sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A independência da Catalunha fica adiada

Desde que no passado mês de Agosto o Parlamento da Catalunha aprovou uma proposta de lei intitulada Ley de Transitoriedad Jurídica y Fundacional de la República, que o movimento independentista catalão se mobilizou para o referendo marcado para o próximo dia 1 de Outubro. De acordo com esse texto, se o referendo vencer, nem que seja por um voto de diferença, o presidente do governo Carles Puigdemont fará uma declaração de independência unilateral, mas se isso vier a acontecer, não será mais que uma declaração simbólica, sem valor jurídico e sem qualquer credibilidade internacional
O que se tem passado na Catalunha no último mês tem sido uma escalada de tensão e de erros das duas partes em confronto. De um lado estão as autoridades independentistas catalãs que mobilizaram as suas forças para a rua em apoio do referendo e, do outro, estão as autoridades centrais de Madrid que exigiram a sua anulação, mas porque não foram obedecidas e com base na decisão do Tribunal Constitucional de Espanha, reagiram e tomaram medidas drásticas que já inviabilizaram a sua realização. A Catalunha está, portanto, politicamente dividida entre o movimento independentista e a sua fidelidade à Espanha das Autonomias mas, por agora, o independentismo sai derrotado pela forma populista e desastrada como Carles Puigdemont e a sua gente conduziram a luta. A opção independentista pode ter muito apoio nas ruas e nos sectores mais dinâmicos da sociedade catalã, mas não têm qualquer apoio no resto da Espanha que não quer ser desmembrada, nem na comunidade internacional que não quer ver catalunhas nos seus próprios países. É por isso que nenhum país europeu apoia a Catalunha porque, em maior ou menor grau, todos têm as suas próprias catalunhas na Escócia, na Flandres, na Córsega, na Sardenha e em tantos outras regiões americanas, russas ou chinesas.
Porém, a História ensina-nos que as aspirações independentistas catalãs não são diferentes dos sentimentos portugueses que triunfaram em 1640, embora a mesma História tenha traçado destinos diferentes às duas nações. Significa que as autoridades catalãs têm a legitimidade democrática para lutar pela independência da Catalunha, mas também têm a obrigação de saber que nenhum poder central instalado em Madrid lhes facilitará a vida, pelo que essa sua aspiração exigirá tempo, paciência e muitas negociações, mas também a compreensão da comunidade internacional. O que está acontecer com o Brexit mostra que uma eventual separação exigiria negociações muito demoradas e complexas.
Os dirigentes do independentismo catalão deslumbraram-se e foram longe de mais. Não estudaram a conjuntura internacional e não tiveram aliados. Os catalães já começaram a rejeitar estes saltos no abismo conduzidos com motivações emocionais e por movimentos radicais, que podem ter efeitos devastadores para a economia e para a sociedade catalã. A aspiração independentista catalã vai provavelmente sair reforçada deste processo, mas vai exigir que no futuro seja conduzida por gente mais capaz que os Puigdemont e os Oriol Junqueras.
A independência da Catalunha vai ficar adiada, mas ninguém sabe por quanto tempo.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O outro fantasma de Pyongyang

O jornalista brasileiro Renato Alves do diário Correio Braziliense conseguiu um visto especial para visitar a Coreia do Norte durante dez dias e, apesar da vigilância a que esteve sujeito pelo regime de Kim Jong-un, conseguiu recolher mais de 500 fotografias, dezenas de curtos vídeos e muitas histórias.
No passado dia 3 de Setembro, data em que se realizou o sexto e, até então, mais potente teste nuclear norte-coreano, o jornalista estava em Pyongyang e sentiu a terra tremer debaixo dos seus pés.
A extensa reportagem dessa visita à Coreia do Norte começou a ser publicada no seu jornal com o título “Passaporte para o segredo” e ontem foi dedicada ao “fantasma de 105 andares” ou ao “ícone do desperdício” que existe em Pyongyang.
Trata-se de um arranha-céus inacabado que se situa no centro da cidade e que é impossível não ser visto com os seus 330 metros de altura. Seria ou é o Hotel Ryugyong, pensado como o maior hotel do mundo e como símbolo de modernidade de um país ambicioso e em ascensão.
A sua construção iniciou-se em 1987, mas nunca foi concluído devido aos mais diversos contratempos, desde a falta de financiamento até ao aparecimento de problemas estruturais. Em 2011 o governo norte-coreano decidiu concluir o exterior do enorme edifício em forma de pirâmide, com painéis de vidro e antenas de telecomunicações, mas o seu interior continuou vazio. Trinta anos depois do início da sua construção, a fachada do Hotel Ryugyong está completa e com as janelas instaladas, mas o seu interior continua vazio, enquanto os seus 3 mil quartos continuam sem equipamentos e sem hóspedes. Caso tivesse sido concluído em 1989 seria o maior hotel do mundo, mas actualmente seria apenas o 47º mais alto e o quinto maior em número de quartos.
Em vez de Kim Jong-un e Donald Trump se ameaçarem constantemente, porque não chegam a um acordo para que a experiência hoteleira da Trump Organization, que opera a partir da Trump Tower em Manhattan, possa resolver o problema do Hotel Ryugyong? O Donald nunca escondeu que gosta de bons negócios e esta pode ser uma boa oportunidade para estender os seus interesses até à Coreia do Norte.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Estado do Curdistão vai ter de esperar

