sábado, 30 de junho de 2012

Esta receita teimosa e cega está a falhar

O jornal i anuncia hoje que o CDS põe em causa o resultado do programa da troika e diz também que a receita falhou e que o défice já vai em 7,9%, ilustrando estas notícias com um mapa de Portugal a afundar-se, como se fosse um Titanic. Não creio que a situação seja assim tão má em termos de flutuabilidade do país, mas também penso que as coisas não estão a correr bem e, muito menos, a merecer os auto-elogios governamentais que se ouvem com frequência. Sabemos que o caso vem de longe, de há muitos anos, e é difícil, mas a solução não está nos boys e nos seus assessores que tomaram conta da loja. Inexperientes. Ignorantes. Incompetentes. Ausentes do país real. Vaidosos. Sedentos por viagens.
Os números falam por si e são desconsoladores, no que respeita ao défice orçamental, à dívida (sobretudo das empresas e dos particulares) e ao desemprego, mas também quanto à emigração para o estrangeiro, à falta de investimento, às ameaças à coesão social, à tristeza nacional que nos domina e à desorientação geral que nos governa.
Pelas ruas das nossas cidades nós vemos as lojas vazias e o pequeno comércio a fechar, muita gente a mendigar ou a oferecer os seus serviços ocasionais, muitos a viverem de expedientes e muitos outros a temerem pelo seu posto de trabalho. Vemos um novo tipo de pobreza e adivinhamos que há fome naqueles que, nos caixotes do lixo, procuram qualquer coisa com que se alimentar. E há o contraste com o exibicionismo das comitivas oficiais e dos seus carros de luxo, a começar pelo VCE. E há os salários e as pensões milionárias em que ninguém toca. Jardim Gonçalves é apenas um obsceno exemplo, mas há muitos mais. O povo começa a reagir. Em Castelo Branco. Na Covilhã. Esta receita, teimosa e cega, de uma austeridade que bate sempre nos mesmos, falhou como afirma o jornal i.
Mudem de rumo e depressa!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Começamos a ficar cansados desta farsa


O Instituto Nacional de Estatística divulgou o valor nominal do défice das Administrações públicas que atingiu os 3.217 milhões de euros no 1º trimestre de 2012, um valor que compara com os 3.097 milhões de euros registados no final do primeiro trimestre de 2011. Analisando estes dados em percentagem do PIB, verifica-se um agravamento dos 7,5% do final do 1º trimestre de 2011 para os 7,9% registados no 1º trimestre de 2012. A principal explicação para esta evolução negativa do défice, que aumenta face ao ano passado apesar de todas as medidas de austeridade, está na diminuição da receita dos impostos e no aumento da despesa com as contribuições sociais. O cidadão comum e, em especial, os desempregados, os pensionistas e os funcionários públicos, não compreendem como se chegou a este resultado, apesar do “assalto” que tem sido feito aos rendimentos de quem trabalha ou já trabalhou. Há um ano tinham-nos prometido um défice de 4.5% e afinal estão nos 7.9%. Onde estavam as gorduras do Estado? Onde estava a incompetência socrática? Onde estavam as soluções e as facilidades que com arrogância nos prometeram os catrogas, os moedas, os coelhos, os nogeiras, os álvaros, os cantigas e outros que tais? Foi uma encenação e tudo não passou de despudorada propaganda. Afinal o resultado desta governação é medíocre e os seus responsáveis revelam-se incompetentes e impreparados.
O monocórdico ministro que é o rosto deste fracasso da execução orçamental já disse que "está a correr pior que o esperado" e que isso significava um aumento dos "riscos e incertezas" relativamente à possibilidade de cumprir a meta para o défice e, perante este quadro, o governo até já sugere a aplicação de mais medidas de austeridade. Isso é o que faria o merceeiro da esquina. Começamos a ficar cansados desta farsa.

O Festival ao Largo 2012

Com uma programação quase diária,  vai ser apresentada no espaço fronteiro ao Teatro Nacional de São Carlos em Lisboa, a edição de 2012 do Festival ao Largo, onde desde 29 de Junho a 29 de Julho e sempre a partir das 22:00 horas, vai estar presente a música, enquadrada em espaços de dança e ópera. Será uma grande festa dedicada à música sinfónica, coral-sinfónica e à dança, em que músicos, cantores, bailarinos, maestros e coreógrafos, de renome nacional e internacional, proporcionarão ao público cerca de duas dezenas de espectáculos ao ar livre e sempre de entrada gratuita.  A programação desta 3ª edição do Festival ao Largo é de grande qualidade e aprofunda a dimensão da ópera, da dança e da música de cena, que são os géneros mais estreitamente ligados às instituições que dão corpo a este festival - o Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) e a Companhia Nacional de Bailado (CNB), mas também aborda as músicas do mundo, o teatro e a dança ao ar livre. O programa que está a ser divulgado apresenta uma enorme variedade da oferta, que inclui apresentações da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do TNSC, da Orquestra Chinesa de Macau e de muitos outros grupos nacionais e estrangeiros. O local é particularmente adequado para a realização de um festival deste tipo pelo seu enquadramento arquitectónico e constitui uma boa oportunidade para atrair público àquela zona da cidade, mas as condições oferecidas aos espectadores são muito desconfortáveis: ou se vai cedo e se encontra um dos poucos lugares sentados ou se assiste de longe, de pé e com pouca visibilidade. Mas o melhor é que cada um experimente!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

EURO 2012: as traições da trave e do poste

Para a equipa portuguesa de futebol terminou o campeonato da Europa, com um resultado que para mim foi inesperado e surpreendente. Os jogadores superaram as minhas expectativas. Tudo tinha começado com 51 equipas nacionais que disputaram eliminatórias em nove grupos. Apuraram-se 14 selecções, incluindo a equipa portuguesa, a que se juntaram a Polónia e a Ucrânia como países organizadores, tendo ficado pelo caminho 35  selecções, entre as quais as que representam a Bélgica, Turquia, Roménia, Sérvia, Suiça, Áustria, Noruega, Finlândia e Hungria.
O campeonato começou a 8 de Junho e, depois de uma tangencial derrota com a Alemanha, a selecção portuguesa derrotou a Dinamarca, a Holanda e a República Checa, com os golos necessários e várias bolas na trave. Assim chegou às meias finais, o que significa que se colocou entre as quatro melhores selecções europeias, juntamente com a Espanha, a Itália e a Alemanha, enquanto as equipas da Inglaterra, França, Rússia e Suécia, por exemplo, regressaram mais cedo a casa.
O povo e em especial os emigrantes portugueses ficaram contentes e, muito a propósito, foi dito que em nenhum outro sector das nossas actividades somos tão respeitados na Europa.
Na meia-final a equipa portuguesa defrontou a Espanha e, depois de 120 minutos de jogo muito equilibrado e muito incerto quanto ao vencedor, veio a decisão por penaltis. O equilíbrio continuou até que Bruno Alves atirou à trave e a bola não entrou, enquanto, no minuto seguinte, Cesc Fabregas atirou ao poste e a bola entrou. A sorte do jogo esteve na trave e no poste. Lá longe, o jornal Hoje Macau não deixou de reparar nesse pequeno pormenor da trave e do poste que nos "atraiçoaram".

