Há 40 anos,
exactamente no dia 30 de Abril de 1975, as tropas norte-vietnamitas e os
soldados do Vietcong entraram em Saigão e esse facto assinalou o fim da
violenta guerra do Vietnam. O assalto final à capital do Vietnam do Sul foi muito rápido e, depois de um
bombardeamento por artilharia pesada, as tropas invasoras ocuparam os pontos
importantes da cidade, sem resistência. Os Estados Unidos e a República do Vietnam do Sul
perderam a guerra. Nas angustiosas horas finais daqueles, os americanos
desencadearam uma operação de resgate que durou cerca de 24 horas e que foi realizada
entre as manhãs dos dias 29 e 30 de Abril. Foi a maior operação de retirada de
pessoas por helicópteros que alguma vez foi realizada, na qual foram utilizados
helicópteros militares americanos e sul-vietnamitas, assim como aparelhos civis da Air
America, que resgataram 1373 cidadãos americanos e 5595 vietnamitas e cidadãos
de outras nacionalidades, que foram transportados para os porta-aviões e outros
navios americanos que pairavam ao largo. A quantidade de helicópteros
sul-vietnamitas que chegou aos navios foi tão elevada que muitos tiveram que
ser atirados ao mar para dar lugar a outros aparelhos que chegavam, enquanto
outros “aterraram” na água.... Para a história ficaram filmes e fotografias, a
mais simbólica das quais mostra um helicóptero parado na embaixada americana a
receber o pessoal militar e civil que se encontrava nessas instalações e que
foi evacuada. Essa fotografia tem sido considerada uma humilhação para os
Estados Unidos e foi hoje publicada na primeira página do diário alemão Frankfurter
Allgemeine, enquanto a generalidade da imprensa americana evoca hoje os
40 anos da queda de Saigão com títulos como The fall of Saigon ou The escape from Saigon, mas escolhendo fotografias menos humilhantes para ilustrar as
suas edições…
quinta-feira, 30 de abril de 2015
Evocando o fim da guerra do Vietnam
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Macau protege o seu património imóvel
A administração
do território de Macau foi transferida em 1999 para as autoridades chinesas,
ficando constituida a Região Administrativa Especial de Macau da República
Popular da China (RAEM). Houve nessa altura muitas declarações elogiando o
esforço feito pelas autoridades portuguesas para modernizar o território, mas
também pela política de preservação da sua herança cultural e, em especial, do
seu património edificado. As novas autoridades macaenses deram continuidade à
política cultural dos portugueses e em 2005 viram o centro histórico de Macau
ser classificado pela UNESCO e incluída na World Heritage List.
O diário Hoje
Macau, um dos quatro jornais que em Macau se publicam em português, ilustra
a capa da sua edição de hoje com uma fotografia do farol da Guia e informa que
o nome e as plantas de delimitação geográfica de vários imóveis que fazem parte
do património do território estão a ser alterados por iniciativa do Instituto
Cultural de Macau. Pretendem-se adoptar nomes mais de acordo com a história e
que também sejam mais esclarecedores para os milhões de turistas que visitam
Macau. As famosas ruinas de São Paulo passarão a incluir a palavra igreja na sua nova designação e a
fortaleza da Guia passará também a incluir a palavra ermida no seu nome. O diário macaense informa, ainda, que entre o
património que já está ou se prevê esteja em restauro a curto prazo, se
encontram as Oficinas Navais, um edifício a que tantos portugueses estão
profissional e emocionalmente ligados.
Não há dúvida que
se trata de sinais que mostram o interesse chinês na preservação da história e
do patrimonio cultural da cidade a que, desde 1586, os portugueses chamaram a
Cidade do Nome de Deus do Porto de Macau na China.
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domingo, 26 de abril de 2015
Marketing político de muito mau gosto
Foi ontem anunciada
a renovação da coligação eleitoral que desde 2011 tem governado Portugal, mas não
se pretende analisar aqui essa decisão, porque ela deriva da liberdade de haver
partidos políticos e da liberdade que eles têm para se aliarem, ou seja, essa
decisão acontece porque o 25 de Abril trouxe a liberdade ao nosso país. Cada
qual alia-se com quem quer. Ninguém tem nada com isso. É a liberdade e a
democracia a funcionarem. Pronto.
Porém, ontem às
20 horas, quando se esperava que os telejornais abrissem com imagens das
celebrações populares da data libertadora de 25 de Abril ou até das cerimónias
realizadas no Parlamento, houve dois figurões que abusivamente apareceram nos nossos
monitores televisivos a subscrever a renovação de um acordo que estava
negociado há vários dias. Não foi um acontecimento político. Foi um caso de travesti
abrilista ou de marketing político de mau gosto. Os seus subscritores P1 e P2
abusaram de nós ao tomar aquele espaço e aquele tempo. Naquele dia e naquela hora,
a cena foi muito caricata, atrevida e até injuriosa para o 25 de Abril, que
eles tanto têm combatido através da redução dos direitos dos portugueses. O subscritor
P1 não prescindiu de, ao lado da bandeirinha nacional na lapela do casaco,
exibir um cravo vermelho que simboliza o 25 de Abril, enquanto o subscritor P2
preferiu insinuar-se como um experiente e sabedor estadista que, lamentavelmente, não resistiu a
fazer propaganda eleitoral àquela hora e naquele dia. E tudo isto porque eles sabem que a maioria dos
portugueses está com a mensagem libertadora, a atitude solidária e com a
renovada esperança que é sempre o 25 de Abril e, por isso, a escolha daquele
dia, daquela hora e daquele cravo são abusivos e meramente instrumentais na sua tentativa de quebrar
o muro de isolamento que eles próprios criaram com o povo. O 25 de Abril é o símbolo
da liberdade, da democracia, do progresso e da abertura ao mundo. O 25 de Abril é do povo português e não pode ser desrespeitado
por quem tem responsabilidades políticas e as quer continuar a ter.
