domingo, 31 de maio de 2020

A América em protesto contra a violência

As cidades americanas estão a ser varridas por uma onda de raiva e de angústia, segundo anuncia a edição de hoje do The Washington Post, na sequência da brutalidade de um polícia da cidade de Minneapolis, no estado do Minnesota, que asfixiou até à morte, com o joelho sobre o seu pescoço, um indivíduo que afinal se verificou depois ser inocente. Esse homem chamava-se George Floyd e as televisões têm mostrado as imagens da brutalidade do agente policial que o matou, enquanto aquela cidade e o mundo se mostram indignados.
A revolta em Minneapolis deu origem a grandes distúrbios, com lojas e automóveis incendiados e destruição de mobiliário urbano, pelo que foi decretado o recolher obrigatório, a que a maioria da população não obedeceu. Entretanto, pelos contornos racistas do assassinato de George Floyd, a onda de protesto e de indignação contra a violência e o racismo alargou-se a outras cidades americanas.
De vez em quando explodem as tensões sociais acumuladas nos países ou nas cidades onde predomina a desigualdade, quer seja perante a cidadania, quer perante o nível de rendimentos. As minorias étnicas e os mais pobres são sempre os grupos que mais sofrem e sobre os quais mais actua a violência policial mas, de vez em quando, a população reage quando aparece um qualquer facto detonador, como agora está a acontecer em Minneapolis, num tempo de incerteza, angústia e de muito desemprego.
O presidente dos Estados Unidos apareceu ontem a pedir mão pesada contra os manifestantes de Minneapolis, que classificou como “esquerda radical”, oferecendo-se para mandar o exército para reprimir os protestos contra a morte de George Floyd e contra a violência policial. É caso para dizer que o Donald não percebe nada do que anda a fazer.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

A Europa reage à máxima velocidade

A gravidade da situação sanitária e económica que nos vêm atropelando, não nos dá suficientes sinais de se atenuar. A incerteza continua a ser a única coisa… certa. A dúvida permanece. No meio de tantas preocupações, têm-se amontoado as reivindicações corporativas e as exigências de apoios estaduais, frequentemente irrealistas e até irresponsáveis, como se houvesse uma varinha mágica que resolvesse a pandemia, a recuperação da confiança e a superação da crise económica. Na economia, como na vida, as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos e, perante esse postulado, há que travar os que mais gritam, para que não sejam penalizados os que menos gritam.
De uma forma geral, o governo, a oposição e as autoridades sanitárias portuguesas têm estado à altura das circunstâncias e, quando vemos o que se passa noutras regiões, temos que nos congratular e agradecer a determinação com que enfrentam a situação.
A União Europeia pela voz de Angela Merkel e Emmanuel Macron deu o primeiro sinal de que era necessária uma resposta coordenada e pan-europeia, mas Ursula Gertrud von der Leyen soube pegar naquele impulso e apresentar uma proposta da Comissão Europeia para um Fundo de Recuperação, cujo montante tem muitos zeros à direita. A Europa reagiu à máxima velocidade como escreveu o Libération. Esse Fundo de 750 mil milhões de euros ainda deverá ser aprovado pelo Conselho Europeu, repartindo-se em 500 mil milhões de euros a fundo perdido e 250 mil milhões de euros de empréstimos.
A reacção nos países do sul foi entusiástica e, no caso português, estão previstos 26,3 mil milhões de euros, dos quais 15,5 mil milhões de euros em subvenções e 10,8 mil milhões de euros em empréstimos. Este montante corresponde a cerca de 13% do PIB português em 2019 e a cerca de 3,5% do valor total do fundo de 750 mil milhões de euros. Se se vier a confirmar, será uma benção divina, como dirá qualquer cristão.
Será que esta proposta vai ser aprovada? De onde vem o dinheiro para financiar este novo plano Marshall ou plano MM? E como vai ser a distribuição desses dinheiros em Portugal, onde os abutres dos fundos comunitários que aqui têm entrado desde 1986,, andam por aí sedentos de novas rapinas.