Está prevista para hoje a realização de um referendo sobre a independência no Curdistão iraquiano, mas paira sobre esta iniciativa uma grande apreensão, havendo muitos observadores que consideram que esta iniciativa pode dar origem a um agravamento ainda maior da situação naquela região do mundo.
O Curdistão é uma grande região do Médio Oriente, geográfica e culturalmente habitada pelo povo curdo, com uma área de cerca de 500 mil quilómetros quadrados e que se estende por vários países, estimando-se que existam cerca de 35 milhões de curdos, sobretudo na Turquia (18 milhões), no Irão (8 milhões), no Iraque (5 milhões), na Síria (2 milhões) e na diáspora curda (2 milhões). A ambição dos curdos para criar um Estado independente acentuou-se depois do fim da I Guerra Mundial, quando o Império Otomano foi derrotado e as potências vitoriosas redesenharam o mapa político do Médio Oriente, mas deixaram o povo curdo sem um Estado próprio. Essa ambição curda confronta-se com os interesses dos países que “ocupam” o seu território e, por isso, tem sido vítima da sua hostilidade, sobretudo na Turquia, onde cerca de um terço do seu território é habitado pelos curdos. No caso do Iraque, em que 20% da população é curda, a perseguição levada a efeito por Saddam Hussein foi brutal e foi um aviso que alertou a comunidade internacional para a necessidade de proteger o povo curdo.
Por isso, após as guerras do Golfo de 1991 e de 2003, o Curdistão iraquiano adquiriu um estatuto de autonomia que é único em todo o “território curdo”, que as autoridades de Bagdad foram “obrigadas” a aceitar. Agora, em nome dos direitos dos curdos, o Curdistão iraquiano mobilizou-se em torno do presidente Massoud Barzani que é o principal promotor do referendo, que só os curdos querem e que todos os “países ocupantes” rejeitam, ameaçando com represálias. Nada se espera deste referendo e o The New York Times até sugere que o cancelem para evitar males maiores, enquanto a ONU pediu que fosse cancelado.
O problema curdo só terá uma solução justa num quadro de negociações alargadas e complexas que ultrapasse as enormes rivalidades e as conflitualidades actuais dos “ocupantes”.

sábado, 23 de setembro de 2017

Os Antónios de Lisboa a brilhar na ONU

António Guterres e António Costa encontraram-se na sede das Nações Unidas durante o debate geral da 72ª sessão anual da Assembleia Geral que se iniciou no passado dia 19 de Setembro e o Diário de Notícias publicou na sua primeira página a fotografia destes dois políticos portugueses, ambos naturais de Lisboa e ambos com o mesmo nome.
António Costa é o Primeiro-ministro de Portugal desde o dia 26 de Novembro de 2015 e António Guterres é o Secretário-geral das Nações Unidas desde o dia 1 de Janeiro de 2017.
São ambos militantes do Partido Socialista desde há muitos anos e, entre 1995 e 2002, ambos participaram no XIII e no XIV Governos Constitucionais de Portugal que foram pesididos por António Guterres. Tal como sucede com todos os políticos, uns gostam e outros não gostam deles, embora ambos sejam credores do respeito dos seus concidadãos pelos serviços que já prestaram à democracia e ao serviço público em diversos cargos e funções nacionais e internacionais.
Os seus discursos nas Nações Unidas impressionaram e deixaram marcas. António Guterres apelou à paz, ao apoio aos refugiados e à negociação política como forma de resolução dos conflitos que preocupam o mundo. António Costa cumpriu com a tradicional reivindicação portuguesa junto das Nações Unidas, isto é, que o português seja declarado como uma das suas línguas oficiais e que o Brasil e a Índia tenham assento permanente no seu Conselho de Segurança.
A fotografia publicada pelo Diário de Notícias tem, por isso, um significado histórico para os portugueses porque regista o primeiro encontro de um Secretário-geral das Nações Unidas português com um Primeiro-ministro português. 