sábado, 25 de abril de 2015
O casamento indiano já não é o que era
Há uma tradição milenar na Índia,
mas também nas suas diásporas, que faz com que 95% dos casamentos realizados
resultem de combinações e acordos entre os pais dos noivos, o que significa um
pacto ou uma aliança entre as respectivas famílias. Os casamentos combinados por
hindus e por católicos resultam da actividade de redes casamenteiras informais
ou familiares, mas também de páginas inteiras de anúncios de jornal, sendo
avaliadas em ambas as situações, a compatibilidade de casta, a religião, a posição
na escala social e a situação económica. É de acordo com estes princípios que,
todos os anos, há oito milhões de noivas, na sua maioria adolescentes, que se
casam com homens escolhidos pelos seus pais, havendo muitos casos em que estas
se encontram com eles pela primeira vez no dia do casamento. Estas, são as
regras ancestrais que ainda balizam o casamento na Índia, onde o namoro de tipo
ocidental, com ou sem autorização dos pais, não é usado. Fora deste contexto há uma minoria de "casamentos de amor" que, quando são contrariados dão origem a muitas situações trágicas.
Porém, nos últimos anos as centenárias
tradições dos casamentos arranjados estão a ser desafiadas pelos fenómenos da crescente
urbanização e escolarização indianas, mas também pela influência cultural do ocidente e
pelas novas novas tecnologias, não só o telefone móvel e o smartphone, mas também cerca de 1500
websites especializadas que tornam
mais fácil o encontro entre candidatos e candidatas ao casamento. Uma delas – BharatMatrimony.com – afirma que ajuda
50 mil pessoas por mês a casar-se e que, nos últimos anos, os perfis que
divulga são cada vez mais apresentados pelos próprios e menos pelos pais. The
New York Times trata hoje deste tema na sua primeira página, contando a
ousada história de Miss Garima Pant que, sem quebrar a tradição familiar, recusou
alguns candidatos e, quando um deles a interessou, tratou de saber o seu número
de telefone e foi falar com ele longe dos ouvidos da sua família. Aceitou-o. Foi um
casamento semi-arranjado. Diz-se, portanto, que as novas tecnologias estão a "mexer" com as tradições milenárias da Índia onde, curiosamente, os casamentos são mais
estáveis que os casamentos no Ocidente.
Viva o 25 de Abril de todos os anos
Cartaz das comemorações do 25 de Abril em Pombal |
Hoje comemora-se
o 25 de Abril! Esta data celebra um facto importante da nossa História
de quase nove séculos, porque assinala o fim de um regime opressivo, autoritário
e retrógrado, que mandava os jovens para a guerra, os pobres para a emigração e
os adversários para a cadeia. Esta data também festeja a liberdade, o regime
democrático, a independência dos povos irmãos e a nossa entrada numa Europa que,
então, era um espaço de fartura e de solidariedade. Um pouco por todo o país o
25 de Abril é celebrado das mais variadas formas, dando origem a expressivos
cartazes e a muitas iniciativas com grande participação popular. As autarquias e
as organizações associativas destacam-se no patrocínio dessas celebrações, mas basta
ler os jornais de hoje para se ver a indiferença com essa data é por eles ignorada.
Apenas uma ou outra tímida referência, sem que haja qualquer preocupação de
passar para a opinião pública, sobretudo a mais jovem, qualquer mensagem que
contribua para a avivar a nossa memória sobre esse dia da liberdade. De resto,
os jornais seguem a linha do próprio governo, pois nada dizem, nem nada fazem,
sobre esta tão importante data. Não admira, portanto, que o discurso governamental
seja centrado na propaganda, no auto-elogio, na manipulação dos números e até
no presunto de Barrancos, sem ter uma palavra ou uma linha de acção que incentive
quaisquer sentimentos de orgulho e de reforço da identidade nacional. É caso
para dizer que o Miguel Relvas faz falta, porque ao menos tentava cantar o Grândola
Vila Morena...
No meio das preocupações
e das trapalhadas por que passamos, com o navio desgovernado e sem que se veja
um rumo para nos levar a bom porto, ao menos que possamos continuar a festejar
o 25 de Abril. Sempre.
quarta-feira, 22 de abril de 2015
O futebol, a fadista e uma fotomontagem
A equipa de
futebol do F.C. Porto foi ontem copiosamente derrotada em Munique pela equipa
do Bayern, ficando eliminada da Liga dos Campeões. Hoje os jornais desportivos
portugueses destacavam em primeira página o “Terror em Munique”, o “Desastre” e
o “Dantesco”. Achei estes títulos absolutamente desproporcionados, sobretudo
depois da tragédia aérea que aconteceu nos Alpes franceses com o avião da Germanwings e do drama quotidiano dos
emigrantes que morrem no Mediterrâneo quando fogem do terror e buscam o sonho
europeu. É uma pena que os jornais desportivos portugueses e os seus gatekeepers não tenham noção das
palavras que utilizam. O que aconteceu ao F.C. Porto em Munique foi uma derrota
num jogo de futebol em que participaram jogadores de 10 nacionalidades. Ninguém
morreu por causa dessa derrota.