A América evoca os seus 100 mil mortos


Nas suas edições de hoje os principais jornais americanos evocam as vítimas que o covid-19 já causou nos Estados Unidos, onde a pandemia ainda está por controlar, mas que já adquiriu o estatuto de grande catástrofe. O número 100 000 aparece na primeira página de muitos jornais a homenagear os mortos, a denotar preocupações e a mostrar perplexidade quanto à surpreendente indiferença de Donald Trump perante esta calamidade. 
Segundo as últimas informações conhecidas, o número de infectados pelo covid-19 no mundo já atinge 5 685 523 pessoas em mais de 187 países e duzentos territórios, incluindo 26 navios de cruzeiro, enquanto o número de óbitos já atingiu 354 985 pessoas. Nos Estados Unidos há 1 734 704 casos confirmados e 101 700 óbitos, o que representa cerca de 30% do total mundial, quer em número de infectados, quer em número de óbitos.
Estes números, quando comparados com cerca de 415 mil americanos mortos durante os cerca de quatro anos que durou a sua participação na 2ª Guerra Mundial, ou com os 58 mil mortos que os Estados Unidos tiveram na guerra do Vietnam, dão-nos a verdadeira dimensão desta tragédia.
O jornal The Washington Post salienta que esta pandemia expôs as enormes vulnerabilidades do país mais rico do mundo que, em menos de três meses, perdeu mais de cem mil cidadãos, sobretudo idosos, afro-americanos e trabalhadores pobres. O jornal também se interroga quanto à quase indiferença do presidente Donald Trump perante a tragédia e por não dar quaisquer sinais de partilhar a tristeza colectiva da sociedade americana, nem ter quaisquer manifestações de silêncio e recolhimento em memória dos que não resistiram ao covid-19.
Donald Trump que é tão obcecado por números, parece pensar apenas na sua reeleição e talvez nos seus negócios, estando a mostrar-se estranhamente silencioso neste marco sombrio da história dos Estados Unidos e não parecendo estar à altura dos seus deveres presidenciais. Porém, esse não é só um problema dos americanos, mas é também um problema do mundo.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Itália começou a reagir à crise pandémica

Durante algumas semanas a Itália esteve nas primeiras páginas dos jornais mundiais como a grande vítima da crise pandémica que tem sido a covid-19 e, apesar de depois terem surgido outros países com uma alargada contaminação - casos dos Estados Unidos, do Brasil, da Rússia, do Reino Unido e da Espanha - o facto é que os últimos números divulgados pela Itália ainda apontam para mais de 230 mil pessoas infectadas e cerca de 33 mil óbitos.
A Itália terá sido o primeiro país europeu onde apareceu o covid-19, quando no dia 23 de Janeiro foram detectados em Roma dois turistas chineses que testaram positivo. O governo italiano suspendeu todos os voos de e para a China e ficou na expectativa, até porque era o primeiro país da União Europeia a confrontar-se com este problema que era novo. Porém, no dia 19 de Fevereiro, mais de 40 mil adeptos da Atalanta de Bérgamo deslocaram-se a Milão para assistir a um jogo de futebol com o Valência a contar para a Liga dos Campeões. Este jogo foi considerado uma bomba biológica e terá dado origem a uma multiplicação dos contágios, pelo que no dia 21 de Fevereiro o governo italiano declarou a quarentena obrigatória.
Passaram cerca de três meses muito difíceis, mas a situação parece estar agora controlada, embora a dimensão da crise social e económica seja incalculável. Por isso, as medidas de desconfinamento estão a ser aceleradas, mas porque é necessário elevar a confiança e a moral dos italianos e ajudá-los a vencer o trauma por que estão a passar, foi organizado um programa em que a Frecce Tricolori, uma equipa de demonstração e de exibição acrobática da Força Aérea Italiana se apresentará sobre as principais cidades do país. Ontem foi no norte da Itália e os nove jactos da Frecce Tricolori exibiram-se sobre algumas cidades, designadamente Trento, Codogno, Milão, Turim e Aosta. Todos os grandes jornais italianos e até um jornal brasileiro, deram destaque de fotográfico de primeira página a este acontecimento, tendo o jornal romano La Repubblica publicado uma excelente fotografia da Frecce Tricolori sobre a catedral de Milão.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Israel, a Palestina e o velho covid-1948


Numa altura em que as preocupações mundiais se centram no problema do covid-19, o jornal Tehran Times veio lembrar a situação palestiniana e chamou-lhe o problema do covid-1948, uma pandemia com mais de setenta anos. Nessa reportagem não é o texto que se destaca, mas uma sequência de quatro mapas em que estão assinalados os territórios de Israel e da Palestina, onde se pode observar como tem diminuído a percentagem de território ocupado pelos palestinianos ou como têm sido os avanços territoriais israelitas. No mapa (1) está assinalado o território histórico da Palestina (100%); no mapa (2) estão assinalados os territórios resultantes do plano de partição da Palestina aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas e que criava dois Estados – um judeu e outro árabe – ficando as cidades de Jerusalém e Belém sob controlo internacional (44%); no mapa (3) está assinalada a divisão do território depois da guerra de 1967 e da aceitação do acordo de paz de 1993 assinado por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, com a mediação de Bill Clinton (22%); no mapa (4) está a situação actual em que o território palestiniano voltou a ser reduzido por terem sido construídos mais colonatos israelitas e por Donald Trump ter decidido reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel, em desafio das resoluções das Nações Unidas (15%). Significa que a Palestina ocupa apenas 15% do seu território histórico e que os seus territórios de Gaza, que é considerada a maior prisão a céu aberto do mundo, de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia, estão cercados e sob atenta vigilância israelita, enquanto os palestinianos são tratados como cidadãos de segunda classe no seu próprio país. Nesta altura o covid-19 tem deixado adormecido o covid-1948, mas é bom que o mundo não se esqueça desta pandemia com mais de setenta anos e procure soluções que assegurem a paz e a convivência entre israelitas e palestinianos.

