quinta-feira, 30 de abril de 2020

Jair Messias Bolsonaro preside. E daí?

Chama-se Jair Messias Bolsonaro e foi eleito presidente da República Federativa do Brasil, mas não revela inteligência, nem competência, nem senso para exercer aquele cargo em nome de 210 milhões de brasileiros e sobre um território que é o quinto maior país do planeta. Evidentemente que a presidência do Jair é um problema interno do país e de cada cidadão brasileiro, mas desde que a globalização se impôs, muitos problemas internos dos países também passaram para a esfera internacional, até porque são percepcionados através da televisão. É o que acontece com figuras como Trump, Maduro e Viktor Orbán, mas também com o Jair, que se tornaram erros de casting nos seus países, mas também no mundo.
Hoje o jornal O Dia do Rio de Janeiro destaca que no Brasil o número de óbitos devido ao covid-19 já atinge 5.466 pessoas e que afinal não é uma gripezinha nem um resfriadinho, como se lhe referiu o Jair. Queixam-se os brasileiros que o homem revela uma gritante falta de compaixão para com os mortos e as suas famílias e uma enorme falta de solidariedade para com aqueles que estão na primeira linha da frente de combate, isto é, os profissionais da saúde pública. Quando um dia destes foi interrogado pelos jornalistas a respeito do alarmante ritmo de crescimento da pandemia, o Jair enervou-se e limitou-se a dizer de uma forma arrogante e boçal:

       E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? 
       Eu sou Messias, mas não faço milagres. 
       É a vida. Amanhã vou eu.

Naturalmente, a generalidade da imprensa brasileira pegou na expressão E daí? e as críticas não mais pararam de disparar contra um presidente desbocado e insolente que repete demasiadas vezes que “quem manda sou eu”. Seria esperado que da sua boca se ouvisse uma palavra de conforto, de solidariedade e de esperança, mas o Jair não conhece esses valores.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

A crise pandémica e a ‘America first’

Os Estados Unidos são hoje o centro da pandemia de covid-19 e registam mais de um milhão de infectados e 56.843 óbitos. É uma calamidade sem precedentes na história sanitária americana e, só na última semana, verificaram-se cerca de 200 mil novos casos de pessoas infectadas e cerca de 12 mil óbitos. America first, a frase-slogan da doutrina oficial da política da administração Trump está a afirmar-se por razões bem infelizes, isto é, a América está no topo ou no centro da pandemia.
Nesta situação que atinge em especial o estado de Nova Iorque, destacaram-se as recentes palavras do presidente Donald que chocaram a comunidade científica, ao sugerir que a injecção de um desinfectante numa pessoa infectada poderia destruir o vírus num minuto, o que fez com que algumas pessoas seguissem o conselho presidencial e que as linhas telefónicas de emergência tivessem recebido muitas chamadas com relatos ou perguntas sobre a exposição a lixívia e a outros desinfectantes.
A sugestão de Donald Trump que fez rir o mundo, faz-me lembrar o que dizem alguns indivíduos que em Portugal se dedicam ao comentário televisivo como biscate para receberem um dinheirinho e para que o povo se lembre deles, pois também falam da pandemia sem saber do que falam. Eu penso que há um enorme atrevimento dos Portas, dos Júdices ou dos Marques Mendes, entre outros, que falam do covid-19 com base no que leem aqui e acolá, mas sem que tenham conhecimentos científicos de Medicina ou de Estatística, que lhes permitam tratar desses assuntos. Falam alto e claro, exibem-se sem contraditório, mas não sabem do que falam. Nessa matéria não passam de uns vulgares vendedores de banha de cobra, porque uma licenciatura em Direito ou muita experiência política, não são créditos suficientes para tratar de assuntos da área da Saúde Pública. E eles, sem qualquer pudor, estão a fazê-lo.

domingo, 26 de abril de 2020

Brasil: zangas, traições e interferências

O Brasil está a atravessar um tempo difícil, não só pelos efeitos da pandemia do covid-19, mas também pelas perturbações políticas dos últimos tempos, devido às declarações imprudentes e incompetentes de Jair Bolsonaro e às demasiadas fissuras que fragilizam o seu aparelho de poder. 
Aconteceu agora que o ex-deputado federal Jair Bolsonaro, que é o actual presidente do Brasil, e o ex-juiz federal Sérgio Moro, que vinha desempenhando as funções de ministro da Justiça, se zangaram e fizeram mútuas acusações, daí resultando a demissão do ministro que era considerado o mais bolsonarista dos ministros brasileiros. As divergências e as tensões foram-se acumulando, mas parece que a gota de água que fez transbordar o copo foi a acusação que o Moro fez ao Jair, segundo a qual ele estava a querer interferir no processo em que um seu filho está sob investigação na Polícia Federal. O Jair não gostou dessa acusação e tratou de dizer que o Moro era demasiado ambicioso e que queria garantir um lugar no Supremo Tribunal Federal, que é um lugar de escolha presidencial. Não se sabe qual deles está a mentir mais ou qual deles está a jogar mais no seu próprio futuro político, mas uma sondagem revela que nesta polémica há 65% de brasileiros que acredita em Moro, enquanto 35% estão com o Jair.
Depois da demissão do popular ministro Luiz Henrique Mandetta, a demissão de Sérgio Moro que surgiu com gravíssimas acusações ao Jair, vem abrir uma crise governamental no Brasil, porque “quando se zangam as comadres, descobrem-se as verdades” e é isso que está a acontecer. Em tempos de pandemia e quando o número de óbitos continua a aumentar, os caminhos trilhados pela política brasileira são preocupantes e parecem mostrar que há “uma mão invisível” que a todos tritura, ou que os arquitectos que desenharam os processos contra Lula da Silva e, sobretudo, contra Dilma Rousseff, estão agora a “beber do seu próprio veneno”.

sábado, 25 de abril de 2020

Viva a Liberdade e viva o 25 de Abril !

