uma dezena de cidades ucranianas. Esta acção não foi inesperada, mas impressionou pela sua enorme violência, o que levou a que a imprensa internacional utilizasse duas palavras para definir a resposta russa: vingança e terror. Com esta acção e reacção o discurso das partes radicalizou-se. Putin está com o seu orgulho ferido e não cessa de fazer ameaças, culpa o ocidente pelos preços da energia e pela crise económica e diz que “a Rússia está disposta a conversar”, mas continua a prometer mais ataques. Joe Biden declara o seu apoio incondicional à Ucrânia, insiste em continuar a impor custos à Rússia pela sua agressão, acusa-a de crimes de guerra e de atrocidades e oferece-lhe sistemas de defesa antiaérea para que “defendam o seu país e a liberdade”. Entretanto, pela voz do seu falcão-mor Jens Stoltenberg, a NATO pede às empresas de defesa que aumentem a produção de armamento. Só se pensa em canhões, não se pensa em manteiga, como certamente diria o nobel Paul Samuelson. 
Este parece ser, na sua expressão mais simples, o estado do conflito ucraniano e da escalada por que está a passar. Zelensky é cada vez mais um peão neste jogo de alta geopolítica em que ninguém fala em paz e todos parecem apostar na lógica de “olho por olho, dente por dente”.

domingo, 9 de outubro de 2022

A humilhante derrota no estreito de Kerch

Um segmento da ponte de Kerch, que liga o território da Rússia continental com a península da Crimeia, ou que atravessa o estreito que liga o mar Negro com o mar de Azov, foi destruído ontem em resultado de uma explosão de grande violência, provocada pelo incêndio de diversos vagões com combustíveis. Foi um duro golpe para o orgulho da Rússia e foi uma grande vitória para a Ucrânia. O jornal espanhol El Mundo noticia esse duro golpe e diz que Putin procura um contragolpe, o que pode significar a escalada e as suas imprevisíveis consequências.
Aquela ponte foi construída depois da anexação russa da Crimeia em 2014 e representou a determinação russa no que respeita à integração daquela península ucraniana, embora a sua construção sempre tivesse sido condenada internacionalmente. A sua inauguração em 2018 como a maior ponte da Europa, passou a ser um símbolo da capacidade tecnológica da engenharia russa, mas também uma afirmação de poder, ao ligar fisicamente o território russo com a península da Crimeia. Porém, a importância da ponte é não só simbólica, mas também logística pois assegura o reabastecimento da península da Crimeia. Por isso, esta ocorrência não pode ter sido uma casualidade, pois integra-se nas operações de guerra que decorrem na Ucrânia desde 24 de Fevereiro de 2022, sendo mais um exemplo das trágicas destruições que estão a devastar aquela região. Depois das derrotas que tiveram na sua tentativa de dominar Kiev e da perda do cruzador Moskva, esta operação sobre a ponte de Kerch é mais uma humilhante derrota para os russos. Quem imaginasse que o inverno podia vir a aconselhar as partes a começarem a moderar-se e a negociar, deve ter-se enganado. O ataque à ponte de Kerch veio enfurecer o orgulho russo e não ajuda os esforços de paz nos próximos tempos, o que é cada vez mais preocupante. Muito preocupante.

Angola, o apaziguamento e o progresso

O Jornal de Angola deu notícia do encontro havido em Luanda entre o presidente João Lourenço e Adalberto da Costa Júnior, o líder da UNITA e candidato presidencial derrotado, alegadamente para “troca ideias sobre anseios do povo”. Uma fotografia com os dois políticos sorridentes e a apertar as mãos, mostra como esse encontro correu bem.
Em tempos da muita perturbação que vai pelo mundo é uma boa notícia. Há poucas semanas, quando os resultados eleitorais foram equilibrados e revelaram um país dividido, houve quem temesse que Angola entrasse num período de tensão e de instabilidade, mas este encontro e esta fotografia entre os dois líderes vieram mostrar o ambiente democrático que se vive em Angola, que bem útil será para o progresso da sociedade angolana.
Quando assistimos diariamente ao que se passa na campanha eleitoral do Brasil e nos recordamos do que se passou em Janeiro de 2021 com o assalto ao Capitólio sob a inspiração de Donald Trump, só podemos concluir que Angola está a dar um grande exemplo de democracia e de convivência. Esse exemplo é reforçado pelo facto de ter terminado exactamente há vinte anos, a longa guerra civil que durou 27 anos, entre o MPLA e a UNITA, ou entre Cuba e a África do Sul.
O machado de guerra está definitivamente enterrado. Agora é preciso unir esforços para fazer daquela terra tão rica em recursos naturais, uma sociedade mais igualitária e mais desenvolvida para benefício de todos os angolanos.