domingo, 24 de maio de 2020

Dias sombrios aproximam-se do Brasil


O mundo ficou estarrecido e incrédulo quando viu e ouviu uma recente intervenção do presidente da República Federativa do Brasil que atravessou as fronteiras e foi mostrada pelos canais televisivos internacionais. Alguns jornais brasileiros, reproduziram a alocução insultuosa e obscena do Jair. Raramente alguém com responsabilidades institucionais foi tão longe. Com o Jair na presidência, o Brasil tem o seu prestígio internacional ameaçado e isso perturba muita gente, dentro e fora do Brasil.
Embora o Jair já mostrasse, por vezes, alguns sinais de desequilíbrio mental e de um elevadíssimo défice cultural, nunca como agora tinha utilizado um tom tão autoritário, insultuoso e grosseiro, como aquele que todos pudemos ver na famosa reunião do dia 22 de Abril com os seus ministros. O Jair mostrou uma absoluta boçalidade, muita impreparação e uma total falta de respeito democrático pelo povo brasileiro e por aqueles que o representam, ao recorrer à obscenidade e ao insulto, designadamente em relação aos governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como aos juizes do Supremo Tribunal Federal. Numa explosão de fúria inaceitável em quem preside a um grande país, o Jair afirmou querer que o povo se arme e que era fácil impor uma ditadura no Brasil. Além de autoritário e impreparado, também irresponsável.
Entretanto, no quadro da incidência do covid-19, o Brasil está no epicentro da pandemia e já chegou à segunda posição desse ranking mundial, logo a seguir aos Estados Unidos. As imagens que nos chegam dos cemitérios são chocantes e, com a generalizada crise económica mundial que já aí está, são sombrios os dias que se aproximam para os brasileiros. Era necessário que o Brasil tivesse um presidente à altura das circunstâncias em vez deste Jair Messias Bolsonaro, ignorante, grosseiro e que insulta meio mundo, além de continuar sem se retratar por ter classificado como gripezinha ou resfriadinho uma pandemia que já causou mais de vinte mil mortes no Brasil.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O regresso da pandemia que é o futebol

O futebol está de volta por todo o lado. É um momento muito entusiasmante para quem gosta daqueles noventa minutos de emoção, de fantasia e de arte, de golos e de penaltis, de passes e de fintas, de bolas na trave e de foras de jogo, mas também das trivelas do Quaresma e das cabeçadas do Ronaldo. Porém, com esse desejado regresso, também está a chegar a matilha que vive dos aspectos marginais do futebol e que acha que tudo aquilo é a coisa mais importante do mundo.
Assustados com o covid-19, ainda há um mês endeusavam a linha da frente da saúde pública, mas essa atitude passou-lhes depressa. Nas televisões e nas rádios estão a reaparecer os espaços noticiosos e de comentário com as notícias sem interesse nenhum sobre a face mais ridícula do futebol, bem como as discussões estéreis dos comentadores encartados. É chocante verificar o assalto que, por dentro e por fora, essa gente está a fazer à comunicação social, onde todos os dias recupera o espaço e o tempo perdidos. É uma tristeza cultural a forma como, mais uma vez, os canais televisivos e as estações radiofónicas estão a infectar o espaço público com a marginalidade do futebol e dos seus negócios. Se não fosse tão triste até dava vontade de rir tudo o que é dito sobre os treinos dos jogadores, o "trabalho" de ginásio ou de campo, as descrições das entorses ou das lesões musculares, a incompetência dos árbitros, os off-sides mal assinalados, os defeitos do vídeo-árbitro, os reforços do Famalicão, o novo treinador do Tondela ou a rivalidade que é necessário alimentar entre Benfica e Porto.
Ainda não saímos da pandemia do covid-19 e já estamos a ser invadidos pela pandemia da futebolite.
É assim em Portugal, o país em que há mais jornais diários ditos desportivos do que jornais de informação geral. É um caso único no mundo. Isso explica muita coisa, inclusive as razões porque há tanta gente que vive à custa da indústria do futebol e das suas negociatas, bem como da promiscuidade entre a política, os negócios e o futebol.