Com uma ilustração elucidativa dos difíceis tempos que correm, o jornal Público assinala na sua edição de hoje o 46º aniversário do 25 de Abril de 1974, em que não haverá lugar para os tradicionais festejos populares, nem para os desfiles com cravos na mão.
O 25 de Abril é uma data histórica que marca o regresso do nosso país à Liberdade e à Democracia, depois de muitos anos de autoritarismo, de repressão e de perseguição política, mas também de obscurantismo, de isolamento internacional e de guerra. Apesar de todas as dificuldades e contradições deste percurso colectivo de 46 anos, qualquer balanço que se faça conduz-nos sempre à conclusão que valeu a pena a mudança e que “as portas que Abril abriu”, na expressão poética de José Carlos Ary dos Santos, nos conduziram a um novo patamar civilizacional em que a integração europeia, o reconhecimento internacional, a afirmação dos novos países de expressão portuguesa e a prosperidade económica e social da população são alguns dos traços mais marcantes do Portugal de Abril.
O fim da guerra colonial e as transformações económicas e sociais que se sucederam ao 25 de Abril e que modernizaram o país, sobretudo nos domínios da educação, da saúde e das infraestruturas, são relevantes activos da comunidade nacional. Num quadro de recursos escassos e de necessidades ilimitadas, mas também de alguns erros e de algumas opções erradas, não tem sido possível satisfazer todas as aspirações de todos os portugueses, nem erradicar alguns dos vícios endémicos da nossa sociedade, nem assegurar que ninguém fique para trás na nossa caminhada. No entanto, nada do que esteja por fazer, diminui a importância histórica e emocional do “dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio”, como Sophia de Mello Breyner chamou ao dia 25 de Abril de 1974.
Por tudo o que nos deu, o 25 de Abril é uma efeméride que tem que ser celebrada pelos que defendem os valores da Liberdade e da Democracia, pelo menos da forma singela como hoje é sugerida pela capa do jornal Público.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

A falta de sensatez de um líder sindical

O Orçamento do Estado para 2020 foi aprovado pela Assembleia da República no dia 6 de Fevereiro e foi promulgado pelo Presidente da República no dia 23 de Março, devendo entrar em vigor no dia 1 de Abril.
O Orçamento do Estado é o principal instrumento de política económica e a sua apresentação, discussão e votação são alguns dos mais relevantes momentos da vida política. Neste orçamento, para além da passagem de déficite para superávite das contas públicas, de se continuar pelo quinto ano consecutivo o processo de convergência europeia e de se reduzir o peso da dívida pública no PIB até aos 116%, havia o compromisso de melhorar o rendimento real, pelo terceiro ano consecutivo, da grande maioria dos pensionistas e retomar a normalidade dos aumentos salariais anuais na Administração Pública, coisa que não acontecia há uma dezena de anos. Ainda o Orçamento não estava promulgado e já as circunstâncias se tinham alterado completamente, o que vai obrigar a que seja feito um orçamento rectificativo porque, como se tem dito, esta é uma crise que não se sabe até onde vai durar e que não tem precedentes na história económica deste século. É um caso muito sério!
O Orçamento para 2020 prevê um aumento de 0,3% para todos os trabalhadores da Administração Pública, em linha com a inflação de 2019, embora com um aumento maior para os salários mais baixos. Porém, aconteceu que no dia 21 de Abril se soube que os profissionais da saúde não iriam receber os seus aumentos no corrente mês, tendo o Ministério da Saúde comunicado que isso acontecera por dificuldades informáticas, mas que em Maio tudo seria regularizado com retroactivos. Então não é que o líder da UGT veio dizer que isto é uma estupidez? O homem estará no seu pleno juízo? Onde é que está a estupidez? Em vez de se preocupar com a crise geral da economia e do emprego que se avizinha, ou com os trabalhadores que estão em lay-off e com redução dos seus salários, ou até de aceitar que esses aumentos fiquem congelados, este homem de Neandertal saíu das cavernas e veio classificar de estupidez uma inoperância dos serviços de um ministério que tem sobre a cabeça uma responsabilidade inimaginável. Se isto é ser líder sindical… 

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Cuba: negócio, propaganda, solidariedade

