terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O ano de 2019 em revista


O ano de 2019 termina hoje e o JTM - Jornal Tribuna de Macau tratou de o passar em revista, destacando na sua primeira página alguns acontecimentos importantes da vida da Região Administrativa Especial de Macau.
A circunstância de se tratar de um dos jornais macaenses que utiliza a língua portuguesa já é relevante, mas essa relevância é acrescida com a publicação das fotografias que, no domínio do património, simbolizam uma importante parcela da herança cultural portuguesa em Macau, isto é,  as fachadas da igreja jesuíta de São Paulo e da Santa Casa da Misericórdia. A revista do ano trata ainda de outros temas e, fotograficamente, destaca a recente visita do presidente Xi Jinping por ocasião das comemorações do 20º aniversário da transferência de Macau da soberania portuguesa para a soberania chinesa, assim como a visita de 21 horas que Marcelo Rebelo de Sousa fez a Macau do dia 30 de Abril para o dia 1 de Maio.
A fotografia do Presidente da República de Portugal é expressiva do seu incontrolado populismo, que é bem maior que a sua alta popularidade. Lá estão as selfies e os abraços a que, por motivos óbvios, faltam as declarações que faz por tudo e por nada, que se tornaram na sua imagem de marca cada vez mais insuportável.
Às suas reconhecidas qualidades pessoais de inteligência, cosmopolitismo e cultura, o Presidente da República tem acrescentado um incontrolado apetite pela popularidade, traduzida num gosto por aparecer e por ser visto, ou de falar para os microfones dos estagiários, que estão a tornar este seu primeiro mandato presidencial numa canseira para quem vê televisão. Era bom que corrigisse esta sua enorme ânsia populista porque nem ele, nem os portugueses, precisam dela. 
O ano de 2019 termina hoje e daqui se deseja um ano de 2020 com paz, progresso e estabilidade para a comunidade, mas também com muita saúde para quem visita a ruadosnavegantes.

domingo, 29 de dezembro de 2019

O futebol e os treinadores portugueses

O diário francês L’Équipe anuncia hoje o despedimento do treinador da equipa de futebol da Association Sportive de Monaco Football Club, conhecida simplesmente como Mónaco. Esse treinador era o português Leonardo Jardim. 
Jardim tem um palmarés futebolístico notável pois já foi campeão na Grécia e em França, mas a escassez de vitórias no clube monegasco ditaram o seu despedimento. No turbulento mundo do futebol os diversos interesses em presença, incluindo os adeptos, os patrocinadores, os investidores e muitos outros agentes que se movem nesse circo, exigem vitórias às suas equipas e quando elas não acontecem os treinadores são despedidos, embora quase sempre com chorudas indemnizações. Curiosamente, embora de sinal contrário, também um jornal brasileiro anuncia hoje a contratação do treinador português Jesualdo Ferreira, o que mostra que a vida dos treinadores de futebol é um corrupio de instabilidade entre contratações e despedimentos, ou entre entradas e saídas.
Porém, estes dois casos recordam-nos que os treinadores de futebol portugueses estão na moda e são contratados um pouco por todo o mundo. Tanto quanto julgo saber há treinadores portugueses em França, na Inglaterra, na Itália, na Grécia, na Eslováquia, na Lituânia e na Ucrânia, mas também no Brasil, no México e  na Colômbia. Depois, também encontramos treinadores de futebol portugueses na China e na Coreia do Sul, na Arábia Saudita e no Qatar e, ainda, em Moçambique, Cabo Verde, Camarões e Argélia. Portanto, há pelo menos 18 países onde trabalham treinadores de futebol portugueses de primeiro plano. 
É claro que Portugal goza hoje de uma mais notoriedade e melhor imagem nos países onde estes treinadores trabalham e, naturalmente, também se espera que a economia portuguesa tire algum proveito da eventual importação de capitais, como contrapartida desta exportação de talentos.

sábado, 28 de dezembro de 2019

Exercícios navais do Irão, Rússia e China


A edição de hoje do diário Iran Daily anuncia com grande destaque que modernos navios do Irão, da Rússia e da China saíram do porto iraniano de Chabahar, iniciando quatro dias de exercícios navais no mar de Oman e na área norte do oceano Índico, com o objectivo de “melhorar a segurança do comércio marítimo internacional e combater a pirataria e o terrorismo”. O exercício foi baptizado com o nome de código Marine Security Belt e, segundo foi anunciado, vai incluir diversos exercícios tácticos, como tiro ao alvo, resgate de navios assaltados, combate a incêndios e outros exercícios combinados, mas na realidade trata-se de uma grande operação de comunicação em que a Rússia e a China mostram ao Ocidente e ao mundo que são aliados do Irão e que “o Irão não pode ser isolado”.
Para os Estados Unidos e para a sua política errática na região do Golfo este exercício multinacional conjunto mostra que, de facto, já existe uma coligação militar de apoio ao Irão e que a influência militar americana na região já não é o que era. Por isso, a repetida intenção de Donald Trump de hostilizar a República Islâmica do Irão e as suas frequentes ameaças de desencadear um ataque contra o seu território e as suas eventuais instalações de produção de engenhos nucleares, foram fortemente abaladas com a realização deste exercício e com a formalização desta forte aliança, sendo considerado que a diplomacia americana falhou no seu propósito de isolar internacionalmente o Irão, tal como falhara na tentativa de controlar a guerra na Síria. Porém, o que não deixa de ser preocupante para a paz no mundo é a forma como todos os grandes interesses se posicionam no Médio Oriente e no Golfo.