terça-feira, 19 de maio de 2020

O plano MM para vencer a crise na Europa

A União Europeia vive desde há vários anos numa situação de grande fragilidade política, devido à ausência de um verdadeiro projecto comum que mantenha os princípios de solidariedade que presidiram à sua constituição, a que se juntam a falta de lideranças de reconhecido prestígio à escala internacional e o surgimento de nacionalismos regionais que, em cada dia que passa, se tornam incompatíveis com o ideal europeu. As políticas comuns tendem a tornar-se uma ficção que cede aos egoísmos nacionais e daí resulta uma progressiva perda de competitividade científica e industrial relativamente aos gigantes americano e chinês. Bruxelas é cada vez mais uma “arca de Noé”, ou uma nau sem rumo, onde cada um procura satisfazer os seus interesses.
A recente crise pandémica veio mostrar como a União Europeia e o projecto europeu podem entrar em desagregação. Não é necessário ter grandes conhecimentos de Economia, nem consultar estatísticas, nem ouvir o Portas ou o Marques Mendes, para perceber a dimensão da crise que nos entrou em casa. Basta olhar para os aeroportos vazios, para os navios de cruzeiro nos seus terminais, para os restaurantes vazios ou para o número de desempregados a aumentar.
Nesse sentido, ontem estivemos perante um acontecimento de grande importância para o futuro da Europa, que foi o anúncio do lançamento de um fundo de recuperação da ordem dos 500 mil milhões de euros, anunciado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, que se destina à ajuda aos países da União Europeia, no combate à recessão económica e à crise social que se aproxima. Trata-se de um plano que assenta em financiamentos não-reembolsáveis, ou subvenções a fundo perdido, provenientes do orçamento comunitário. É um novo plano Marshall, muito semelhante àquele que os Estados Unidos criaram em 1947 para auxiliar a reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial. A concretizar-se este plano, que já pode ser designado por Plano MM (Merkel-Macron), será um sinal de unidade política e um forte apoio para que a Europa saia desta crise mais forte, mais unida e mais solidária. É esse tom de unidade que o Finantial Times utiliza hoje ao anunciar esta iniciativa franco-alemã.

domingo, 17 de maio de 2020

O Brasil de Jair Bolsonaro chegou ao topo

O Brasil já contabiliza 233.142 infectados por covid-19 e, no quadro da incidência da pandemia por país, já figura em quarto lugar, tendo ultrapassado a Itália e a Espanha. Na sua mais recente edição, a revista Veja trata esta situação como uma “amarga realidade” e, para sensibilizar os seus leitores, escolheu como ilustração de capa um mapa do Brasil transformado num enorme cemitério, apoiando-se na máxima de que uma imagem vale mais do que mil palavras.
Apesar de ainda não serem bem conhecidas as condições de propagação nem as terapias adequadas para dominar a pandemia, esta tem sido controlada em muitos países através de medidas de emergência sanitária, ponderadas entre muitas variáveis, com prudência e com a humildade própria de quem sabe como é grave a situação. Inversamente, verifica-se que os países em que os seus líderes autocráticos desvalorizaram a perigosidade da covid-19, como aconteceu com Trump, Putin e Boris Johnson, ocupam os primeiros lugares dessa lista em que o Brasil de Jair Bolsonaro aparece a seguir. São já 15.633 óbitos registados no Brasil por essa “gripezinha” ou “resfriadinho” e, em menos de um mês, o presidente desautorizou e empurrou para fora do governo dois ministros da Saúde.
Em qualquer das demissões de Luiz Mandetta ou de Nelson Teich, houve divergências profundas entre os ministros e o presidente sobre a gravidade da covid-19, sobre o maior ou menor isolamento social e sobre o uso da cloroquina. Bolsonaro ouviu o seu amigo Donald falar sobre a cloroquina e tratou de importar essa ideia com entusiasmo, sem que haja qualquer evidência científica da redução da mortalidade pela covid-19 e, pelo contrário, sejam conhecidos graves efeitos colaterais. Apesar disso, por uma única vez, o Jair não seguiu o amigo americano quando este sugeriu a injecção de desinfectante e o uso de raios ultravioletas para combater o covid-19
Porém, o que o Brasil não vai esquecer é a imagem do Jair a divertir-se em passeata de jet ski, no mesmo fim-de-semana em que o Brasil atingia as dez mil mortes por covid-19. Simplesmente chocante.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O que o covid-19 ainda nos pode trazer


