terça-feira, 31 de outubro de 2023

Springboks e Lobos na festa do râguebi

A equipa da África do Sul, conhecida como os Springboks, ganhou a 10ª edição da Rugby World Cup e tornou-se a selecção com mais troféus nesta prova ao arrecadar pela 4ª vez o Webb Ellis Trophy, por ter batido na final a equipa da Nova Zelândia, conhecida como os All Blacks.
O mérito da vitória sul-africana é indiscutível, mas o triunfo foi difícil. Nos quartos de final venceram a França por 29-28, nas meias-finais bateram a Inglaterra por 16-15 e na final derrotaram a Nova Zelândia por 12-11, isto é, foram três vitórias tangenciais em jogos mata-mata e todas conseguidas no Stade de France, em Saint-Denis.
Nelson Mandela que faleceu em 2013, deve ter-se sentido muito orgulhoso no seu túmulo. Durante muitos anos o râguebi era tido na África do Sul como um desporto-símbolo do apartheid e a população negra tinha-o como um dos símbolos da opressão branca. Em 1995 a Rugby World Cup realizou-se na África do Sul e foi o então presidente Nelson Mandela que juntou todos os sul-africanos, negros e brancos, em torno do apoio à sua selecção que, nesse ano, ganhou o seu primeiro Mundial. O râguebi tornou-se desde então no novo símbolo da unidade nacional sul-africana e o jornal The Citizen, que se publica em Joanesburgo, destacou essa grande vitória desportiva.
Nesta recente Rugby World Cup a selecção portuguesa, que na gíria da modalidade é conhecida como os Lobos, esteve em destaque e pelos resultados obtidos, ficou posicionada no 13º lugar do ranking mundial do râguebi, que é o segundo desporto colectivo mais praticado no mundo, com quase sete milhões de jogadores registados em mais de 170 países.
Estão de parabéns os Springboks, mas também os nossos Lobos!

domingo, 29 de outubro de 2023

Aníbal, Maria e os seus 60 anos de amores

Quando o mundo se mostra muito apreensivo pelo que vai acontecendo na Faixa de Gaza; quando constatamos a pequenez dos líderes que governam a Europa; quando gente de todos os continentes chega à Europa em busca de uma vida melhor; quando quase nada se sabe sobre o que se passa na Ucrânia; quando a corrida presidencial americana já está na estrada; quando se anunciam greves em Portugal e a privatização da TAP não é consensual; quando a África do Sul conquista a Rugby World Cup e o Benfica não ganha ao Casa Pia; e quando muitos mais assuntos de interesse vão acontecendo, verificamos que dois jornais portugueses de referência, respectivamente o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, destacam em manchete nas suas edições de hoje um não-assunto, que é a história dos amores de Aníbal e Maria que, sessenta anos depois do seu casamento, ainda não sabem “qual de nós se apaixonou primeiro”. Chama-se a isto um “furo jornalístico” e é notável, pois nem a Caras nem a Maria, nem a Lux nem a Nova Gente, conseguiram dar essa notícia em primeira mão. Teve honras de muitas páginas no Notícias Magazine.
Tanto Boliqueime como São Bartolomeu de Messines, mas certamente todo o Algarve e, talvez mesmo todo o país, receberam com emoção a notícia do 60º aniversário deste casamento e puderam ver a fotografia do casal enquanto jovem, quem sabe se a antever o ano de 1985, o passeio à Figueira da Foz, a rodagem do seu carro novo e a sua ascensão ao poder.
É caso para felicitarmos editorialmente estes dois jornais por este "jornalismo de primeira qualidade", bem como o seu proprietário que é a holding Global Media Group, presidida pelo empresário Marco Galinha!

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Viva o secretário-geral António Guterres!