Jair Bolsonaro e a violência no Brasil


A escolha que os brasileiros fizeram para ocupar o Palácio do Planalto e servir o país como presidente tem-se revelado muito controversa ou errada, porquanto os estudos de popularidade mostram que 38% da população considera que Jair Bolsonaro e o seu governo são maus ou péssimos e que só 29% o consideram bom ou óptimo. Esta queda na popularidade de Jair tem-se acentuado nos últimos meses e a notícia agora divulgada pelo jornal O Globo sobre os registos para posse de armas de fogo vai certamente acelerar essa queda de popularidade.
Esses registos aumentaram 48% durante os primeiros onze meses do governo de Jair Bolsonaro, passando de 47,6 mil registos em 2018 para 70,8 mil registos desde Janeiro até Novembro de 2019, significando o registo médio de cinco armas de fogo em cada hora. Esse número só não é mais elevado porque o elevado preço de uma pistola ou revólver não é comportável com o poder de compra da maioria da população brasileira.
Os brasileiros armam-se e correm o risco de fazer do país um Far West dos tempos modernos em que tudo se resolve a tiro. É um enorme recuo civilizacional. A liberalização da posse e do porte de armas foi uma das promessas da campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018, para reduzir a violência no Brasil… um país em que, segundo o Fórum de Segurança Pública, se verificaram 57.341 assassinatos nesse mesmo ano de 2018. Com as medidas tomadas pelo governo de Bolsonaro e a proliferação de armas que agora se verifica também a preocupação da população brasileira cresce em relação ao aumento da violência num país, onde a insegurança e a taxa de homicídios é muito elevada.
O Brasil merecia uma orientação que privilegiasse a harmonia e não o confronto.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Um eclipse para ser visto na Ásia do Sul

Ocorreu ontem o último eclipse da década e apesar do fenómeno ter sido observado apenas numa faixa do nosso planeta entre a Arábia Saudita e as ilhas Guam, no oceano Pacífico, o jornal catalão ara foi um dos poucos jornais mundiais que relataram aquele evento astronómico e que hoje ilustraram a sua edição com expressivas imagens.
Tratou-se de um eclipse solar anelar em que a Lua, a Terra e o Sol se alinharam perfeitamente com a Lua a interpor-se entre a Terra e o Sol, “escondendo-o” da Terra e deixando ver apenas os seus contornos “incandescentes”.
O fenómeno é relativamente raro e é conhecido como “anel de fogo” devido ao círculo de luz com que se apresenta, tendo sido observado numa faixa de países da Ásia do Sul, Pacífico Ocidental e Oceania, designadamente na Arábia Saudita, Qatar, UAE, Oman, Índia, Sri Lanka, Malásia, Singapura, Indonésia, Austrália e Filipinas. 
As reportagens televisivas mostraram imagens do acontecimento nesses diferentes países onde foram colocados telescópios e televisores nas ruas e nos pontos mais elevados das cidades, para que as populações pudessem assistir ao fenómeno em segurança, mas também mostraram os milhares de pessoas que com óculos com filtros especiais acompanharam este evento. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Um Feliz Natal e um Bom Ano Novo


Estamos em plena época de Natal em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo. É uma grande festa religiosa em toda a Cristandade, embora também seja comemorada por muitas comunidades não cristãs, sendo assumido sempre como um período de paz e de harmonia entre os homens e de solidariedade entre os diferentes estratos sociais ou comunidades.
Além de festa religiosa, o Natal também é um feriado em muitas comunidades onde as populações e as famílias conservam práticas e costumes tradicionais, simbolizadas em elementos como o presépio, a árvore de Natal, uma gastronomia específica - que inclui o bolo-rei, as rabanadas, o bacalhau, o perú ou o polvo - o ritual da troca de presentes e de mensagens ou outras práticas culturais e religiosas. Porém, o presépio e a árvore de Natal são os símbolos maiores da época natalícia e decoram as casas para criar um cenário festivo apropriado, sobretudo para as crianças, mas também as ruas e as praças das cidades com luminosas e atraentes decorações.
Nos últimos tempos, a sociedade de consumo “inventou” o Pai Natal que, vindo das neves da Lapónia num trenó rebocado por renas, traz os presentes para as crianças. A moda pegou e o Natal deixou de ser a grande festa das famílias para, cada vez mais, se tornar no símbolo do despesismo e do consumo de inutilidades.
Porém, ainda há quem resista ao consumismo a que foi conduzido o Natal e celebre esta data como símbolo da harmonia entre todos os homens e da solidariedade para com os mais necessitados. Esse é, também, o meu Natal. Por isso, mesmo sem recorrer às fantasias do Pai Natal, aqui ficam expressos os meus votos de um Feliz Natal e um Bom Ano Novo para todos os que regularmente lêem ou comentam os textos publicados na ruadosnavegantes.