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Uma grande festa futebolística ibérica

Daqui a algumas horas as selecções de futebol representativas de Portugal e de Espanha irão disputar um lugar na final do EURO 2012.
Os jornais portugueses e espanhóis parecem ter esquecido os problemas financeiros e económicos, a profunda crise social e o preocupante desemprego que estão a devastar psicologicamente a península Ibérica, para se concentrarem nesse embate futebolístico. Porém, esse jogo também está a despertar as atenções da imprensa internacional e as fotografias de Cristiano Ronaldo e de Andrés Iniesta, entre outras, ilustram as primeiras páginas de inúmeros jornais europeus, latino-americanos e asiáticos, como acontece por exemplo com o diário mexicano Estádio.
Mesmo que o futebol tenha uma dimensão secundária na vida da maioria de nós, não há dúvida que este jogo Portugal-Espanha que hoje se disputa na cidade ucraniana de Donetsk, é uma grande festa ibérica e é também um acontecimento mundial. Por via do futebol e da sua espectacularidade, os humilhantes discursos sobre os resgates e sobre as dívidas ibéricas ficarão esquecidos por algum tempo.
Muitos milhões de pessoas irão seguir o jogo pela televisão. Eu assim farei, com a esperança de que a equipa portuguesa atinja a final do EURO 2012, para alegria dos portugueses, que tanto merecem essa alegria.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Artesanato para ver... ou para comprar

Inicia-se no próximo dia 30 de Junho a edição de 2012 da Feira Internacional do Artesanato (FIA), que decorrerá nas instalações da FIL, no Parque das Nações, em Lisboa. O evento prolonga-se até ao dia 8 de Julho e está prevista a participação de seis centenas de expositores oriundos de quarenta países dos cinco continentes, sendo a Argentina o país que este ano tem o estatuto de convidado e aquele a que, naturalmente, será dado maior destaque.
A FIA já se realiza em Lisboa desde há 24 anos e é considerada o maior palco da cultura material e imaterial da Península Ibérica e o segundo a nível europeu. Na edição deste ano, a FIA não se limita à exposição e venda de peças de artesanato, pois serão organizadas actividades lúdico-culturais, feiras de gastronomia e doçaria, exposições e workshops para atrair o público.
A FIA 2012 estará diariamente aberta ao público entre as 15.00 e as 24.00 horas e a entrada individual tem o preço de 5 euros, excepto para estudantes e seniores, que pagarão apenas 2 euros. Trata-se, evidentemente, de uma feira que é uma expressão da cultura popular de diferentes origens a justificar uma visita e, eventualmente, a aquisição de uma peça mais sugestiva ou mais original.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

The Tall Ships Races Lisbon 2012


O porto e a cidade de Lisboa vão receber entre 19 e 22 de Julho, cerca de seis dezenas de Grandes Veleiros, nos quais se espera estejam embarcados aproximadamente cinco mil jovens tripulantes em representação de cerca de cinco dezenas de nacionalidades.
Trata-se da edição de 2012 da The Tall Ships Races, na qual os Grandes Veleiros internacionais chegarão a Lisboa vindos de Saint-Malô e, depois da sua escala no porto do rio Tejo, seguirão para Cadiz, La Coruña e Dublin.
As The Tall Ships Races são regatas promovidas anualmente pela Sail Training Internacional visando uma partilha de experiências de treino de mar através do embarque de jovens de todo o mundo e, no passado, essas regatas visitaram Lisboa em 1956, 1982, 1992, 1998 e 2006. Nesta sua sexta visita a Lisboa e durante os quatro dias de permanência, na área ribeirinha do porto de Lisboa, entre Santa Apolónia e a Praça do Comércio, o público terá a oportunidade de visitar esses Grandes Veleiros, assistir a concertos, espectáculos e outras iniciativas lúdicas. Porém, o ponto alto do evento será o desfile náutico no rio Tejo no final da manhã do dia 22 de Julho, no qual se espera que tomem parte a barca Sagres, os lugres CreoulaSanta Maria Manuela, a caravela Boa Esperança e muitos outros veleiros. Como se costuma dizer: a não perder!
Depois da recente passagem por Lisboa da Volvo Ocean Race, esta escala lisboeta da The Tall Ships Races, vem chamar-nos a atenção para a importância do porto de Lisboa como escala internacional dos grandes eventos náuticos e para a necessidade de melhor valorizarmos a vocação marítima de Portugal.

sábado, 23 de junho de 2012

Esta austeridade não é solução

Um dia destes, falando no Luxemburgo com aquela entoação monocórdica que já incomoda, o ministro das Finanças salientou que “a informação disponível sobre o comportamento das receitas não é positiva” e anunciou “um aumento significativo nos riscos e incertezas que afectam a execução orçamental”, mas reafirmou o objectivo de cumprir o défice para 2012.
Estas declarações mostram que nem tudo vai bem na execução orçamental, configuram um cenário desastroso e revelam que o objectivo de se conseguir um défice de 4.5% em 2012 está em risco. Agora, ou se reforça a receita com mais impostos, ou se reduzem as despesas ou se convencem as autoridades de Bruxelas a aceitar uma renegociação dos nossos compromissos. É uma situação muito preocupante que a todos nos deve incomodar e, infelizmente, parece que a execução orçamental anda à deriva. Sempre nos foi dito que nada disto seria necessário. De facto, tinha sido previsto que no corrente ano a receita do IVA deveria aumentar 13,6%; depois corrigiu-se essa previsão para 10,6%; agora vêem dizer-nos que vai haver uma quebra de 2.8%. Significa que em poucos meses já existe um desvio de 17.4% entre a primeira e a actual previsão! Isto é que é um desvio colossal! Eu interrogo-me como foi possível tanta cegueira política e tanta ignorância económica, que não deixaram prever os efeitos – directos, indirectos e induzidos – provocados pelo brutal arrefecimento da economia, pela quebra de rendimento das famílias e do consumo, pelo encerramento de empresas e pelo incontrolado aumento do desemprego. Definitivamente, esta austeridade não é solução, até porque está claramente entregue a contabilistas que não estão atentos nem conhecem a realidade do nosso país.
 