Na sua edição de hoje o jornal espanhol El Mundo destaca que “Cuba aprovecha la crisis para hacer negocio com sus médicos en 21 países”, referindo que 6.400 milhões de dólares entram anualmente no país e que esse dinheiro é vital devido à brutal quebra do turismo. Segundo escreve o jornal, trata-se de “negocio y propaganda tras la solidariedad”.
Depois do triunfo da revolução cubana em Janeiro de 1959, o seu líder Fidel Castro apostou na ideia de “um exército de batas brancas para distribuir saúde pelo mundo e levar médicos e enfermeiros aos lugares onde o capitalismo levava militares”. Numa conferência de imprensa em Buenos Aires em 2003, Fidel Castro disse: “Médicos y no bombas, médicos y no armas inteligentes”. Essa frase foi recentemente citada pelo Granma, o jornal oficial do Comité Central do Partido Comunista Cubano, a propósito da mais recente “exportação” de médicos e enfermeiros cubanos, "requisitados" por diferentes países para ajudarem a combater a pandemia. É sabido que Cuba é o país com maior número de médicos por habitante e que os médicos cubanos têm cumprido missões em muitos países do mundo, mas com o surgimento da pandemia do covid-19 essas missões acentuaram-se. No passado domingo, a pedido do presidente das Honduras, um país que se situa nas antípodas ideológicas do regime cubano, chegou ao país uma brigada de médicos cubanos e foi então anunciado que actualmente havia 21 brigadas cubanas repartidas pela América Latina, Europa, África e Médio Oriente. A primeira terá sido aquela que no dia 23 de Março aterrou na Lombardia, mas outras já estavam há muito mais tempo na Argentina, na Venezuela, no Brasil, em Angola e em outros países. São milhares de médicos e de enfermeiros cubanos. É uma política de solidariedade activa, mas também é uma política de Estado que combina o económico (a venda de serviços para obter divisas) com o político (ganhos de legitimidade internacional e de reputação no país que recebe a ajuda cubana). Porém, parece que o governo cubano controla a actividade dos médicos e arrecada para si próprio entre 75 e 90% dos seus salários, ou seja, como hoje diz o El Mundo, “negocio y propaganda tras la solidariedad”. E aqui na Europa, porventura, teremos solidariedade mais activa e menos interesseira do que aquela com que Cuba ajuda o mundo?

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Os tempos difíceis que esperam o Brasil

Na questão da pandemia do covid-19 convém ter sempre presente que se sabe muito pouco sobre o assunto e, por isso, a maior parte do que vai sendo dito por esse mundo fora são tiradas delirantes, sobretudo sobre o aparecimento de vacinas e segundas vagas da pandemia, mas também sobre a forma de conciliar pandemia e economia ou como recuperar, na medida do possível, o quotidiano da sociedade e das pessoas. Há, contudo, uma questão que, um pouco por todo o mundo, está agora a dominar as agendas políticas: manter o confinamento, reduzi-lo gradualmente ou, simplesmente, acabar com ele para salvar a economia.
As autoridades sanitárias têm sido prudentes quanto a estas opções, mas há líderes que falam demais sem se saber se é para ganhar popularidade, se é para tranquilizar as populações, se é porque entendem que a pandemia não pode perturbar a economia ou se é apenas por ignorância.
O caso do Brasil é muito preocupante. O covid-19 apareceu em São Paulo no dia 24 de Março e, um mês depois, quando a Itália e a Espanha já viviam uma situação catastrófica, o presidente Jair Bolsonaro veio dizer que o covid-19 não passava de uma “gripezinha” ou de um “resfriadinho”, descredibilizando as evidências científicas, ao mesmo tempo que pedia às autoridades estaduais e municipais que reabrissem as escolas e o comércio, e pusessem fim ao "confinamento em massa". Depois demitiu o seu ministro da Saúde e tem insistido para que o país regresse à normalidade, sem dar ouvidos às autoridades sanitárias. O país chegou aos 38.654 infectados e aos 2.462 óbitos, mas alguns estudos indicam que pode haver entre 12 a 15 vezes mais casos de infecção, sobretudo porque não são feitos suficientes testes à população. 
Ontem em Brasília, Bolsonaro desafiou o bom senso e patrocinou uma manifestação em que, segundo o jornal O Dia, “um punhado de irresponsáveis, em atentado à saúde pública e à democracia”, pediu a intervenção militar e o encerramento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro aplaudiu este pedido expresso para um regresso do Brasil a um regime não democrático. Aproximam-se tempos difíceis para o Brasil.

sábado, 18 de abril de 2020

A pandemia global e a nova geopolítica

A corrente edição da revista The Economist trata de um tema novo a que chama pandemic geopolitics e pergunta se a China está a vencer, deixando no ar a ideia que, nas actuais circunstâncias sanitárias e económicas e no contexto da luta pela hegemonia mundial, a China está a dar mais um passo em frente e que os Estados Unidos estão a dar um passo atrás. 
Os dados objectivos mais recentes são perturbadores. Ontem, a Universidade Johns Hopkins de Baltimore anunciou que os Estados Unidos “registaram 4.491 mortos nas últimas 24 horas” devido à covid-19, o que elevou para cerca de 33 mil o total de vítimas. No dia anterior, o jornal USA Today tinha recordado o número de americanos mortos no ataque a Pearl Harbor de Dezembro de 1941 (2235), no ataque às Torres Gémeas de 11 de Setembro de 2001 (2977) e na passagem do furacão Katrina em 2017 (1836), para evidenciar a catastrófica dimensão da pandemia que está a arrasar o país, ao mesmo tempo que se anunciam 22 milhões de desempregados apenas num mês.
Muitas análises têm sido feitas sobre este confronto pela hegemonia do mundo, sobretudo desde que Donald Trump chegou à Casa Branca e quis a “America first” e a “America great again”, fazendo uma ousada aposta nas suas capacidades militares, com a abertura de frentes de guerra em inúmeros países. Numa recente entrevista à Newsweek, o ex-presidente Jimmy Carter disse que “os Estados Unidos são a nação mais guerreira da história do mundo” e que desperdiça milhares de milhões de dólares em despesas militares para submeter os países que se querem afastar da sua hegemonia, enquanto a China “não desperdiçou um centavo em guerras” e é por isso “que nos ultrapassa em quase todas as áreas”. Os Estados Unidos gastam cerca de 3,3% do seu PIB em despesas militares, enquanto a China só gasta 1,9%, mas em termos absolutos os Estados Unidos gastam quase quatro vezes mais do que a China. Recorrendo à velha máxima de Paul Samuelson sobre a opção entre canhões e manteiga, a crise do covid-19 veio mostrar que a China de Xi Jinping escolheu a manteiga e que os Estados Unidos de Donald Trump escolheram os canhões. 
Hoje, nenhum dos quatro antigos presidentes dos Estados Unidos - Obama, Bush, Clinton e Carter - apoia o empresário que conduz os destinos dos Estados Unidos.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Os navios-escolas que regressam a casa

