quinta-feira, 4 de julho de 2024

Viktor Orbán procura o caminho da paz?

A Hungria é um país da Europa Central que tem fronteira com sete países, é membro da NATO desde 1999 e aderiu à União Europeia em 2004. O seu governo é presidido por Viktor Orbán, que também preside ao partido nacional-conservador, que foi primeiro-ministro entre 1998 e 2002 e que, depois de 2010, ganhou todas as eleições parlamentares húngaras, o que faz dele o primeiro-ministro com mais tempo em funções na União Europeia.
A Hungria assumiu a presidência rotativa e semestral do Conselho da União Europeia no dia 1 de julho e, logo no dia seguinte, Viktor Orbán realizou a sua primeira visita à Ucrânia desde o início da invasão russa. Embora esta viagem possa ter sido resultado de uma vontade autónoma, é bem possível que tenha sido previamente acordada com as várias partes interessadas e, em especial, com Putin e com Zelensky. Curiosamente a imprensa internacional não se interessou por este encontro e o The Wall Street Journal foi a excepção.
Viktor Orbán tinha-se encontrado com Putin em outubro de 2023 e é considerado o seu mais próximo aliado europeu, o que significa que é um dos principais obstáculos aos esforços europeus para ajudar a Ucrânia, financeira e militarmente. Ao contrário dos restantes líderes da União Europeia, a Hungria tem bloqueado sistematicamente o apoio à Ucrânia e tem mantido posições próximas de Moscovo. Durante a sua visita a Kiev, Viktor Orbán apelou a um cessar-fogo imediato que abra as portas a uma negociação de paz, enquanto Zelensky considera que é prioritário falar numa “paz justa e duradoura”. Pode ser o início de uma caminhada difícil, mas que é necessário fazer.
Porém, Viktor Orbán também terá estado atento às tensas relações entre a Ucrânia e a Hungria, sobretudo, porque existem minorias húngaras na região da Transcarpátia que os ucranianos têm tentado desnacionalizar, o que pode conduzir a um conflito adicional. A Europa é mesmo uma manta de retalhos de pátrias, que é preciso tratar com muito cuidado.

terça-feira, 2 de julho de 2024

A grandeza de Ronaldo até se vê no choro

A figura de Cristiano Ronaldo é reconhecida e admirada em todo o mundo, não só pelo seu currículo futebolístico, mas também por muitas das atitudes que toma fora dos campos de futebol, sobretudo em acções de solidariedade.
A sua carreira, bem como os seus sucessos ou os seus insucessos, são notícia na imprensa de vários países, sobretudo naqueles onde jogou e entusiasmou multidões. Assim acontece em Espanha, onde jogou na equipa do Real Madrid durante nove anos, tendo feito 438 jogos e marcado 451 golos, o que faz dele o maior marcador de golos da história do clube, onde conquistou quatro Ligas dos Campeões Europeus e quatro Bolas de Ouro. Depois do Real Madrid, jogou em Itália e, com 39 anos de idade, ainda joga na Arábia Saudita e na selecção nacional de futebol.
Cristiano Ronaldo é um ídolo que continua a ser recordado em Espanha, sobretudo pelos adeptos do Real Madrid e, na sua edição de hoje, o jornal desportivo as dedica-lhe a sua primeira página com uma expressiva fotografia, em que ele chora por ter falhado um penalti que podia ter resolvido a favor de Portugal, o jogo que disputava com a Eslovénia. O título diz “a cuartos llorando”, o que significa que Portugal passou aos quartos-de-final apesar do choro de Ronaldo, mas a fotografia também mostra como o futebol desperta emoções profundas nos jogadores.
O jogo veio a ser resolvido por penaltis, tendo Cristiano Ronaldo sido o primeiro a marcar e com sucesso. Porém, a sua fotografia num jornal espanhol, é uma homenagem e exprime a grandeza deste jogador português que marca golos e que é rico e poderoso mas que perante o insucesso chora como o mais comum dos mortais.