Um grande marinheiro!

Porto – Cais da Ribeira
Hoje é noite de São João e a cidade do Porto está em festa, sobretudo nas zonas ribeirinhas e, em especial, no Cais da Ribeira.
É exactamente aí, no segundo andar do prédio situado na rua da Lada, nº 24, próximo das Alminhas da Ponte – um baixo relevo em bronze evocativo da tragédia da Ponte das Barcas ocorrido em 29 de Março de 1809 quando do cerco da cidade pelas tropas do Marechal Soult – que, sobre uma parede de azulejo, se encontra uma lápide com a seguinte inscrição:

Nesta casa nasceu em 18 de Maio de 1881 o Comandante Carvalho Araújo,
que morreu no mar em combate na defesa da Pátria, em 14 de Outubro de 1918

Embora nascido no Porto, José Botelho de Carvalho Araújo passou a infância e a adolescência em Vila Real. Em 1895 ingressou na Escola Naval como Aspirante de Marinha, vindo a tomar parte na revolução de 5 de Outubro de 1910. Depois foi deputado à Assembleia Constituinte pelo círculo de Vila Real e foi governador do distrito moçambicano de Inhambane.
No dia 18 de Outubro de 1918 comandava o caça-minas "Augusto de Castilho" no mar dos Açores, escoltando o paquete "S. Miguel" que navegava do Funchal para Ponta Delgada com mais de um milhar de passageiros, quando foi atacado pelo submarino alemão U-139. Com o seu frágil navio enfrentou o poderoso submarino para dar tempo a que o paquete e os seus passageiros se salvassem, mas nesse desigual combate em que cumpriu o seu dever, veio a perder a vida. Este combate constitui um dos mais célebres episódios da participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial.
Hoje, como ex-deputado e ex-governador, o valente Carvalho Araújo não estaria a comandar o caça-minas "S. Miguel" mas, certamente, estaria na Administração da EDP, CGD, PT, GALP, CIMPOR ou coisa assim. São outros os tempos e diferentes as vergonhas. A cidade de Vila Real homenageou o exemplo do Comandante Carvalho Araújo com uma estátua e a Marinha Portuguesa adoptou-o como um dos seus maiores símbolos. Um grande marinheiro!

"Europe’s most dangerous leader"

A quase centenária revista britânica New Statesman que é publicada semanalmente em Londres, tem um conteúdo essencialmente político. Na sua última edição trata da situação europeia e nela se destaca, em especial, um artigo de Mehdi Hasan intitulado Angela Merkel’s mania for austerity is destroying Europe”. Há duas semanas atrás, também The Economist dizia mais ou menos a mesma coisa e, perante a ameaça de uma recessão mundial, pedia: Start the engines, Angela! 
O artigo de Medhi Hasan começa por perguntar qual o líder mundial que mais ameaça a ordem e a prosperidade globais? O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad? Errado. O primeiro ministro de Israel Binyamin Netanyahu? Errado. O líder norte-coreano Kim Jong-un? Outra vez errado. E surpreendentemente, o autor do artigo responde: é uma fã de ópera, bem educada e antiga farmacêutica que está à frente da Alemanha há sete anos, cuja solução para a crise financeira da Europa - ou a falta dela - pôs a Europa, e talvez o mundo, à beira de uma segunda Grande Depressão. E o artigo acrescenta: “Merkel is the most dangerous German leader since Hitler”, porque está a destruir o processo de reabilitação da reputação alemã que os seus  oito antecessores, desde Konrad Adenauer a Gerhard Schröder, tinham lentamente recuperado. Com o desemprego jovem a atingir os 50 por cento no sul da Europa, com o aumento da tensão social, da contestação nas ruas e dos motins, com a extrema direita europeia a atrair novos adeptos entre os desempregados e os desesperados, a situação social resultante das políticas de austeridade é cada dia mais complexa. E o artigo termina com uma óbvia conclusão: "Merkel is destroying the European project, pauperising Germany’s neighbours and risking a new global depression. She must be stopped". Muito inquietante, indeed! Bom seria que este artigo fosse lido pelos boys que nos dirigem e que tanto gostam das orientações de Frankfurt e de Berlim.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Viva o futebol! A crise pode esperar...

Não tenho quaisquer pretensões futebolísticas a não ser gostar muito de ver futebol, de preferência no conforto doméstico e com a repetição das melhores jogadas. A barafunda que é o trajecto para os estádios, o eco dos insultos entre os dirigentes e a agressividade verbal das claques não me atraem. Tenho pouca apetência para ser treinador de bancada e devo saber pouco da matéria, que cada dia é mais embrulhada e rebuscada em discursos pretensamente tácticos e estratégicos. Provavelmente, tudo isso é uma reacção pessoal complexada de quem gostaria de ter sido um bom jogador, mas não ter passado de um medíocre praticante. Apesar de ter uma formação futebolística adquirida ao longo de muitos anos, através dos ensinamentos de grandes comentadores de referência como Alves dos Santos e Gabriel Alves e, mais recentemente, Rui Santos, apenas posso dizer que ontem vi o Portugal-República Checa e fiquei encantado. Não vi defeito táctico nem erro de opção estratégica. Foi um grande jogo. Entusiasmei-me. Fiquei eufórico com o jogo e com o resultado. A televisão mostrou o povo sofredor a festejar. A nossa imprensa destacou o grande jogo e a fotografia do Cristiano Ronaldo apareceu nas primeiras páginas da imprensa internacional. Assim, é caso para dizer:
Viva o futebol. A crise pode esperar...
Porém, este enorme sucesso da selecção nacional e dos jogadores que tanto anima a nossa auto-estima colectiva, não me faz retirar nenhuma das críticas que fiz ao circo, ao endeusamento prematuro dos jogadores, ao exibicionismo novo-riquista e à verdadeira anestesia com que a comunicação social nos tem brindado.  