O navio-escola espanhol Juan Sebastián de Elcano atracou ontem na Base Naval de La Carraca, em Cádis, depois de cinco meses e meio de viagem de instrução de guardas-marinhas e, pela primeira vez na sua existência e por causa do covid-19, não atracou no cais da cidade para receber as tradicionais boas-vindas da cidade, o que inspirou o título de capa do jornal La Voz de Cádiz: triste regreso a casa del JS Elcano.
Durante a sua viagem de 18.000 milhas, o navio visitou nove portos de sete países das ilhas e das costas ocidentais atlânticas, em que cumpriu os seus objectivos de instrução e representação da Espanha, mas com “especial énfasis en transmitir la españolidad de la gesta y su transcendencia para el progreso de la humanidad”, isto é, nuestros hermanos não perdem nenhuma oportunidade para chamar a si todos os méritos de uma viagem à volta do mundo “sem querer “ que, como o mundo sabe, foi um empreendimento ibérico em que os castelhanos entraram com a força do dinheiro e os portugueses contribuíram com a força do seu saber náutico.
Segundo as notícias publicadas, a viagem terminou quando em Miami, devido à pandemia do covid-19, foram cancelados todos os actos institucionais previstos e a visita se tornou numa simples escala técnica para satisfazer necessidades logísticas.
O regresso do navio mereceu fotografias na primeira página em seis jornais diários espanhóis (!), o que mostra a grande empatia existente entre a imprensa espanhola e o seu navio-escola, uma situação que a imprensa portuguesa não cultiva em relação ao nosso belo navio-escola que, nesta altura navega no Atlântico Sul com rumo a Lisboa, depois de ter sido interrompida a sua viagem de circum-navegação, também por causa da pandemia do covid-19.

Como um só vírus paralisa uma Marinha

O porta-aviões francês Charles de Gaulle aparece hoje em destaque na imprensa francesa, porque se verificou que 668 dos seus 1.767 tripulantes (38%) estão infectados pelo covid-19, o que significa que a principal unidade da Marinha francesa e o seu poder de dissuasão nuclear estão de facto inactivos. 
O orgulho francês está ferido.
No passado dia 9 de Abril este assunto fora aqui tratado na ruadosnavegantes, quando cerca de quatro dezenas de tripulantes do porta-aviões francês manifestaram sinais gripais que, de imediato, foram associados à pandemia de covid-19. O navio encontrava-se ao largo da costa portuguesa e recebeu ordens para regressar à sua base mediterrânica de Toulon, mas três elementos da tripulação foram evacuados para hospitais franceses através do aeroporto de Lisboa e uma equipa médica de especialistas foi deslocada para bordo do navio-chefe da Marinha francesa. O navio tinha saído de Brest no dia 15 de Março e esta situação tornou-se um enigma por não se saber a origem desta infecção generalizada, que foi detectada quando o navio estava há mais de vinte dias sem qualquer contacto com terra. Quem teria introduzido o vírus no navio?
Porém, o problema agravou-se nas últimas horas quando se descobriu que havia 668 infectados, embora alguns deles sejam da guarnição da fragata Chevalier Paul, que sempre acompanha o porta-aviões Charles de Gaulle para assegurar a sua defesa aérea. O enigma assumiu, portanto, muito maiores proporções, não só sanitárias, como também operacionais, até porque o pessoal do porta-aviões e as suas famílias souberam da situação pela comunicação social, o que provocou muito alarmismo e fortes críticas às autoridades navais. O orgulho francês está realmente ferido, porque os franceses assistiram, em menos de dez dias, ao fiasco que está a ser o facto de um vírus ter neutralizado o poder de dissuasão nuclear do principal navio da sua esquadra, onde se incluem os famosos aviões Rafale.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Argentina inicia 'la era del tapabocas'

Continua a saber-se muito pouco sobre o covid-19, embora o espaço mediático continue a estar cheio de gente que fala como se soubesse tudo sobre a pandemia. São os mesmos que também sabem tudo sobre política e sobre futebol, que falam de economia e de cultura e que não conseguem estar calados. Alguns deles são ex-políticos profissionais que fazem das suas constantes aparições televisivas uma prova de vida, com a qual facturam mais qualquer coisa e satisfazem as suas vaidades. Em qualquer lado poderiam ser opinion makers mais ou menos respeitados, mas por cá normalmente não passam de vulgares vendedores de banha de cobra, alguns deles com presença quase quotidiana nos nossos televisores.
No entanto, parece que no caso da pandemia do covid-19 eles têm alguma razão, pois há um consenso que começa a generalizar-se no sentido do uso de máscara, porque para além da sensação de protecção que dão a quem as usa, parece que realmente reduzem a hipótese de contágio. Por isso, espera-nos um futuro, de resto muito semelhante ao que se observa nos países da Ásia Oriental, em que as pessoas passarão a usar a máscara diariamente como se fosse uma peça do seu vestuário.
A generalidade da imprensa sempre insistiu no uso da máscara e até usou a falta de máscaras no mercado como um tema de crítica às autoridades sanitárias, o que de certa forma antecipava que o uso de máscaras iria ser obrigatório. Daí que as máscaras, las mascarillas, les masques ou the masks fossem assunto corrente no noticiário internacional da pandemia. Porém, com surpresa, verificamos que na Argentina pela voz do diário La Prensa, o tempo que aí vem já é designado como la era del tapabocas. Uma designação bem curiosa!

