quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Os lucros da RTP são uma ficção

Desde que o assessor Borges foi à televisão para fazer um frete a outros ou, simplesmente, para alimentar a sua própria vaidade, que o tema da privatização da RTP se fixou na agenda política e passou a suscitar opiniões muito diversas.
A RTP tem sido irresponsavelmente tutelada e gerida desde há muitos anos. Habituou-se a gastar o que tinha e o que não tinha. A contratar quem precisava e quem não precisava. A pagar salários milionários e mordomias de luxo. A viver com uma exploração cronicamente deficitária. Perdeu a guerra das audiências e a maior fatia do bolo publicitário para a TVI e a SIC. Endividou-se e nem os milhões das injecções de capital, das indemnizações compensatórias e da taxa audiovisual, têm chegado para travar aquela desgraça de gestão.
Ainda ontem em Londres, o nosso primeiro afirmou que a RTP “custa ao Estado mais de 300 milhões de euros”, enquanto o ministro da tutela passeia por Timor e nada diz. Porém, têm sido divulgadas notícias muito imprecisas quanto à gestão da RTP e até tem sido escrito que a empresa é lucrativa. É uma maneira de branquear aquela velha nódoa de gestão e de atirar poeira para os olhos dos contribuintes. Tal como existe, a empresa não é nem pode ser lucrativa, mesmo que uma contabilidade criativa valorize o seu Activo e desvalorize o seu Passivo. Desejavelmente, poderia ao menos ter uma conta de exploração equilibrada, mas com tantas “estrelas” a encherem-se e com a publicidade em crise, isso não é possível. Por isso, como bem refere o Jornal de Notícias, os lucros da RTP são uma ficção. O que aconteceu foi que em 2011 houve uma receita extraordinária pela venda do arquivo histórico da RTP ao Estado e a alienação dos estúdios do Lumiar. Foram 200 milhões de receita que não se voltarão a repetir. Foram lucros “só para inglês ver”.
A nossa democracia precisa da RTP, mas não precisa desta RTP, despesista e esbanjadora e, ainda por cima, com uma qualidade quase sempre medíocre.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Ponte da Ajuda merece uma visita

A Ponte de Nossa Senhora da Ajuda ou simplesmente Ponte da Ajuda atravessa o rio Guadiana a cerca de 12 quilómetros a jusante de Elvas e está em ruínas há mais de trezentos anos, tendo em 1967 sido declarada como monumento de interesse nacional pelo Estado português.
A ponte é uma construção que conserva uma imponência que impressiona o visitante, com os seus dezanove arcos ao longo de 380 metros de comprimento, fortificada e com um torreão a meio, fazendo a ligação entre as terras de Elvas e as terras de Olivença. Foi mandada construir pelo rei D. Manuel I a fim de assegurar a operação das forças militares portuguesas na margem esquerda do rio Guadiana e o apoio à praça de Olivença, tendo sido destruída e recuperada várias vezes. Em 1709 foi dinamitada pelo exército espanhol, ficando interrompida a única ligação entre Elvas e Olivença, pelo que o acesso português a esta vila só passou a ser possível através do território espanhol. No início da chamada Guerra Peninsular, em 1801 a isolada praça de Olivença foi entregue sem resistência às tropas espanholas de Manuel Godoy que invadiram e ocuparam o Alto Alentejo, no incidente militar que durou 18 dias e ficou conhecido como a Guerra das Laranjas. A paz foi restabelecida pelo Tratado de Badajoz e as praças de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela foram restituídas à coroa portuguesa, mas o mesmo não aconteceu com Olivença. Mais tarde, o Congresso de Viena de 1815 decidiu a restituição de Olivença a Portugal, mas as autoridades espanholas nunca cumpriram essa determinação.
Na cimeira luso-espanhola de 1994, o governo português recusou a construção de uma ponte transfronteiriça sobre o rio Guadiana, assumindo todos os encargos e responsabilidades pela construção dessa ponte, assim evitando quaisquer formas de reconhecimento tácito de um traçado de fronteira sobre a linha do Guadiana e qualquer cedência do território de Olivença. A nova ponte foi inaugurada em 2000 a curta distância para jusante da antiga Ponte da Ajuda. Se visitar Elvas, visite também a Ponte da Ajuda e, se atravessar a nova ponte, não deixe de apreciar a antiga.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Viagens de Estado... em tempo de crise

Os nossos governantes desdobram-se em viagens de Estado, naturalmente para melhor desempenhar as suas importantes funções. Essas viagens são missões de sacríficio, são obrigações indeclináveis e, mesmo em tempo de austeridade, só podem ser, como antigamente, a bem da Nação. Não se imagina outra coisa!
O ministro Portas tem sido o campeão e ninguém se lhe compara. O homem embarca, desembarca, discursa, fotocopia, posa, orienta e corre. Este ano, já tem na sua bagagem pelo menos duas visitas aos Estados Unidos e viagens à Turquia, ao Brasil, à China  e, agora, a Moçambique. Falta dinheiro para o Instituto Camões, mas não falta dinheiro para as viagens do ministro Portas e das suas comitivas. Que exemplo!
O ministro Portas está em Moçambique para “dar ânimo aos empresários portugueses”. Em tempo de crise, é uma decisão controversa e cara. Hoje visitará a FACIM-2012 e, em particular, o Pavilhão de Portugal. Ontem terá estado num encontro informal com os empresários portugueses e, amanhã, estará na recepção alusiva ao Dia de Portugal na FACIM. Um programa muito apertado e cansativo!
O ministro Relvas inicia amanhã uma visita a Timor-Leste para “reiterar o apoio de Portugal à consolidação política e económica do país”. Em tempo de crise, é uma decisão controversa e cara. O ministro vai na esteira da viagem do ministro Mota e espera ser aplaudido em Dili e não voltar a ser vaiado, como aconteceu em Mafra na abertura dos Jogos da CPLP.
Eu pergunto se, em tempo de grande sacrifício e de pouca esperança, os meus impostos são para pagar viagens destinadas a dar ânimo aos empresários portugueses” e para “reiterar o apoio de Portugal à consolidação política e económica do país”. O que é que estes ministros-figurões podem fazer em Timor-Leste ou Moçambique que os nossos embaixadores residentes não possam ou não devam fazer?