Na passada terça-feira o secretário-geral das Nações Unidas interveio no Conselho de Segurança para pedir um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza por razões humanitárias e para acabar com o “sofrimento épico” do povo palestiniano. António Guterres afirmou que os bombardeamentos israelitas representam “uma punição colectiva do povo palestiniano” e uma violação do Direito Internacional, afirmando também que os ataques do Hamas foram “terríveis”, mas não aconteceram do nada. Segundo Guterres “o povo palestiniano foi submetido a 56 anos de ocupação sufocante”, tendo visto “as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência, a sua economia sufocada, as suas casas demolidas e as pessoas a serem deslocadas”. O representante de Israel reagiu e pediu a Guterres que se demitisse imediatamente, acusando-se de patrocinar o terrorismo do Hamas, enquanto o governo israelita parece ter cortado relações com as Nações Unidas. É sabido que, desde sempre, o estado de Israel não cumpre as decisões das Nações Unidas e, no actual conflito, tem resistido aos pedidos internacionais de contenção e tem massacrando diariamente a Faixa de Gaza, o que já está a ser visto como um genocídio. António Guterres foi corajoso e cumpriu os seus deveres de secretário-geral, defendendo os mais fracos e a Carta das Nações Unidas, sem deixar de condenar inequivocamente “os actos de terror horríveis do Hamas”, mas denunciando também os bombardeamentos israelitas. A imprensa internacional não dá qualquer destaque a este “número” feito por Israel e não critica as afirmações de António Guterres que, pelo contrário, tem sido elogiado pela sua coragem e coerência. É um não-assunto. O que é curioso é o facto de haver em Portugal alguns comentadores que “são mais papistas do que o Papa” e que trataram de se aliar aos radicais israelitas, embora aparecendo travestidos de especialistas neutrais.

domingo, 22 de outubro de 2023

Barcelona exibe obra de Miró e de Picasso

Como aqui escrevemos há dias, o conflito do Médio Oriente entre Israel e o Hamas é o mais sério conflito de todos os que estão a acontecer no mundo e “o pior que podemos fazer é tomar partido”, segundo declarou hoje ao JN o cardeal Américo Aguiar. De facto, tudo o que tem acontecido em Gaza e em outros locais do Médio Oriente é demasiado mau e desumano. Há que fazer tudo o que for possível para moderar e apaziguar os radicais de ambos os lados, bem como parar os comentários a favor da retaliação e da destruição, porque a maioria dos judeus e dos palestinianos são gente pacífica e não querem a guerra. De resto, por todo o mundo, vão-se levantando as vozes contra a guerra e a favor da reconciliação entre israelitas e palestinianos, voltando a falar-se na criação de um estado judaico e de um estado árabe naqueles territórios.
Na sua edição de hoje, o jornal catalão ara, a propósito daquele conflito e com o título “compromisso para a paz”, escreve na sua primeira página que “no actual contexto de guerra, a força e a validade da arte são um grito de liberdade” e destaca a palavra “paz”. Por isso, o jornal dedica essa edição a uma dupla grande exposição que foi inaugurada em Barcelona na passada sexta-feira, sobre a obra, a amizade e as convergências que durante mais de cinquenta anos ligaram Pablo Picasso e Joan Miró, os dois artistas espanhóis que transformaram a arte do século XX. A exposición Miró-Picasso é uma iniciativa conjunta do Museu Picasso e da Fundação Joan Miró, ambos localizados em Barcelona, reunindo um conjunto de quase 300 obras, das quais quase metade foi cedida por colecções públicas e privadas de todo o mundo. A exposição acontece em simultâneo naquelas duas instituições de Barcelona e estará patente até ao dia 25 de Fevereiro. Assim, o leitor tem cerca de quatro meses para visitar a capital da Catalunha e, entre outras coisas, visitar a exposición Miró-Picasso.

Fluxos migratórios em busca da Europa

São conhecidos os fluxos migratórios que nos últimos anos se têm dirigido para a Europa para fugir à fome e à guerra. Milhões de asiáticos e de africanos, mas também sul-americanos e ucranianos têm procurado uma vida melhor no espaço europeu. 
Nessas circunstâncias, a ilha italiana de Lampedusa que fica situada apenas a cerca de 200 quilómetros da costa tunisina, tornou-se uma ponte entre a África e a Europa, tendo deixado de ser um paraíso turístico para se tornar num símbolo de crise humanitária, ou da grave crise da própria Europa. Desde o início do corrente ano chegaram à ilha de Lampedusa mais de 120.000 migrantes e, recentemente, num só dia, chegaram à ilha cerca de seis mil pessoas em 120 embarcações diferentes. Não tem havido resposta a esta crise e os apelos do Papa e das Nações Unidas não têm sido suficientes para alertar os dirigentes europeus. 
Porém, a ilha de Lampedusa é apenas o símbolo deste grave problema, que está presente em outras áreas da periferia da União Europeia, por exemplo nas ilhas Canárias. A ilha de Lanzarote encontra-se a cerca de 140 quilómetros da costa africana e, por isso, o fluxo migratório que procura a Europa também tem procurado as ilhas Canárias.
O jornal Canarias7, que se publica em Las Palmas, destaca hoje que uma canoa motorizada a que localmente chamam cayuco, chegou ontem às Canárias com 320 migrantes, o que constitui um recorde, mas também um desafio às regras mínimas de segurança. Além disso, o jornal acrescenta que “otros 532 inmigrantes de origen subsaharianos han llegado este sábado en dos cayucos a El Hierro, con 212 y 320 personas, respectivamente, y un grupo de 98 ha sido desembarcados en el puerto de Los Cristianos, en Tenerife, tras ser socorridos en aguas del Atlántico por efectivos de Salvamento y la Guardia Civil”. Aqui está um problema maior, que deveria merecer a atenção da União Europeia.