Há mais estrelas no céu

Entre os dias 9 e 17 de Junho decorreu a 76ª edição da Volta à Suiça em bicicleta, na qual participaram 160 ciclistas que tiveram que trepar muitas montanhas ao longo das nove etapas da prova. Apenas 92 desses atletas chegaram ao fim, significando que houve mais de 40% de abandonos, o que evidencia a grande dureza e dificuldade da corrida.
O vencedor desta prova chama-se Rui Alberto Faria da Costa. É natural da Aguçadora, nas proximidades da Póvoa de Varzim, tem 25 anos de idade e corre pela equipa espanhola da Movistar. Deixou nos lugares secundários alguns ciclistas de nomeada como o luxemburguês Frank Schleck e o americano Levi Leipheimer, enquanto o outro português em prova, o vice-campeão olímpico Sérgio Paulinho, se classificou no 45º lugar.
Rui Costa é, portanto, um grande campeão.
Há cerca de três anos emigrou para Espanha e apostou numa carreira ciclista internacional. Em 2011 venceu o Grande Prémio Ciclista de Montreal, a Volta à Comunidade de Madrid e a 8ª etapa da Volta à França. O seu triunfo na Volta à Suiça é a primeira vitória de um ciclista português numa prova por etapas do circuito ciclista internacional. Desportivamente, é um feito notável. Porém, obcecada com o futebol, a nossa imprensa desportiva que tanto promove futebolistas de terceira categoria, quase ignorou Rui Costa e o seu feito, como se o nosso desporto apenas tivesse estrelas futebolísticas. Lamentável.

A festança continua na RTP

Na sua função de regulador da vida da comunidade, o Estado indemniza algumas empresas pelos serviços que prestam ao público. Na primeira linha desses apoios empresariais estão as empresas de transportes que são compensadas pelo facto de praticarem tarifas abaixo do preço de custo em benefício dos utentes e em especial, das classes trabalhadoras e dos reformados.
Agora o Jornal de Notícias veio anunciar que o valor das indemnizações pagas pelo Estado aos transportes urbanos de Lisboa e Porto – Carris, STCP e os Metropolitanos das duas cidades –  caiu um terço em relação a 2011 e que, conjuntamente, as quatro empresas vão receber apenas 90 milhões de euros. É um sinal dos tempos e do aperto que, directa ou indirectamente, cai sempre sobre os mesmos. Porém, o mesmo jornal também informa que a RTP recebe tanto como essas quatro empresas, o que nos deixa absolutamente pasmados porque, enquanto essas quatro empresas são essenciais para a nossa vida, a RTP não nos serve para nada. Vendam-na já, por favor. É um luxo que dispensamos. Temos dezenas de outros canais e a RTP limita-se a servir-nos uma programação quase sempre de baixa qualidade, frequentemente esbanjadora e, muitas vezes, excessivamente foleira e brejeira, para não citar a informação produzida por repórteres por vezes mal preparados, que se passeiam por todo o lado a gastar o nosso dinheiro. Ninguém tem mão naquilo. No meio desta desgraça, as furtados, os malatos e outros que tais, lá continuam a encher os bolsos à custa dos contribuintes. A festança continua na RTP. É uma enorme tristeza!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Ainda bem que me enganei!

O passado domingo foi um dia de grandes acontecimentos e, naturalmente, no dia seguinte sucedeu-se um dia de grandes notícias. Na Grécia aconteceram as eleições legislativas que deram uma vitória escassa ao partido da Nova Democracia, que defende a permanência na moeda única e o cumprimento dos memorandos que foram assinados com a troika. Em França registou-se a vitória do Partido Socialista que, além do presidente e do governo, passou a ter uma confortável maioria na Assembleia Nacional. No Egipto realizou-se a 2ª volta das primeiras eleições presidenciais desde a queda de Hosni Mubarak e a Irmandade Muçulmana já reivindica a vitória do seu candidato Mohammed Morsi, embora os resultados oficiais só devam ser divulgados a meio da semana.
Porém, para a imprensa portuguesa a notícia que teve maior destaque foi o apuramento da selecção nacional de futebol para os quartos de final do EURO 2012, depois de ter derrotado, primeiro a Dinamarca e, agora, a poderosa Holanda. Com aqueles resultados a selecção nacional colocou-se no grupo das oito melhores selecções europeias de futebol e esse facto contribui para aumentar a auto-estima de um país angustiado, que está a ser sufocado pelos seus governantes em nome de interesses que cada vez mais duvidosos e confusos para toda a gente. O Diário de Notícias dá os parabéns a Portugal e eu dou os parabéns aos jogadores. Eles são mesmo bons. Depois do circo que foi o estágio em Óbidos, este resultado foi inesperado e, para mim, foi uma grande surpresa. Eu não estava à espera desta alegria. Ainda bem que me enganei!

A Europa ainda respira?


O resultado das eleições gregas gerou uma onda de alívio na generalidade dos países europeus, conforme revelam os títulos dos seus principais jornais, ao referirem que a Europa ainda respira e que o euro está salvo. Não tenho a certeza que assim seja.
A vitória da Nova Democracia com 29,66% dos votos foi muito escassa e, por isso, a governabilidade do país só será assegurada através da coligação com outros partidos, o que não se afigura fácil de concretizar e pode, inclusivamente, deixar tudo tal como estava antes das eleições ou ainda mais agravado, porque cada dia que passa torna tudo mais difícil. A equação grega está portanto mais complexa e, ao contrário do que é sugerido pela imprensa europeia, as eleições não vieram alterar substancialmente a situação, porque não surgiram novas ideias quanto à superação da crise social, da dívida pública, do desemprego ou da recessão económica. A vontade política da poderosa Alemanha e dos especuladores financeiros não se alterou. A desmoralização grega acentua-se e, curiosamente, ninguém festejou nas ruas o resultado das eleições. Apenas ficou expressa a vontade grega de permanecer no euro, porque está assumido que a passagem do euro para o dracma teria aspectos muito trágicos para as famílias e para as empresas.
Os famosos opinion makers Paul Krugman e Nouriel Roubini não se deixaram convencer por estes resultados e a sua previsão fatalista mantém-se: a Grécia acabará por sair do euro. E, como tem sido repetidamente dito, essa saída será uma caixa de Pandora para a Europa.