domingo, 26 de agosto de 2012

Espanha: a hora do "patrioptimismo”

A edição de hoje do diário madrileno La Razón apresenta uma capa muito simbólica para os seus leitores que estão a regressar de férias e que se vão reencontrar com uma situação política dominada pela dúvida e pela incerteza, lançando-lhes um desafio muito mobilizador:
 "La hora del patrioptimismo".
De facto, a Espanha passa por um período muito crítico e enfrenta sérias dificuldades: é o desafio do futuro do euro e a possível necessidade de um resgate internacional, é a questão  da unidade nacional e das soberanias regionais, é o grave problema do desemprego e a ameaça sindical de “tomar las calles”. Sob o peso das dificuldades económicas, há quem pense que os desafios nacionalistas se vão acentuar como nunca, pelo menos no País Basco e na Catalunha, mas também que se agrave a tendência espanhola para extremarem posições e passarem rapidamente da euforia à depressão.
Por isso, a edição veicula uma mensagem de unidade nacional e de esforço repartido, porque só um país unido e com esperança pode superar os erros do passado e os excessos do Estado social. A edição refere a necessidade de um patriotismo moderno, que se estenda a todos os sectores da sociedade como acontece com o desporto, critica a obsessão financeira alemã e recorda que o projecto europeu é, sobretudo, um projecto de solidariedade e de paz para acabar com os enfrentamentos bélicos e os nacionalismos que condenaram a Europa. O jornal também destaca a importância do optimismo para vencer as dificuldades, através do trabalho e da determinação para mudar as coisas que estão mal e, evidenciando esperança na resolução da situação, afirma que “o optimismo vende”. Finalmente, com a receita patriotismo + optimismo, até o La Razón se mostra optimista e acredita que "os bons políticos e as grandes nações emergem nos momentos complicados".
Aqui no rectângulo, as coisas não são muito diferentes do que se passa em Espanha, mas há a sensação de que, neste momento complicado, não temos políticos à altura das circunstâncias e que em vez de cumprirem uma missão de serviço público, têm um emprego e usam-no como trampolim.

RTP: o atrevimento do assessor Borges

Aproxima-se o dia em que o governo se propõe desfazer-se da RTP, o que constitui uma decisão muito controversa, porque embora precisemos de uma televisão pública, não é desta que necessitamos. Nós precisamos de uma RTP, mas não desta RTP!
A RTP que temos é um poço sem fundo onde se enterram e desperdiçam milhões de euros provenientes dos nossos impostos e, além disso, é frequentemente um aborto de qualidade e um atentado à inteligência das pessoas. A situação arrasta-se desde há muitos anos, mas tem havido uma gravíssima cobardia das tutelas e das administrações que, ao longo dos anos, foram incapazes de resolver os graves problemas daquela casa, do seu sobredimensionamento, do excesso de pessoal e de dirigentes, das mordomias e dos carros de luxo, dos despesismos, do pluriemprego, da obscenidade dos altos salários que são pagos às “estrelas”, do culto do amiguismo corporativo e, em síntese, daquele escandaloso regabofe. Só nos últimos quatro anos a RTP custou mil milhões de euros aos cofres públicos em indemnizações compensatórias (488 milhões) e em transferências de capital (597 milhões), a que se devem somar as contribuições do audiovisual que os portugueses pagam mensalmente com a factura eléctrica (cerca de 500 milhões). É mais do que um milhão de euros todos os dias!
Agora o governo parece querer livrar-se rapidamente da RTP e entregá-la aos tubarões. Segundo revelou o assessor Borges, esse emissário da Goldman Sachs em Portugal que é ele mesmo um tubarão, o cenário mais provável para o futuro da RTP é o da concessão da empresa a investidores privados, com a garantia de continuarem a receber a taxa audiovisual que é de cerca de 140 milhões de euros anuais. Que grande ideia tem esse assessor Borges: entregar o que é nosso e querer que continuemos a pagar! O assessor Borges gosta muito de falar e ninguém no governo o manda calar. O assessor Borges é um atrevido e um espertalhão, ou se quiserem, um chico-esperto. Porque não se dedica apenas ao Pingo Doce, que até lhe dá emprego na Polónia? Quanto à RTP, entre privatização e concessão, porque não uma valente vassourada naquele regabofe, começando pela venda em leilão dos 57 carros de luxo?

sábado, 25 de agosto de 2012

Tesouros escondidos do nosso património

O nosso país tem uma forte identidade nacional assente em quase novecentos anos de história e pelo território nacional estão disseminadas fortificações e castelos, palácios e conventos, igrejas e pontes, que constituem um importante património monumental de grande valor histórico e simbólico.
A UNESCO reconheceu essa realidade e já distinguiu mais de uma dezena de monumentos, sítios arqueológicos ou paisagens naturais com a classificação de Património da Humanidade. Essas escolhas da UNESCO fazem parte dos nossos roteiros culturais e são locais conhecidos e visitados, não só pelo seu valor patrimonial, mas também pelas histórias que encerram.
No entanto, há muitos “tesouros escondidos do nosso património” e, na sua última edição e numa reportagem muito interessante, a revista Visão apresenta 25 desses sítios de grande interesse histórico e cultural, que ainda não foram reconhecidos pela UNESCO e que aconselha vivamente a serem visitados. Esses sítios encontram-se por todo o país, mas enquanto a localização de alguns não estimula uma visita, há outros que ficam bem próximos de locais por onde passamos com frequência.
Belmonte e Almeida, Penedono e Evoramonte, Idanha-a-Velha e Tibães são, apenas, alguns dos monumentos ou sítios que a Visão aconselha a descobrir. A partir de agora e depois deste alerta da revista, espero estar mais atento para descobrir ou redescobrir alguns desses locais.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os nossos contabilistas são uns teimosos!