sábado, 21 de outubro de 2023

Os ventos ciclónicos e as ondas gigantes

A depressão Aline passou por Portugal e durante dois dias e meio fez alguns estragos, mas não causou vítimas nem desalojados, limitando-se a chuva intensa, inundações e algumas quedas de árvores, mais uns tantos voos cancelados. Segundo foi divulgado pelos serviços de protecção civil registaram-se 3470 ocorrências, o que nos deixa a pensar que cabe tudo no conceito de ocorrência, isto é, o que ocorre e o que não ocorre. Alguns responsáveis políticos, com o autarca Moedas à cabeça, aproveitaram a oportunidade e agarraram-se à Aline para aparecerem e serem vistos nas televisões.
Entretanto, a Aline deslocou-se para Espanha onde também causou o mesmo tipo de estragos por todo o país, com a cidade de Madrid a bater o recorde de chuva num só dia, pois caíram 100,1 litros de água por metro quadrado.
A agitação marítima foi muito intensa, sobretudo na orla da baía da Biscaia, como hoje salientou a edição do jornal El Diario Montañés que se publica em Santander, ao anunciar que o vento registou uma velocidade de 107 quilómetros por hora e que, no mar, as ondas atingiram 20 metros de altura. Em contraste com a imprensa que está envolvida no conflito do Médio Oriente, o jornal decidiu publicar uma pacífica fotografia alusiva aos efeitos da depressão Aline no mar da costa da Cantábria, mostrando que o fotojornalismo existe.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Será que Joe Biden pode travar a guerra?

A guerra no Médio Oriente tem forte tendência para se agravar e são mínimos os sinais de contenção ou de apaziguamento, o que leva a revista Newsweek a perguntar, na sua mais recente edição, se Joe Biden pode travar a guerra no Médio Oriente. A questão é muito pertinente mas, provavelmente, a resposta é negativa. O presidente dos Estados Unidos foi a Israel, não tanto para apoiar Benjamin Netanyahu que já tinha esse apoio, ou para travar a esperada reacção israelita ao calamitoso ataque do Hamas, mas sobretudo porque precisava do seu abraço e daquela fotografia para a campanha eleitoral americana que se aproxima. Os resultados da sua visita foram desoladores, não só porque os israelitas não abrandaram os seus ataques a Gaza, mas também porque os países árabes da vizinhança se recusaram a encontrar-se com ele.
Enquanto isto, era de esperar que a Europa tivesse um papel activo de moderação neste longo conflito entre árabes e judeus mas, em contramão com a História, os passos que têm sido dados vão no sentido errado, pois tendem a agravar a situação e a fazer com a insegurança e o medo alastrem para as cidades europeias. A Ursula é apenas um exemplo da incapacidade europeia para fazer alguma coisa por um mundo melhor.
A manipulação da informação pelos dois lados atingiu níveis como nunca se vira antes e, a toda a hora, temos dificuldade em distinguir a verdade da mentira. A recente explosão no hospital Al-Ahli, em Gaza, é um bom exemplo. Cada uma das partes acusa a outra e há que esperar uma investigação independente para sabermos a verdade, se tal for possível. Porém, enquanto Joe Biden é prudente e diz que “parece que foram os outros”, a generalidade dos nossos inúmeros comentadores e especialistas que “ocupam” as nossas televisões não tem dúvidas e, apenas com base nos seus palpites, são peremptórios na acusação do Hamas. Indefeso em frente das televisões, o público cansa-se de ouvir tanta propaganda e tantos disparates. Que mau serviço que prestam à verdade!