May recua e já pede adiamento do Brexit

Theresa May discursou ontem em Florença para anunciar aos seus ainda parceiros europeus os pontos de vista britânicos sobre o Brexit que deverá concretizar-se até ao dia 29 de Março de 2019, isto é, dois anos depois de ter sido accionado o famoso artigo 50 do Tratado de Lisboa que prevê de forma explícita a possibilidade de qualquer Estado-membro sair de forma voluntária e unilateral da União Europeia.
Portanto, nesse dia o Reino Unido deixará de ser membro da União Europeia.
Porém, as negociações não estão a ser fáceis e Theresa May deixou muitas coisas por esclarecer no seu discurso, embora tivesse sido clara num ponto: o Reino Unido precisa de um acordo comercial que permita que as empresas britânicas se adaptem às realidades dos seus novos mercados alternativos ao mercado único. Significa, portanto, que Theresa May recuou e pediu uma pausa de dois anos no Brexit, como titula The Guardian. O problema e as dificuldades são enormes, porque não é nada fácil retirar o Reino Unido da União Europeia e, simultaneamente, permitir-lhe que permaneça no mercado único e na União Aduaneira, aceitando também que os britânicos que residem por essa Europa fora mantenham o estatuto comunitário e não passem a ser estrangeiros.
O discurso de May também esclareceu muito pouco, quer em relação a outros aspectos da negociação do Brexit, quer em relação à natureza do futuro relacionamento britânico com a União Europeia.
Relativamente ao Brexit, aceitou que o Reino Unido deva pagar uma indemnização à União Europeia devido a compromissos assumidos no passado, mas a dúvida permanece quanto ao futuro dos três milhões de europeus que vivem e trabalham no Reino Unido. Quanto ao futuro pós-Brexit, Theresa May sublinhou a vontade britânica em manter uma cooperação muito próxima com a União Europeia nas áreas da segurança interna e da política externa e da defesa, pois reconhece que britânicos e europeus enfrentam ameaças comuns, como o terrorismo e a instabilidade geopolítica nas regiões fronteiras da Europa.
A resolução desta complexa equação é muito difícil e há cada vez mais gente a duvidar quanto à exequabilidade deste divórcio, até porque no referendo de Junho de 2016 o Brexit ganhou apenas com 51,89%, enquanto a Escócia e a Irlanda do Norte votaram contra, o que significa que também existe uma grande dificuldade política interna. E há as fronteiras com a Irlanda e com a Espanha em Gibraltar...

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Macau organiza o Festival da Lusofonia

Embora se realize entre os dias 20 e 22 de Outubro e, portanto, ainda falte um mês para a sua realização, o Festival da Lusofonia de Macau já hoje é destacado pelo jornal Tribuna de Macau, que salienta que o mesmo vai ter edição reforçada este ano. Será a 20ª edição de uma iniciativa que tem tido grande sucesso, que se tem realizado em Outubro de cada ano e que envolve gente de várias origens geográficas que têm em comum a língua portuguesa.
A primeira edição do Festival da Lusofonia de Macau aconteceu em 1998, quando o território ainda estava sob administração portuguesa, tendo sido integrado no programa de actividades comemorativas do 10 de Junho, isto é, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com o objectivo de homenagear as comunidades lusófonas residentes em Macau pelo seu contributo para o desenvolvimento do território. O sucesso foi grande e as autoridades chinesas apreciaram-na, pelo que a iniciativa continuou depois do dia 20 de Dezembro de 1999, quando cessou a administração portuguesa e Macau se tornou a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China.
Ao longo das 19 edições já realizadas, o Festival da Lusofonia tornou-se uma das grandes festividades anuais do calendário cultural macaense, sendo reconhecido como um factor de promoção turística pelo seu contributo para a oferta e para a diversidade cultural do território, ao atrair a participação de muitos residentes de Macau, de naturais dos países de língua portuguesa, de Hong Kong e de outras regiões da China.
Embora o programa do 20º Festival da Lusofonia ainda não tenha sido divulgado pelo Instituto Cultural de Macau, que é a instituição que organiza o evento, a Casa o Brasil em Macau já prepara a sua participação que este ano será essencialmente um tributo à poesia brasileira. Espera-se agora o anúncio das iniciativas que serão apresentadas por portugueses, angolanos, moçambicanos, cabo-verdeanos, timorenses, guineenses, são-tomenses e outros falantes de português.