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O Donald arrisca ser um William Bligh

Na actual conjuntura americana, apesar de já estarem contabilizados quase 25 mil óbitos devido ao covid-19, as preocupações começam a centrar-se no plano económico e Donald Trump parece querer que a vertente económica se sobreponha de imediato à vertente sanitária. 
Assim, prepara-se para decretar o reinício da actividade económica e, quando algumas vozes ousaram desaconselhá-lo dessa ideia, ele respondeu que “quando alguém é presidente dos Estados Unidos, a autoridade é total”. O governador democrata do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, não gostou daquela fanfarronada e disse que o presidente não tem “autoridade total”, sobretudo para decidir a retoma das actividades económicas, até porque a pandemia da covid-19 está muito activa. Nesta sua posição teve imediato apoio dos governadores democratas de Nova Jersey, Connecticut, Pensilvânia, Delaware, Rhode Island e até do governador republicano do estado de Massachusetts, tendo havido um jornal nova-iorquino que escolheu para título da sua edição de ontem a frase “seven heads are better than one”.
Nas suas críticas, Andrew Cuomo foi buscar inspiração à História e disse que em 1776 os americanos rejeitaram um rei e que George Washington foi um presidente e não um rei. Por outro lado, o presidente Donald chamou “amotinados” aos governadores que o estão a enfrentar e, na sua edição de hoje, o jornal New York Post também se inspirou na História. Assim, o jornal travestiu o presidente Donald num novo William Bligh, o comandante do HMS Bounty que, devido à sua intransigência e tirania, foi deposto por uma parte da sua guarnição amotinada, numa revolta liderada pelo tenente Fletcher Christian, mas isso aconteceu no ano de 1789 no Pacífico Sul.

terça-feira, 14 de abril de 2020

A Venezuela do excêntrico Nicolás Maduro


Ontem foi celebrado em Caracas o 18º aniversário da tentativa de golpe de estado organizado em 2002 por sectores militares da extrema-direita venezuelana contra o presidente Hugo Chávez, que chegou a ser detido pelos revoltosos, mas essa tentativa foi derrotada ao fim de 47 horas. A derrota dos seus opositores e o estilo populista de Hugo Chávez tornaram-no um presidente poderoso que impôs um regime de tendência autoritária em nome do bolivarismo, que acentuou a sua hostilidade para com os Estados Unidos e a aproximação a Cuba, até que a morte o levou. O seu vice-presidente, que em 2013 foi eleito como seu sucessor, foi Nicolás Maduro que se tornou o presidente da República Bolivariana da Venezuela e se declarou herdeiro político de Hugo Chávez.
Nicolás Maduro é um dos dirigentes mais excêntricos que o mundo conhece e, como é sabido, dirige um país que atravessa grandes dificuldades económicas e sociais, além de uma grande turbulência política interna. O que se passa na Venezuela é mau demais e é difícil de compreender, porque as informações que nos chegam, a favor ou contra Maduro, estão viciadas pela propaganda e pelo preconceito ideológico.  
Porém, as festividades ontem realizadas no Dia de la Milicia Bolivariana e que hoje são destacadas pelo diário Últimas Notícias, são uma boa ajuda para perceber o regime venezuelano que Maduro encabeça. Disse ele, segundo destaca aquele jornal de Caracas:
“Declaro que hoy 13 de abril de 2020 la Milicia Nacional Bolivariana ha llegado a 4 millones 156 mil 567 milicianos y milicianas. Cuándo la Fanb tenía una fuerza de reserva tan poderosa?”.
Então não é que num país de 28 milhões de habitantes, há uma força paramilitar com mais de quatro milhões de milicianos e milicianas que, segundo Maduro, estão prontos e mobilizados para cumprir tarefas de “salud, alimentación, inteligencia y adiestramiento”? Esta Milicia Nacional Bolivariana está, desde Fevereiro, formalmente integrada nas Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, mas as suas funções de “inteligencia y adiestramiento” são muito preocupantes, sobretudo para quem conhece o historial desse tipo de organizações.

Nova Iorque: há uma luz ao fundo do túnel

Segundo os últimos números que são conhecidos sobre o covid-19, os Estados Unidos registam os máximos mundiais, quer no número de infectados (587.337), quer no número de óbitos (23.649), estando o centro da pandemia centrado no estado de Nova Iorque, onde só a cidade de Nova Iorque regista 104.410 casos registados e, pelo menos, 6.898 óbitos.
No estado de Nova Iorque há quase dez vezes mais casos de infecção por covid-19 do que na Califórnia, que é o estado mais populoso dos Estados Unidos. Feita a comparação do número de infectados por cem mil habitantes, verifica-se que Nova Iorque regista 800 enquanto a Califórnia regista pouco mais de 50, o mesmo acontecendo com o número de óbitos cuja relação é de um para 16. A explicação deste diferencial está na forma como os dois estados tomaram ou não tomaram medidas de prevenção, porque se a Califórnia tomou as medidas aconselhadas como o confinamento e o distanciamento social, em Nova Iorque demorou-se demasiado tempo a perceber a gravidade da situação.
Porém, ontem ouviu-se Andrew Cuomo, o governador do estado de Nova Iorque, a considerar que, apesar da pandemia do covid-19 já ter ultrapassado a barreira dos dez mil óbitos no seu estado, o pior já tinha passado pois, pela primeira vez numa semana, o número de óbitos baixou para níveis inferiores a 700. Trata-se, naturalmente, de um anúncio muito encorajador, até porque na Europa também se começam a observar sinais de regressão ou de desaceleração do número de novos infectados e de óbitos, ao mesmo tempo que se anunciam algumas medidas para a retoma da actividade económica.  Que seja a luz ao fundo do túnel porque todos ansiamos.