O jornal holandês deVolkskrant que se publica em Amesterdão e que há bem pouco tempo completou cem anos de existência, incluiu na sua edição de ontem um detalhado estudo sobre a epidemia de covid-19 que, até agora, contagiou cerca de 42 mil holandeses e causou 5.310 óbitos nos Países Baixos, colocando-os no top ten mundial das vítimas desta epidemia. O estudo assenta em elucidativos gráficos, o que permite a sua interpretação pelas pessoas que, como nós, nada entendem de holandês.
Logo na primeira página e com o título “Onda ou ondas”, estão apresentados os três cenários mais prováveis para a evolução futura da pandemia: o cenário 1 em que já estaremos a sair do pico, o cenário 2 em que se espera um novo pico mais agressivo no Outono e um cenário 3 em que voltarão a repetir-se regularmente os picos como aquele que tem estado entre nós, até que surja uma vacina.
O estudo apresenta a evolução da incidência do covid-19 através de expressivos gráficos, com base nos dados divulgados diariamente pelas autoridades sanitárias nacionais, mas como os problemas são diferentes em cada país e a crise está em diferentes fases em cada um deles, o estudo avisa que nem todas as comparações são aceitáveis. No entanto, seguramente que a credibilidade deste estudo pode servir para que cada país se inspire nas experiências mais semelhantes que se conhecem e que adopte medidas mais adequadas.   
Quem sabe se os autores deste estudo publicado pelo deVolkskrant não estiveram em Portugal a ouvir os nossos mais reputados técnicos-especialistas de covid-19, que dão pelo nome de Portas, Júdice e Mendes, cuja vaidade exibicionista é tão grande que já nem cabe no pequeno écran dos televisores.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Brasil: uma exemplar iniciativa editorial

A pandemia do covid-19 parece estar agora centrada no continente americano e em especial naqueles países cujos governantes subestimaram a sua importância, com demasiada arrogância e muita ignorância. Os presidentes Trump e Bolsonaro irão ficar associados a esta pandemia pela sucessão de chocantes declarações que fizeram, quando a catástrofe humanitária, social e económica já desabava sobre os seus países. No mapa da incidência da pandemia de covid-19 por país, os Estados Unidos estão na vanguarda com quase um milhão e meio de infectados e mais de 80 mil óbitos, mas o Brasil que leva mais de dez mil óbitos e mais de 160 mil infectados, já aparece no sétimo lugar dessa lista. 
A frieza dos boletins diários que anunciam os números dos novos contagiados e dos óbitos que aconteceram, esvazia a dimensão humana desta tragédia que já é a maior catástrofe sanitária desde há cem anos, quando se verificou a pandemia da chamada gripe espanhola. No caso do Brasil, os números da gripe espanhola são imprecisos, mas estima-se que, em Outubro e Novembro de 1918, tenham morrido cerca de 12 mil pessoas só na cidade do Rio de Janeiro.
Na sua edição de hoje, o jornal O Globo presta homenagem aos mais de 10 mil brasileiros mortos pelo covid-19 e dedica-lhe um memorial virtual, ao mesmo tempo que dá a conhecer muitas das histórias relatadas por amigos e familiares das vítimas, num projecto editorial inédito e que envolveu uma rede de jornalistas voluntários que recuperaram a singularidade e o dramatismo de muitas dessas histórias. Perante a maior catástrofe sanitária em um século, o jornal O Globo foi para além dos números e teve uma exemplar iniciativa editorial, ao repor uma dimensão humana na calamidade que está a ser esta pandemia no Brasil e no mundo. O meu aplauso.