Com títulos diversos e em vários jornais, estamos a ser fustigados com a notícia que, apesar da austeridade, as coisas não estão a correr bem devido à quebra nas receitas fiscais, o que deixa o objectivo do défice de 4.5% para 2012 mais longe de ser alcançado. Embora a despesa com a administração pública tenha caído quase mil milhões de euros devido sobretudo ao corte de subsídios aos funcionários e pensionistas, verificou-se uma brutal quebra na receita fiscal, estimando-se que o desvio atinja três mil milhões de euros, que é um montante superior a 1,5% do PIB e que “atira” o défice para 6.0%.
A execução orçamental de 2012 está pressionada pela subida da despesa com prestações sociais e subsídios de desemprego e com a quebra das contribuições para a Segurança Social, que são consequência desta austeridade. O governo já em Maio alertara para o aumento dos "riscos e incertezas" que ameaçavam o cumprimento da meta do défice, devido aos resultados da execução orçamental do lado da receita. O que é que esperava o gaspar e os contabilistas que nos governam? Conhecem o país e a economia reais? Provavelmente, não! Toda a gente sabe que quando se espreme um limão, a partir de certa altura já não dá sumo. O caminho adoptado não está a resolver o nosso problema e são precisas novas ideias. Talvez novas pessoas. Talvez menos viagens. Talvez menos austeridade. Assim, isto é um naufrágio, não é um ajustamento.
Aqueles que há dezasseis meses afirmavam que não seriam cortados subsídios e que tudo seria resolvido com a saída do pinto de sousa e com o corte de gorduras, em vez de assumirem que erraram e que não são competentes, já nos ameaçam com mais austeridade. Os nossos contabilistas e os seus assessores são mesmo uns teimosos!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O fascínio lusitano por bons automóveis

A Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) divulga mensalmente as estatísticas das vendas de veículos automóveis em Portugal. São muito poucas as entidades públicas ou privadas que são tão céleres na divulgação de um tipo de informação que, como esta, nos ajuda a perceber melhor a real situação económica e social em que nos encontramos e, por isso, a ACAP merece elogios.
Pois, segundo o seu boletim mensal, entre Janeiro e Julho deste ano, o mercado automóvel caíu em todos os sectores – ligeiros de passageiros, comerciais ligeiros e veículos pesados. Em sete meses foram vendidos 72.760 veículos que, relativamente ao mesmo período de 2011, representa uma queda de 41%. São os sinais da crise e da sua dimensão!
A análise das estatísticas é deveras curiosa, pois mostra-nos que os portugueses compram menos mas que continuam a comprar do melhor, não prescindindo de motores com desempenho acima da média, nem dos emblemas de maior prestígio. Assim, as marcas mais vendidas foram a Renault, a Volkswagen, a Peugeot, a BMW e a Audi e, nos 62.661 veículos ligeiros de passageiros vendidos nos primeiros sete meses do ano de 2012, encontram-se 4000 BMW, 3807 Audi e 3192 Mercedes, embora o modelo mais vendido tivesse sido o Renault Mégane, que custa 28.100 euros. A lista das vendas informa-nos, ainda, que nesses sete meses foram vendidos 167 Porsches (apenas 10% menos do que em 2011), 78 Jaguares (mais unidades do que em 2011), 6 Ferraris, 3 Aston Martin, 3 Bentley e um Lamborghini. Quem serão e qual a origem dos rendimentos desta gente?
A conclusão é óbvia: a crise não é igual para todos, há quem continue a ter privilégios injustificados e imorais e, evidentemente, não há justiça fiscal nenhuma. O nosso contabilista gaspar continua a ter medo dos fortes e a malhar nos fracos.

domingo, 19 de agosto de 2012

Um jornalismo de vão de escada?

Nos últimos tempos tem sido ouvida a voz de gente muito corajosa que, sobretudo através da televisão, tem denunciado o compadrio e a promiscuidade que, simultaneamente, domina o aparelho de Estado e os interesses empresariais, havendo algumas dessas vozes que não hesitam em utilizar a palavra corrupção para descrever o estado a que chegamos. Ninguém tem dúvidas quanto às dificuldades por que passamos e, por isso, é exigível mais rigor na gestão pública e mais equidade nos sacrifícios pedidos à população. A austeridade é realmente necessária, mas os sacrifícios têm que ser equitativamente repartidos. Porém, não tem sido assim e isso é uma chocante evidência, que deve ser denunciada pela imprensa.
Os relatos que circulam na blogosfera, verdadeiros ou não, são muito preocupantes. Somos frequentemente confrontados com informações relativas a admissões nos quadros do Estado de assessores, especialistas, motoristas e gestores, aparentemente amigos e até familiares do poder. É verdade ou não? Haverá governantes que viajam demais e que levam consigo grandes comitivas. É verdade ou não? Dizem que há serviços e fornecimentos adjudicados aos amigos e sem concurso. É verdade ou não? Dizem que há demasiadas excepções à supressão dos subsídios dos assalariados e pensionistas do Estado. É verdade ou não? A imprensa e os jornalistas raramente tratam esses temas. Estarão dependentes dos poderes que dominam a sociedade? Estarão amedrontados? Será uma questão de preguiça ou de obediência à lei do menor esforço?
A generalidade dos jornalistas perde muito tempo com o futebol e com os pequenos escândalos sociais, esquecendo a sua função de formar e de informar sobre os assuntos importantes e, sobretudo, está a perder a prática da reportagem de investigação que traga para o conhecimento público os casos de desgoverno, de abuso de poder, de despesismo, de favorecimento ilícito e de corrupção, que possam eventualmente constituir notícia com interesse relevante. O jornalismo que vamos tendo parece de vão de escada ou, como se diz na gíria, é um jornalismo de corta e cola.

sábado, 18 de agosto de 2012

Que faire pour la Syrie?