sábado, 8 de outubro de 2022

Os interesses da indústria do armamento

Celebrou-se hoje, dia 8 de Outubro, o 90º aniversário da Indian Air Force, que foi criada em 1932 pelo governo colonial britânico. Os principais jornais indianos destacam o acontecimento porque a Índia carece deste tipo de celebrações para reforçar a unidade nacional de um país multiétnico, multicultural e multireligioso, onde são faladas mais de trezentas línguas, das quais cerca de três dezenas são línguas oficiais. 
Daí que, a imprensa informe que a Índia tem a quarta maior Força Aérea do mundo e descreva os seus feitos militares, em que aparece a Operação Vijay que em 1961 anexou a Índia Portuguesa. No entanto, para além desse aspecto de fazer convergir o país para a unidade nacional, a Índia tem ambições regionais e, por isso, faz grandes investimentos militares para disputar a hegemonia regional com o Paquistão, o seu rival estratégico e religioso que, tal como a Índia, também é uma potência nuclear.
Tudo isso parece ser normal. Porém, o que é mais surpreendente nestas comemorações é o anúncio publicado na primeira página do jornal The Pioneer, um jornal centenário com edições diárias em várias cidades indianas, em que a General Atomics Aeronautical (ga-asi.com), uma multinacional americana com sede em San Diego, que parece dominar o mercado mundial de Remotely Piloted Aircraft, vulgarmente conhecidos por drones, se anuncia à Força Aérea Indiana através de publicidade paga. Já não se trata de vender viagens turísticas ou de publicitar boeings, mas apenas de vender sofisticado material de guerra. Era costume os americanos, os russos, os franceses e outros produtores de armamento, aparecerem na Índia para discretamente venderem os seus produtos. Ao menos, faziam isso discretamente. Agora a novidade é o anúncio de armamento, o que parece mostrar quem são os interessados nas guerras.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A arquitectura agrega imaginação e arte

A última edição do jornal i destaca com uma fotografia a toda a largura da sua primeira página uma antevisão do Lucas Museum of Narrative Art, actualmente em construção no Parque de Exposições da cidade de Los Angeles, por iniciativa de George Lucas, um produtor cinematográfico americano de 78 anos de idade, que se tornou famoso como criador das séries Star Wars e Indiana Jones.
George Lucas é uma personalidade multifacetada e, além dos seus interesses no cinema, é milionário, filantropo e coleccionador de arte, tendo reunido mais de cem mil registos de arte, incluindo pinturas, esculturas, fotografias, filmes, bandas desenhadas e objectos utilizados em filmes, como o Parque Jurássico de Steven Spielberg e o Avatar de James Cameron.
Com todo o seu potencial financeiro e de criatividade, George Lucas idealizou um museu actualmente em construção, que foi desenhado pelo arquitecto chinês Ma Yansong e projectado pelo seu gabinete MAD Architects. O design é muito pouco convencional e a construção é elevada acima do solo, criando um espaço de sombra para os visitantes, sendo coberta por vegetação arbórea, mas o que realmente o distingue é o facto de ter sido idealizado como se fosse uma grande nave espacial pronta a descolar a todo o momento. Esse é, seguramente, o seu aspecto mais notável.
As paredes exteriores serão revestidas com vidro e por painéis solares, enquanto o interior é um amplo espaço com cerca de 30 mil metros quadrados, distribuído por cinco andares, que abrigará amplas galerias, dois teatros, restaurantes, lojas, cinemas, salas de aula e uma biblioteca. A colecção museológica incluirá desde mosaicos e ânforas romanas, até à pintura renascentista e contemporânea, mas também a fotografia contemporânea e o cinema.
O Lucas Museum of Narrative Art tem a sua inauguração prevista para 2025.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Viva o 5 de outubro. Viva a República!