sábado, 16 de junho de 2012

O Chá. De Oriente para Ocidente

A Fundação Oriente inaugurou uma exposição intitulada O Chá. De Oriente para Ocidente que exibe cerca de 250 peças de tipologias tão distintas como a porcelana, prataria, pintura, escultura, mobiliário, bibliografia ou espécimes em herbário. As peças em exposição pertencem ao acervo do Museu do Oriente, a coleccionadores particulares e a diversos museus como o Museu Nacional de Arte Antiga, Museu de Marinha, Palácio Nacional da Ajuda, Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, Museu do Chiado, Biblioteca Nacional de Portugal, entre outros. A excelente e diversificada mostra está organizada em sete núcleos que nos permitem acompanhar o ciclo do chá desde o seu cultivo, transporte e comércio, preparação, porcelanas (bules, chávenas e caixas) e respectivos ambientes sociais no Oriente e na Europa. A exposição destaca o papel de Portugal como mediador no conhecimento do chá entre o Oriente e a Europa e, mais do que uma simples mostra de peças, contextualiza-as e insere-as no seu próprio mundo, mostrando que existe um informal diálogo civilizacional entre dois mundos culturais. A exposição é apoiada por um erudito catálogo e estará patente até ao dia 13 de Janeiro. A sua qualidade estética e pedagógica, torna muito recomendável uma visita a esta excelente exposição.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Festival Rio Loco 2012 - Lusofonia

As culturas dos países de língua portuguesa são as grandes protagonistas do Festival Rio Loco 2012, que decorre desde 13 Junho até 17 de Junho junto às margens do rio Garona na cidade francesa de Toulouse e que espera receber mais de cem mil pessoas. O festival é organizado pelo Município de Toulouse e, este ano, constitui uma mostra das culturas lusófonas, não apenas na sua vertente musical, mas também em outras vertentes, como a gastronomia e a arte popular. Esta 18ª edição do festival foi baptizada Lusofonia por se inspirar nas identidades culturais do mundo lusófono e homenageia especialmente Cesária Évora, através de um concerto de homenagem apresentado por Tito Paris em parceria com outros artistas cabo-verdeanos. Além deste concerto, o festival inclui mais dezoito concertos distribuídos por cinco dias, que serão apresentados por grupos ou artistas brasileiros (6), portugueses (5), angolanos (3), cabo-verdeanos (2) e, ainda, por um grupo de Moçambique e outro da Guiné-Bissau. O jornal La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, anuncia o festival com grande destaque na sua primeira página com uma fotografia e a frase Rio Loco: musiques en lusophonie. As presenças portuguesas no Rio Loco 2012 são asseguradas pelo grupo Madredeus, que actuou na cerimónia inaugural do dia 13 de Junho, enquanto para hoje está programada a apresentação de concertos por António Zambujo, Mariza e António Chainho, num dia dedicado ao fado. Amanhã apresentar-se-à o guitarrista Norberto Lobo, acompanhado pelo contrabaixista Carlos Bica. Esta presença cultural além-Pirinéus é muito prestigiante e é um contributo para a afirmação da Lusofonia, não só como a terceira língua europeia mais falada no mundo, mas também como uma amálgama cultural onde coexistem o fado, o samba, a morna, a bossa nova e outros géneros musicais.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma imagem vale mais que mil palavras

A edição de hoje do diário madrileno La Razón dedica a sua primeira página à crise financeira que se abateu sobre a Espanha e que vem ameaçando a Itália. Porém, para um leitor menos informado ou distraído, o jornal quase inverte a realidade ao afirmar que a Espanha pode ganhar milhões com a ajuda à banca, isto é, o jornal apoia-se nas palavras podría ganar, em vez de recorrer às conotações negativas e humilhantes das palavras resgate, dívida, crise, falência ou bancarrota que, certamente, melhor traduziriam a realidade bancária que se vive em Espanha e a gravidade da sua situação económica. O título é, por isso, algo manipulador em relação ao que se passa em Espanha. Porém, em relação à Itália o jornal é bem menos benevolente e os leitores são sugestionados por uma imagem gráfica criativamente muito rica e esclarecedora de um spaghetti italiano bem colorido e pronto a ser mastigado. Esta imagem é completada por uma bem expressiva frase: Itália - Al dente para los mercados. Com esta imagem gráfica e esta frase, ninguém tem dúvidas sobre a gravidade da situação financeira italiana e, consequentemente, da situação europeia. Na realidade, por vezes uma imagem vale mais que mil palavras.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Tempos muito difíceis e muito incertos

Nunca como agora, com a Espanha a integrar o grupo de países que pediram ajuda financeira externa, se apresenta tão incerto o futuro do euro e da União Europeia. O que aconteceu vem confirmar a irresponsabilidade e a desonestidade da banca espanhola, mas também veio clarificar a enorme interdependência financeira e bancária que se verifica à escala global. A bolha imobiliária espanhola era visível desde há muito tempo, nos subúrbios das grandes cidades e nos aldeamentos turísticos da costa mediterrânica, mas os banqueiros e os governantes espanhóis andaram deslumbrados e distraídos, um pouco como aconteceu por cá com o BPN, o BPP e alguns outros. E hoje pode perguntar-se qual é a diferença entre a Grécia que mentiu nas suas contas públicas e a Espanha cujos bancos mentiram nos seus balanços? Assim, esta crise espanhola veio confirmar que a União Europeia é cada vez mais um amontoado de países endividados, sobretudo na sua margem sul, com as ajudas concedidas aos quatro países já resgatados - Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha – a atingirem perto de 500 mil milhões de euros, como destaca o Financial Times. Entretanto, o ataque especulativo dos “mercados” prossegue, sem esperar pelo resultado das eleições gregas e da decisão quanto à sua permanência no euro, lançando nuvens muito negras sobre o futuro da comunidade nascida do Tratado de Roma. E, como se isso não bastasse, agitam-se já os fantasmas do colapso próximo da economia italiana. A União Europeia parece, assim, ter entrado numa espiral de definhamento da qual dificilmente sairá com os protagonistas que tem, nomeadamente em Berlim ou Bruxelas. São tempos muito difíceis e tempos muito incertos. Aparentemente, porque os eurocratas não são capazes de fazer melhor, só há duas alternativas: a refundação da União Europeia ou o seu desmantelamento.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Chegou a vez da Espanha