sábado, 11 de abril de 2020

A pandemia chegou aos Estados Unidos


Relativamente à pandemia que continua a manifestar-se no mundo, a análise da lista dos casos confirmados de infecção e de óbitos mostra-nos esta manhã que os Estados Unidos chegaram ao topo dessa lista com 504.780 pessoas infectadas por covid-19 e com 18.763 óbitos, o que significa que o centro da pandemia chegou aos Estados Unidos.
Donald Trump desvalorizou a epidemia com a sua habitual arrogância e, em ano de eleições, é bem possível que a sua reeleição esteja comprometida, pois a opinião pública americana não lhe irá perdoar que a política do “America first” tenha levado a China a um protagonismo mundial e a América ao primeiro lugar… no ranking do covid-19. As fotografias das valas comuns no estado de Nova Iorque deram a volta ao mundo e os muitos americanos que foram intoxicados com o slogan “make America great again” devem estar em estado de choque e não tardarão a afastar aquele homem da Casa Branca. Essas fotografias lembram a retirada de Saigão em 1975 e, tal como a histórica fotografia da fuga da embaixada americana, têm o efeito de uma bala no orgulho americano.
Hoje a revista Time assume que as nossas vidas mudaram, mas enquanto a Europa parece estar a adaptar-se e a aceitar constrangimentos sociais e mudanças no seu modo de vida, nos Estados Unidos nunca se falou nessas coisas ou, antes pelo contrário, até escolheram um presidente que lhes acenou com cenários de prosperidade que não vão ser possíveis, como já demonstram os seus 17 milhões de desempregados, que representam uma taxa de desemprego de 14%. A nação mais poderosa do mundo está em estado de sítio e a passar por grandes dificuldades, mas todos esperamos que a sua comunidade científica e a sua reconhecida capacidade de inovação, encontrem rapidamente uma solução para esta pandemia.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

A pandemia também já chegou ao alto-mar

Nos últimos dias surgiram notícias do aparecimento do covid-19 em dois grandes porta-aviões, primeiro no USS Theodore Roosevelt e, agora, no porta-aviões nuclear francês Charles De Gaulle.
O Charles De Gaulle andava envolvido desde 21 de Janeiro em exercícios NATO no Atlântico Norte que, segundo informações divulgadas pela imprensa, visavam “a protecção dos estados bálticos”. Porém, nas últimas 48 horas, quando o navio se encontrava ao largo da costa portuguesa e segundo revelou o jornal Le Télégramme, verificou-se que quatro dezenas de tripulantes manifestaram sinais gripais que, de imediato, foram associados à pandemia de covid-19. O Ministério da Defesa anunciou o regresso do porta-aviões à sua base de Toulon como medida de precaução para os cerca de dois mil tripulantes e pilotos embarcados, enquanto a bordo foram adoptadas medidas de protecção semelhantes às que têm sido tomadas em terra. Entretanto, há um grande enigma nesta situação porque o navio escalou Brest entre os dias 13 e 15 de Março e, desde então, ninguém esteve em terra. Assim, no caso de serem positivos alguns dos quarenta casos considerados suspeitos, significa que o tempo de incubação do vírus covid-19 passa largamente os catorze dias que geralmente se pensava ser o seu limite máximo. On vera, dirão os franceses!
A notícia refere que o regresso do Charles De Gaulle à sua base de Toulon será mais sereno do que o regresso do porta-aviões americano USS Theodore Roosevelt à ilha de Guam, onde o seu comandante foi exonerado por ter divulgado publicamente que o covid-19 tinha infectado alguns dos seus homens, isto é, perante um problema semelhante, os franceses de Macron demarcam-se claramente dos americanos de Trump.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Usar ou não usar máscara de protecção

No meio das inúmeras polémicas que têm aparecido na esfera pública resultantes da ansiedade das pessoas e do desconhecimento sobre a natureza do vírus que por aí anda, a questão do uso ou não uso das máscaras de protecção está na ordem do dia.
Os asiáticos usam-nas por rotina desde há muito tempo, mas na Europa Ocidental tem havido alguma hesitação quanto ao seu uso.
Tanto quanto se sabe, o contágio por covid-19 é feito através de gotículas e secreções que saem da boca quando uma pessoa espirra ou tosse e, por isso, a máscara serve sobretudo para proteger as pessoas que se encontram ao redor de quem usa a máscara e, de forma indirecta, também servem para proteger quem a usa. No entanto, porque não há certezas absolutas nem provas científicas irrefutáveis quanto à evolução ou tratamento do covid-19, há espaço para todo o tipo de opiniões. Assim, uns acham que se deve usar máscara de protecção e outros acham que não. Enquanto alguns países já obrigam ou recomendam o uso da máscara, as autoridades sanitárias portuguesas continuam a considerar que “de acordo com a situação actual em Portugal, não está indicado o uso de máscara para protecção individual, excepto para os suspeitos de infeção por covid-19 e para as pessoas que prestem cuidados a suspeitos de infecção por covid-19”. Assim, até agora, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) não recomenda o uso da máscara de protecção às pessoas que não apresentem sintomas, até porque a máscara contribui para uma falsa sensação de segurança e a sua eficácia obriga a que seja trocada com regularidade, o que provavelmente não é feito pela generalidade dos que a usam. Por isso, até novas recomendações da DGS, continuarei a cumprir as regras básicas da higiene e do distanciamento social, mas sem usar máscara de protecção.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Há alguns sinais positivos no horizonte