Costa só há um, o Diogo e mais nenhum

Que o António Costa, mais o Afonso Costa e o Gomes da Costa, mais todos os Costas do mundo, me desculpem, inclusive os Costas da minha família mas, depois do que vimos ontem, há que afirmar que “Costa só há um, o Diogo e mais nenhum”. Esta revelação começou a afirmar-se ontem no jogo contra a Eslovénia dos oitavos-de-final do Euro 2024, em que Diogo Costa fez uma defesa salvadora aos 115 minutos, quando o esloveno Sesko lhe surgiu isolado pela frente. Não tendo havido golos durante os 120 minutos de jogo, a decisão foi para os penaltis e Diogo Costa lá foi para a baliza para cumprir o seu papel, tendo defendido o primeiro, depois o segundo e, por fim, o terceiro. Nunca se vira nada como isto. Com intuição e com segurança, Diogo Costa defendeu tudo com “as mãos de Portugal”, como se lhe referiu o jornal A Bola. Não foi preciso defender mais porque os jogadores portugueses não falharam o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro penalti que marcaram. Depois de tanto sofrimento e tanta emoção desportivas, a selecção portuguesa estava apurada para os quartos-de-final do Euro 2024, em que defrontará a França.
Milhões de portugueses, excitados por longas horas de espaços televisivos, cansativos e repetitivos, apresentados por “jornalistas” medíocres e bajuladores, vibraram com as defesas de Diogo Costa e com a vitória portuguesa, que esteve tão comprometida.
Com 24 anos de idade, este atleta que nasceu em Rothrist, na Suiça, mas que cresceu em Santo Tirso, joga no F.C. Porto desde 2011 e, a partir de ontem, tornou-se o Costa mais conhecido e admirado de todos os Costas de Portugal.

R.I.P. Fausto Bordalo Dias

Deixou-nos aos 75 anos de idade o homem que foi considerado “um monumental criador de canções” e cuja obra maior foi o Por Este Rio Acima, provavelmente o mais importante disco da música portuguesa. Num tempo de grande criatividade musical em que se destacaram criadores famosos como José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco, aquele notável disco de Fausto como criador e cantautor, parece ultrapassá-lo a si próprio, pois permanece vivo desde 1982. 
Essa sua obra de referência explora o tema dos descobrimentos marítimos portugueses, um tema simultaneamente grandioso e polémico, tendo procurado inspiração na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e nos seus enredos, como por exemplo o medo, o horror, a escravidão, o sonho e a saudade, que exprime em canções como “O barco vai de saída”, “Navegar, navegar” ou “A guerra é a guerra”, em que se serviu de uma diversidade musical e instrumental invulgares, cujas raízes se encontram no folclore português e na música africana.
Fausto nascera em 1948 a bordo do paquete Pátria em pleno oceano Atlântico, quando o navio navegava de Lisboa para Luanda, tendo vivido em Angola até 1968, ano em que rumou a Lisboa para iniciar os seus estudos universitários. Consigo, trouxe o ritmo musical africano que passou a conjugar com a tradição da música popular portuguesa, que se tornaram marcas distintivas da sua obra.
Fausto Bordalo Dias partiu, mas deixou-nos o Por Este Rio Acima, para ouvirmos muitas mais vezes. Apesar de outros grandes destaques do dia, a morte de Fausto foi noticiada em primeira página pela imprensa portuguesa, designadamente pelo jornal Público, que dedicou três páginas ao "genial alquimista da música portuguesa".

segunda-feira, 1 de julho de 2024

R.I.P. Manuel Cargaleiro

Com 97 anos de idade faleceu ontem o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, um dos mais importantes artistas plásticos do nosso tempo, a quem se atribui o mérito de ter renovado a azulejaria portuguesa.
O Diário de Notícias prestou-lhe uma justificada homenagem, ao noticiar o seu falecimento na primeira página da sua edição ce hoje. A sua obra teve sempre o reconhecimento da crítica e dispersa-se pela cerâmica, pintura, gravura, tapeçaria e desenho, embora o seu talento artístico se tivesse distinguido sobretudo na cerâmica, talvez a sua arte favorita, pois executou diversos painéis cerâmicos em edifícios, igrejas, jardins e escolas, com destaque para a estação de Champs Elysées-Clémenceau do Metropolitano de Paris (1995) e para a estação do Colégio Militar/Luz do Metropolitano de Lisboa (1988), embora as estações do Rato e da Cidade Universitária, em Lisboa, também tenham beneficiado das suas intervenções, ao transpor para painéis cerâmicos algumas obras relevantes da pintura de Arpad Szènes e de Maria Helena Vieira da Silva.
Desde 1957 que Manuel Cargaleiro vivia em Paris mas nunca esqueceu as suas raízes lusitanas que lhe serviam de inspiração, sobretudo na procura da harmonia das cores, tendo a sua obra sido apreciada pelos Presidentes da República Ramalho Eanes, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa que condecoraram este homem cujo legado artístico é relevante no quadro da cultura portuguesa.
Eu sou modesto um admirador da sua obra, que se distingue no panorama da nossa arte contemporânea, que se expressou além-fronteiras, que vai perdurar e que continua a sensibilizar-me esteticamente.