Quis tirar
dúvidas e procurei saber se a imprensa alemã também tinha utilizado palavreado
desproporcionado para celebrar a vitória do Bayern. Apesar de não ter
conhecimentos da língua alemã pedi ajuda ao meu amigo Google, que faz umas
traduções algo imperfeitas mas que facilitam a compreensão do conteúdo das
notícias. O diário berlinense Die Tageszeitung, abreviadamente
conhecido por Taz, não inclui
qualquer chamada de primeira página ao futebol e, no seu interior, dá igual
destaque à vitória do Bayern e aos espectáculos que a fadista Carminho vai
apresentar a partir do dia 9 de Maio em Munique e em mais quatro cidades alemãs.
Curioso, de facto.
Finalmente, nesta
edição destaca-se a elucidativa fotomontagem publicada na primeira página daquele jornal que alude
à tragédia do Mediterrâneo, a lembrar-nos que entre os seus responsáveis há gente engravatada ou que uma imagem vale mais do que mil
palavras.
terça-feira, 21 de abril de 2015
A Europa a chorar lágrimas de crocodilo
As imagens da
tragédia que está a acontecer no Mediterrâneo envergonham a Europa, com as suas
águas a transformarem-se num gigantesco cemitério para os desafortunados do
século XXI, sobretudo no chamado canal da Sicília, no estreito de Gibraltar e
no mar Egeu. Milhares de emigrantes têm morrido afogados porque fogem do caos
da Síria ou da Líbia ou, simplesmente, porque fogem da pobreza e ambicionam uma
vida melhor. Calcula-se que nas costas da Líbia haverá cerca de um milhão de
pessoas que espera a sua oportunidade para se lançar na aventura, organizada
por mafias que, a troco de 8 mil euros, lhes prometem o sonho europeu.
Esta tragédia
humanitária não acontece por acaso. É, sobretudo, uma consequência das
políticas que têm sido seguidas por alguns dirigentes europeus e americanos,
que têm apostado na intervenção militar e no derrube dos ditadores desta zona
do mundo (e do petróleo), casos de Saddam Hussein, Bashar-el-Assad e Muammar
Kadaffi, sem que haja alternativas democráticas, daí resultando a completa
instabilidade, a anarquia e a destruição destes países.
Todos nos
lembramos do que aconteceu na Líbia em 2011. Em poucos meses, com o aval da
ONU, os falcões da NATO lançaram os seus Tomahawks sobre o regime líbio, efectuaram
21.200 voos de reconhecimento e 7.958 voos de ataque sobre a Líbia, tendo-se
tornado a “componente aérea” da oposição a Kadhafi. A operação apenas teve o
apoio de metade dos 28 membros da NATO e a participação de oito - França,
Grã-Bretanha, Estados Unidos, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Itália e Canadá. A
Alemanha, tal como o Brasil, a Rússia, a China, a Índia e a África do Sul, não
apoiaram esta agressão, porque perceberam que era pior a emenda que o soneto. E
tinham razão.
A tragédia que
hoje se desenrola no Mediterrâneo só pode estar a fazer chorar lágrimas de
crocodilo aos dirigentes que apoiaram o derrube de Kadaffi e abriram as portas
ao caos na Líbia, muitos dos quais ainda estão no poder ou próximo dele, sem
que ninguém nos lembre do mal que nos fizeram.
domingo, 19 de abril de 2015
Governo existe para defender as pessoas
Há cinquenta
anos, num período em que passavam por grandes dificuldades, muitos milhares de
portugueses decidiram emigrar para uma Europa ainda não recuperada do drama da
guerra e muito carente de mão-de-obra. A França foi o destino mais frequente da
emigração portuguesa, mas muitos desses emigrantes escolheram o Luxemburgo como
destino e, rapidamente, tornaram-se a maior comunidade estrangeira que vive no Grão-Ducado.
Serão cerca de 100 mil pessoas numa população total de cerca de 500 mil
habitantes, isto é, cerca de 20% da população do Luxemburgo é portuguesa. A
poucos dias de terminar o seu mandato, o Presidente da Confederação das
Comunidades Portuguesas no Luxemburgo veio denunciar que os emigrantes
portugueses, tanto os da primeira como da segunda geração, estão a ser vítimas
de um processo de ostracização, marginalização e desconsideração, o que o Arcebispo
do Luxemburgo também denunciara recentemente. O jornal luxemburguês Le
Quotidien divulgou ontem este assunto com destaque de primeira página.