Os sinais que nos últimos dias nos chegam da Itália, de França e da Espanha, mas também de Portugal, são animadores, isto é, parece que o covid-19 está a ser contido e que as medidas de confinamento adoptadas estão a produzir resultados. 
Esses sinais estão inscritos na imprensa desses países e embora ainda estejamos no plano da catástrofe humanitária, da depressão económica profunda e de uma crise social como a nossa geração não conhecera, o jornal francês La Dépêche diz que há “enfim, um pouco de esperança”, enquanto o jornal catalão el Periódico diz que “el virus desacelera” e que “Italia también frena el contagio”. No entanto, há ainda alguns outros jornais que sustentam a mesma opinião.
Ainda será cedo para perceber a evolução da pandemia e, nesta altura em que tanto se fala da curva, ninguém sabe como ela vai evoluir e se tem um ou mais picos, mas os sinais que são hoje transmitidos pela imprensa são muito encorajadores. Além disso, temos visto como aqueles que estão na primeira linha de luta contra o vírus se comportam com extrema dedicação e nos transmitem confiança, apesar das faltas de material de protecção sanitária que, como se observa nas declarações televisivas, são uma constante em todos os países. Por isso aqui fica o lamento pelo triste papel a que se têm prestado os bastonários dos médicos e dos enfermeiros, ao assumirem um corporativismo primário na denúncia das faltas de máscaras, de luvas, de fatos, de ventiladores e não sei de que mais, como se fosse possível que algum país tivesse tudo isso na emergência que nos afecta. O que nos vale são os profissionais que estão na primeira linha e estes sinais positivos que se vislumbram no horizonte.

A ganância dos homens em tempo de crise

No meio das preocupações e incertezas com que o mundo está confrontado, há muita gente que se aproveita da situação para fazer negócios e para mostrar uma grande irresponsabilidade social. Um caso que aconteceu com um empresário de Santiago de Compostela mereceu hoje destaque de primeira página no jornal El País e em outros jornais espanhóis, ilustrando a forma como actuam os gananciosos.
Esse indivíduo acedeu a um armazém de uma empresa de distribuição de produtos sanitários e roubou material avaliado em cinco milhões de euros, incluindo milhões de máscaras de máxima protecção, daquelas que têm faltado aos profissionais da saúde que estão na primeira fila do combate à pandemia. Além das máscaras, foram também roubadas luvas cirúrgicas, calças e uniformes sanitários, kits de medicamentos e álcool. O objectivo deste roubo seria a venda deste material em Portugal e, segundo pensa a investigação, terá tido êxito.
O caso terá acontecido em Fevereiro quando o coronavírus já ameaçava a Espanha e já havia um alerta sanitário, pelo que as autoridades galegas detiveram o referido empresário que “estava plenamente consciente” de que aquele material iria ser necessário.
Tendo investigado o local da ocorrência, a polícia apenas encontrou uma enorme quantidade de caixas vazias e algum material de menor valor, tendo sido a fotografia desse armazém que ilustrou as capas de vários jornais. A notícia informa que as autoridades galegas, em colaboração com as autoridades portuguesas, estão a investigar a rede envolvida nesta prática ilícita e criminosa.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Europa Ocidental está no olho do furacão

O jornal espanhol ABC destaca em primeira página na sua edição de hoje as fotografias dos primeiros-ministros de seis países da Europa Ocidental, com a indicação das percentagens de apoio popular que as suas medidas de combate à pandemia do covid-19 têm suscitado. Apesar de ser um assunto interessante, é de lamentar que o jornal tenha evidentes e inoportunos objectivos políticos contra Pedro Sánchez, porque ao mostrar que ele tem o mais baixo apoio de entre todos os líderes da Europa Ocidental, acaba por se colocar num patamar crítico e de fora de uma união nacional que nesta altura é essencial para ultrapassar a grave situação por que passa a Espanha. Não é a altura de atacar primeiros-ministros. Inversamente, António Costa surge nesta apresentação como o líder com mais apoio popular da Europa Ocidental, com a particularidade de ter os apoios do principal partido da oposição e de uma muito larga maioria parlamentar.
O facto é que a pandemia assentou arraiais nesta faixa do continente europeu e que a Europa Ocidental está no olho deste furacão. Nos seis países considerados, verifica-se que, segundo os números mais recentes, já houve 43.419 óbitos em consequência do covid-19, repartidos por Itália (15.887), Espanha (12.641), França (8.078), Reino Unido (4.934), Alemanha (1.584) e Portugal (295). Como até agora estão contabilizados 65.509 óbitos em todo o mundo devidos ao covid-19, significa que nestes seis países da Europa Ocidental aconteceram 66% dessas fatalidades. Os países que desde o século XVI dominaram o mundo e que, provavelmente, têm os mais elevados índices civilizacionais da humanidade, são aqueles que mais estão a sofrer com a pandemia do covid-19
Já apareceram algumas teorias explicativas, mas nenhuma delas parece convincente. Será uma consequência de estilos de vida? De hábitos de consumo? De práticas de higiene? Ora aí está mais um tema a merecer a atenção da investigação científica, até porque pode ajudar a resolver ou a atenuar o problema.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Crise e desemprego ameaçam a América