domingo, 22 de dezembro de 2019

A calamidade dos incêndios na Austrália

A edição de hoje do jornal The Sunday Telegraph que se publica em Sydney dedica a sua primeira página aos incêndios de enorme dimensão que estão a acontecer na Austrália. Embora os incêndios florestais sempre tenham feito parte da história australiana, verifica-se que nos últimos anos se tornaram mais frequentes e mais devastadores e, naturalmente, a situação australiana é mais um exemplo dos efeitos impressionantes do aquecimento global do nosso planeta.
Os piores incêndios que já ocorreram na Austrália verificaram-se em 2009 no estado de Victoria, mas os que actualmente alastram por todo o território australiano, em especial na costa oriental e nos estados da Nova Gales do Sul e de Queensland, estão em vias de bater todas as marcas históricas. De facto, a actual vaga de incêndios florestais começou em meados de Novembro, muito antes da temporada australiana de incêndios que tem início em Dezembro e se estende até Março, tendo já queimado um milhão de hectares de floresta, o que faz aumentar as preocupações das autoridades e da população australiana. Os arredores da cidade de Sydney estão sob ameaça e têm sido invadidos por intensos fumos que, de resto, já atravessaram o oceano Pacífico e chegaram à Argentina a cerca de 12 mil quilómetros de distância!
A passada quarta-feira, dia 18 de Dezembro, entrou para a história australiana como o dia mais quente de sempre, com as temperaturas máximas médias a atingir os 41,9 graus. No dia anterior, a cidade de Nullarbor foi o local onde se registou a mais elevada temperatura que atingiu 49,9 graus, quando a temperatura máxima média do país foi de 40,9 graus.
O jornal The Sunday Telegraph veicula as apreensões das populações australianas em tempo de Natal.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A morna : de Cabo Verde para o mundo

Depois de em 2009 ter visto o centro histórico da cidade da Ribeira Grande, conhecido como Cidade Velha, ser classificado pela Unesco como património da Humanidade, a República de Cabo Verde viu agora aprovada a candidatura da morna a património cultural imaterial da Humanidade.
A morna é um género musical típico e é considerada a música-rainha de Cabo Verde, sendo uma mistura de estilos musicais com fortes raízes africanas e com influências da modinha luso-brasileira. É geralmente acompanhada por viola, cavaquinho, violino e piano, mas o instrumento clássico da morna é o violão, introduzido em Cabo Verde no século XIX.
Segundo um texto divulgado pela comissão de candidatura, a morna é uma canção melancólica “interpretada em crioulo cabo-verdiano por uma voz solista, homem ou mulher, apesar de existirem mornas apenas instrumentais, versando temas lírico-passionais e sendo muito vinculada ao sentimento do amor, ao sofrimento, à saudade, à ternura, à tristeza, à ironia e à boa ou má sorte do destino individual”.
Durante muitos anos a morna esteve confinada ao arquipélago de Cabo Verde e era pouco conhecida no exterior, até que surgiu Cesárea Évora que internacionalizou a morna cabo-verdiana. Por isso, o semanário Expresso das Ilhas ilustrou a primeira página da sua última edição com a fotografia de Cesárea, a rainha da morna que faleceu em 2011. Para quem ouviu a morna ser cantada no Mindelo há mais de cinquenta anos e depois viu Cesárea Évora actuar em Lisboa algumas vezes, a sua classificação pela Unesco é um motivo de grande satisfação e de aplauso.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O Donald acusado e a América a tremer


Pela terceira vez em 243 anos da história dos Estados Unidos a sua Câmara dos Representantes acusou formalmente o Presidente com vista à sua destituição do cargo, ao aprovar ontem dois artigos de destituição, um por “abuso do poder” e outro por “obstrução à justiça”. O primeiro artigo de destituição era relativo ao abuso de poder e teve o voto favorável de 230 e a desaprovação de 197 deputados da Câmara dos Representantes, enquanto o segundo artigo que era relativo à obstrução à justiça, teve 229 votos favoráveis e 198 votos desfavoráveis. 
Os grandes jornais americanos encheram as suas primeiras páginas com a frase Trump impeached e o processo segue agora para o Senado que tem competência exclusiva sobre o assunto e avaliará se o Presidente dos Estados Unidos deve ou não ser demitido do seu cargo, isto é, fará o julgamento de Donald Trump. O Senado é presidido pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça e é composto por uma centena de senadores que actuam como jurados, mas é necessária uma maioria de dois terços dos senadores (67 em 100) para que as suas decisões sejam efectivas. Porém, a maioria republicana do Senado irá certamente rejeitar a acusação e “salvará” Donald Trump.
O processo nasceu da eterna luta entre Republicanos e Democratas, sobretudo quando se aproximam as eleições presidenciais de 2020, a que se juntou o particular comportamento populista e mentiroso de Donald Trump, mas o pretexto mais próximo foi a campanha de pressão montada sobre o presidente da Ucrânia, na qual Trump é acusado de pressionar ou “exigir” que fosse anunciada a abertura de investigações contra os Democratas americanos e em especial contra Joe Biden, que é um dos possíveis adversários de Trump nas eleições de 2020.
Naturalmente, pouco se pode esperar deste julgamento, mas o facto é que a reduzida credibilidade do Donald tem feito tremer o prestígio das instituições democráticas americanas.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Salvador e a Baía: história e modernidade