O jornal francês Libération dedica a sua última edição ao problema sírio e revela que o violento conflito que opõe o regime de Bashar al-Assad às forças da oposição e seus aliados, parece que está para durar. Depois da mediação de Kofi Annan ter sido infrutífera, foi agora pedido a Lakhdar Brahimi, um diplomata argelino, o mesmo esforço para encontrar uma solução para o conflito.
Desde há alguns meses que a Síria está envolvida numa guerra civil e é urgente que se encontre uma solução, porque o povo sírio não merece tanta violência, nem tanta destruição, nem aquela tão sensível região do Médio Oriente, por onde passam os grandes interesses internacionais, suporta tanta instabilidade.
Nas duas últimas dezenas de anos o mundo assistiu a algumas guerras civis, destacando-se especialmente as que ocorreram na Jugoslávia, no Sri Lanka e na Líbia. Embora nesses casos tenha havido algum envolvimento externo em homens, material e dinheiro, tratou-se principalmente de um feroz conflito interno entre grupos étnicos ou facções políticas, que se caracterizou pelas violentas atrocidades praticadas por todos os contendores. Os relatos e as imagens que então nos chegaram de Sarajevo, de Jaffna ou de Benghazi, mostraram que não havia bons de um lado e maus do outro, mas que todos se tinham tornado maus. É exactamente o que se está a passar na Síria. São todos igualmente maus e só com base nessa realidade é que se pode encontrar uma boa solução, sem a interferência da imprensa internacional e de quem a manipula e controla.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A Romaria da Senhora da Agonia

A grande romaria começa hoje em Viana do Castelo! É costume dizer-se que é uma das mais afamadas de quantas se realizam no norte de Portugal, mas também no resto do país e até na vizinha região da Galiza, pois tem aspectos etnográficos de grande beleza. Durante quatro dias a cidade acolhe milhares de visitantes para ver os desfiles, os tapetes floridos, as procissões, os concertos, a animação de rua e o fogo-de-artifício, mas também para conviverem com a rica tradição artesanal e gastronómica minhota. Como pontos mais altos da romaria destacam-se o cortejo histórico-etnográfico que se realiza no dia 18 de Agosto, e os festejos do dia 20, quando a cidade irá acordar com as suas ruas cobertas com tapetes floridos por onde passará a tradicional procissão que sai da igreja da Senhora da Agonia, que vai até à margem do rio Lima e que depois volta à igreja.
Naturalmente, ocorrem-nos a voz de Amália e os versos de Pedro Homem de Mello:
Se o meu amor não me engana / como engana a fantasia 
Havemos de ir a Viana / ó meu amor algum dia 
A Romaria da Senhora da Agonia é uma manifestação extraordinária da cultura popular portuguesa que decorre em Viana do Castelo, num belo enquadramento paisagístico entre o rio Lima e o monte de Santa Luzia. Por isso é sempre aliciante voltar a Viana ou, como sugere a canção, ir a Viana algum dia. Porém, em tempo de austeridade e para os que estejam em Lisboa e se queiram deslocar a Viana do Castelo, não podem deixar de pensar nos 400 quilómetros de distância, nas portagens e nas despesas de alimentação e alojamento. São os sinais dos tempos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A tentação da chanceler e o seu plano B

A Europa está em férias e, aparentemente, nada acontece de relevante na sua vida política e económica. Porém, a prestigiada revista The Economist revela que a chanceler alemã está tentada a ultrapassar o actual impasse, mesmo que seja necessário desmembrar a zona euro. De facto, a equipa económica de Angela Merkel parece que tem trabalhado no sentido de resolver o problema grego e, também, os problemas económicos e financeiros de vários países que integram a moeda única. Apesar de sempre ter afirmado o interesse alemão na unidade dos 17 e na preservação da moeda única, a chanceler alemã está agora a considerar uma estratégia alternativa ou um plano B. Esse plano pretende salvar o euro através de uma intervenção selectiva, destinada a afastar os países que se têm revelado incapazes de cumprir as regras da moeda única e tem duas alternativas: uma considera apenas a saída da Grécia da zona euro, mas outra considera uma saída mais alargada de países, designadamente os que já foram ou estão em vias de ser intervencionados, isto é, os PICS (Portugal, Irlanda, Chipre e Espanha). Segundo o estudo feito, todos estes países falharam no seu projecto de integração na moeda única e têm perdido competitividade, aumentado o desemprego e reduzido o seu produto nacional. Apesar da austeridade e das reformas adoptadas, são muito reduzidas as perspectivas de melhorar o desempenho económico desses países no curto/médio prazo. A análise do The Economist e a referência ao plano B alemão são angustiantes, porque revelam que a solidariedade europeia já não existe e contrariam o recente discurso do nosso primeiro que, cheio de optimismo, afirmou que em 2013 o nosso ciclo económico seria invertido. Talvez o mês de Setembro já nos revele novidades, mas é evidente que também precisamos de um Plano B, para o que der e vier.

 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Índia festeja 65 anos de independência

A Índia celebra hoje o 65º aniversário da sua independência e o dia é festejado com pompa e circunstância por todo o território nacional desde os Himalaias ao Cabo Comorim, através das mais diversas cerimónias destinadas a evocar uma data, mas sobretudo para afirmar um sentido de unidade e de orgulho nacionais.
Foi no dia 15 de Agosto de 1947 que Jawaharlal Nehru pronunciou o famoso discurso da independência que veio a dar o título ao famoso livro de Dominique Lapierre e   Larry Colins - “Freedom at midnight”. A prestigiada revista India Today associa-se à efeméride e, na sua primeira página, destaca as figuras históricas de Mohandas Gandhi e de Muhammad Ali Jinnah, que simbolizam a luta anti-colonial e a partilha da Índia Britânica entre os hindus e os muçulmanos. Esse processo foi muito complexo e muito conflituoso e, de certa forma, mantém-se na actualidade, porque apesar do seu passado comum sob a administração inglesa,  as diferenças entre os dois países são cada dia mais acentuadas. São mundos à parte. Enquanto a Índia regista um assinalável progresso económico, apesar de continuar a manter elevadíssimos índices de desigualdade e de pobreza, o Paquistão está cada vez mais ameaçado pela instabilidade política e por grupos terroristas.
A fronteira indo-paquistaneza é frequentemente referida como “a mais perigosa do mundo", não só devido à rivalidade entre a Índia e o Paquistão, mas também porque a região da Caxemira é objecto de reivindicações territoriais indianas, paquistanesas e até chinesas, isto é, por três países que dispõem de armas nucleares. A celebração do 65º aniversário da independência indiana é uma boa oportunidade para nos lembrarmos desse problema que as Nações Unidas têm em mãos, exactamente desde 1947.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Adeus Londres. O Rio já espera por nós!