A principal
queixa da comunidade portuguesa está relacionada com a integração social, o
acesso ao emprego e o ensino do português, mas essa será apenas a ponta de um iceberg uma vez que, provavelmente, o
que se está a passar é uma descriminação que viola todos os princípios da União
Europeia. Sendo assim, aqui temos um caso em que se impõe que os nossos
governantes actuem rapidamente e com firmeza para defender a dignidade dos nossos
compatriotas emigrados, em vez de serem tão submissos e resignados a acatar os diktats dos “donos disto tudo”. Mostrem que têm coragem!
sábado, 18 de abril de 2015
R.I.P. José Mariano Gago
José Mariano Gago
morreu ontem com 66 anos de idade. Antigo ministro da Ciência nos governos de
António Guterres (1995-2002) e José Sócrates (2005-2011), foi o político que
ocupou um cargo ministerial durante mais tempo em Portugal e foi, também, o
responsável pelo desenvolvimento exponencial da ciência portuguesa nos últimos
anos.
Tinha sido um dos
melhores alunos do seu tempo no Instituto Superior Técnico, para cuja
Associação de Estudantes foi eleito presidente em 1969 e destacou-se na luta
estudantil contra a ditadura. Após ter concluido a sua licenciatura em
engenharia electrotécnica, seguiu para Paris para fazer um doutoramento na área
da produção e transferência de energia, mas quando em 1972 se encontrava de
férias em Lisboa e soube que tinha um mandato de captura da PIDE, decidiu-se
pelo exílio. Já doutorado trabalhou na Suiça e só regressou definitivamente em
Portugal em 1986 para presidir à JNICT, que antecedeu a FCT, a principal
entidade de financiamento público da investigação portuguesa. Depois assumiu a
função de ministro da Ciência, tendo a sua actividade sido elogiada em todos os
quadrantes políticos por ter conseguido colocar a ciência na agenda política e
demonstrar que essa era a aposta correcta para que Portugal recuperasse o seu
atraso. A ciência portuguesa adquiriu então padrões internacionais e muitos
doutorados que trabalhavam no estrangeiro regressaram a Portugal.
Porém, apareceu a
crise financeira e os governantes portugueses escolheram a contabilidade em vez
da ciência, hostilizando a comunidade científica portuguesa. Mariano Gago disse
então numa entrevista que “forçar doutorados à emigração é um suicídio
nacional”, mas parece que não foi ouvido por quem devia escutar estas avisos.
Homens destes
fazem muita falta ao nosso país!
Lafayette "regressa" aos Estados Unidos
Vários
jornais franceses, entre os quais o Sud Ouest que se publica em Bordéus,
destacam hoje nas suas primeiras páginas a partida de Rochefort da réplica
da fragata L’Hermione com rumo à
América, 235 anos depois da viagem em que seguiu o jovem Gilbert du Motier,
marquês de La Fayette. Então com 23 anos de idade, o marquês partiu no dia 20
de Março de 1780 para se juntar aos revoltosos americanos comandados pelo
general George Washington e para lhes anunciar a chegada eminente de reforços
franceses. Colocado no comando das tropas da Virginia, tornou-se um quase filho
adoptivo de Washington, tomou parte nas grandes batalhas que levaram à derrota
dos ingleses e tornou-se um verdadeiro herói nacional dos Estados Unidos com o
nome americanizado de Lafayette. Os franceses decidiram evocá-lo como “o símbolo
eterno da amizade franco-americana” e para isso decidiram construir uma réplica do L'Hermione.
A sua construção demorou 18 anos de pesquisas históricas, estudos
e angariação de fundos para fazer aquele que os franceses afirmam ser o maior
navio histórico a navegar, no qual serão usadas as técnicas tradicionais de
manobra e navegação.
O
navio é comandado por Yann Cariou, tem 54 tripulantes com uma média de idades
de 27 anos, dos quais um terço são mulheres. A chegada às costas da Virginia
está prevista para o dia 5 de Junho e, depois, o navio visitará 11 portos ao
longo da costa americana, entre os quais Baltimore, Filadélfia, Nova York,
Newport e Boston. O ponto alto desta viagem-memória será no dia 4 de Julho na
Grande Parada de Nova York. Como é costume neste tipo de viagens dos veleiros
ocidentais ao novo mundo, esperam-se muitos milhares de espectadores e de visitantes
nos portos visitados, assim como milhares de pequenas embarcações à vela e a
motor a escoltar o L’Hermione nas entradas e saídas dos
portos visitados.
No
dia 28 de Agosto de 2015 o navio estará de novo em Rochefort.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Memória lusa: brasão de armas de Ceuta
No próximo dia 24
de Maio vão realizar-se em Espanha as eleições municipais e as eleições
autonómicas e mais de 36 milhões de eleitores serão chamados às urnas,
incluindo-se neste número os nacionais de países da União Europeia que residam
em Espanha e estejam recenseados. Entre esses eleitores recenseados estão
20.684 portugueses.
As eleições
estão a despertar muito interesse porque podem apontar tendências, num ano em
que haverá eleições legislativas antes do fim do ano. Assim, para além das
questões locais e regionais, o que está a despertar o interesse político dos
espanhóis é saber qual vai ser a reacção do eleitorado em relação às grandes
forças políticas em presença, isto é, que apoio vai dar ao Podemos (Pablo
Iglésias), que confiança vai dar à renovação do PSOE (Pedro Sanchez) e que
penalização dará ao PP e ao seu desgastado governo (Mariano Rajoy).
As eleições estão
a mobilizar a cidade de Ceuta, que fica situada na margem sul do estreito de Gibraltar e que tem 18,5 km2 de superfície e o estatuto político de
cidade autónoma. Tem cerca de 80 mil habitantes, dos quais 59 mil são
eleitores. Desde 2001 que a cidade é governada pelo alcaide-presidente Juan
Jesús Vivas (PP) e nas últimas eleições para o parlamento autonómico o PP
elegeu 18 dos 25 deputados (65%).