Angola e a memória do Cuito Cuanavale

A poucos dias de deixar a presidência de Angola, José Eduardo dos Santos inaugurou ontem o Memorial à Vitória do Cuito Cuanavale, um monumento que vai ficar a assinalar o maior confronto militar da guerra civil angolana e a homenagear os protagonistas dessa batalha que acabou por decidir o futuro da guerra e por influenciar o fim do regime do apartheid sul-africano e a independência da Namíbia.
O Jornal de Angola dedica toda a sua primeira página à inauguração deste monumento localizado exactamente no Cuito Cuanavale, que coincide com as homenagens que têm sido prestadas a Agostinho Neto, considerado o fundador da República e pai da Independência angolana.
Nessa batalha que ocorreu no sul de Angola entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988, considerada a maior batalha travada em África por dois exércitos regulares desde a segunda guerra mundial, confrontaram-se o exército angolano (FAPLA) e as Forças Armadas Revolucionárias de Cuba (FAR), assessorados por conselheiros militares da antiga União Soviética e, do outro lado, as forças da UNITA e o poderoso exército sul-africano. Embora a vitória tivesse sido reivindicada por ambas as partes, o facto é que esta dura batalha conduziu à assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que levaram à retirada de tropas estrangeiras do território angolano, à independência da Namíbia, à libertação de Nelson Mandela e ao fim do apartheid na África do Sul.
O monumento ontem inaugurado tem uma concepção desajustada das correntes escultóricas mais modernas, mas tem um simbolismo histórico muito importante para Angola, pois enriquece o lugar de reflexão e memória que são os 3,5 hectares de extensão da praça memorial onde se encontram outros monumentos e "eterniza" a memória dessa grande epopeia militar angolana. Assim, Angola alimenta as memórias que fazem a sua História.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Até o Donald elogia António Guterres

Todos nos lembramos do dia 6 de Outubro de 2016, quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou por unanimidade e aclamação a resolução que recomendou à Assembleia Geral a designação de António Guterres como o 9º secretário-geral das Nações Unidas, cargo que vem exercendo, num mandato de cinco anos, desde o dia 1 de Janeiro de 2017. Guterres está no cargo há pouco mais de oito meses e a sua acção tem sido marcada pela discrição, pelo que não tem sido alvo de críticas, nem de elogios significativos.
A lista de conflitos e de problemas com que o mundo se confronta é muito extensa, indo desde a guerra na Síria aos milhões de refugiados que fogem da guerra ou da fome, passando pelas atitudes bélicas da Coreia do Norte, as alterações climáticas e a implementação dos acordos de Paris, a instabilidade política na Venezuela ou a perseguição às minorias rohingya do Myanmar que têm procurado refúgio no Bangladesh. Imaginamos António Guterres preocupado e a trabalhar em todas estas áreas com a determinação e a inteligência que o mundo lhe reconheceu quando lhe atribuiu este cargo, mas nestes casos é necessária uma acção persistente e não se podem esperar resultados imediatos.
Ontem, Guterres encontrou-se com Donald Trump numa sessão das Nações Unidas em Nova Iorque. O Donald foi muito crítico em relação à “burocracia e má gestão” das Nações Unidas que desde o ano de 2000, segundo afirmou, aumentou o seu orçamento em 140% e duplicou os seus custos com pessoal. Depois, tendo António Guterres sentado à sua direita, disse: “Mas sei que isso está a mudar com o secretário-geral — e está a mudar rápido”, acrescentando que “encorajamos o secretário-geral a usar plenamente a sua autoridade para cortar a burocracia, reformar sistemas antiquados e tomar decisões firmes”.
A imprensa americana destacou o discurso do Donald nas Nações Unidas e o The New York Times salientou o seu elogio a Guterres: "He praised Secretary General António Guterres for tackling mismanagement and bureaucracy”.
“You have been fantastic” foi o que Trump disse a Guterres na abertura da reunião, acrescentando “I applaud the secretary general for laying out a vision to reform the United Nations so that it better serves the people we all represente".
Porém, não é caso para admirar porque no programa da sua candidatura, Guterres inscrevera a reforma das Nações Unidas como uma prioridade. É o que parece estar a fazer. 