Os Jogos Olímpicos de Londres chegaram ao fim e, para além do seu enorme sucesso desportivo, também foram um grande sucesso organizativo e mediático, conforme atestaram as imagens que diariamente nos chegaram através da televisão. Tal como acontecera com a imponente cerimónia de abertura, também a cerimónia de encerramento foi grandiosa e inesquecível. Os ingleses brilharam.
Uma primeira análise à participação portuguesa deixa um certo sentimento de frustração ao verificamos que no ranking final das medalhas ocupamos um modesto 69º lugar, apenas com a medalha de prata conquistada por Fernando Pimenta e Emanuel Silva na prova de canoagem (K2 - 1.000 metros). O chefe da missão olímpica portuguesa classificou de “muito positiva” a participação nos Jogos Olímpicos, mas essa declaração é muito exagerada, pois ficamos aquém das expectativas e dos resultados que obtivemos em Atenas e Pequim.
Segundo um estudo da agência Lusa, o investimento do Estado português na preparação e participação olímpica ascendeu a 15,1 milhões de euros, estimando-se que ao longo de quatro anos foi investida uma média de 196 mil euros por cada um dos atletas presentes em Londres, mas os resultados obtidos limitaram-se a um segundo, dois quintos, dois sextos, dois sétimos e três oitavos lugares. Esperava-se mais com esse nível de investimento? Não sei. Desconheço a correlação existente entre o investimento e os resultados desportivos obtidos, mas era desejável que fosse conhecida e comparada internacionalmente para tirarmos as nossas próprias conclusões. Da mesma forma era desejável que se conhecessem os critérios utilizados para atribuir bolsas e apoios aos atletas e a razão para haver tantos convidados “pendurados” na delegação olímpica portuguesa. Finalmente, um justo aplauso para o remo, a canoagem e o ténis de mesa que, estando sempre fora da atenção dos nossos media, tiveram prestações excelentes. Adeus Londres. O Rio já espera por nós!

domingo, 12 de agosto de 2012

A descoberta de Marte e o "nosso" futuro

No passado dia 6 de Agosto, às 05 horas e 31 minutos TMG, o robot Curiosity aterrou na superfície de Marte, num local situado apenas a 2,4 quilómetros do local previamente estudado, depois de uma viagem de mais de 560 milhões de quilómetros, tendo começado imediatamente a enviar imagens para a Terra. A revista TIME seleccionou o tema e informa-nos sobre “o que podemos aprender com um robot a 154 milhões de milhas de distância”.
O Curiosity é uma sonda-laboratório concebida pela NASA que foi transportada na sonda espacial Mars Science Laboratory (MSL), tendo sido lançada de Cabo Canaveral no dia 26 de Novembro de 2011, por meio de um foguetão espacial Atlas V. Transporta instrumentos científicos especialmente concebidos para esta missão que nunca antes tinham sido utilizados nas anteriores missões a Marte e que, em certa medida, resultam da cooperação científica internacional. A sua principal missão é a investigação sobre a possibilidade da existência passada ou actual de vida microbiana em Marte, o estudo do clima e da geologia do “planeta vermelho” e a recolha de dados para servirem de base a uma futura missão tripulada, o que se espera possa acontecer dentro de dez anos, se houver dinheiro para isso.
A especulação jornalística e a curiosidade científica misturam-se e sugerem que estamos no campo da ficção científica, mas para muita gente a missão do Curiosity pode representar o início da colonização de Marte. Existe a ideia de “terraformar” o planeta Marte, isto é, transformá-lo numa segunda Terra, através da “criação” de uma atmosfera respirável, com rios, mares e florestas e, dessa forma, duplicar a superfície de que a humanidade poderá dispor no sistema solar. Dizem que tal operação é o mais audacioso projeto de “engenharia civil” jamais concebido pela mente humana, mas para a nossa geração tudo isso não passa de ficção científica. Nem Júlio Verne foi tão longe.

"La vuelta al mundo de Pascual Sala"

Quando nas suas edições de hoje todos os jornais espanhóis celebram os êxitos dos seus atletas em Londres, festejam as 17 medalhas olímpicas já conquistadas e se concentram na grande final de basquetebol contra os Estados Unidos, o diário madrileno ABC escolhe um outro tema para a sua primeira página e titula: La vuelta al mundo de Pascual Sala. É uma pedrada no charco! É a denúncia dos que abusam dos dinheiros públicos em tempo de crise.
Pascual Sala Sánchez, de 77 anos de idade, é o presidente do Tribunal Constitucional de Espanha desde Janeiro de 2011 e, nesse mesmo ano de 2011, devido a compromisos internacionales, realizou viagens por seis países da América Latina e da Europa, que totalizaram 46 mil quilómetros. Estas despesas foram custeadas pela rubrica “despesas correntes de bens e serviços” do orçamento do Tribunal Constitucional, que teve uma dotação de 6.9 milhões de euros. Muito dinheiro. O jornal ABC informa que insistiu com a instituição para saber o custo exacto das viagens de Pascual Sala, mas que esses elementos não lhe foram facultados. A blogosfera espanhola reagiu a esta notícia e, sem qualquer hesitação, denunciou este caso como um exemplo da grande corrupção que tem a cumplicidade da imprensa que, geralmente, a encobre e silencia.
Esta notícia que hoje nos chega de Espanha é realmente muito curiosa, porque até parece indicar que a diferença entre os países ibéricos não está nos comportamentos, que serão muito parecidos, mas que está… nos jornais. Enquanto uns denunciam e informam, outros calam-se e esquecem o seu dever de informar, relatar e comentar. Aqui no rectângulo, mesmo em tempo de crise, também temos muita gente que gosta de viajar para satisfazer compromisos internacionales e outros, sem que os jornais denunciem as situações de abuso e de despesismo. São os nossos pascuais salas, que viajam, viajam, viajam. Era bom que soubéssemos para que servem essas viagens e quanto nos custam, a começar naturalmente pelas viagens constantes desse frequent flyer que é o licenciado portas. A bem da Nação!