domingo, 10 de maio de 2020

Os desempenhos da Saúde e da Economia

A situação sanitária que desde Março nos ameaça e nos tem preocupado está a passar por uma fase de acalmia que nos dá esperança de que o futuro seja menos sombrio do que se chegou a temer, embora a incerteza seja a palavra mais adequada para classificar o que o futuro nos reserva. Nestes dois meses houve demasiadas vozes que se ouviram a falar de um tema sobre o qual pouco sabem, mas também algumas vozes a criticar as políticas que têm sido adoptadas pelo governo, destacando-se nos últimos dias o jurista Júdice, o sindicalista Roque da Cunha e mais alguns daqueles que estão sempre contra tudo. O facto é que, apesar de tudo, Portugal tem passado ao lado das calamidades que desabaram sobre a Espanha, a Itália, a França e o Reino Unido, que o Serviço Nacional de Saúde não colapsou, que os profissionais de saúde estiveram à altura, que tem havido máscaras, luvas e gel para toda a gente e que, mais importante, enquanto representantes da população, os partidos políticos têm compreendido a gravidade da situação e têm manifestado confiança nas autoridades sanitárias.
O Diário de Notícias teve a iniciativa de perguntar a vinte e cinco personalidades para que avaliassem, numa escala de zero a vinte, os desempenhos do governo nas respostas ao problema sanitário e ao problema económico. As vinte respostas que o jornal recebeu são uma amostra insuficiente para terem rigor estatístico, mas são um interessante indicador.
Na resposta ao problema sanitário o governo conseguiu 14,9 valores, ao mesmo tempo que algumas sondagens confirmam a subida da confiança e do apoio ao 1º Ministro, enquanto na resposta ao problema económico há algumas críticas à morosidade e à burocracia dos apoios sociais e económicos, embora o que temos pela frente seja complexo e mexa com o dinheiro dos contribuintes, pelo que não pode ficar à mercê dos espertalhões do costume. São muitos os problemas, como o aumento do desemprego, o encerramento de empresas, os milhares de trabalhadores em lay off, o turismo paralizado, as viagens aéreas canceladas e, ainda, a pressão de todo o mundo a pedir ajudas estatais, muitas delas por mero oportunismo, onde se incluem os grandes clubes de futebol que pagam salários milionários. Menos morosidade e menos burocracia podem significar um acesso mais facilitado ao pote, que é alimentado pelos meus impostos.
Portanto, o Estado Social está a responder bem e tanto o Ministério da Saúde como o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social estão a merecer a nossa confiança. Merecem o meu aplauso.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Celebrando o fim da 2ª Guerra Mundial

Hoje comemora-se o V-E Day ou o Dia da Vitória na Europa, para assinalar o dia em que há 75 anos, depois de mais de cinco anos de guerra, os nazis alemães aceitaram a sua rendição incondicional às forças aliadas que tinham ocupado Berlim. Os jornais britânicos celebram essa efeméride nas suas edições de hoje, com destaque para o jornal escocês The Herald, que se publica em Glasgow desde 1783 e que, portanto, vai no seu 238º ano de publicação.
A 2ª Guerra Mundial iniciou-se no dia 1 de Setembro de 1939 quando a Alemanha invadiu a Polónia e, nos campos, mares e cidades europeias, durou até ao dia 8 de Maio de 1945, tendo envolvido todas as grandes potências que se mobilizaram em torno de duas alianças militares adversárias: os Aliados e o Eixo. A história da guerra é muito longa e tem sido descrita com todos os detalhes mas, provavelmente, os seus dias mais significativos foram o dia 22 de Junho de 1941 quando a Alemanha iniciou a operação Barbarossa e invadiu a União Soviética, o dia 7 de Dezembro de 1941 quando o Japão atacou a esquadra e as bases americanas em Pearl Harbor e o dia 6 de Junho de 1944 quando as forças aliadas desembarcaram na Normandia durante a operação Overlord. O balanço da guerra na Europa traduziu-se em cerca de 36 milhões de mortos militares e civis, resultantes dos combates, das doenças, da fome, dos bombardeamentos e dos massacres e genocídeos deliberados.
A brutalidade da guerra obrigou a um enorme esforço económico, industrial e científico dos países que nela participaram e abriu as portas a um novo ciclo de paz e de progresso económico e social que, no essencial, dura há 75 anos.
Actualmente, o mundo continua amarrado às consequências da 2ª guerra mundial e os países vencedores – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China - continuam a ter um papel determinante na condução do mundo, como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, enquanto em vários capítulos da evolução do mundo se considera que a 2ª guerra mundial foi a fronteira que separou o mundo antigo de um novo mundo que, embora cheio de contradições, beneficia de mais paz, mais progresso, mais democracia e mais respeito pelos direitos humanos.