A cidade de Salvador é a capital do estado brasileiro da Bahia e foi fundada por Tomé de Sousa na orla de uma grande baía, onde chegou em 1549 com três naus, duas caravelas e um bergantim que tinham saído de Lisboa com um milhar de colonos, soldados e missionários, com ordens do rei de Portugal para fundar uma cidade-fortaleza que seria baptizada como São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Até 1763 a cidade foi a sede da administração colonial portuguesa, tendo sido depois transferida para a cidade do Rio de Janeiro.
Hoje, a cidade de Salvador é a sede do terceiro município mais populoso do Brasil com cerca de 2,6 milhões de habitantes, só ultrapassado por São Paulo e Rio de Janeiro, sendo conhecida pela sua arquitectura colonial portuguesa, pela sua cultura marcadamente afro-brasileira e pelas suas características climáticas e paisagísticas tropicais.
A grande baía de Todos-os-Santos é limitada a oriente pela cidade de Salvador e a ocidente pela ilha de Itaparica, que tem 239 km2 de superfície, isto é, a ilha de Itaparica fica em frente da cidade de Salvador, do outro lado da baía, a cerca de 13 km de distância. Dizem os roteiros que os ferry-boats demoram uma hora nessa travessia. Porém, o governador Rui Costa anunciou ontem que um consórcio integrando três empresas chinesas venceu o concurso para a construção de uma ponte Salvador-Itaparica num investimento de seis mil milhões de reais, dos quais 25% serão da responsabilidade do Estado. É o maior projecto de infraestruturas realizado no Brasil nos últimos anos e, com 12,3 km de extensão, a ponte será a segunda maior da América Latina. O consórcio terá um ano para elaborar o projecto e quatro anos para a sua construção, ficando com a gestão e administração do empreendimento por 30 anos. 
A cidade de Salvador e o Estado da Bahia, bem como cerca de dez milhões de pessoas, já estão em festa e a nova ponte vai seguramente inspirar o Carnaval baiano, como hoje sugere o jornal Tribuna da Bahia.

sábado, 14 de dezembro de 2019

A vitória de Boris, o Brexit e o futuro


Boris Johnson ganhou as eleições britânicas com uma larga maioria e, ao contrário do que sucedeu com David Cameron ou Theresa May, seus antecessores como primeiros-ministros do Reino Unido, ele não vai precisar de alianças para governar, até porque não se espera que os deputados agora eleitos pelo seu Partido Conservador venham a desafinar depois desta vitória. 
Por consequência, todas as portas que conduzem à concretização do Brexit estão abertas de uma forma inequívoca e agora só há que esperar para ver até onde vão o voluntarismo e as promessas de Boris Johnson que só teve 43,6% dos votos, mas beneficiou do sistema eleitoral britânico, das hesitações do seu adversário principal que se ficou pelos 32,2%, do cansaço dos eleitores e do seu marketing que até o levou a votar acompanhado pelo cão que, num gesto ensaiado, beijou para que as câmaras fotográficas registassem o momento e que essa fotografia fosse depois publicada por alguns jornais como fez o The Times
Boris Johnson revelou-se, portanto, um verdadeiro artista a ganhar eleições, embora haja dúvidas quanto à sua aptidão para desempenhar o cargo de primeiro-ministro, embora provavelmente venha a ficar na história do Reino Unido ao lado de Winston Churchill e de Margaret Thatcher. O Brexit tem agora uma legitimidade que antes não tinha para ser concretizado, mas o seu processo vai ser muito turbulento, não só pela divisão entre os que querem a saída com ou sem acordo mas, sobretudo, pela séria ameaça de fragmentação que paira sobre o Reino Unido. A clara vitória de Boris Johnson teve, paralelamente, uma clara vitória de Nicola Sturgeon que, de imediato, declarou que a Escócia não quer o Boris, nem o Brexit. Portanto, apesar do sinal político que os britânicos deram quanto ao seu futuro, é bem possível que a novela do Brexit ainda esteja longe do fim.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