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Gaza: é difícil, mas “isto tem que parar”

Numa altura em que A situação no Médio Oriente se agrava e em que a imprensa mundial se reparte entre os que “defendem o direito de Israel a defender-se” e aqueles que “defendem os direitos do povo palestiniano”, a manchete escolhida hoje pelo centenário tabloide britânico Daily Mirror vai directa ao assunto: isto tem que parar.
A história do conflito é bem conhecida desde 1948, bem como as ocupações ilegais de território pelos israelitas, a construção de colonatos judeus nesses territórios, a contínua humilhação dos palestinianos e as Resoluções das Nações Unidas que aprovaram a criação de um estado judeu e de um estado palestiniano. Tem sido uma luta constante, sobretudo entre os radicais de ambos os lados, mas também uma permanente ameaça à paz mundial. A comunidade internacional distraiu-se e não tratou de encontrar uma “solução justa e duradoura” para este conflito, embora seja uma missão muito difícil. No dia 7 de Outubro o conflito reacendeu-se com um brutal e cruel ataque do Hamas que custou muitas vidas civis, a que se seguiu a violenta vingança israelita. As tomadas de posição e de alinhamento com cada uma das partes têm acontecido, como se se estivessem a “contar espingardas”. O presidente Joe Biden foi a correr para Israel, enquanto Antony Blinken tem andado por todo o Médio Oriente, mas não se sabe exactamente o que querem para além das declarações de circunstância, quando afirmam que “nunca deixaremos de apoiar Israel”, que “tem o direito de defender o seu território e o seu povo”.
A frase “This must end” que hoje faz a manchete do Daily Mail, bem poderia ser a frase inspiradora para todos os que querem a paz no Médio Oriente e, em especial para os dirigentes da União Europeia que, como tem acontecido nos últimos tempos, continuam a dar “tiros nos pés” no que respeita às suas relações internacionais.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

O novo jornalismo e o valor das palavras

A selecção francesa de râguebi perdeu ontem por 29-28 com a equipa sul-africana e foi eliminada na Rugby World Cup. Quando um país inteiro esperava que a sua equipa pudesse conquistar pela primeira vez o título mundial e sonhava festejá-lo em directo e ao vivo no dia 28 de Outubro no Stade de France, em Paris, esta derrota foi demasiado dura para os franceses. Nas suas edições nacionais ou regionais de hoje, toda a imprensa destaca a derrota dos blues e o jornal Midi Libre que se publica em Montpellier, destaca essa notícia com o título “si cruel”. Porém, o fim do sonho francês teve repercussão generalizada em toda a imprensa francesa que hoje utiliza títulos como “tellement cruel”, “terrible désillusion”, “le rêve brisé”, “point final”, “à pleurer” ou “une cruelle défaite”, ignorando tudo o que se passa no mundo, incluindo o noticiário do Médio Oriente, a crise da Ucrânia, os problemas dos refugiados, as alterações climáticas ou até o desgoverno em que se move a União Europeia que, pela mão de Ursula von der Leyen, se tornou um peão irrelevante e sem voz na política internacional.
Numa altura em que o mundo ainda está chocado com a barbaridade do que está a acontecer no Médio Oriente, não deixa de ser curioso que a palavra cruel que tem servido para classificar as acções do Hamas, também sirva para classificar uma derrota num simples jogo de râguebi.
As palavras devem ter um significado preciso, mas o novo jornalismo tende cada vez mais a usá-las de uma forma desproporcionada, ou até inverdadeira, para satisfazer as emoções dos seus leitores e não para relatar factos com verdade e objectividade.

sábado, 14 de outubro de 2023

Israel e Palestina: parar enquanto é tempo

O jornal l’Humanité foi fundado em 1904 por sindicalistas franceses, ligou-se depois ao Partido Comunista Francês de que foi órgão oficial até 1994 e, desde então, pertence a uma sociedade anónima por acções e recebe subvenções do Estado. Hoje reclama-se dos valores dos seus fundadores que eram “a luta pela paz, a comunhão com o movimento operário e a independência face aos grupos de interesses presentes na sociedade”.
Na sua edição deste fim-de-semana, a propósito da grave situação que se vive na Faixa de Gaza, o jornal faz um veemente apelo: cessez le feu!
Quando se folheia a imprensa estrangeira, verifica-se que geralmente ela está alinhada com um dos lados do conflito, nuns casos para condenar a crueldade dos ataques do Hamas e, em outros casos, para condenar a dureza da vingança israelita. O facto é que a violência é enorme e estamos perante uma gigantesca catástrofe de morte e destruição. Nesta altura, as brutais acções de guerra conduzidas por ambas as partes já estão a ser classificadas como “crimes de guerra”, designadamente pelas Nações Unidas. É nesse contexto e por razões humanitárias, que a mensagem do jornal l’Humanité tem todo o sentido e deve ser apoiada, ao mesmo tempo que devem ser retomadas todas as iniciativas que conduzam à paz e à coexistência pacífica entre israelitas e palestinianos. Já passaram demasiados anos sem que o problema fosse resolvido, devido à oposição dos extremistas de ambos os lados e dos seus aliados internacionais.
A Europa deveria assumir o papel de pacificador e de moderador neste conflito mas, uma vez mais, alguns dos seus dirigentes a começar pela incansável Ursula, que confunde Hamas com Palestina, apressaram-se a tomar partido sem cuidar de pensar que estão a prejudicar os interesses dos europeus. 
Muito gosta a Europa de dar tiros nos pés...