A edição de hoje
do diário El Pueblo de Ceuta dedica toda a sua primeira página às
eleições e, na fotografia que retrata a última sessão plenária da Assembleia de
Ceuta na actual legislatura, destaca-se o brasão de armas da cidade, um dos
seus símbolos identitários herdado dos portugueses.
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Hillary e as mulheres presidenciáveis
Hillary Clinton,
a antiga Primeira-dama e Secretária de Estado anunciou a sua
candidatura às eleições presidenciais americanas de 2016 e essa iniciativa
lembra-me as eleições presidenciais portuguesas que, nos últimos dias, têm
ocupado a agenda mediática portuguesa.
Em ano de
eleições legislativas que vão escolher as políticas e a equipa que nos vai
governar nos próximos quatro anos, o tema das eleições presidenciais é
prematuro e inoportuno, mas tem servido para não se falar nos assuntos
inconvenientes para o governo, que são muitos. Não se fala na trapalhada das
dívidas do Primeiro-ministro à Segurança Social, nem naquela mentirosa
afirmação de que não há dívida nova e que os cofres estão cheios, nem naquele
Secretário de Estado arrogante e mentiroso que disse que não havia listas VIP,
nem nas nomeações de boys e girls para recompensar lealdades
partidárias, nem na lata com que o irrevogável se pavoneia sem nada de útil ter
feito no governo, para além das passeatas. Não se fala no desemprego, nem na
dívida que tem aumentado, nem no défice que encalhou nos 4%, nem na falta de
investimento, nem na pobreza que vemos nas ruas desta cidade de Lisboa. O que
tem ocupado a agenda mediática são os candidatos presidenciais, já anunciados
ou ainda por anunciar, como o neto, o morais, o amaral, o vitorino, o sampaio,
o carvalho, o marcelo, o lopes, o rio e outros que hão-de aparecer. É uma
grande alegria termos tanta gente capaz de ocupar o palácio de Belém. São todos
homens e, com alguma timidez, também têm sido lançadas na praça pública algumas
personalidades femininas, o que é muito positivo, mas que tem que ser visto com
cuidado.
Já imaginaram se
o exemplo dos Estados Unidos atravessa o Atlântico e chega até nós? À semelhança
de Hillary Clinton teríamos a actual Primeira-dama candidata e teríamos um
Aníbal, tal como o Bill, a fazer de primeiro-damo ou primeiro-cavalheiro. Para
quem está satisfeito com os dez anos de cavaquismo presidencial, aqui está uma
alternativa para que o Aníbal e a Maria troquem de papéis e nos continuem a
divertir. Talvez o primeiro Passos apoie esta divertida solução...
domingo, 12 de abril de 2015
Cuba: reencontro com os Estados Unidos
Cuba sempre
suscitou uma enorme curiosidade e simpatia na juventude europeia dos anos 60,
sobretudo pela mediatização que foi feita do mítico Ernesto Che Guevara, o
jovem médico argentino que se juntou a Fidel de Castro e que em 1957-1958 teve
um destacado papel na revolução cubana. Porém, a simpatia pela revolução cubana
também resultava de um somatório de episódios protagonizados por um grupo de
jovens guerrilheiros que, com muita coragem, tinham lutado contra o regime de
Fulgêncio Batista: era o audacioso assalto ao quartel de Moncada, o julgamento e
a condenação do jovem advogado Fidel, as peripécias da organização da guerrilha, a viagem do Gramna, o desembarque dos 82
revolucionários, a luta na Sierra Maestra, as batalhas por Santiago e Santa
Clara e a entrada em Havana em Janeiro de 1959. Era a fuga de Batista, a
vitória e o poder. A corrupção e os interesses americanos instalados na ilha foram
atacados. Depois, foi a nacionalização da banca e das grandes empresas, as
expropriações e a reforma agrária. A hostilidade americana acentuou-se e foi
decretado um embargo comercial. Cuba entrou na órbita da URSS e passou a
exportar a revolução.
Passaram-se
muitos anos e os tempos mudaram, mas Cuba permaneceu estática, apesar de ter
sido eliminado o analfabetismo e de existir um sistema de saúde universal. As
transformações revolucionárias não produziram os resultados esperados e os
cubanos empobreceram. A URSS implodiu e Cuba perdeu grande parte do apoio do
seu aliado. O envelhecido Fidel adoeceu e em 2008 foi substituído pelo seu
irmão Raúl Castro.
Agora, depois de
quase sessenta anos de isolamento e de recíproca hostilidade, os Estados Unidos
e Cuba reaproximam-se e os seus Presidentes – Barack Obama e Raúl Castro –
prometem cooperar, apesar de Castro ainda ter afirmado “as nossas profundas diferenças”.
Para já espera-se o fim do embargo comercial imposto pelos Estados Unidos em
1962, a retirada de Cuba da lista dos países patrocinadores do terrorismo e a
chegada de muitos turistas americanos. O mundo e a imprensa de língua espanhola elogiaram esta reaproximação mas, sobretudo, há 11 milhões
de cubanos que agora esperam por uma vida melhor.
sábado, 11 de abril de 2015
Foi você que falou em homens de palavra?