sábado, 16 de setembro de 2017

Uma grande vitória dos portugueses

A agência de notação financeira Standard and Poor's decidiu ontem tirar Portugal do lixo, revendo em alta o rating atribuído à dívida soberana portuguesa. O Público foi um dos poucos jornais portugueses que destacaram esta notícia, talvez porque a generalidade da imprensa e dos jornalistas andem distraídos.
Com esta decisão surpreendente, Portugal liberta-se de um longo período de cerca de seis anos em que passou por uma enorme humilhação financeira, durante o qual Wolfgang Schäuble e Christine Lagarde foram apenas alguns dos rostos da arrogância com que foi tratado o nosso país e que o pretenderam colocar no anedotário financeiro internacional. Alguns políticos portugueses, como Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque, deixaram-se enredar na armadilha que os credores internacionais montaram e foram, demasiadas vezes, o rosto da submissão à arrogância dos credores. 
Esta notícia tem tantos reflexos positivos no campo financeiro e na nossa auto-estima, que nem se justifica que aqui se enumerem. Porém, apesar do crescimento económico que se tem verificado nos últimos anos, a dívida portuguesa continua a aumentar e os esforços para que seja reduzida têm que continuar, através de uma consolidação orçamental adequada e de uma gestão da economia que reforce o potencial de crescimento nacional.
Não têm faltado elogios ao desempenho económico do governo, mas também muitos avisos para que não se deixe deslumbrar por este resultado, cujo mérito é uma grande vitória dos portugueses e dos agentes económicos em geral – Estado, Empresas e Famílias – mas que acontece quando António Costa e Mário Centeno e não outros, estão ao leme. Foram eles que meteram o golo e são os marcadores dos golos que ficam na história. Este resultado também acontece na vigência de uma solução governativa inovadora, que tem apresentado resultados muito encorajadores e que acabou com aquela ideia sem sentido que era o  “arco da governação”. Até as agências financeiras estão a reconhecer essa realidade.
Porém, embora o que aconteceu tenha sido muito importante, o governo tem que estar atento à economia e à sociedade e não querer agradar a gregos e a troianos, baixando impostos e aumentando salários de uma forma desajustada às realidades. Só assim evitará resvalar outra vez para o lixo.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Paris recebe Olimpíadas e prepara festa

O Comité Internacional Olímpico que se reuniu ontem na cidade peruana de Lima decidiu atribuir a realização dos Jogos Olímpicos de 2024 à cidade de Paris e os Jogos de 2028 à cidade americana de Los Angeles. Apesar de não se tratar de uma surpresa, toda a imprensa francesa destacou essa notícia e Le Parisien, por exemplo, dedicou-lhe toda a sua primeira página.
A cidade de Paris já organizou os Jogos Olímpicos de 1900 e de 1924, pelo que em 2024 se perfazem 100 anos sobre a realização dos Jogos de 1924 e, essa circunstância vai impulsionar a França e os franceses para uma grande realização que projecte a modernidade da tecnologia e da cultura francesas no mundo. A acrescentar a essa efeméride, certamente será associada a passagem do 1º centenário dos Jogos Olímpicos de Inverno, realizados em 1924 em Chamonix.
O mundo segue atentamente os Jogos através da televisão, sobretudo o ritual das cerimónias de abertura e de encerramento, da entrega das medalhas e do hastear das bandeiras dos vencedores. Porém, os Jogos Olímpicos já não são apenas a maior competição desportiva do planeta, mas são também um acontecimento que alavanca o progresso das cidades onde se realizam, que dinamiza o empreendedorismo e a actividade económica, que estimula a criatividade na arquitectura e nas artes em geral.
Porém, a sua realização exige um elevadíssimo montante de recursos e os casos de Atenas (2004), Londres (2012) ou Rio de Janeiro (2016) são apenas alguns exemplos de verdadeiras catástrofes financeiras, que uns podem e outros não podem suportar. Parece que a França e a cidade de Paris estão atentas a esse problema e que alguns estudos apontam para um impacto positivo de 8,1 mil milhões de euros na economia francesa.
Nestas coisas de grande dimensão, há sempre números para todos os gostos, mas como os Jogos Olimpícos são uma festa, é preciso é andar para a frente, porque o dinheiro acaba por aparecer ou não, até porque as facturas a pagar só chegam depois…

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A fúria do “Irma” abalou a Florida