O negócio da droga e os narcosubmarinos

A Marinha de Guerra do Perú capturou no passado sábado, pela primeira vez na sua história, um narcosubmarino com cerca de duas toneladas de cocaína que tinha como destino os Estados Unidos, enquanto há duas semanas tinha sido capturado na Galiza um outro narcosubmarino com três toneladas de cocaína. Duas capturas em tão curto espaço de tempo, colocaram essas máquinas na agenda mediática internacional.
O Perú é o segundo maior produtor mundial de cocaína, estimando-se uma produção anual de 400 toneladas em 50 mil explorações ilícitas, pelo que a recente captura veio revelar a utilização de narcosubmarinos de uma forma mais intensa do que a opinião pública pensava. O jornal El Comércio, que se publica em Lima, destacou a fotografia do narcosubmarino apreendido e uma extensa reportagem com o historial da utilização dos narcosubmarinos pelos traficantes. Segundo essa reportagem, o primeiro semisubmersível foi descoberto em 1993 na ilha colombiana de Providencia e era muito rudimentar, tendo sido apenas em 2011 que as autoridades colombianas capturaram o primeiro verdadeiro narcosubmarino, com cerca de 30 metros de comprimento, possibilidade de transportar quatro tripulantes e com sistema de ar condicionado e cozinha. Porém, oito anos depois, as recentes capturas nas costas peruanas do Pacífico e nas costas espanholas depois da longa travessia do Atlântico, mostram que houve uma grande evolução tecnológica nos narcosubmarinos. Segundo a reportagem, os narcosubmarinos são construídos nas selvas do Surinam e da Guiana, custam 1,5 milhões de dólares cada um e servem apenas para uma viagem, enquanto os seus tripulantes recebem um curso rápido antes de realizar qualquer missão. Calcula-se que cerca de 50% da produção mundial de cocaína é transportada por via marítima e que os traficantes apostam cada vez mais nos narcosubmarinos como o método de transporte mais efectivo das suas cargas.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Os vulcões e as turbulências vulcânicas

O vulcão da ilha Branca ou ilha Whakaari, que se localiza a cerca de cinquenta quilómetros da orla costeira oriental da Ilha Norte da Nova Zelândia, entrou em erupção há dois dias. A ilha tornou-se uma propriedade privada em 1953 e é desabitada, mas apesar de ter um vulcão activo tornou-se um lucrativo negócio para o seu proprietário pois recebe mais de dez mil turistas por ano, havendo viagens diárias à cratera do vulcão. Desta vez os turistas foram surpreendidos com a súbita e violenta erupção do Whakaari e, segundo revelou a primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern, na altura da erupção havia 47 pessoas na ilha. Os serviços de protecção civil desencadearam imediatas operações de socorro com sete helicópteros que resgataram a maioria dos turistas muito feridos e com extensas queimaduras, havendo contudo seis mortos confirmados e ainda haja oito desaparecidos.
A imprensa internacional deu grande destaque à erupção vulcânica que aconteceu na Nova Zelândia e, entre outros jornais, o The New York Times publicou uma expressiva fotografia da ilha Branca e do seu vulcão.
Porém, apesar das imagens do vulcão que nos chegam pelas televisões, a nossa atenção está concentrada na costa ocidental da Europa, onde se verifica uma turbulência quase vulcânica. Em Portugal há um orçamento do Estado para aprovar, com a inevitável pressão das corporações e dos sindicatos, em Espanha revela-se cada vez mais complexa a tarefa de formar um governo em face da natureza das dificuldades, em França contesta-se nas ruas a proposta de reforma do sistema de pensões que visa juntar 42 regimes especiais de reforma num sistema universal e, finalmente, no Reino Unido vamos ter as eleições que poderão resolver, ou não, o já estafado problema do Brexit. Ora aqui estão situações de turbulência quase vulcânica que nos estão bem próximas.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Lisboa e as habituais decorações do Natal


Há três dias fotografei o Arco da Rua Augusta e as decorações natalícias que ornamentam aquela rua, cada vez mais movimentada sobretudo depois do turismo ter descoberto a cidade de Lisboa e a tornou num centro internacional de cosmopolitismo.
Os contrastes da fotografia agradam-me, bem como a simplicidade dos enfeites de Natal que se aproxima e a visão da estátua de Dom José I, mirando o estuário do rio Tejo, tudo sugerindo um ambiente calmo e acolhedor que, contudo, é só aparente. De facto, o movimento naquela rua é intenso como nas estações do metropolitano na hora de ponta. O turismo está a transformar a cidade e até induziu a modernização do comércio e o marketing/comunicação que a acompanha, pelo que a Rua Augusta se encheu de uma sinalética adaptada ao turista e de tabuleiros de pastéis de nata ou de pastéis de bacalhau com queijo, para além das muitas camisolas do Cristiano Ronaldo.
Nos últimos anos, o turismo tem estado a atingir níveis que se aproximam do insuportável, mas tem sido ele que tem sustentado o crescimento da economia portuguesa e tem apoiado a convergência com a média da União Europeia, daí resultando também que a prosperidade bateu à porta de muita gente. É um modelo de geometria variável e não se sabe quanto tempo vai durar.