Este indivíduo que
foi baptizado como António Pires de Lima (APL) é um economista, igual a tantos
outros que por aí andam e, através do seu currículo, sabemos que vendeu sumos,
cafés e cervejas Super Bock. Agora, pela mão do irrevogável, chegou a ministro e, com ares
de uma competência que ainda está por demonstrar e alguma arrogância, faz
propaganda, vende disparates e alimenta ilusões. Para ele, a pasta da Economia são empresas e privatizações, não são trabalhadores. Ele é o privatizador-mor e,
aparentemente, é isso que faz no governo para, com obcessão ideológica, servir
interesses indefinidos.
Quando há tempos foi à Assembleia da República prestar
contas dos seus desempenhos não foi capaz ou não quis retratar a nossa débil
economia, nem explicar porque não há investimento, preferindo adoptar um lastimável
e ridículo comportamento que foi quase insultuoso para o Presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, que nem estava presente nem era para ali chamado.
Esperava-se mais de um PL!
Aqui há dias, a
propósito das questões da TAP e do insanável impasse que ameaça a empresa com
novas greves, veio dizer que “os acordos em homens de palavra são para se
cumprir”. Esta frase, dita por um ministro, é para rir à gargalhada.
Então, o que é que os
ministros em geral, e o nosso primeiro Passos em particular, têm feito aos
acordos que fizeram com os eleitores? Será que esta gente se esquece que está
no governo para cumprir um acordo feito com os eleitores que está inscrito no
seu programa eleitoral e, naturalmente, na Constituição da República?
Sucesso da indústria aeronáutica francesa
Diversos jornais
franceses, como acontece com Le Figaro, anunciam hoje que a Índia
encomendou 36 aviões Rafale à França,
durante a visita oficial que o Primeiro-Ministro Narendra Modi fez a Paris. Em
Fevereiro passado, tinha sido assegurada a venda de 24 unidades do mesmo avião ao
Egipto por 5 mil milhões de euros e, desta forma, em pouco tempo a França concretiza
a primeira venda deste avião para o estrangeiro com duas encomendas. A economia francesa anima-se e a imprensa faz eco desse entusiasmo.
O Rafale é um caça polivalente de amplo
raio de acção, de dupla propulsão e com asa em delta, podendo ter várias
versões. Foi concebido pela Dassault Aviation e entrou ao serviço em 2000.
Porém, até agora só a Força Aérea e a Marinha francesas tinham adquirido este
avião para o seu serviço, dispondo respectivamente de 42 e 26 unidades, embora
estejam encomendadas mais 120 aviões. Porém, apesar das suas reconhecidas
capacidades operacionais, o Rafale ainda
não se tinha imposto no mercado internacional porque a concorrência é muito
forte neste sector, com propostas americanas, russas, chinesas, suecas e de
vários consórcios europeus.
Actualmente,
sabe-se que a Índia mantém conversações para formar uma parceria com a Dassault
Aviation e para construir os aviões Rafale
na própria Índia, havendo também negociações com os Emirados Árabes Unidos para
equipar a sua Força Aérea.
Se faltasse alguma
coisa para confirmar que o mundo está cada vez mais inseguro, aqui está esta
notícia do sucesso da indústria aeronáutica francesa e da corrida que alguns países
vêm fazendo aos aviões de combate, casos do Egipto e da Índia, apesar de terem
outros problemas internos graves para resolver. Ou, como diria o Papa Francisco, esta economia mata!
quinta-feira, 9 de abril de 2015
Os exóticos periquitos da nossa Lisboa
Na sua edição de
ontem o diário inglês The Guardian esqueceu alguns dos
temas nacionais e internacionais relevantes e dedicou a fotografia da sua
primeira página ao psittacula krameri,
uma ave que é conhecida em Portugal como periquito-de-colar, periquito-de-colar-rosa,
periquito-rabo-de-junco ou periquito-da-Índia.
Trata-se de uma ave de origem indiana ou africana, com a
plumagem verde, com o bico vermelho em forma de gancho e com a cauda longa e
afilada. Mede entre 38 e 43 centímetros, mas a sua cauda mede cerca de metade
do comprimento total. Os machos têm um colar à volta do pescoço, o que permite
distingui-los das fêmeas. Voam em pequenos bandos e são muito barulhentos.
É a única ave da
família dos papagaios e periquitos em liberdade na Europa, como resultado de
fugas de cativeiro ou de libertações deliberadas, havendo-os em várias cidades
europeias. Em Portugal começaram a aparecer há poucos anos, mas a sua população
tem aumentado muito rapidamente, sobretudo em Lisboa, onde pode ser visto em
muitos parques e jardins, como o Jardim da Estrela, o Jardim Botânico da Ajuda,
o Jardim do Ultramar, o Parque Gulbenkian, o Parque Tejo e em muitos outros
jardins e zonas arborizadas, mas também já aparecem no Porto, Comporta, Guimarães,
Alvor e Torres Novas.