 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O centenário de Jorge Amado

Jorge Amado, o escritor brasileiro que os portugueses melhor conhecem, completaria hoje cem anos se não tivesse falecido em 2001. Conhecido mundialmente como um dos símbolos da literatura brasileira, consagrou-se pelo seu estilo simples e pelas personagens populares que criou, que tanto evidenciavam as injustiças sociais da época. Tendo nascido em 1912, publicou em 1931  “O país do Carnaval”, que foi o seu primeiro romance e um grande êxito literário. Muito conhecido e apreciado em Portugal, que visitava frequentemente, a sua verdadeira consagração em Portugal só aconteceu com a projecção mediática que adquiriu depois da publicação de “Gabriela Cravo e Canela” e, sobretudo, depois da adaptação daquele romance para a televisão. O peso que a emissão dessa novela teve, fez crescer em grande volume a venda dos livros do escritor. Depois seguiram-se muitas outras adaptações televisivas das suas obras, com destaque para “Tieta do Agreste” e “Dona Flor e seus dois maridos”. A evocação da vida e obra de Jorge Amado vai ser feita na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, através de uma exposição intitulada  “Jorge Amado em Portugal”, que vai estar  vai estar disponível até ao dia 29 de Setembro. Na Casa dos Bicos, onde está instalada a Fundação José Saramago, o escritor baiano também será recordado numa exposição de livros, fotografias, correspondência trocada com José Saramago, filmes e música. Entretanto, no terreiro situado em frente da Casa dos Bicos realiza-se hoje uma festa que recordará Jorge Amado e os cem anos que ele teria se ainda fosse vivo, com a apresentação do grupo Arte Pura Capoeira, seguindo-se uma sessão de música e leituras encenadas no auditório da Casa dos Bicos. A efeméride é assinalada, ainda, por um cartaz que recorre a uma expressiva fotografia: Jorge Amado e José Saramago, sentados à conversa em Salvador da Baía.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Europa está sob a ameaça da recessão

 A recessão económica alastra pela União Europeia é o título do jornal madrileno La Razón, que acrescenta que as economias mais avançadas da Europa estão a registar maus resultados e a entrar em recessão.
Nos últimos meses a atenção internacional tem estado centrada principalmente nas crises grega, espanhola e italiana, aliviando ligeiramente a pressão sobre a Irlanda e sobre Portugal. Agora, com a divulgação das previsões económicas para as grandes economias europeias, verifica-se que afinal a crise não é uma condição inerente aos países da orla mediterrânica “que vivem acima das suas possibilidades”, como por vezes a arrogância alemã e dos seus aliados tem querido evidenciar, mas que a actual crise é bem mais complexa, estando a alastrar e a causar algum pânico nas margens do mar do Norte e do mar Báltico. Na Alemanha verifica-se que a produção industrial, as encomendas e as exportações estão em queda; em França prevê-se que o produto regrida 0,1% no 3º trimestre; no Reino Unido estima-se um crescimento nulo no corrente ano. Há medidas de austeridade anunciadas ou já em execução na generalidade dos países da União Europeia, como por exemplo na França, Holanda, Bélgica e, naturalmente, na Espanha, Itália, Grécia e Portugal. A Finlândia já treme. A Eslovénia e Chipre também. Os tempos que vivemos são difíceis e de incerteza, mas é cada vez mais evidente que a solução para os problemas europeus, requer mais coesão, mais solidariedade e melhores dirigentes para nos governarem. Estamos todos no mesmo barco e, se houver um naufrágio, não haverá náufragos de primeira nem de segunda. Seremos todos apenas náufragos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Alepo e a complexidade do puzzle sírio

A imprensa internacional têm andado muito ocupada com os Jogos Olímpicos e com os feitos desportivos que vão sendo praticados em Londres. A temática olímpica tomou conta do espaço noticioso na generalidade dos países, celebrando-se as vitórias dos campeões com expressiva adjectivação e reproduzindo-se as suas fotografias nas piscinas, nas pistas e nos pódios. Praticamente não tem havido espaço para relatar outros acontecimentos internacionais e a crise do euro, a guerra no Afeganistão ou a situação síria parece terem caído no esquecimento.
Porém, a edição de hoje do The Washington Post não enfatiza o número de medalhas olímpicas ganhas pelos americanos, mas destaca o estado de guerra na Síria, que está cada vez mais violento. O jornal publica em primeira página uma fotografia de um combatente anti-regime e informa sobre a violência dos confrontos que se travam na cidade de Alepo. Os apoiantes de Bashar al-Assad exigem uma vitória decisiva para aniquilar a rebelião nas ruas de Alepo para evitar que a guerra alastre e chegue a Damasco. A oposição esperava mais ajuda dos Estados Unidos. Naturalmente, como sempre acontece nestas situações, o grande sofredor é o povo.
Entretanto, os apoios internacionais explícitos de ambas as partes mostram que é muito elevado o risco de internacionalização do conflito, sobretudo depois de ter sido frustrada a missão mediadora de Kofi Annan. A Rússia e a China mantém o apoio ao regime de Bashar al-Assad, enquanto o Irão denuncia o que afirma ser uma conspiração contra a Síria, apoiada pela Arábia Saudita, pelo Qatar e pela Turquia. Quando o The Washington Post se torna o porta-voz dos rebeldes e sugere a fixação de uma zona de exclusão aérea e o fornecimento de armas pesadas, não é mais do que uma pressão indirecta sobre os aliados europeus que no ano passado se envolveram na Líbia. Porém, agora as circunstâncias são outras e o puzzle é bem mais complexo.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Os maus exemplos dos governantes

