Provavelmente, a
França é o país do mundo onde mais se protesta, muitas vezes de forma violenta,
talvez porque o vírus revolucionário de 1789 ainda continua activo...
O protesto dos
franceses pode ser mais ou menos justo, mas é sempre de grande intensidade
mobilizadora para agricultores, operários metalúrgicos ou estudantes, com a marca
do Maio de 1968 a permanecer viva nos espíritos, tanto pela sua origem e
natureza, como pela sua repercussão mundial.
Mais recentemente aconteceu o ”Mouvement
des Gilets jaunes” a queixar-se da inflação e do custo de vida e, agora, surgiu
o movimento dos agricultores franceses que, aos milhares, estão a marchar para
Paris, entupindo a maioria das grandes estradas, ameaçando paralisar Paris e a
própria França.
A França é o
maior produtor agrícola da Europa e o actual protesto dos agricultores assenta em motivações
internas relacionadas com os custos de produção e os efeitos inflacionistas,
assim como com a quebra de rendimentos, as baixas pensões, o excesso de
regulamentações e de burocracia, o fim dos benefícios fiscais para a compra do
gasóleo agrícola e, em grande medida, com a concorrência estrangeira. Os agricultores franceses
protestam contra as importações de bens agrícolas vindas da Ucrânia, um tema
que também afecta os polacos e os romenos, que estão a deixá-los muito descontentes por considerarem tratar-se de protecionismo
injustificado e concorrência desleal. Da mesma forma, as negociações da União
Europeia com o Mercosur, a comunidade económica da América do Sul, também preocupam
os agricultores franceses.
Embora de forma
algo metafórica, o jornal Le Télegramme, que é o principal
diário da Bretanha, destacava na sua edição de ontem que “Paris estava
cercada”. Ainda não está, mas as movimentações dos agricultores franceses parecem já estar a contagiar
outros países da União Europeia.