A disputa
política que está a acontecer na Venezuela teve ontem mais um episódio
doloroso, com uma dezena de mortos e com a violência a atingir grandes
proporções em Caracas, mas também em todo o país. Foi o dia das eleições para
uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC) que, segundo tem sido afirmado, se
destina apenas a assegurar a possibilidade do Presidente Nicolás Maduro e os seus apoiantes se
manterem no poder e a anular o papel do Parlamento que por larga maioria se lhes opõe.
Hoje, as notícias
divergem e enquanto umas afirmam a vitória do governo, outras anunciam a
derrota da deriva autoritária, o que significa que as partes estão extremadas. A
própria imprensa venezuelana é o espelho dessa divergência e aparece hoje com
títulos bem diversos, conforme o seu alinhamento político. Uns escolheram
títulos como “8 089 320 votaron por la paz” (Ultimas Noticias) ou “Gobierno califica jornada de victoria
constituyente” (El Universal),
enquanto outros escreveram “Fracasó fraude constituyente” (El Nacional) ou “Electa ANC en medio de muertes y violencia” (El Informador) ou, ainda, “16 muertos
durante elección de ANC chavista” (Diário
2001).
Curiosamente, a
notícia destas eleições não tem destaque significativo na imprensa da América
do Sul e até a imprensa brasileira quase a ignora, apesar de estar bem perto dos acontecimentos. A Espanha é o único país em
que a generalidade da imprensa destaca a crise da Venezuela nas suas primeiras
páginas, caso do diário La Razón, ilustrando-a com a expressiva
fotografia da explosão de um petardo lançado pelos opositores ao regime de
Maduro à passagem de uma coluna de polícias motorizados da Guarda Nacional
Bolivariana. Dezenas de jornais espanhóis escolheram essa fotografia para
ilustrar as suas edições.
O facto é que a
tensão e a violência aumentam e não há notícia de quaisquer tentativas internas
ou internacionais para chegar a um acordo, apesar de se verificar uma quase unânime condenação internacional do regime de Maduro. É preciso que o clima de guerra civil seja travado a tempo.