Segundo noticia hoje o jornal i, os subsídios de alojamento pagos aos membros do Governo e aos chefes de gabinete que tenham residência a mais de 100 quilómetros de Lisboa, custam cerca de 15.800 euros por mês ao Estado e ao bolso dos contribuintes, correspondendo a um custo de quase 200 mil euros por ano. Ainda de acordo com a referida notícia, esse subsídio é actualmente recebido por um ministro, nove secretários de Estado e seis chefes de gabinete, recebendo os membros do governo cerca de 1.130 euros mensais, enquanto os chefes de gabinete recebem aproximadamente 750 euros mensais. Essas pessoas auferem as mais elevadas remunerações da administração pública e, certamente, não têm necessidade deste subsídio, a juntar a muitas outras benesses de que já usufruem. Porém, são como a sanguessuga e não têm dignidade ética para recusar mais essa mordomia, que é paga pelos contribuintes. Comem tudo. Alguns até terão residência permanente fora de Lisboa, mas têm casa própria na capital, onde vivem há muitos anos. De resto, é habitual que essa gente indique duas residências para “usar” conforme as circunstâncias e as conveniências. Ora, em tempo de crise e quando são retirados os subsídios de férias e de Natal aos pensionistas e a outros trabalhadores, a suspensão do subsídio de alojamento de todos os titulares de cargos políticos seria uma forma da classe política dar o exemplo, antes de exigir tão pesados sacrifícios aos restantes portugueses. Seria apenas uma atitude simbólica, mas nós precisamos de atitudes simbólicas. Porém, para esta gente, a prestação de serviço público e o exemplo são coisas que não conhecem. São demasiado pequenos e vulgares.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Aljubarrota revive os tempos medievais

Comemorando a batalha travada no dia 14 de Agosto de 1385, em que nos campos de Aljubarrota se enfrentaram os exércitos de Portugal e de Castela, vai realizar-se na vila de Aljubarrota, a cerca de 3 quilómetros de Alcobaça, a tradicional Aljubarrota Medieval. Trata-se de uma festa popular inspirada nas tradições medievais que se realiza anualmente entre os dias 12 e 15 de Agosto, em cujo programa se anunciam uma feira medieval e muita animação de rua, mas também rábulas teatrais, música medieval, torneios medievais, tendas árabes, uma ceia medieval e tabernas onde os visitantes podem encontrar refeições medievais.
As ruas estreitas da vila são especialmente decoradas para melhor recriarem o ambiente do século XIV e por elas desfilam com os seus trajos característicos e ao som de tambores e de gaitas de foles, alguns dos representantes da sociedade daquele tempo, designadamente as princesas, os nobres, os soldados, os frades e os camponeses, muitas vezes acompanhados por malabaristas e jograis que animam os cortejos e os recintos.
A entrada é livre e dizem-me, aqueles que já lá estiveram em anos anteriores, que é uma festa medieval a não perder.

Bolt: o homem mais veloz do planeta

O jamaicano Usain Bolt é o homem mais veloz do planeta, depois de ontem ter vencido a prova rainha dos Jogos Olímpicos que, aliás, já vencera em 2008 em Pequim.
A sua corrida e a sua vitória foram fantásticas, bem como o tempo que obteve e que constitui um novo record olímpico: 9,63 segundos. A marca com que  bateu todos os seus adversários é o segundo melhor tempo de sempre nos 100 metros planos e apenas foi batida pelo próprio Bolt, quando em 2009 correu aquela distância em 9,58 segundos e estabeleceu em Berlim o recorde mundial, que ainda perdura.
A notícia da prova olímpica dos 100 metros planos e a fotografia de Usain Bolt ilustram as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo, numa unanimidade que glorifica o atleta. Usain Bolt é de facto uma máquina de correr e, dizem os especialistas, é anatomicamente perfeito. Porém, é curioso verificar que os cinco primeiros classificados na prova, foram os representantes da Jamaica e dos Estados Unidos, o que parece significar que é naquela região do hemisfério ocidental que o homem tem mais propensão para a velocidade.

Ceuta e algumas memórias lusitanas

Terminaram ontem na cidade autónoma de Ceuta as Fiestas Patronales en Honor a Santa Maria de África, a “patrona y madre de Ceuta”, o que foi amplamente noticiado pelo jornal Faro de Ceuta.
A devoção dedicada a Santa Maria de África ou Nossa Senhora de África ou Virgem de África não é exclusiva daquela cidade espanhola do norte de África, pois estendeu-se a outras regiões africanas, como por exemplo à Argélia e ao golfo da Guiné. Porém, segundo se crê, essa devoção teria nascido com a presença portuguesa em Ceuta, pois o mais antigo lugar de culto com esta designação encontra-se naquela cidade e a sua construção inicial data do século XV. A imagem da Virgem "patrona y madre de Ceuta" que é venerada nas festas, terá sido doada à cidade pelo Infante D. Henrique, com o pedido para que todos os sábados se rezasse pela sua alma e a tradição da “sabatina”, que ainda hoje permanece em Ceuta, poderá ter essa origem. A imagem tem na mão um bastão com nós, que foi oferecido pelo último governador português de Ceuta.
Ceuta foi conquistada em 1415 pelo rei D. João I e a partir de 1640 deixou de pertencer a Portugal, por não ter aderido ao movimento da Restauração. No entanto, a cidade manteve a sua bandeira igual à da cidade de Lisboa e o seu brasão com as cinco quinas portuguesas, o que só por si evoca as memórias lusitanas.
Teria sido uma boa oportunidade para visitar Ceuta.