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

A gravidade da crise israelo-palestiniana

A guerra entre Israel e o Hamas tomou conta das preocupações mundiais, porque se trata de um conflito mais sério do que qualquer outro daqueles que estão a acontecer no nosso planeta. O conflito entre árabes e judeus dura desde 1948 e poucos dirigentes têm tido a sensibilidade de levar à prática as Resoluções das Nações Unidas, que aprovaram a criação de um estado judeu e de um estado palestiniano. Como hoje escreveu um conhecido opinion maker, “já era tempo de este clube de idiotas que governam o mundo aprenderem alguma coisa de útil sobre o passado”, mas o facto é que muito pouco tem sido feito no sentido de garantir, simultaneamente, a autodeterminação e a soberania do povo da Palestina e a segurança do estado de Israel. Os direitos do povo palestiniano têm sido ignorados pelo estado de Israel perante a indiferença dos países mais poderosos, mas nada justifica o fanatismo e a bestialidade com que o Hamas atacou Israel no dia 7 de Outubro, com níveis de crueldade importados do Daesh e que são repudiados pelo mundo civilizado. Torna-se necessário que a anunciada e compreensível ofensiva israelita contra o Hamas seja proporcional e não siga os padrões do criminoso fanatismo daquela organização, pois há mais de dois milhões de palestinianos na Faixa Gaza e só uma minoria estará ao lado do Hamas.
O mundo está cada vez mais inseguro e aqueles que têm poderes para arbitrar e para moderar, raramente cedem aos seus interesses estratégicos e comerciais, esquecendo quase sempre que, nestes conflitos, os maus não estão todos de um lado, nem os bons estão todos do outro lado, o que exige vontade de conciliação e de negociação.
O facto é que árabes e judeus, ou Israel e a Palestina, estão a passar por tempos muito perigosos para a paz mundial e, embora seja justa a punição daqueles que usaram de crueldade e mataram civis inocentes, há que evitar “lançar gasolina para a fogueira”, como fazem certos dirigentes e muitos mass media mundiais.
Na sua edição de ontem, o jornal argelino Le Jeune Indépendant ignora a crueldade do Hamas, destaca “os cinco dias de bombardeamentos selvagens” e anuncia que “les ghazaouis seuls face a l’atrocité sioniste”, o que mostra como há leituras e interpretações bem diversas sobre o que está a acontecer no Médio Oriente.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

As guerras e as lições de Clausewitz

A guerra está instalada nas fronteiras da Europa e as lições de Clausewitz tornam-se muito actuais, apesar de terem sido escritas há quase duzentos anos. Foi em 1832 que, postumamente, foi publicado um livro sobre guerra e estratégia militar intitulado “Da Guerra”, que desde logo se tornou uma referência nas doutrinas militares, tal como o seu autor Karl von Clausewitz, um general prussiano que, entre muitos outros princípios, escreveu que “a guerra é uma simples continuação da política por outros meios”. Quando nos nossos dias, depois de muitos anos de paz, de progresso e de prosperidade dos povos europeus, vemos a violência, a brutalidade e a desumanidade da guerra, as lições de Clausewitz são lembradas por muita gente. As situações de guerra entre a Rússia e a Ucrânia, tal como entre Israel e a Palestina, são “a simples continuação da política por outros meios”. Em ambos os casos, não terão sido acauteladas as realidades históricas e as aspirações dos povos, tendo imperado a intransigência negocial e uma lógica belicista. Os políticos das grandes potências não só deviam cuidar do bem-estar e da segurança das suas populações, mas também deveriam assumir a responsabilidade pela promoção da cooperação internacional, pelo apaziguamento das tensões, pela arbitragem de contenciosos e pela preservação da paz no mundo, mas não foram capazes de encontrar entendimentos e soluções negociadas para as históricas conflitualidades que afectam as regiões actualmente em guerra. Objectivamente, os políticos das grandes potências, sobretudo os que têm assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, não só contribuíram como, em alguns casos, estimularam a guerra, para satisfação das suas ganâncias económicas ou estratégicas.
Hoje o Daily News, um dos principais jornais de Nova Iorque, anuncia o contra-ataque israelita e a imagem utilizada mostra a enorme violência da guerra na Faixa de Gaza.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Um conflito que muito inquieta o mundo