A mudança climática já afecta o rio Tejo


O jornal Hoy que se publica em Badajoz destaca na primeira página da sua edição de hoje uma fotografia do chamado Embalse de Alcántara e escreve como título-legenda a frase - el cambio climático ya está aquí - acrescentando que a face mais visível do aquecimento global nesta região da Extremadura são as azinheiras que florescem em Dezembro, os sobreiros que estão em situação crítica, a significativa redução da passarada nos campos, o regresso de insectos que trazem vírus e a magreza dos animais devido à sua má alimentação e à sede. Porém, conforme mostra a fotografia publicada, é a falta de água a característica principal da situação por que passa a Extremadura e, em especial, a província de Cáceres, onde as temperaturas médias subiram 1,5 graus em relação aos registos do período de 1961 a 1990.
A barragem ou embalse de Alcántara foi construída no curso do rio Tejo a cerca de uma dezena de quilómetros da fronteira portuguesa e foi concluída em 1969, situando-se a cerca de 600 metros para montante da famosa ponte romana de Alcántara. A finalidade específica da barragem é a produção de energia eléctrica e, quando da sua construção, era a segunda maior reserva de água da Europa. Naturalmente, a barragem regula grande parte do caudal do rio Tejo, que é o maior rio da península Ibérica e esse é um problema que tem sido constantemente assinalado em Portugal, onde a falta de água no caudal do rio Tejo também está a originar grandes transformações e muitas preocupações. As autoridades portuguesas anunciam regulares consultas com as autoridades espanholas por causa do caudal do Tejo. Há que estar atento, negociar e pressionar nuestros hermanos. Nessa matéria não é necessária a acção da irritante Greta Thunberg, nem dos seus apoiantes.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Angela Merkel repudia a barbárie nazi


Ao fim de 14 anos à frente do governo alemão, a chanceler Angela Merkel visitou ontem pela primeira vez o campo de Auschwitz-Birkenau, onde foram assassinadas mais de um milhão de pessoas e que foi o maior campo de extermínio do regime nazi, de entre os mais de mil campos de concentração nazis espalhados pela Europa.
O campo de morte de Auschwitz fica situado em território polaco a cerca de 70 quilómetros da cidade de Cracóvia e foi construído depois da invasão da Polónia pelas tropas de Hitler em 1939, primeiro como campo de concentração (Auschwitz I) e depois, num outro local das proximidades, como um campo de extermínio (Auschwitz II-Birkenau). Nesses campos foram internados e assassinados muitos milhares de prisioneiros políticos do exército polaco, membros da resistência, intelectuais, homossexuais, ciganos e, sobretudo, judeus. No início de 1945, com a aproximação das tropas russas, os campos de Auschwitz foram abandonados, mas quando no dia 27 de Janeiro de 1945 os soldados russos entraram em Auschwitz ainda puderam libertar alguns prisioneiros
Angela Merkel vestiu de preto e disse sentir “uma profunda vergonha pelos crimes bárbaros cometidos pelos alemães”, durante uma visita em que foi acompanhada pelo primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki. Fez-se acompanhar também pela televisão para que a Alemanha e o mundo ouvissem as suas palavras de repúdio pelas atrocidades e barbaridades cometidas pelo regime nazi e, para “manter a memória viva” dos bárbaros crimes então cometidos, fez uma doação de 60 milhões de euros para ajudar a conservar o local onde os nazis construíram o seu maior campo de morte. Porém, como foi possível governar 14 anos sem ter conhecido Auschwitz e as suas lições? No entanto, mais vale tarde do que nunca.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

O que diz Marcelo… é muito, é demais!


O jornal hojemacau destacou na sua edição de ontem a figura de Marcelo Rebelo de Sousa e esse facto demonstra o prestígio de Portugal e do seu Presidente da República numa terra tão distante, onde flutua  a bandeira chinesa. Numa conferência realizada em Lisboa comemorativa do 20º aniversário da transferência da soberania de Portugal para a República Popular da China e da criação da Região Administrativa Especial de Macau, o Presidente afirmou que nenhuma mudança de contexto mundial, regional ou outra, pode pôr em causa o quadro jurídico de Macau e a solução encontrada em 1999 para a soberania do território, que deve ser respeitada em todas as circunstâncias. Além disso, na sua intervenção o Presidente da República aludiu às peculiares características de Macau como polo onde se cruzaram culturas, línguas, tradições e, de uma forma especial, referiu a presença da língua portuguesa naquele território da Ásia Oriental.
Esta declaração, apesar de estar em linha com idênticas declarações dos seus antecessores, acontece numa altura em que estão a ocorrer graves problemas no vizinho território de Hong Kong que, tal como Macau, também tem um estatuto de Região Administrativa Especial e, certamente por isso, foi destacada pelo hojemacau que reafirmou o apreço unânime dos macaenses e dos portugueses de Macau por Marcelo Rebelo de Sousa.
Provavelmente, por cá as coisas começam a ser diferentes em relação ao Presidente da República, pois o elevado apreço popular que inteligentemente conquistou parece começar a declinar. É a lei da vida, isto é, tudo o que sobe, mais dia menos dia também desce. É a consequência da banalização do corrupio em que anda, indo a toda a parte e fazendo declarações sobre tudo e mais alguma coisa, distribuindo abraços, afectos e condecorações. Os seus incondicionais apoiantes já dão sinais de cansaço e há muito menos selfies. Ele não consegue fugir dos microfones, nem dos jornalistas estagiários que o seguem. Fala de economia e de finanças públicas, de ambiente e de futebol, de obras públicas e de clima, de regionalização e de coesão social, de carreiras médicas e de gente sem-abrigo. Fala de tudo. É tempo de ser mais contido. O excesso de popularidade pode ter efeitos perversos.