Depois de ter deixado atrás de si um rasto de destruição sem precedentes nas Caraíbas, o furacão Irma atravessou o estado da Florida e a sua fúria causou estragos materiais de grande monta, embora a profecia do director nacional de emergências de que o Irma iria “devastar os Estados Unidos” não se concretizasse.
Os jornais relataram o que aconteceu no estado da Florida, com destaque para a retirada de cerca de seis milhões de pessoas das suas casas, o que constituiu a maior evacuação da história dos Estados Unidos e para o facto de mais de quatro milhões de pessoas terem ficado privadas de energia eléctrica.
Alguns relatos referem que, enquanto fenómeno meteorológico, o Irma ultrapassou todos os recordes em apenas 11 dias de actividade e deixou o estado da Florida irreconhecível, apontando-se que o valor dos prejuízos pode atingir os 240 mil milhões de dólares, que é sensivelmente o valor anual do PIB português.
Ontem, muitos dos moradores que se tinham retirado das suas casas começaram a regressar, até porque terão começado a verificar-lhe pilhagens em larga escala, apesar da situação ainda não estar normalizada e ainda haver muitas localidades a suportar cheias. Porém, é notável o espírito exibido por muita gente a "arregaçar as mangas" para começar a limpeza e a reconstrução das suas casas, bem ao contrário do que se passou em Portugal com a tragédia dos incêndios, em que toda a gente ficou à espera e a exigir a ajuda do Estado, ficando naturalmente à mercê daqueles que se aproveitam politicamente destas catástrofes.
Donald Trump tinha advertido de que o Irma seria um furacão de “proporções épicas” quando pediu à população que se afastasse do seu caminho. Agora que o Irma já passou, o Donald bem precisará de ir à Florida para ver que é melhor não arranjar sarilhos na Coreia do Norte ou na Venezuela, até porque a natureza tem maior poder destruidor do que as bombas americanas.

sábado, 9 de setembro de 2017

O imbróglio que está criado na Catalunha

As aspirações separatistas da Catalunha não são um problema recente, mas acentuaram-se nos últimos anos com os movimentos independentistas a reclamar um referendo sobre a independência da Catalunha. Os desafios ao poder de Madrid têm sido constantes e as duas posições têm-se extremado sem que haja diálogo.
Na passada quarta-feira o parlamento catalão aprovou a realização de um referendo sobre a independência da Catalunha no próximo dia 1 de Outubro, numa sessão a que não compareceram os deputados dos maiores partidos nacionais, caso do PP, do PSOE e dos Cyudadanos. Nessa mesma noite a Generalitat da Catalunha assinou o decreto que convoca o referendo independentista na comunidade autónoma da Catalunha. O governo espanhol chefiado por Mariano Rajoy declarou esta decisão inconstitucional e recorreu para o Tribunal Constitucional para que todas as decisões tomadas pelo parlamento e pelo governo regional da Catalunha relativamente ao referendo fossem anuladas. No dia seguinte, o Tribunal Constitucional espanhol suspendeu a lei aprovada pelo parlamento da Catalunha que permitia a realização do referendo independentista, ou seja, declarou o referendo ilegal. Entretanto, o Ministério Público espanhol já ameaçou com processos judiciais contra a Generalitat e os seus membros. Hoje, através de um dos seus ministros, a Generalitat da Catalunha anunciou que não será respeitada a decisão do Tribunal Constitucional espanhol de suspender a lei do referendo e, dessa forma, anular o referendo marcado para o dia 1 de Outubro, acrescentando que, se for essa a vontade popular, a Catalunha declarará a sua independência unilateralmente. Dizem as sondagens que tem diminuído o número de catalães que defende a independência, mas o governo espanhol garante que o referendo não se realizará. Porém, o diário catalão el Periódico destacou no seu título de primeira página a palavra desobediência, certamente a apontar um caminho aos independentistas.
Estamos, portanto, perante um grande imbróglio na Catalunha.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A catastrófica acção do furacão “Irma”

A tempestade tropical ou furacão Irma que foi classificado como categoria 5, a mais elevada na escala de Saffir-Simpson, pode já ser considerado o mais perigoso furacão que nos últimos anos se formou no Atlântico Ocidental. Na sua rota no mar das Caraíbas, o Irma tem devastado algumas das ilhas das Pequenas Antilhas, provocado algumas mortes e uma enorme destruição de bens. A imprensa francesa classifica como catastrófica a destruição causada pelo Irma em algumas ilhas francesas das Caraíbas e as imagens que nos chegam pela televisão mostram cenários de completa destruição. A imagem publicada pelo Daily News é expressiva e o título que substitui a palavra hurricane por horrorcane dá a exacta medida daquilo que está a acontecer.
O furacão aproxima-se agora da costa dos Estados Unidos e, segundo anunciaram as autoridades americanas, pode atingir a Florida durante o próximo fim-de-semana. Está a afectar uma área superior à superfície da França, o seu “olho” tem cerca de 50 quilómetros de diâmetro e, ocasionalmente, já terão sido registadas rajadas de vento de 360 quilómetros por hora. Na Florida todos estão alerta. É, verdadeiramente, uma onda catastrófica em movimento.
O Atlântico Oriental e às costas europeias e africanas estão livres desta catástrofe que todos os anos afecta e destrói as ilhas das Caraíbas e o sul dos Estados Unidos. Nesse aspecto, Portugal é um verdadeiro oásis, embora não esteja livre de outras catástrofes naturais.
 