Chegou a vez da Espanha reconhecer a sua insustentável situação financeira, ao anunciar que pediu a ajuda europeia para refinanciar o seu sistema bancário e a confirmar que a crise que atravessamos é global. Embora tenha sido insistentemente declarado que não se trata de um resgate, serão canalizados cem mil milhões de euros só para a banca, ficando de fora o apoio à economia, às cajas de ahorro e o combate ao desemprego e aos défices central e das regiões autónomas. Comparando com as outras intervenções em curso, o montante anunciado do crédito ou do resgate, parece ser insuficiente. A Espanha é o quarto país da zona euro a solicitar a ajuda financeira externa, após a Grécia (Maio de 2010), a Irlanda (Novembro de 2010) e Portugal (Abril de 2012). Todos recusaram até ao limite pedir esse apoio pelo seu significado humilhante. No caso da orgulhosa Espanha, tem sido dito que é uma situação diferente da Grécia e de Portugal, estando a doença circunscrita ao seu sistema financeiro, mas isso não corresponde à verdade, porque a economia espanhola está tão debilitada quanto a portuguesa e padece dos mesmos sintomas de recessão e desemprego. Esta situação confirma que a crise do euro deixou de ser uma doença dos pequenos países periféricos e que chegou definitivamente às grandes economias. Ninguém está a salvo ou, como ontem referia The Economist, estamos todos no mesmo barco, sentindo-se que a Itália pode ser o próximo alvo dos credores. O famoso economista Nouriel Roubini escreveu que "desta vez a Europa está mesmo à beira do precipício", enquanto o Nobel da Economia Joseph Stiglitz, considerou que o resgate financeiro a Espanha “não funcionará e pode criar uma ‘economia vudu’ com o Estado a resgatar os bancos e estes a resgatar o Estado”. A crise é cada vez mais global, como se sabe, mas aqui está muito associada ao que se passa com nuestros hermanos. Haja confiança. Porém, humildemente, eu pergunto se aquilo que há um ano os catrogas, os nogeiras e os moedas nos disseram sobre a nossa situação - que era apenas um caso de gorduras do Estado e de excesso de institutos - foi um caso de má fé, um sinal de grande incompetência ou, apenas, uma sofisticada forma de assalto ao poder.

sábado, 9 de junho de 2012

Start the engines, Angela!

Na sua edição de hoje, The Economist analisa a economia global, afirmando que ela está em grave perigo e que uma boa parte da solução depende de uma mulher. E a mais conceituada revista económica mundial recomenda: Start the engines, Angela! A União Europeia é a maior zona económica do mundo e engloba algumas das mais prósperas economias mundiais, como a Alemanha, a França, o Reino Unido, a Itália e a Espanha. Tudo o que se passa neste espaço não respeita apenas aos seus 500 milhões de consumidores, mas tem repercussões globais. Porém, acontece que, desde há alguns anos, a União Europeia vive um problema económico-financeiro (e institucional) que nasceu quando da criação da moeda única e que se acentuou em 2008, depois do caos desencadeado pela falência do Lehman Brothers. Aconteceram então enormes erros, sobretudo na Grécia, Irlanda, Portugal, Chipre, Bélgica, Itália e Espanha, que foram aconselhados a endividarem-se para vencer a crise e que cairam na malha da especulação financeira e da ganância bancária. O endividamento foi excessivo, o crescimento económico tornou-se vacilante, o desemprego atingiu níveis insustentáveis e o risco de catástrofe financeira tem progredido numa incontrolável espiral. As políticas de austeridade impostas para combater o endividamento e o défice público têm aprofundado os problemas, sobretudo na Grécia e na Espanha. Porém, o problema já tem uma dimensão global porque hoje há dificuldades por toda a parte, incluindo nos países emergentes que “parece terem batido na parede”. O Brasil já está a crescer menos do que o Japão. A Índia está a passar por muita confusão. A economia chinesa está em desaceleração. A economia global, como sugere The Economist, é um enorme navio que corre o risco de se afundar sem que ninguém se salve. Estamos todos no mesmo barco e, de facto, isto não vai nada bem. Assim, pelas interligações e interdependências existentes, o destino da economia mundial parece depender cada vez mais da obstinada Angela Merkel e das suas orientações. Mrs Merkel, it’s up to you.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

EURO 2012: lamento, mas não acredito!

Dentro de dias a selecção portuguesa de futebol defronta a equipa alemã, iniciando a sua participação no EURO 2012. As televisões, as rádios e os jornais não falam noutra coisa. A excitação mediática é total e o povo tem sido insistentemente contagiado pelos excitómetros televisivos e radiofónicos. Já se vêem janelas e varandas com algumas bandeiras nacionais numa encenação pseudo-patriótica. A hora H aproxima-se. Sucedem-se as notícias, as reportagens, as conferências de imprensa, os treinos em directo, as entrevistas, as sessões de autógrafos, os forum radiofónicos, os espaços publicitários e as mensagens dos patrocinadores. É um delírio absoluto. Até que, contrariando a euforia quase geral e numa entrevista à TSF, o experiente treinador Manuel José veio dizer que era necessária mais concentração e menos circo. Que a selecção parece um big brother e que passa a vida em festas. Outros concordaram. E eu também. De facto há um ambiente de festa exagerado, que tem transformado os jovens jogadores em vedetas antecipadas. Que se deslumbram. Que se desconcentram. Que passaram uma boa parte do estágio em sessões fotográficas com fins publicitários, como é exemplo o anúncio da Galp que "obrigou" os jogadores a transformarem-se em actores. A televisão mostra-nos tudo isso, o entusiasmo delirante e os carros dos jogadores que são uma afronta aos desempregados e a quem passa fome, enquanto a FPF não modera esta feira de vaidades. Manuel José está pessimista. Eu também. Gostava de me enganar, porque dessa forma talvez eu me esquecesse do triste espectáculo que tem sido a euforia do apoio à selecção, que muitas vezes se confunde com a bagunça das promoções do Pingo Doce ou do Continente. Se assim fosse, aqui me retrataria pelo meu pessimismo e me regozijaria com as vitórias da selecção. Porém, lamento mas eu não acredito!