terça-feira, 5 de maio de 2020

O reconhecimento da língua portuguesa

Hoje, dia 5 de Maio, celebrou-se pela primeira vez o Dia Mundial da Língua Portuguesa, uma data que foi oficializada no ano passado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e que, por iniciativa da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), já antes se comemorava como o Dia da Língua e da Cultura Portuguesa.
As celebrações foram discretas porque os tempos não estão nada de feição para celebrações ou para festas. No entanto, várias personalidades da Literatura, da Música, do Cinema e da Ciência dos nove países que têm a língua portuguesa como língua oficial – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste - subscreveram mensagens de regozijo pelo reconhecimento internacional da língua portuguesa que, de acordo com os rankings mais credíveis, será a quinta língua mais falada no mundo. O próprio secretário-geral das Nações Unidas, na sua dupla qualidade de dirigente do principal organismo internacional e de cidadão português, difundiu uma mensagem a assinalar o acontecimento, tal como fizeram outros luso-falantes, nomeadamente alguns presidentes da República e até um Prémio Nobel.
Os falantes de português serão cerca de 290 milhões que residem nos nove países da CPLP, a que se devem juntar as diásporas de cada um dos países que se encontram fora dos seus países de origem e que vivem em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, mas também na Austrália, na África do Sul, na Venezuela e, naturalmente em Macau e Goa. 
O reconhecimento internacional da língua portuguesa é, seguramente, um factor que prestigia e credibiliza todos os países que se exprimem em português e todos os cidadãos luso-falantes.

Brasil: o povo nem sempre tem razão

Portugal é um país que tem vários países-irmãos e amigos, mas o seu irmão mais velho chama-se Brasil. Não é preciso invocar o passado histórico nem a língua comum para justificar a relação íntima que existe entre os dois países e, por isso, tudo o que acontece no Brasil interessa aos portugueses, sobretudo nos aspectos culturais, em especial com a música e o futebol, mas também nos aspectos políticos.
Acontece que depois de um conturbado processo político, no dia 28 de Outubro de 2018 os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro para presidente da República Federativa do Brasil com 55% dos votos, mas como nos ensina a História, por vezes o povo engana-se nas escolhas que faz. Parece ser esse o caso, pois é lamentável o que se está a passar no Brasil, sobretudo depois de se ter revelado a calamidade que está a ser a pandemia de covid-19. O Jair revela-se uma personalidade menor e as elites culturais e económicas brasileiras devem estar a chorar pelo apoio directo ou indirecto que lhe deram, quando recusaram Fernando Haddad e a gente do  PT.
A pandemia que ele sempre desvalorizou já é uma calamidade nacional com mais de 100.000 infectados e mais de 7.000 mortos mas, apesar dessas trágicas estatísticas, o Jair continua a desrespeitar todas as normas sanitárias e a participar em protestos que apelam à dissolução do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, ao mesmo tempo que sugere, incita ou ameaça com uma intervenção militar. É a escalada da insensataz, escreve hoje o Correio Braziliense. É um impensável nível de irresponsabilidade. Os seus aliados desertam todos os dias, como aconteceu com Sérgio Moro, um seu fiel seguidor que vai fazendo os seus trabalhinhos mais ou menos sujos para subir na política brasileira. O Jair já não tem futuro. O povo enganou-se.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Há um novo mundo a surgir no horizonte

A última edição do Courrier internacional é temática e centra-se numa questão que, na actual turbulência que atravessamos e de que ainda não se sabem as verdadeiras consequências, nos obriga a repensar o mundo. As dúvidas que se levantavam aos efeitos nocivos da globalização sobre o comportamento dos seres humanos, sobre a crise climática e o aquecimento global que rapidamente estão a alterar o planeta ou sobre a crise generalizada da natalidade, juntaram-se à pandemia do covid-19 e aos seus medos e incertezas, parecendo que estamos perante uma tempestade perfeita.
Há que repensar o mundo, como salienta na sua primeira página o Courrier internacional. Ninguém pode ficar indiferente às imagens que temos visto das ruas e praças das cidades desertas, das angústias ou mesmo da impotência de quem trabalha nos hospitais, das filas intermináveis de gente que procura abastecer-se nos supermercados, dos rostos que em vez de sorrisos mostram máscaras, das placas de estacionamento dos aeroportos pejadas de aviões imobilizados ou dos grandes navios de cruzeiro abandonados nos cais. Essas imagens sugerem que repensemos o mundo porque nunca mais vai ser como era e que nos preparemos para um modo de vida diferente que, quem sabe, até pode ser melhor. A pandemia do covid-19 está a desencadear uma verdadeira revolução, talvez uma das maiores revoluções que a Humanidade alguma vez enfrentou. Há que pensar nela e nas adaptações a fazer no modo de vida da sociedade. Porém, neste quadro que nos obriga a pensar no futuro com coragem, com inteligência, com imaginação e com esperança, ainda há gente muito responsável – dispenso-me de aqui deixar nomes – que continua com o seu discurso político ou sindical da reivindicação, da exigência e da confrontação, como se o mundo não tivesse mudado radicalmente nos últimos três meses.