Há 112 anos, no dia 5 de Outubro de 1910, da varanda da Câmara Municipal de Lisboa foi proclamada a República Portuguesa pela voz de José Relvas, em nome do Directório do Partido Republicano. A crise monárquica era profunda e já se agravara desde há alguns anos, mas aprofundara-se depois do assassinato do rei D. Carlos e do Príncipe Real, que aconteceu no dia 1 de Fevereiro de 1908 na Praça do Comércio, isto é, estes dois acontecimentos ocorreram em locais situados a menos de cem metros um do outro.
Apesar das muitas vicissitudes por que passou durante alguns anos, o ideal republicano conquistou o povo com o seu hino e a sua bandeira, enquanto as celebrações da implantação da República se tornaram um feriado e uma festa nacional. Porém, como escreveu Luís de Camões há mais de quatro séculos, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e hoje o povo já não celebra a implantação da República, como se verifica na forma como a comunicação social ignora essa data histórica ou a evoca timidamente, apenas à espera dos discursos de circunstância. São sinais dos tempos. Assim aconteceu também com o 1 de Dezembro de 1640 e, qualquer dia, assim acontecerá com o 25 de Abril de 1974.
A cultura do esquecimento das datas e dos acontecimentos históricos só enfraquece a identidade e a unidade nacionais, ao mesmo tempo que tudo é feito para idolatrar o futebol e os sucessos de uma qualquer selecção nacional. Aqui não há celebrações populares da República mas, paradoxalmente, a nossa comunicação social deslumbrou-se em data recente com a Monarquia britânica. O povo não pode ficar refém deste tipo de escolhas dos gatekeepers da comunicação social. A indiferença com que são tratadas as datas e os acontecimentos históricos pelas diferentes instâncias dos poderes públicos e pela comunicação social não é um bom serviço que se presta aos sentimentos populares da mais antiga nação da Europa, esse “nobre povo, nação valente e imortal”.
Viva o 5 de Outubro! Viva a República!

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O Brasil adiou a sua escolha presidencial

Com grande tranquilidade e sem que tenham sido registadas quaisquer ocorrências significativas, a primeira volta das eleições presidenciais brasileiras decorreu ontem e contrariou as sondagens, pois embora Lula da Silva tivesse obtido 48,42% dos votos contra 43,21% de Jair Bolsonaro, a diferença de cerca de 5% é bem menor do que aquilo que as sondagens previam.
Afinal, o eleitorado não mandou o Jair para casa como previram algumas sondagens e, pelo contrário, deixou-o com um esperançoso resultado. Os dois candidatos mais votados recolheram cerca de 91% da totalidade dos votos expressos, o que mostra a enorme polarização do eleitorado brasileiro. Perante estes resultados o jornal Estado de Minas de Belo Horizonte, destaca que o Brasil é “um país dividido” e mostra um mapa em que essa divisão é bem evidente. Temos, portanto, uma segunda volta que se disputará no dia 30 de Outubro entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro e, de acordo com o que foi expresso pela generalidade dos comentadores, o que vai acontecer é imprevisível e a vitória pode chegar a qualquer dos dois candidatos.
Estão a ser feitas as mais diversas análises quanto ao que vai acontecer, pois Lula conseguiu 57 milhões de votos contra 51 milhões de Bolsonaro, mas essa diferença de mais de cinco milhões de votos não garante a sua eleição. A partir de agora vão ser disputados os cerca de nove milhões de votos que foram entregues aos candidatos Simone Tebet e Ciro Gomes e, também, os votos dos 32 milhões de abstencionistas, isto é, há cerca de quarenta milhões de votos que os dois candidatos irão agora procurar atrair.
O que parece não haver dúvida é que vão ser quatro longas semanas de intensa luta política, de ameaças, de insultos, de ódios e de radicalização da sociedade brasileira.

domingo, 2 de outubro de 2022

O Brasil vai mandar o Jair para casa?

Chegou o dia em que os brasileiros irão fazer as suas escolhas políticas através do voto, embora seja a escolha do Presidente da República que vai mobilizar os cidadãos para irem às urnas.
As sondagens dão como possível a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva já hoje, o que pouparia os brasileiros de mais quatro semanas de violência política, de deterioração da situação económica e de instabilidade social. O actual presidente mostrou durante o seu mandato e confirmou na actual campanha eleitoral, a sua medíocre cultura democrática, a sua manifesta ignorância e a sua incapacidade para dirigir o grande país que é o Brasil. O seu alinhamento internacional é perturbador e os seus amigos políticos são muito pouco recomendáveis. Pelo contrário, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva mobiliza, entusiasma e dá esperança ao povo, para além de ter um elevado prestígio internacional pela forma como governou o Brasil entre 2003 e 2011, bem como pelos resultados que obteve no combate à fome e à desigualdade.
Os brasileiros vão hoje escolher o seu presidente e muitos irão votar em Lisboa, que é a mais brasileira cidade do mundo. O que se espera é que a eleição decorra com tranquilidade e que, no fim, o Jair vá para casa. O Brasil precisa disso.
Hoje o jornal berria, que se publica na pequena cidade de Andoain, na província de Gipuzkoa da Comunidade Autónoma do País Basco, dedica a sua primeira página às eleições brasileiras, sendo uma enorme surpresa que numa pequena cidade basca desperte tanto interesse o momento político brasileiro.
Força Brasil!