Sinais exteriores de riqueza

É sabido que há bastantes cidadãos em Portugal que fogem ao fisco de uma maneira escandalosa e que têm gozado de grande impunidade em relação ao cumprimento dos seus deveres fiscais. O Estado e as autoridades fiscais poucas vezes intervêem nestes casos, pois parecem mais preocupados com a pequena fraude e com a imprecisão das declarações fiscais dos pequenos contribuintes, do que com a verdadeira fraude fiscal. Muitos dos que escapam às malhas do fisco enriqueceram ilicitamente e exibem os chamados sinais exteriores de riqueza – os automóveis, as aeronaves, os iates e, naturalmente, a vida social. Os seus truques são diversos e em diferentes escalas. Uns são barões que gerem e beneficiam dos chamados negócios sujos, que são comuns em todas as sociedades. Outros são os beneficiários da corrupção nas suas diversas formas, que lhes permitem a acumulação de rendimentos de duvidosa origem. Outros, ainda, são os profissionais liberais e muitos empresários que vivem da economia paralela. Essa gente frequenta locais caros e utiliza carros topo de gama, não só das marcas premium como a BMW, Audi e Mercedes, mas também os famosos Ferraris, Maseratis e Lamborghinis, sendo de salientar que, em 2011, cerca de 59% dos consumidores portugueses pagou a pronto os veículos automóveis de luxo e de gama média-alta que importou, segundo revelou um estudo de uma consultora do mercado automóvel. Esclarecedor... A decisão da autoridade fiscal passar a intervir nas operações Stop para fiscalizar os veículos de valor superior a 50 mil euros, os rendimentos dos seus proprietários e a sua situação contributiva, vai atenuar o forrobodó que por aí anda há muito tempo. Os chamados espertalhões que exibiam sinais exteriores de riqueza sem que ninguém soubesse a sua origem, passarão a ser mais controlados e terão menos sossego. Já não era sem tempo e, neste aspecto, as nossas autoridades fiscais tomaram uma excelente medida que, esperamos, seja eficaz.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Um desfile náutico memorável no Tamisa

Há muitos, muitos anos, aprendia-se nas nossas escolas primárias que a aliança luso-britânica assinada em 1373 e confirmada pelo Tratado de Windsor de 1386, era a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Com o correr dos anos e com a aprendizagem da História que fomos tendo ao longo do tempo, começamos a ver que essa aliança foi sempre mais vantajosa para os ingleses do que para nós e que eles, muitas vezes, não só não foram nossos aliados, como foram nossos intransigentes adversários, que nos atraiçoaram, nos combateram e nos humilharam. Assim aconteceu quando perdemos as praças da costa do Malabar para os holandeses, quando perdemos Baçaim e a Província do Norte do Estado da Índia para os maratas, quando nos ocuparam a Madeira e Goa com o pretexto das invasões napoleónicas ou quando nos humilharam com o Ultimato de 1891. Por todas estas razões e como republicano, não tenho especial atracção pelos ingleses e pela sua monarquia, embora goste de muitas coisas que eles têm para nos oferecer. Destaco, por exemplo, a sua língua universal, os museus de Londres, os grandes concertos e a Premier League. Além disso, admiro a solenidade com que a sociedade inglesa celebra os grandes momentos da Casa Real, de que é exemplo o conjunto de iniciativas que nestes dias assinalaram as Bodas de Diamante da Rainha e que a televisão nos mostrou. Destaco, em especial, o desfile náutico do Tamisa com mais de mil embarcações que escoltaram a Rainha e os milhões de pessoas que a ele assistiram, a lembrar ao mundo o simbolismo do poder naval inglês e a forma como a Família Real e os ingleses o evocam. Destaco, igualmente, a forma como os jornais de todo o mundo relataram esse memorável desfile náutico. Aqui, lamentavelmente, a nossa herança marítima é menos evocada do que devia e, nem o Tejo nem o Douro, têm servido para estas coisas.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os jacarandás já florescem em Lisboa

Os jacarandás já florescem em Lisboa e, em poucos dias, a sua exuberância cromática transforma o espaço público, parecendo anunciar o Verão ou um tempo de maior confiança e optimismo para os lisboetas. Como sempre, a partir de fins de Maio e até meados de Junho, a cidade parece animar-se com a luminosidade e a intensidade que veste muitas das suas praças e ruas com o azul-lilás ou o rosa-lilás das flores dos jacarandás e com os mantos de pétalas que se estendem pelo chão, nos passeios e sobre os carros. Há jacarandás por toda a cidade e li que serão cerca de dois mil e duzentos, correspondendo a cerca de 6% da superfície arbórea da cidade, sobretudo nas avenidas 5 de Outubro e Dom Carlos I, nos Largos do Rato e do Carmo, no Parque Eduardo VII, no Príncipe Real, na Tapada das Necessidades, na Ajuda, no Restelo e em tantos outros locais. É bom saber que há coisas que são belas e que não mudam, que fazem parte das nossas memórias alfacinhas e da identidade da nossa cidade, que estão para além da ganância e da mediocridade de tantos personagens do nosso tempo, mas também da crise do euro, da nossa dívida, do desemprego, da justiça que não funciona, dos escândalos financeiros, das promiscuidades nas secretas, da tristeza das programações televisivas, dos exageros com o futebol e do triste espectáculo que continuamente nos oferecem os relvas, os borges, os gonçalves, as esteves, os catrogas e os moedas. Esqueçamos tudo isso por instantes, naveguemos pelas ruas onde florescem os jacarandás, paremos alguns momentos para os observar e verifiquemos como é um privilégio poder contemplar tão belo espectáculo em Lisboa. E lembremos José Craveirinha, o poeta moçambicano dos “Jacarandás de Saudade”: Tempo / de seus passos vindo / pelo tapete de roxas flores / dos jacarandás enfileirados na rua.