Gosto de ver os psittacula krameri e de os fotografar a
partir da minha janela lisboeta, empoleirados nas árvores ou voando em pequenos
bandos, porque dão um ar exótico à cidade e nos recordam a vertente exótica do
nosso passado histórico, que nos levou a percorrer todos os mares e a reconhecer o
mundo, muito para além das limitadas fronteiras da Europa.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Sunitas & xiitas: agora lutam no Iémen
Há actualmente um
enorme conflito religioso no mundo islâmico a fazer lembrar os conflitos
religiosos entre católicos e protestantes, que atravessaram a Europa no século
XVII, estando de um lado a confissão sunita
e do outro a confissão xiita, cada
uma delas resultante das diferentes interpretações do Alcorão. O conflito é
sério e tem-se desenvolvido na Síria e no Iraque, mas agora parece ter-se
aberto uma nova frente no Iémen, com uma guerra ainda não declarada entre o
Irão xiita e a Arábia Saudita sunita, como revela a edição asiática da
TIME.
A República do
Iémen tem 527 mil km2 e 24 milhões de habitantes. Estrategicamente
situada à entrada do mar Vermelho e com fronteira com a Arábia Saudita, o país tem
estado a ser dominado por um conflito nascido da acção dos rebeldes houthis (xiitas) que, com o apoio do Irão, desafiaram a autoridade do governo e já dominam a maior parte do
país. O Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi
refugiou-se em Riad, na Arábia Saudita. A cidade de Sanaa, que é a capital do
Iémen está em poder dos rebeldes houthis, enquanto Aden, a segunda cidade do
país, está confrontada com violentos combates entre os apoiantes do Presidente
e os rebeldes houthis, mas também com uma grave situação humanitária. Uma coligação
militar liderada pelos sauditas, com o apoio do Egipto, Jordânia, Marrocos e
das monarquias do golfo Pérsico interveio com ataques aéreos e ameaça com uma
invasão terrestre. Os Estados Unidos apoiam.
Como pano de
fundo deste conflito e desta intervenção saudita no Iémen está a luta pela
supremacia regional entre o Irão (xiita)
e a Arábia Saudita (sunita). Perante esta
situação, as posições dos Estados Unidos são incompreensíveis, aparecendo
contra ou ao lado do Irão, conforme as circunstâncias. Em Lausana fazem acordos
com o Irão para limitar o seu programa nuclear, no Iraque aliam-se ao mesmo
Irão para combater o Estado Islâmico, enquanto na Síria apoiam as forças que
lutam contra Bashar-el-Assad e o seu aliado iraniano. Agora, no Iémen, estão ao
lado dos sauditas e contra o Irão. Ninguém percebe a política externa americana
que, apesar do seu poder, não consegue soluções consequentes. Entretanto, o
terrorismo ganha terreno e a indústria do armamento farta-se de fazer negócios
e de ganhar dinheiro.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Um chegada inédita na Volvo Ocean Race
Chegaram ontem ao
porto brasileiro de Itajai os primeiros quatro veleiros que concluiram a 5ª
etapa da Volvo Ocean Race 2014-2015, que ligou Auckland (Nova Zelândia) a
Itajai (Brasil). Foi a mais longa e também a mais dura das nove etapas da
prova, que decorreu ao longo de um percurso de 6776 milhas, que atravessou o
Pacífico Sul, que bordejou as latitudes até onde aparecem os icebergs e que
transpôs o temível cabo Horn.
Como salienta o Jornal
de Santa Catarina foi uma chegada inédita, porque dos cinco veleiros
ainda em prova, os quatro primeiros chegaram a Itajai em menos de uma hora.
Depois de tantas milhas e de tantas peripécias, é de facto um final de etapa
absolutamente inédito, com quatro veleiros a navegar à vista. O primeiro
veleiro a cortar a linha de chegada foi o Abu
Dhabi Ocean Racing, cujo skpiper
é o inglês Ian Walker e de cuja tripulação internacional fazem parte ingleses
(2), australianos (2), neo-zelandeses (2) e um americano, um irlandês e um
espanhol.
A prova é
retomada no dia 19 de Abril, quando se iniciar a 6ª etapa entre Itajai e
Newport, numa distância de 5010 milhas.
De acordo com o plano
da regata, a 7ª etapa ligará Newport a Lisboa, onde se estima que os veleiros
cheguem entre os dias 23 e 27 de Maio.
Ronaldo ressuscitou com 5 golos. É obra!
Desde que ganhou
pela terceira vez o título de melhor futebolista do mundo que Ronaldo não
justificava essa distinção com golos, quer na sua equipa do Real Madrid, quer
na selecção nacional portuguesa. Havia alguma preocupação com esse facto que para alguns
prenunciava o princípio do fim de uma notável carreira mas que outros,
simplesmente, atribuiam à instabilidade emocional do atleta provocada pela sua
separação da modelo russa Irina Shaik. Até que ontem, talvez por ser domingo de
Páscoa, o homem ressuscitou num jogo para a Liga BBVA, em que a sua equipa
defrontou o Granada CF e venceu por números que já não se usam (9-1). Ronaldo
marcou 5 golos, coisa que fez pela primeira vez na sua carreira.
Todos ficamos
satisfeitos com a performance desse
homem que, no quadro das culturas mediáticas contemporâneas, é o mais famoso
português de todos os tempos e, certamente, o único que tem notoriedade
universal. Alguns jornais portugueses e espanhóis, sobretudo os jornais
desportivos, destacaram em primeira página os cinco golos de Ronaldo, um feito
que é conhecido na gíria futebolística espanhola como manita, mas esse destaque não surpreende. O que surpreendeu foi o
que fez um jornal indiano, ao destacar esse feito num país em que o futebol
ainda não é um acontecimento desportivo de primeiro plano.