No passado sábado, o grupo fundamentalista islâmico Hamas lançou um violento ataque contra Israel a partir da Faixa de Gaza, de que resultaram centenas de mortos e um número ainda indeterminado de reféns. De acordo com todos os relatos a acção do Hamas foi de grande brutalidade e desumanidade e, de imediato, o estado de Israel anunciou que estava em guerra, reagindo com o bombardeamento de várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza e com o cerco total desse território, cortando o abastecimento de água, electricidade, combustíveis e víveres. Sucederam-se as condenações internacionais ao ataque do Hamas e as declarações de apoio a Israel e ao seu direito a defender-se, mas também foram expressas algumas posições a defender um cessar-fogo e negociações que procurem (uma vez mais) implementar as Resoluções das Nações Unidas – a criação e a coexistência pacífica entre um estado judeu e um estado árabe. 
O secretário-geral das Nações Unidas criticou o ataque do Hamas, mostrou-se preocupado pela possibilidade deste conflito alastrar e pela situação humanitária na Faixa de Gaza, tendo apelado às autoridades israelitas e palestinianas para permitirem a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, mas também a libertação dos reféns em poder do Hamas. Nas suas declarações, António Guterres “reconheceu as reivindicações e os apelos do povo palestiniano, mas que nada pode justificar este tipo de actos de terror, assassinato e rapto de civis”, mas também “lembrou a Israel que as operações militares devem ser conduzidas em estrita conformidade com o direito humanitário internacional", isto é, com respeito pelos civis.
Como hoje destaca em manchete o jornal La Voix du Nord, que se publica na cidade francesa de Lille, é um conflito que inquieta o mundo.

O brilho português na Rugby World Cup

A equipa portuguesa despediu-se ontem da Rugby World Cup com uma vitória por 24-23 sobre as Ilhas Fiji, o que constituiu um feito desportivo extraordinário. Com participações nos Mundiais de 2007 e 2023, esta foi a primeira vitória portuguesa num mundial da modalidade, num jogo fantástico sob os pontos de vista desportivo e emocional, que a RTP2 transmitiu em directo a partir de Toulouse. Na sua edição de hoje o jornal A Bola esqueceu as suas habituais manchetes futebolísticas e, com toda a justiça, prestou homenagem ao admirável feito conseguido pelos Lobos.
Este resultado entusiasma muito, mas também surpreende. A surpresa resulta do facto do râguebi português ter poucos praticantes e não ter estatuto internacional, mas soube tirar partido dos lusodescendentes que jogam regularmente em França e que constituem metade da equipa portuguesa.
Com a vitória sobre as Ilhas Fiji, o empate com a Geórgia e as derrotas com a Austrália e Gales, a equipa portuguesa classificou-se em 14º lugar nesta prova, entre as vinte selecções que integram a elite do râguebi mundial. Agora que terminou a primeira fase e que Portugal, tal como a Austrália, a Escócia e a Itália, ficou pelo caminho, há oito selecções que continuam em prova: Gales e Argentina, Irlanda e Nova Zelândia, Inglaterra e Ilhas Fiji, França e África do Sul.
Porém, os desportistas portugueses não vão esquecer tão depressa a emocionante e merecida vitória sobre Fiji por 24-23, no dia 8 de Outubro de 2023, em Toulouse.