domingo, 3 de junho de 2012

Um país cheio de Borges

Portugal está cada vez mais ocupado por gente estranha e ambiciosa, que mistura política com negócios, que usa a coisa pública em proveito pessoal e que não olha a meios para atingir os seus fins. Muitos têm um ar estrangeirado, falam línguas e estudaram lá por fora. Não fizeram empresas, nem criaram riqueza. Penduraram-se no Estado, que apenas deveria abrigar gente vocacionada para servir o interesse nacional e o bem comum. Nunca como agora houve esta evidência. Enquanto a generalidade dos portugueses empobrece e sofre, ou emigra, andam por aí alguns abutres que, à sombra do Estado e à custa de todos nós, se vão enchendo descarada e abusivamente. Aqueles que nos governam devem merecer a nossa confiança e não podem trair o voto popular, mas todos os dias nos desapontam com as suas medidas insensíveis tomadas através dessa estranha gente. Agora decidiram dar poderes de consultor a um tal Borges, atribuindo-lhe uma milionária retribuição sem descontos, com o argumento de que é funcionário do FMI. Não é verdade. O homem foi mas já não é e, inclusive, até consta que foi despedido por incompetência. É ele que, com arrogância desmedida, defende a descida dos salários dos outros, que “manda” no governo, que vende o nosso património em nome de privatizações. Como é administrador de várias empresas privadas, ficam no ar muitas suspeitas sobre a forma como serve tantos interesses não convergentes. É um equilibrista. É assim. Vale tudo! Infelizmente o país está cheio de Borges, em vez de servidores do Estado e do interesse público. Os Borges que prescindem do salário para receber as reformas. Os Borges que estando no governo continuam a gerir os seus escritórios e seguramente a aumentar a sua clientela. Os Borges que vieram de Vancouver. Os Borges que sairam dos escritórios de advogados para a agricultura, o ambiente e o mar. É caso para dizer, parafraseando o manifesto anti-Dantas de José de Almada Negreiros: se o Borges é português eu quero ser espanhol!

sábado, 2 de junho de 2012

A temporada Gulbenkian de música 12/13

O programa da próxima temporada Gulbenkian de música já foi divulgado e pode ser consultado, mês a mês ou por tema, quer no sítio da Fundação Gulbenkian, quer na brochura em papel que a Fundação disponibiliza. A programação, tal como tem acontecido nos anos anteriores, dividir-se-à em ciclos de Piano, Música Antiga, Grandes Orquestras, Teatro/música, Músicas do Mundo e as transmissões da Metropolitan Opera House, de Nova Iorque. Alguns dos cerca de 130 eventos anunciados, que se dividem por 9 ciclos, despertam mais expectativas, como por exemplo as iniciativas enquadradas na celebração dos 50 anos da Orquestra Gulbenkian, a apresentação da famosa Filarmónica de Berlim, as doze transmissões de ópera do Metropolitan de Nova Yorque, as dez propostas incluídas no ciclo Músicas do Mundo e o Festival Jazz em Agosto. Está em curso o período de renovação das assinaturas, a que se seguirá o período de aceitação de novos assinantes. Para o público, a venda de bilhetes inicia-se a 2 de Julho. Se o leitor quiser ser um dos cerca de cem mil espectadores da temporada Gulbenkian de música de 2012/2013, estude o respectivo programa, escolha o que quer ver e, na data apropriada, reserve os seus bilhetes antes que esgotem.

Encontro de Culturas em Serpa

Inicia-se hoje em Serpa a nona edição do Encontro de Culturas em Serpa, uma iniciativa municipal que se realiza anualmente no mês de Junho e que este ano decorrerá até ao dia 17 de Junho, com o objectivo de promover a vida cultural, enquanto factor de desenvolvimento e de coesão social. O programa deste ano inclui diversas iniciativas culturais lusófonas ou ibero-americanas, designadamente um mercado cultural e duas exposições, mas são as duas dezenas de espectáculos de música que despertam mais atenção. No que respeita à música destaca-se a apresentação de grupos ou artistas vindos de Portugal, Brasil, Argentina, Chile, Cabo Verde, Espanha, Rússia e Estados Unidos da América. Estarão em destaque o cante alentejano (10 de Junho), assim como uma homenagem a Cesárea Évora que irá juntar quatro artistas cabo-verdianos (8 de Junho) e os concertos do brasileiro Zeca Baleiro (9 de Junho), do fadista Camané (15 de Junho), da espanhola Luz Casal (16 de Junho) e do cantor espanhol Pablo Alborán, que terá a participação especial da fadista Carminho (17 de Junho). É uma boa oportunidade para visitar Serpa, mas também é uma boa oportunidade para felicitar o Município de Serpa por esta iniciativa de grande qualidade, bem distinta da generalidade das iniciativas municipais que, no Verão e em articulação com a brejeirice de tipo baião da RTP, promovem o pimbismo musical lusitano e nos exibem a mais confrangedora das mediocridades.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A imoralidade de certas reformas

No passado mês de Abril o Correio da Manhã revelou que J. J. Gonçalves, o antigo presidente do BCP, tem desde finais de 2007 uma reforma mensal superior a 167 mil euros, além de outras regalias adicionais de que se destacam a possibilidade de viajar em aviões alugados, utilizar automóveis com motorista e de contar com cerca de 40 seguranças privados, tudo suportado pelo banco, em nome do seu “direito à segurança e à protecção na saúde”. É uma imoralidade e um verdadeiro escândalo, quando os portugueses passam por enormes dificuldades e quando os direitos adquiridos pelos trabalhadores e pelos pensionistas estão a ser diariamente violados. Mais uma vez, o pequeno contabilista Gaspar se mostra duro para com os fracos e se cala em relação aos abusos e aos escândalos que por aí campeiam, como sucede com a reforma e as mordomias deste Gonçalves que, talvez, merecesse uma auditoria à sua gestão no banco, como de resto exigiu o accionista Berardo. O BCP tem procurado corrigir esta imoralidade, mas o Tribunal de Sintra acaba de se considerar incompetente para julgar a pretensão do BCP. É realmente inacreditável a protecção de que esta gente goza até na Justiça e é uma vergonha para a nossa sociedade. Embora noutra escala, também é igualmente imoral e escandaloso o que se passa com o ex-presidente Paulo Teixeira Pinto que, aos 46 anos de idade e depois de ano e meio no cargo de presidente do BCP, recebeu uma indemnização de dez milhões de euros e uma reforma vitalícia de 500 mil euros anuais. Hoje, ao saber destas coisas, o arcebispo de Braga confessou que quase se engasgou quando esta manhã tomava o pequeno-almoço e leu que o antigo presidente do BCP, recebe uma reforma de cerca de 175 mil euros. Porém, eu ando engasgado há muitos meses e não percebo porque razão o Estado não actua. Em tempos, o Gonçalves disse que esta reforma não custava "um cêntimo ao banco". Então não há dúvidas: ele está a encher os bolsos à custa dos contribuintes. Pouca vergonha!