sábado, 4 de agosto de 2012

O uso e o abuso dos cartões de crédito

Nos últimos dias os jornais e as televisões repetiram exaustivamente que, entre 2009 e 2011, oito gestores da INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda gastaram cerca de 27 mil euros em despesas pessoais, utilizando cartões de crédito da empresa. Alguns desses jornais ficaram muito impressionados e escreveram que os “gestores gastaram balúrdio”. O Tribunal de Contas tinha detectado o uso indevido dos cartões de crédito e decidiu que esse dinheiro fosse devolvido, o que já terá sido feito na totalidade. E, aparentemente, ficou tudo certo. Não foi abuso de confiança, nem desonestidade. Foi, simplesmente, uma distracção. Devolve-se e pronto!
Casos como este que ocorreu com os gestores da INCM são, como todos sabemos, muito frequentes e bom seria que o Tribunal de Contas estivesse mais atento ao que se passa nos ministérios, nos organismos e serviços da administração central, nas autarquias e nas empresas públicas. O abuso nas chamadas despesas e no uso do cartão de crédito vulgarizou-se e tem uma dimensão que excede largamente o que se passou na INCM. Uma pequena parte das gorduras do Estado está encoberta pelo despesismo pessoal devido ao uso do cartão de crédito e há que acabar com isso para moralizar a nossa vida pública. Precisamos de bons exemplos.
De vez em quando, chegam-nos algumas notícias que são apenas a ponta de um iceberg que pode ser gigantesco. Quem não se lembra dos abusos dos deputados turistas, dos gestores da Gebalis, do uso indevido de telefones, dos almoços, das viagens, dos hotéis e eu sei lá que mais.  A invenção do dinheiro de plástico (e a correspondente criação de moeda) é uma das causas da crise geral por que passamos e também tem sido um veículo de inqualificáveis abusos praticados por muitos dos que usam esse cartão e que, dessa forma, têm tirado proveito ilícito e lesado impunemente o Estado e o contribuinte.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Relvas está em festa!

O mês de Agosto é um mês de festas e romarias, apesar do calor ser por vezes excessivo e nos suscitar um forte apelo para que procuremos o mar. Poucas cidades, vilas e até aldeias resistem a organizar as suas festas, umas vezes de cariz religioso, outras de cariz profano, mas sempre com presença musical, comes-e-bebes e um acentuado cunho popular. Antigamente a componente musical centrava-se nas actuações das bandas filarmónicas a tocar nos coretos, mas nos tempos modernos essa vertente passa pela apresentação de concertos com outros estilos e outros ritmos musicais mais modernos, incluindo alguns cantores mais ou menos conhecidos do público.
Hoje começam as festas em Relvas, uma localidade da freguesia de Santa Catarina, no concelho das Caldas da Rainha. O nome da terra nada tem a ver com o mais famoso ministro que temos, nem com a sua meteórica actividade académica. Honni soit qui mal y pense!
A partir de hoje Relvas está em festa e vai receber a actuação de alguns dos mais conhecidos grupos musicais do Oeste como a Chaparral Band de Torres Vedras, o Bico d’Obra das Caldas da Rainha ou Os Lord’s de Atouguia da Baleia. Há quem goste. Vão ser cinco dias com muita música e muita luz, com cantores e bailarinas, com muito entusiasmo e muita cerveja. Relvas vai animar-se!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Os gestores que alternam

A edição de hoje do jornal de Negócios, tendo por base o relatório de governação de sociedades publicado pela CMVM, relativo ao ano de 2010, informa que “250 gestores têm 4.100 cargos de administração”, isto é, em média cada um destes 250 super-gestores administra mais de 16 empresas. Esta realidade sugere de imediato uma pergunta: será possível ser bom gestor quando se acumulam cargos em 16 empresas?
O caso mais significativo passa-se com Miguel Pais do Amaral, que gere 73 empresas, mas se se incluirem as empresas que gere no estrangeiro, são mais de cem. Porém, segundo declarou, é accionista de todas as empresas em que é administrador e, nesse caso, a eventual ineficiência da sua gestão prejudica-o directamente.
O referido relatório também informava que havia 17 gestores que acumulavam mais de trinta cargos de gestão, nem sempre no mesmo grupo empresarial ou no mesmo sector de actividade. É gente que nada em todas as águas, como os tubarões. A maioria nem são gestores profissionais e muitos são advogados e ex-políticos, o que parece denunciar conflito de interesses e ambição pessoal sem limites. Alguns deles mantêm uma intervenção politico-partidária activa, mas discreta. Estão com um pé em cada lado, como convém. Alternam. Fazem gestão de alterne. Naturalmente, tornaram-se ricos e, consequentemente, tornaram-se muito poderosos e influentes. O jornal de Negócios identifica alguns: o advogado Proença de Carvalho que exerce funções de gestão em 31 sociedades, o socialista Fernando Gomes que tem 29 cargos como administrador e o emproado Nogeira Leite que ocupa 25 cargos de gestão, embora haja também os Rebelos de Sousa, os Lobos Xavier e outras sumidades. São alguns dos nossos super-gestores e, navegando entre empresas e interesses, fazem gestão de alterne.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Michael Phelps: "the greatest Olympian"

O nadador americano Michael Phelps cometeu ontem um feito desportivo extraordinário ao conquistar a sua 19ª medalha olímpica (quinze de ouro, duas de prata e duas de bronze) e ao ultrapassar a performance olímpica da ex-ginasta soviética Larisa Latynina que, em 1956, 1960 e 1964 tinha conquistado 18 medalhas (nove de ouro, cinco de prata e quatro de bronze). Com este único e invejável registo, Michael Phelps pode ser considerado “o maior atleta da história do desporto olímpico” e coloca-se num pedestal acima daquele em que se têm situado alguns dos nomes mais lendários do olimpismo moderno, como Jesse Owens, Emil Zatopek, Bob Beamon, Mark Spitz, Nadia Comaneci, Carl Lewis ou Sergei Bubka.
Agora a estrela olímpica passou a ser Michael Phelps: em 2004 conquistou 6 medalhas de ouro e 2 medalhas de bronze em Atenas e, em 2008, ganhou 8 medalhas de ouro em Pequim. Em Londres conquistou a sua 17ª medalha na estafeta de 4x100 metros livres (medalha de prata), depois a 18.ª medalha foi ganha nos 200 metros mariposa (medalha de prata) e a ambicionada 19ª medalha foi conquistada na estafeta de 4x200 metros livres (medalha de ouro). Michael Phelps é considerado um desportista predestinado e, em boa verdade, ele é um atleta do outro mundo a quem o jornal britânico The Guardian chamou "the greatest Olympian". Além de tudo isto, acontece que Phelps ainda vai voltar a competir...