domingo, 8 de outubro de 2023

E de repente, aí está mais uma guerra

O mundo foi surpreendido ontem com um poderoso ataque do Hamas contra o estado de Israel, lançado a partir da Faixa de Gaza, em que foram dirigidos milhares de rockets sobre o território israelita, ao mesmo tempo que um número indefinido dos seus militantes se infiltrava em território israelita, matando e sequestrando militares e civis. Israel foi apanhado de surpresa mas já reagiu, tendo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avisado a população de que o país está em guerra, como se pode ler hoje na manchete do jornal Corriere della Sera.
A Faixa de Gaza é um pequeno território na orla mediterrânica com 365 km2 de superfície, cujo maior comprimento são 41 km, que é governado desde 2007 pelo Hamas que venceu as eleições legislativas de 2006.
O Hamas é um grupo fundamentalista islâmico de origem palestiniana que foi fundado em 1987, cujo lema é “Alá é o nosso princípio, o Profeta o nosso modelo, o Corão a nossa Constituição e a jhiad o nosso caminho”, pelo que os seus objectivos de luta são a autodeterminação da Palestina, a recuperação dos territórios palestinianos ocupados e, naturalmente, a destruição do estado de Israel.
A violência do ataque do Hamas surpreendeu o mundo, mas todos esperam uma resposta proporcional de Israel, a quem os Estados Unidos ofereceram imediato apoio.
Numa altura em que tantos discutem uma saída para a guerra na Ucrânia que tanta tragédia está a causar, a iniciativa do Hamas veio “lançar gasolina sobre a fogueira” da instabilidade mundial. A Humanidade passa por tempos difíceis e, perante estas graves situações de conflito, a generalidade dos países prefere anunciar os seus alinhamentos, em vez de apelar à sua resolução pacífica e negociada. Aqui, temos a particularidade de ser o Supremo Magistrado da Nação a querer aparecer, a ir a todas e a atropelar o governo, que é a entidade responsável pela condução da nossa política externa. Ele sabe disso, mas não resiste e insiste…

sábado, 7 de outubro de 2023

A guerra na Ucrânia e a luta de Zelensky

A guerra na Ucrânia está a revelar-se cada vez mais uma grande tragédia e a necessidade de um cessar-fogo é cada vez mais evidente. Apesar de haver horas seguidas de noticiários televisivos e dezenas de comentadores, não sabemos o que realmente se passa no terreno, nem nas chancelarias. Há narrativas para todos os gostos, Putin e Zelensky foram longe de mais no radicalismo dos seus discursos e nunca haverá vencedores nesta guerra, pois todos sairão derrotados. Qualquer que seja o seu desenvolvimento, as marcas desta guerra irão perdurar por muitos anos em todo o mundo. Porém, nas últimas semanas houve algumas novidades, com Volodymyr Zelensky a andar numa roda-viva a procurar apoios e a ouvir promessas de “apoio duradouro”, mas também alguns conselhos para se sentar à mesa de negociações. No dia 18 de Setembro foi a Nova Iorque para falar na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança das Nações Unidas, encontrou-se com Lula da Silva, discutiu com Joe Biden e ficou a saber que o apoio americano já não é o que foi. No dia 22 seguiu para o Canadá onde, depois dos encontros muito tensos que tivera nos Estados Unidos, foi recebido com grande entusiasmo. De regresso à Ucrânia, esteve na reunião do passado dia 2 de Outubro, que juntou em Kiev os ministros dos Negócios Estrangeiros de 24 dos 27 estados-membros da União Europeia, o que aconteceu pela primeira vez fora das suas fronteiras. No dia 4 de Outubro, Zelensky reuniu em Granada com a chamada Comunidade Política Europeia que junta os líderes de cerca de cinquenta países e, no dia 5, assistiu como convidado à reunião do Conselho Europeu.
Volodymyr Zelensky esteve em todas estas reuniões e em todas voltou a ter um apoio mais ou menos unânime, tendo pedido “um escudo de defesa para o inverno”, não só para enfrentar a agressão russa, mas também pela necessidade de “salvar a unidade da Europa”. Porém, fala-se cada vez mais em fadiga e as opiniões públicas americanas e europeias parecem cansadas. Zelensky nunca estivera tanto tempo fora do país, mas sentiu necessidade de bater a todas as portas, pois já percebeu que a promessa de “apoio enquanto for necessário” ou de “apoio duradouro”, se está a tornar hesitante ou menos firme. Como escreveu o La Vanguardia, o principal jornal da Catalunha, “Zelensky implora a Europa que no desfallezca en su ayuda a Ucrania”.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