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Angola escolheu um novo Presidente

Foram ontem anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral, os resultados das eleições gerais angolanas realizadas no passado dia 23 de Agosto e o vencedor foi o MPLA e o seu candidato João Manuel Gonçalves Lourenço, que será o próximo Presidente da República, sucedendo a José Eduardo dos Santos.
O MPLA e o seu cabeça de lista João Lourenço obtiveram 4.164.157 votos (61,07%) elegendo 151 dos 220 deputados à Assembleia Nacional de Angola, enquanto a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) se afirmou como a segunda força política ao conseguir 1.818.903 votos (26,67%), ao eleger 51 deputados. Isaías Samakuva é, portanto, o líder da oposição angolana e terá pela frente uma tarefa política muito exigente.
Além daqueles dois partidos, ainda conseguiram representação na Assembleia Nacional a Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) que obteve 9,44% dos votos e elegeu 16 deputados, o Partido de Renovação Social (PRS) que conseguiu 1,35% dos votos e a Frente Nacional de Libertação Nacional (FNLA) que obteve 0,93% dos votos, que elegeram um deputado. O futuro Presidente de Angola declarou-se aberto ao diálogo permanente com a oposição para incentivar um ambiente de concórdia, o que é indispensável para o desenvolvimento da democracia e para o progresso do país. Muitas práticas de corrupção e muitos comportamentos reprováveis terão que ser abolidos. O mundo espera que, com o ocaso de um dos mais antigos regimes pessoais do mundo, o povo de Angola possa prosperar.
No entanto, depois de 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos, a tarefa de João Lourenço é realmente ciclópica e parece assemelhar-se ao que aconteceu em Portugal em 1969 quando AOS caiu da cadeira e Caetano não conseguiu libertar-se da herança recebida. Os tempos e as circunstâncias são outros, mas será que Lourenço conseguirá sobreviver à teia de interesses e às malhas de corrupção que se instalaram na nomenclatura angolana e de que ele próprio parece ser um símbolo?
Continuidade, evolução na continuidade ou ruptura? É fácil perceber o que aí vem. Os portugueses amigos de Angola esperam que a nova presidência reforce os seus laços com Portugal e que seja capaz de construir um país para todos os angolanos. 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

As novas tropelias do imprudente Donald

As peripécias sucedem-se na polémica carreira presidencial do imprudente Donald Trump, não só na política externa, mas também na política interna. Ontem fez mais uma das suas tropelias e ordenou o fim do programa DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), criado em 2012 por Barack Obama e que impedia que os jovens imigrantes trazidos ilegalmente para os Estados Unidos quando ainda eram crianças, pudessem ser deportados. A notícia saltou para a primeira página dos jornais americanos, como aconteceu por exemplo no Chicago Tribune.
Estima-se que cerca de 800 mil jovens beneficiaram da protecção da lei DACA e puderam começar novas vidas, mas também estudar, trabalhar, integrar as Forças Armadas e realizar o sonho de ser americano. Porém, o Donald está em vias de acabar com esse sonho e estará a preparar um cenário de deportações em massa, embora ainda não estejam definidos os pormenores relativos à aplicação desta decisão, para a qual o Congresso parece ir reagir.
A incerteza é enorme em muitas comunidades americanas, sobretudo as de origem mexicana. Barack Obama reagiu e classificou esta decisão do Donald como uma crueldade “contra patriotas que juram fidelidade à nossa bandeira”. Da mesma forma Rahm Emanuel, o mayor de Chicago, afirmou que o DACA continuará a existir em Chigago, enquanto Andrew Cuomo, o governador de Nova Iorque, declarou que “a medida é cruel, gratuita e devastadora para centenas de milhares de nova-iorquinos”. Ainda que o número concreto de possíveis afectados e as suas nacionalidades não sejam comhecidas, várias organizações que prestam apoio a imigrantes portugueses nos Estados Unidos afirmaram que algumas centenas de portugueses poderão ser afetacdos pelo fim do DACA.
Realmente, é caso para se dizer que com o Donald, cada cavadela cada minhoca.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Os portugueses nos 500 anos do Havre