A imprensa norte-americana destaca hoje que, em apenas duas semanas, o país criou dez milhões de desempregados, como consequência da crise do covid-19, numa altura em que os Estados Unidos já são o país do mundo com mais infectados e em que ainda se desconhece o que ainda está para vir. 
O jornal New York Post ilustrou a sua primeira página com um apelo de alguém que empunha um cartaz com a frase “out of work” e em que o chapéu do tio Sam, que tantas vezes tem simbolizado o poder americano, está abandonado sobre uma mesa, significando que se aproximam dias muito difíceis para os Estados Unidos e para os seus desempregados. 
O país parece caminhar a passos largos para uma situação de calamidade económica e social, como só aconteceu na grande depressão de 1929. É certo que, em maior ou menor escala, o cenário americano não difere dos cenários que se desenham em alguns países europeus, mas na depressão americana que se avizinha, a arrogância e a ignorância do presidente Trump tiveram um papel determinante ao desvalorizar a aproximação da pandemia e ao imaginar que os seus efeitos sanitários e económicos não chegariam à América. Daí resultou um atraso na resposta à pandemia e aos alarmantes números a que já se chegou – 274.987 infectados e 7.065 mortes – que estão a conduzir o presidente dos Estados Unidos para um descrédito interno e de irresponsabilidade de que dificilmente sairá. 

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Wimbledon também fica para mais tarde


Alguns dos grandes acontecimentos desportivos previstos para o corrente ano já foram adiados devido à actual pandemia de covid-19, assim acontecendo com os Jogos da XXXII Olimpíada – Tóquio 2020, que é o maior evento desportivo do ano.
Porém, a decisão agora tomada pela direcção do All England Club e pela comissão de gestão do The Championships, ao anunciarem o cancelamento do histórico Torneio de Wimbledon de 2020, teve também um enorme impacto mediático devido ao simbolismo daquele torneio, conforme evidencia hoje a capa do jornal desportivo francês L’Équipe.
O Torneio de Wimbledon realiza-se desde 1877 e é uma das provas desportivas mais antigas do mundo, estando previsto que se realizasse entre os dias 29 de Junho e 12 de Julho, mas as preocupações com a saúde pública devidas à actual pandemia levaram a organização a adiar a 134ª edição do torneio para 2021. É a terceira vez que isso acontece, pois entre 1915 e 1918 (1ª Guerra Mundial) e entre 1940 e 1945 (2ª Guerra Mundial), o torneio também não se realizou.
As novas datas estão definidas e o torneio decorrerá entre os dias 23 de Julho e 8 de Agosto de 2021. No torneio agora adiado, ainda estava prevista a participação de Roger Federer que é o recordista do torneio com oito vitórias e de Serena Williams que tem sete vitórias, rembora a recordista seja Martina Navratilova com nove vitórias. Porém, no próximo ano ambos terão 39 anos de idade e os anos não perdoam...
Curiosamente, o Open dos Estados Unidos que se prevê realizar entre 31 de Agosto e 13 de Setembro de 2020 em Flushing Meadows, na cidade de Nova Iorque, ainda não foi adiado, o que mostra como os americanos ainda não assumiram a gravidade da pandemia que também já entrou no país e, sobretudo, no estado de Nova Iorque.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O novo mundo da tecnologia já chegou


Meio mundo está em quarentena e, nesse quadro, as comunicações electrónicas adquiriram uma importância que, embora seja inesperada, tem surpreendido. Muitas actividades quotidianas deixaram de exigir a presença física das pessoas e a quantidade de funções que passaram a depender da internet e da world wide web são incontáveis. Na na situação de emergência por que passamos, generalizou-se a adopção de computadores e dos seus derivados. Mesmo os mais irredutíveis cidadãos começam a render-se ao novo mundo porque, através do computador, escrevemos e guardamos textos, podemos ter música e cinema, mas também o teletrabalho, a teleconferência, a telescola, o home banking e inúmeras App, o que significa um novo mundo de eficiência, mas também de maior desumanização. Os novos reis da comunicação são o WhatsApp, o Skype, o Facebook, o Instagram, o Twitter, o Google+ e o Youtube. Num pequeno equipamento de 14 por 7 centímetros, ou mesmo mais pequeno, que pode custar menos de cem euros, podemos ligar-nos ao mundo e telefonar, escrever, ver filmes, mandar mensagens, fotografar, filmar, pagar despesas, ter consultas médicas, comprar livros, encomendar provisões ou refeições e muitas mais coisas que muitas vezes até desconhecemos.
Com os dias de quarentena e de confinamento, as nossas casas estão a tornar-se verdadeiros home offices, de onde cada um de nós telefona, recebe e envia mensagens, conferencia, consulta o banco, paga facturas, marca consultas médicas, recebe as compras dos supermercados, visita bibliotecas e museus, compra livros e discos e faz muitas mais coisas. As habituais idas ao multibanco e ao supermercado tendem a ser desnecessárias. Esta quarentena está mesmo a acelerar a chegada de um novo mundo da tecnologia. Estamos realmente a entrar na era do home office como hoje referia uma revista brasileira.