domingo, 3 de maio de 2020

España: la alegría vuelve a la calle

A pandemia que nos ataca desde há quase dois meses, em particular nos países da Europa ocidental, obrigou ao encerramento de escolas, à suspensão de grande parte da actividade produtiva e ao confinamento domiciliário das pessoas, entre outras medidas destinadas a evitar os contágios e a propagação do vírus. 
De acordo com os imensos “especialistas” que diariamente nos dão lições sobre o assunto, estaremos agora na fase descendente da primeira vaga da pandemia, mas espera-se uma segunda vaga ainda mais dura nos próximos tempos, o que nos obriga a todos os cuidados. Por isso, nesta aparente acalmia pandémica, as autoridades sanitárias estão a procurar conciliar todas as variáveis que entram nesta equação – a defesa da saúde pública, o fim do confinamento obrigatório, a reactivação do comércio e da indústria, a reabertura das escolas e das repartições públicas e, até mesmo, essa coisa que pouca falta nos tem feito que é o futebol e as longas noites televisivas a discutir foras de jogo e penaltis.
O confinamento obrigatório vai terminar em Portugal, enquanto em Espanha já terminou. Ontem as cidades espanholas encheram-se de pessoas que vieram para a rua para “esticar as pernas” e apanhar sol, para fazer caminhadas e pedalar. A imprensa espanhola encheu as suas primeiras páginas com imagens que mostram as cidades cheias de gente e de vida. O jornal Canarias7 de Las Palmas de Gran Canaria seguiu a mesma linha e encheu a sua primeira página com os surfistas canários.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

A maior calamidade está em Nova Iorque

Nos Estados Unidos contabilizaram-se hoje 1.122.866 pessoas já infectadas com covid-19 e 65.397 óbitos devidos ao mesmo vírus, enquanto no estado de Nova Iorque estão registadas 313.855 pessoas infectadas (28% do total do país) e o número de óbitos atinge 24.069 (37% do total do país). Estes números mostram como os Estados Unidos e o estado de Nova Iorque estão no centro desta tempestade a que nenhum país tem escapado. Se comparamos os 24.069 óbitos que já aconteceram no estado de Nova Iorque, que tem cerca de 20 milhões de habitantes, com os números do que se passa em todo o mundo, verificamos que a calamidade nova-iorquina é muito mais grave do que aquela que atinge os maiores países europeus que são muito mais populosos, como a Itália (27.967 óbitos), o Reino Unido (26.771 óbitos), a Espanha (24.543 óbitos) e a França (24.376 óbitos).
Hoje, o Daily News e outros jornais do estado de Nova Iorque anunciaram que, pela primeira vez na história de 115 anos do New York City Subway, vai ser interrompida durante a noite a circulação nas suas 36 linhas e 472 estações, para que se proceda a uma limpeza geral de desinfecção anti-vírus, pois pensa-se que o transporte diário de mais de 5 milhões de passageiros torna o metropolitano nova-iorquino um dos principais focos de propagação da epidemia de covid-19. Porém, é de lamentar que as autoridades estaduais tenham demorado tanto tempo para perceber que o metropolitano era o mais provável agente de contágio e para se decidirem por esta iniciativa sanitária, o que mostra como na nação mais poderosa do mundo há demasiadas fraquezas.

A crise aeronáutica e a retoma da Airbus

O jornal regional La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, a cidade do sul da França que é o mais importante centro de produção aeronáutico da Airbus, dedicou a sua última edição à crise por que passa o sector, numa época em que não há novas encomendas, em que muitos milhares de aviões estão parados e em que as companhias de aviação têm as suas finanças arruinadas por não terem receitas.
Ainda não se avista a luz ao fundo do túnel no que respeita à normalização da actividade aeronáutica mundial e, naturalmente, há uma absoluta incerteza quanto à retoma da produção industrial de aeronaves, porque não há nem vai haver procura nos tempos mais próximos. A Airbus passa por tempos difíceis e a cidade que “vive” da Airbus está verdadeiramente assustada, porque o desemprego é o cenário mais provável em todas as áreas industriais que participam na produção aeronáutica, bem como nas áreas que indirectamente lhe estão ligadas. O que se aproxima da cidade de Toulouse pode ser uma calamidade social e o principal jornal da cidade pergunta mesmo se a Airbus tem condições para descolar, pois não se antevê procura que possa dinamizar a capacidade de produção instalada e ocupar a força de trabalho que está ligada ao grupo.
É um desafio enorme que só começará a ser resolvido quando as companhias aéreas recuperarem os seus negócios ou quando os passageiros voltarem a encher os aviões, mas quando isso acontecer pode já ser tarde. Por isso, a cidade de Toulouse vive angustiada.