O mundo da arte contemporânea é louco


Está a decorrer a edição americana da Art Basel Miami, uma feira internacional de arte com fins lucrativos que se realiza anualmente em Miami Beach, em Basileia e em Hong Kong, na qual participam artistas consagrados e emergentes de todo o mundo. Segundo revela a organização estão presentes cerca de duas centenas de galerias de referência mundial no campo da arte moderna e contemporânea, que apresentam o trabalho de cerca de quatro mil artistas e divulgam a nova geração de artistas emergentes, através de pinturas, esculturas, instalações, fotografias, filmes e outras obras da mais alta qualidade.
Até aqui tudo parece normal, porque nas questões da arte e da cultura há sempre públicos que gostam e públicos que não gostam. Porém, este ano em Miami, parece que todos os limites foram ultrapassados, como revela o jornal New York Post ao mostrar uma banana colada a uma parede com uma vulgar fita adesiva e que foi posta à venda por 120.000 dólares. “O mundo da arte enlouqueceu”, escreveu o jornal na sua primeira página. O autor deste atentado ao bom senso e à própria ideia de arte que intitulou “Comediante”, é um italiano de 59 anos de idade de nome Maurizio Cattelan. A “obra” utilizou uma banana comprada num supermercado de Miami, mas o “artista” não deu quaisquer instruções sobre o que fazer quando a banana começar a apodrecer. No entanto, a “obra” foi vendida a uma francesa pela quantia de 120.000 dólares e perante este sucesso, Cattelan produziu mais duas edições, sendo uma para um francês por um preço não revelado e uma outra destinada a um museu pelo preço de 150.000 dólares.
Esta notícia deixa-me estarrecido, embora certas instalações apresentadas na Fundação Gulbenkian, que é a maior catedral da arte contemporânea em Portugal, já antes me tivessem levado à perplexidade. A loucura e a insensatez parece que também chegaram às artes. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Uma cimeira da NATO cheia de polémica


Está a decorrer em Londres uma cimeira para assinalar o 70º aniversário da criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), de que Portugal é um dos doze países fundadores. Com 70 anos de idade e com um mundo tão diferente do que era em 1949, a organização precisa de ser repensada, porque tendo vivido cerca de cinquenta anos com um adversário de referência que era a União Soviética e de ter alimentado a sua coesão em torno da chamada Guerra Fria, parece ter chegado agora a um túnel sem saída.
O alargamento da NATO aconteceu em circunstâncias conjunturais e com objectivos pouco claros. A NATO transformou-se numa arca de Noé e chegou aos 29 membros, o último dos quais é a República do Montenegro, o que mostra que a ideia inicial da Aliança Atlântica foi ultrapassada e que até o seu nome precisa de ser reformulado.
O envolvimento na guerra do Afeganistão é um bom exemplo do desnorte da NATO e da forma como a organização segue os interesses americanos que, aparentemente, querem ser os polícias do mundo mas que não dispensam o apoio político e até o envolvimento directo dos seus aliados no terreno, mas muitos dos seus estados-membros não gostam deste procedimento hegemónico.
Nos últimos tempos as coisas azedaram-se porque acabou a Guerra Fria que tanto estimulava a coesão da NATO e porque o Donald entrou em cena ao criticar os seus aliados por terem gastos militares que se situam abaixo de 2% do respectivo produto nacional, pensando dessa forma “despachar a bom preço” muito material para os seus aliados. Depois decidiu retirar-se do norte da Síria e permitir que a Turquia atacasse os curdos que combateram ao lado das tropas ocidentais contra o Daesh. Por outro lado, a Turquia decidiu adquirir a nova geração de mísseis antiaéreos russos S-400 e essa decisão veio acentuar as tensões entre vários membros da NATO.
Numa recente entrevista Emmanuel Macron disse que a NATO está em morte cerebral e o Donald considerou insultuosa essa declaração. Estão amuados entre si e ambos bastante zangados com Recep Tayyip Erdogan. Eles são as estrelas desta cimeira como destaca hoje o The Wall Street Journal e mostram que o futuro desta NATO é incerto e está mesmo em perigo.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A Nazaré é a capital das ondas gigantes


As ondas gigantes da Nazaré, ou antes, as ondas da chamada praia do Norte da Nazaré, tornaram-se um atractivo para os surfistas que apreciam os grandes desafios, para o público que gosta de grandes espectáculos e para os media que precisam de atrair leitores com notícias e imagens aliciantes. Ano após ano, sobretudo depois de 2011, as ondas e a vila da Nazaré atraem cada vez mais surfistas que procuram as ondas gigantes formadas no canhão da Nazaré, um desfiladeiro submarino de origem tectónica situado ao largo daquela área costeira. A fama mundial destas ondas começou em 2011 quando o surfista norte-americano Garrett McNamara surfou uma onda de 23,77 metros, entrando para o Guiness Book como o homem que surfou a maior onda de sempre no mundo.
McNamara tornou-se o ídolo dos nazarenos, colocando a vila piscatória e a apreciada praia da Nazaré, também no mapa do surf mundial. Desde então, entre Novembro a Fevereiro, os especialistas convergem para a Nazaré, onde pela primeira vez se vai realizar o Nazaré Tow Surfing Challege, que a Liga Mundial de Surf prevê vir a ser um grande evento do surf mundial e que vai atrair muitas equipas internacionais.
Actualmente, o recorde da maior onda do mundo é de 24,38 metros e foi obtido em Novembro de 2017 pelo brasileiro Rodrigo Koxa, enquanto o recorde feminino foi conseguido em Outubro de 2018 pela brasileira Maya Gabeira que surfou uma onda de 20,72 metros, tendo ambos sido obtidos na Nazaré. O apuramento e a homologação destes resultados são feitos em Maio de cada ano pela Big Wave Awards da World Surf League, o que lhes confere a credibilidade necessária.
Na sua edição nº 6081, hoje publicada em Paris, o jornal Le Petit Quotidien, que se destina a um público jovem e que oferece “dez minutos de leitura por dia”, destaca na sua primeira página as espectaculares ondas da praia do Norte da Nazaré. Uma promoção internacional para a capital mundial das ondas gigantes!