McCarthy e a agitação política americana

O deputado republicano Kevin McCarthy, que era o speaker da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, foi destituído do seu cargo na sequência de uma votação em que oito deputados da direita radical do seu partido se aliaram com a minoria democrata e o afastaram por 216 votos contra 210. Toda a imprensa americana destacou esta notícia. Uma situação destas nunca tinha acontecido na história americana e, de acordo com a imprensa, tanto o partido Republicano como a Câmara dos Representantes “estão no caos”, numa altura crítica para o país devido à necessidade de um acordo sobre o orçamento do próximo ano, mas também em relação ao apoio à Ucrânia, ao inquérito de impeachment a Joe Biden e à campanha presidencial que se aproxima. As explicações que a imprensa internacional dá para esta situação são pouco convincentes, pois não pode ser apenas uma questão de rivalidades pessoais entre os deputados Kevin Mc Carthy e Matt Gaetz, ou de combate político entre os dois blocos partidários americanos.
Estão decorridos quase três anos sobre a vitória eleitoral de Joe Biden e a invasão do Capitólio, mas “seis em cada dez republicanos ainda não acreditam que Joe Biden ganhou legitimamente em 2020”. Desde então, os republicanos e o ex-presidente Donald Trump, têm alimentado um intenso combate político a que os americanos não estavam habituados, não só como elemento da normal luta pelo poder nas sociedades democráticas, mas também porque parece serem crescentes as dúvidas quanto ao apoio futuro à Ucrânia que está a ser demasiado caro. Provavelmente, a destituição de Kevin McCarthy está relacionada com as crescentes dúvidas sobre esse problema e o facto é que, de repente, em Kiev e em Granada, os europeus têm procurado alternativas à assistência americana à Ucrânia.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Regiões francesas aspiram à autonomia

Depois da Rússia e da Ucrânia, a França é o maior país da Europa, estando dividida em 18 regiões, das quais 13 pertencem à França Metropolitana e cinco à França Ultramarina. Entre as regiões metropolitanas encontram-se a Córsega e a Bretanha, ambas com identidades culturais específicas, línguas próprias e aspirações autonomistas.
A Córsega tem a sua capital em Ajaccio e é uma ilha mediterrânica onde existem movimentos independentistas com fortes raízes históricas, que por vezes se têm manifestado por via violenta. Recentemente, o presidente Emmanuel Macron, em visita à ilha, propôs um prazo de seis meses para que o governo corso e os partidos locais encontrem uma forma de autonomia política limitada, mas que assegure que a ilha se mantenha no seio da República Francesa, eventualmente com um estatuto semelhante ao das comunidades autónomas espanholas ou das duas regiões autónomas portuguesas.
A Bretanha tem capital em Rennes e é uma península do noroeste da França, onde também existe uma distinta identidade cultural e fortes aspirações autonomistas, incrementadas sobretudo pela imposição da língua francesa contra a vontade local de preservar as línguas e dialectos locais, como o bretão e o galo.
O problema corso e o problema bretão não têm as mesmas características em relação ao centralismo de Paris, mas a edição de hoje do jornal Le Télégramme mostra que a “abertura” de Emmanuel Macron relativamente à Córsega, deixou os bretões com vontade de seguir o exemplo corso.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Os telemóveis perturbam a vida da escola

Todos conhecemos os benefícios que as comunicações móveis trouxeram ao mundo, mas tem havido uma excessiva dependência, ou uma quase escravatura das pessoas em relação ao telemóvel, como facilmente se verifica na vida quotidiana. Essa dependência tem sido estudada, sobretudo no que respeita à sua utilização nas escolas, tendo-se tornado um tema muito polémico. 
Há quem defenda que os telemóveis são úteis para a segurança dos alunos por permitirem que eles comuniquem com os pais, com a escola ou com as autoridades, mas também há quem afirme que os telemóveis afectam a saúde mental dos alunos, que dificultam a socialização juvenil e que constituem uma perturbação constante nas salas de aula. O uso excessivo ou inadequado do telemóvel pelos alunos, nas salas de aula ou em casa, através de smartphones, tablets ou laptops, afecta o desempenho dos estudantes porque distrai e perturba negativamente a aprendizagem. Vários países já decidiram proibir o uso de telemóveis nas escolas e, segundo hoje anuncia o Daily Mail, a Inglaterra vai proibir o seu uso nas escolas públicas, tanto nas aulas como nos intervalos e, segundo o referido jornal, “será um alívio para milhões de pais e professores”. 
Um relatório da Unesco, a agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, publicado no início do corrente ano, concluía que o uso de telefones nas salas de aula era um factor de perturbação, de limitação da aprendizagem e de menor rendimento escolar.
O anúncio hoje divulgado pelo governo inglês representa uma decisão corajosa e acontece depois de muitos anos de debate, embora haja escolas que já proíbem a utilização de telemóveis pelos alunos, que são obrigados a entregá-los todas as manhãs.