O Hindustan
Times, um diário que tem edições em 8 cidades indianas e cerca de 3,5
milhões de leitores, decidiu vender uma parte do seu título (substituindo hindustan times por hindustan is good) e uma boa parte do seu espaço de primeira página com um anúncio
das motocicletas da Honda, mas também destacou os cinco golos de Ronaldo como a
principal notícia do dia, escolhendo o título Five-star Ronaldo. A capa do jornal ficou graficamente desfigurada
com estas combinações, mas o marketing é assim.
sábado, 4 de abril de 2015
Há sinais muito promissores no Irão
Depois de um
longo processo de conversações, as últimas das quais realizadas em Lausana,
chegou-se a um entendimento de base que limita o programa nuclear iraniano em
troca do fim das sanções internacionais que têm vigorado, o qual foi subscrito
pelo Irão e pelo chamado grupo P5+1 (Estados Unidos, China, Rússia, Reino
Unido, França e Alemanha).
Hoje, a edição do
prestigiado e influente Le Monde chama-lhe um acordo
histórico, mas enquanto os iranianos comemoraram esta notícia com grandes
manifestações de júbilo nas ruas, o primeiro-ministro israelita Benjamin
Netanyahu considerou-o uma ameaça a Israel. Nos Estados Unidos há muita gente
que não ficou nada satisfeita, pelo que o Presidente Obama vai ter pela frente
a tarefa de convencer os seus opositores republicanos no Congresso.
Nos próximos três
meses serão discutidos os pormenores do acordo final que será assinado em
Junho, mas não é seguro que os acertos finais decorram sem problemas, sobretudo
nos Estados Unidos, apesar de estarem garantidas as principais exigências
americanas quanto à impossibilidade do Irão desenvolver armas nucleares e de
estar assegurada a aceitação de regulares verificações por inspectores
internacionais.
O Irão é um
inimigo tradicional de Israel e tem estado envolvido, directa ou
indirectamente, na complexa conflitualidade e na guerra que está em curso no
Iraque e na Síria, para além de estar empenhado na luta contra as forças do
Estado Islâmico. O Irão é uma peça muito importante na região e tem uma equação
com muitas variáveis para resolver, mas o passo que agora deu é muito promissor
no sentido de estabelecer uma relação de maior cooperação com os Estados Unidos
e, por essa via, contribuir para a resolução dos graves conflitos daquela
região.
(PS: A mesma edição do Le Monde destaca em primeira página o falecimento de Manoel de Oliveira).
(PS: A mesma edição do Le Monde destaca em primeira página o falecimento de Manoel de Oliveira).
sexta-feira, 3 de abril de 2015
R.I.P. Manoel de Oliveira
Com 106 anos de
idade faleceu ontem na sua cidade do Porto o realizador Manoel de Oliveira.
Porém, não se trata de um homem que apenas se destacou pela sua singular
longevidade mas, sobretudo, por uma vida inteiramente dedicada ao cinema, que
cultivou com mestria. Era considerado “o mais velho realizador em actividade” e
teve prémios, condecorações e reconhecimentos académicos em Portugal e em
outros países, sendo muito respeitado pela crítica, tanto em Portugal como no
estrangeiro. O seu primeiro trabalho foi realizado em 1931, mas ao longo da sua
carreira de cineasta realizou 32 longas metragens, onde se incluem Aniki-Bóbó
(1942), Amor de Perdição (1978), Francisca (1981), Non ou Vã Glória de Mandar
(1990), Vale Abraão (1993) e Um filme falado (2003), entre outros.
Um dos aspectos
mais relevantes da obra de Manoel de Oliveira foi o facto de ter transformado o cinema português numa actividade cultural de referência e a ter levado até às elites europeias, sobretudo em França e na Itália,
vencendo as dificuldades inerentes a uma periferia geográfica e cultural do
nosso país. Daí, que o seu desaparecimento seja destacada notícia não apenas na
imprensa portuguesa, mas também na imprensa francesa, italiana e espanhola, com
especial destaque para o diário francês Libération.
A vasta obra de Manoel de Oliveira que tantas vezes foi incompreendida, objecto de polémica e por vezes símbolo de má qualidade no nosso limitado meio cultural, vai agora poder ser revista e reapreciada no cinema, na televisão, ou nos espaços indoor através do DVD. Provavelmente, como sucede muitas vezes no campo das artes, o reconhecimento é tardio porque, habitualmente, o apreço pela obra de genialidade só surge post mortem. Por isso, com humildade, eu vou reapreciar a obra. Não quero cair na hipocrisia colectiva daqueles que elogiam Manoel de Oliveira sem ter visto um só dos seus filmes.
A vasta obra de Manoel de Oliveira que tantas vezes foi incompreendida, objecto de polémica e por vezes símbolo de má qualidade no nosso limitado meio cultural, vai agora poder ser revista e reapreciada no cinema, na televisão, ou nos espaços indoor através do DVD. Provavelmente, como sucede muitas vezes no campo das artes, o reconhecimento é tardio porque, habitualmente, o apreço pela obra de genialidade só surge post mortem. Por isso, com humildade, eu vou reapreciar a obra. Não quero cair na hipocrisia colectiva daqueles que elogiam Manoel de Oliveira sem ter visto um só dos seus filmes.
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