A cidade portuária francesa de Le Havre tem festejado este ano os seus 500 anos e, por isso, preparou um extenso programa comemorativo.
Acontece que durante a 2ª Guerra Mundial a cidade foi ocupada pelos alemães e que na sequência do desembarque da Normandia de Junho de 1944 sofreu danos catastróficos e ficou praticamente destruída. Ainda antes do fim da guerra o arquitecto Auguste Perret foi designado para planear a reconstrução do centro da cidade. Cerca de 60 anos depois, no ano de 2005, Le Havre, a cidade reconstruída por Auguste Perret, foi inscrita na lista do património mundial da UNESCO.
No âmbito das comemorações dos 500 anos da cidade, a Rendez-Vous 2017 Tall Ships Regatta (RDV2017) organizada pela Sail Training International decidiu escalar o porto do Havre. Cerca de três dezenas de grandes veleiros, entre os quais se destacaram o Kruzenshtern, Mir, Sagres, Cisne Branco, Shabab Oman II, Alexander Von Humboldt, Shtandart, Jolie Brise e Santa Maria Manuela, entre outros, visitaram o porto e a cidade durante quatro dias para participar nas festividades comemorativas.
Como curiosidade regista-se a participação portuguesa através da barca Sagres e do lugre Santa Maria Manuela, assim como do Rancho Folclórico Orgulho Português do Havre, cuja participação também visou homenagear os 80 anos do navio-escola português. O diário Le Havre libre publicou uma desenvolvida reportagem sobre a RDV2017 e dedicou-lhe a sua capa com uma expressiva fotografia.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A ameaça norte-coreana está a agravar-se

A Coreia do Norte testou com sucesso uma bomba de hidrogénio desenvolvida para ser instalada num míssil balístico intercontinental. O anúncio foi feito pela televisão estatal norte-coreana mas, algumas horas antes, os sismógrafos japoneses e sul-coreanos já tinham detectado uma explosão de grande magnitude que provocou um sismo artificial. Julga-se ter sido o sexto teste nuclear norte-coreano e foi o mais potente de quantos já tinham sido realizados, o último dos quais em Setembro de 2016.
Com este teste, o regime de Kim Jong-un elevou o seu nível de ameaça e, um pouco por todo o mundo, os alarmes dispararam. Diversos países e organizações condenaram este teste nuclear com uma bomba de tão elevada potência que viola várias resoluções da ONU, ao mesmo tempo que exigem o fim dos programas balísticos e nucleares norte-coreanos.
A imprensa internacional destaca hoje esta notícia que está a causar justificado alarme em todo o mundo e o Libération utiliza a expressão “une bombe a retardement”, insinuando que o conflito tende a agudizar-se.
De facto, a corda já está demasiado esticada e todas as linhas vermelhas foram ultrapassadas. O regime de Kim Jong-un sabe que o confronto bélico significará a destruição do seu país e uma catástrofe para o povo norte-coreano, mas os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul sabem que não ficarão à margem de pesadas perdas e de avultados custos. O mundo sabe que a situação pode gerar uma crise mundial nunca vista antes ou uma catástrofe global. A China é a charneira entre as duas partes deste conflito, mas tem-se mantido afastada desta crise. Sabe-se lá porquê. O que se sabe é que o clima de confrontação se acentua todos os dias e o mundo está alarmado.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A arte e a técnica de Cristiano Ronaldo

O prestígio e a popularidade de Cristiano Ronaldo são um fenómeno muito raro no mundo do desporto, conforme se verifica uma vez mais na edição de hoje do diário desportivo espanhol as, que destaca na sua primeira página a fotografia de Ronaldo a marcar o primeiro golo da sua equipa no encontro de futebol entre as selecções nacionais de futebol de Portugal e das Ilhas Faroé, a contar para o apuramento para os Mundiais de 2018.
Esse jogo disputou-se ontem no Porto e terminou com a vitória portuguesa por 5-1, tendo Ronaldo marcado três golos. Quando eram decorridos apenas três minutos de jogo, o capitão da equipa portuguesa fez um remate acrobático, cheio de arte e técnica futebolística, marcando o seu primeiro golo. Não admira que um jornal português tivesse destacado essa imagem de grande espectacularidade que define a qualidade de qualquer futebolista, mas quando essa fotografia é destacada num jornal espanhol, exactamente no dia em que a Espanha e a Itália se vão encontrar em jogo decisivo para o mesmo Mundial de 2018, é mesmo um motivo de admiração e confirma o prestígio internacional do jogador português.
O festejado golo de Ronaldo foi marcado com um pontapé de bicicleta ou gol de chilena, como dizem os espanhóis, o que parece que nunca tinha acontecido na sua carreira: o jogador inclina o corpo para trás e levanta uma perna para rematar, o que faz quando tem o corpo suspenso no ar e paralelo ao solo.
Embora não tenhamos a intenção de futebolizar este espaço de actualidades que é a Rua dos Navegantes, o facto é que Cristiano Ronaldo a isso nos obriga.