Mais um grande prémio para Lionel Messi


O desporto é uma actividade nascida (ou ressuscitada) em finais do século XIX, mas só no último meio século, depois do aparecimento da televisão, é que se transformou num fenómeno social à escala global, apoiado num poderoso motor de inúmeras indústrias e interesses que em torno dele se movem.
Poucos são indiferentes ao fenómeno desportivo, quase sempre alimentado por rivalidades que chegam a parecer-se com os confrontos das guerras medievais e que, muitas vezes, ultrapassam as fronteiras da racionalidade. Assim acontece, por exemplo, com as rivalidades entre o Benfica e o Sporting ou entre o Barcelona e o Real Madrid, mas também entre o Nicolau e o Trindade, o Schumacher e o Senna, o Federer e o Nadal e, naturalmente, entre o Cristiano Ronaldo e o Lionel Messi que, há mais de dez anos, rivalizam na conquista do troféu de melhor futebolista do mundo.
Ontem o argentino Lionel Messi foi distinguido pela sexta vez com o Ballon d’Or, repetindo o prémio conquistado em 2009, 2010, 2011, 2012 e 2015, enquanto Cristiano Ronaldo, o vencedor desse prémio em 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017, ficou apenas em terceiro lugar. Provavelmente, o artista Messi ainda é melhor do que o artista Cristiano...
Alguns portugueses ficaram decepcionados, pois ninguém tem dúvidas de que Cristiano Ronaldo é um futebolista de eleição e que é o mais famoso português de todos os tempos, com uma notoriedade mundial que “envergonha” tanto Vasco da Gama e Camões, como Saramago e Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso, há em Portugal quem fique triste por ver Messi superar Cristiano, mas não é caso para isso. Nos dez melhores futebolistas do mundo há dois portugueses, coisa que nenhum outro país do mundo tem. Além disso, nos trinta melhores futebolistas do mundo há três portugueses e nesse grupo não há espanhóis, nem italianos, nem suiços, nem gregos, nem russos, nem americanos. Para a tribo do futebol lusitano isto deve ser suficiente para que todos fiquem orgulhosos e satisfeitos.

domingo, 1 de dezembro de 2019

A globalização do protesto e da incerteza


O diário catalão ara é publicado em Barcelona, tem apenas nove anos de idade, utiliza a língua catalã e tem tendências pró-independentistas. A sua edição de hoje é dedicada aos revoltats que, em diferentes locais do mundo e por razões sem qualquer relação directa entre si, se estão a manifestar de forma violenta. 
A insatisfação e a revolta explodem de repente, muitas vezes por razões insignificantes, com enorme violência nas ruas a que responde a repressão policial. Embora com origens e motivações diferentes, estes protestos têm características comuns e uma delas é não haver uma liderança clara da mobilização popular. Este "modelo" está a espalhar-se e a revolta local está a ter contornos de revolta global. Em França são os coletes amarelos e a sua reacção ao aumento do preço dos combustíveis; no Chile, que se tornou o laboratório da economia neo-liberal, o pretexto foi o aumento do preço dos transportes públicos; em Hong Kong tudo resultou de um decreto que permite a extradição de detidos para a  República da China.
Segundo o jornal, esta geografia da insatisfação inclui a França, a Catalunha e a Hungria (Europa), o Chile, a Bolívia, o Equador, a Bolívia e o Haiti (América Latina), a Argélia, o Sudão e a Guiné (África), o Líbano, o Iraque e o Irão (Médio Oriente) e a Caxemira, Hong Kong e a Rússia, mas nessa lista poderiam ser incluídas algumas outras áreas de grande insatisfação, de tensão ou de guerra.
O facto é que há um cenário de desconforto que alastra pelo mundo resultante da aceleração do processo de globalização, fazendo aumentar a indignação e o sentimento de desigualdade entre as pessoas, o que também contribui para a perda das suas referências culturais, morais e económicas. As instituições democráticas dão sinais de fadiga e de impotência, muitas vezes servidas por gente medíocre e atarefada pela pressão do quotidiano. Há uma crescente desconfiança nos dirigentes políticos e há uma angústia por um futuro cada dia mais incerto. Anunciam-se tempos de mudança, mas embora a história nos ensine que depois da revolta vem uma nova ordem, muitas vezes os resultados obtidos são bem diferentes daquilo que antes se imaginava.