domingo, 28 de agosto de 2016

O meu aplauso à publicidade criativa

O Café Império fica localizado no número 205 da Avenida Almirante Reis e foi projectado por Cassiano Branco em 1947, embora só tivesse sido inaugurado em 1955. A partir de então, aquele moderno e amplo espaço amplo passou a “dar abrigo” às tertúlias de jovens estudantes lisboetas que ocupavam as suas pequenas mesas redondas a troco de uma bica consumida durante uma tarde inteira, embora nele se  adivinhasse a presença canalha dos informadores da Pide. O café fechava às duas e meia da madrugada e pela noite dentro servia os famosos bifes à Império que lhe trouxeram fama e que rivalizavam com os bifes da Portugália, cada qual com o seu apreciado molho e os seus adeptos.
Um dia o edifício foi adquirido pela IURD e o Café Império foi encerrado, havendo a intenção de o transformar num espaço de culto. Porém, houve contestação e a obra foi embargada pela Câmara Municipal. Nessas circunstâncias a IURD trespassou aquele espaço e daí surgiu a oportunidade de ressuscitar e remodelar o Café Império, que voltou a ser o atraente restaurante que tinha sido e a servir, entre outros pratos, os seus apreciados bifes.
Curiosamente os bifes à Império são objecto de uma publicidade muito criativa e que recorre às imagens da política portuguesa. Assim, há cerca de dois anos foi utilizado o slogan “Farto de coelho?”, numa alusão ao rapaz de Massamá que chefiava o governo, enquanto actualmente a promoção assenta no slogan “A coligação que agrada a todos”, isto é, o bife, o molho e o ovo.
O mínimo que se pode dizer é que a qualidade da mensagem publicitária está em sintonia com a qualidade da cozinha daquela casa de tão boas memórias!

O fim da guerra civil na Colômbia

A guerra civil da Colômbia terminou, segundo anunciou El Heraldo. Era, provavelmente, uma das mais antigas guerras do nosso planeta, que alguns consideravam ter sido iniciada em 1948 e outros em 1964. Durou muito tempo. Foi meio século de guerra fratricida em que morreram cerca de 220 mil pessoas e que fez mais de seis milhões de refugiados dentro das fronteiras colombianas. O acordo de paz foi assinado em Havana entre o governo colombiano de Juan Manuel Santos e as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, depois de quatro longos anos de negociações.
Este acordo é um marco importante na vida da Colômbia, mas ainda não resolve o problema. É apenas um primeiro passo, embora muito importante. Calcula-se que as FARC tenham um contingente armado de cerca de dez mil guerrilheiros que agora vão ser reintegrados, mas há muitas dúvidas quanto à possibilidade dessa reintegração, pois muitos deles são homens e mulheres que não conheceram outro cenário de vida para além da selva e da guerrilha, havendo também muitos que foram raptados e forçados a ser guerrilheiros. Porém, para além das FARC ainda há outros grupos armados a actuar na Colômbia, uns de esquerda e outros de direita, eventualmente ligados ao negócio da droga, o que pode vir a complicar o processo de paz.
Há que ter confiança. Depois de cessarem os combates e os raptos, há que sarar as  feridas. Os colombianos desejam o fim do sofrimento, da dor e da tragédia da guerra e, certamente, vão perdoar-se dos seus excessos. No próximo dia 2 de Outubro o povo da Colômbia vai votar num referendo para aceitar ou rejeitar o acordo de paz assinado entre o governo e as FARC. Só pode ser mais um reforço do processo de paz.

sábado, 27 de agosto de 2016

O estilo telenovela na política portuguesa

A jovem que desde Março dirige o CDS tem feito tudo para dar nas vistas e não se cansa de aparecer por toda a parte para falar, para opinar e para criticar. Fala por tudo e por nada. Precisa de notoriedade. Procura-a incansavelmente. É uma necessidade básica de quem não sabe quanto vale em termos eleitorais, mas que não deve andar longe dos 5%. É difícil sair desta irrelevante fasquia que só serve para ser muleta dos outros, até porque o povo tem memória e não esquece que Assunção Cristas também foi responsável pela brutal austeridade e pelo empobrecimento que foi imposto aos portugueses. Além disso, ela também quis ir além da troika e esteve sempre ao lado do irrevogável Portas a dar o dito por não dito. Sabendo que nem o seu passado partidário, nem o seu projecto político têm o apoio do eleitorado, a moça adoptou uma estratégia populista para dar nas vistas. Vai daí, vestiu um vestido curto estampado com kiwis e posou numa fotografia artístico-sexy, digna da capa de uma qualquer revista cor-de-rosa. Para quem aspira ao poder, era difícil fazer pior.
Um antigo deputado do seu partido de nome Raúl Almeida deve ter visto a fotografia e não se calou, tendo dito que “há um certo culto da personalidade e da frivolidade de uma presidente que está nas revistas cor-de-rosa quando o país está a arder“, acrescentando que o futuro do seu partido depende da forma como aquela jovem se comportar enquanto presidente do CDS e “não como uma atriz de telenovelas” e que “é muito importante que não confunda a rentrée com a silly season”.
O assunto só pode interessar aos tais 5% mas, de facto, é muito divertido verificar como o estilo telenovela entra na política portuguesa.

Em busca de um entendimento na Síria

A edição do diário libanês al-akhbar que se publica em Beirute, destaca na primeira página da sua edição de hoje uma fotografia em que John Kerry e Serguei Lavrov se cumprimentam. Aquela fotografia tem a virtude de, por si só,  nos dar esperança para que acabe a guerra na Síria, não sendo necessário ler árabe para ter mais explicações. Hoje ninguém tem dúvidas que a continuação ou o fim da guerra dependem da vontade e das armas dos Estados Unidos e da Rússia.
De facto, a reunião ontem realizada em Genebra entre o Secretário de Estado dos Estados Unidos e o Ministro das Relações Exteriores da Federação Russa durou 12 horas e teve a crise síria como principal ponto da agenda. No final, em ambiente de grande cordialidade, os dois dirigentes anunciaram importantes progressos nas conversações, embora tivessem acentuado que ainda não houve acordo quanto ao fim das hostilidades, mas que vão ser procurados consensos nos próximos dias.
Numa declaração final, Kerry declarou estar satisfeito com os resultados do encontro e agradeceu a Serguei Lavrov pelo trabalho conjunto. Por sua vez, Lavrov informou que ambos concordaram em actuar junto das partes envolvidas no conflito, isto é, a Rússia junto do governo sírio e os Estados Unidos junto da oposição a Bashar al-Assad, no sentido de encontrar solução para o principal ponto de discórdia que continua a ser o futuro do presidente sírio: Moscovo – que apoia Damasco – defende que o país mergulharia no caos sem Bashar al-Assad, enquanto Washington é favorável ao afastamento do chefe de Estado, exigido pela oposição.
É caso para dizer “entendam-se”, mas depressa. Se necessário, vejam as catastróficas imagens da destruição de Aleppo e de tantas outras cidades sírias.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ronaldo é o nosso maior papa-prémios

A UEFA distingiu ontem o futebolista Cristiano Ronaldo com o prémio de Melhor Jogador da UEFA, isto é, como o melhor jogador da Europa em 2015/2016, superando o galês Gareth Bale, seu companheiro na equipa do Real Madrid, e o luso-descendente Antoine Griezmann que joga no Atlético de Madrid e na selecção francesa. Significa que, para a UEFA, os três melhores futebolistas europeus jogam em Madrid e, talvez por isso, o diário Marca enfatizou a entrega desse prémio e destacou Cristiano Ronaldo com uma fotografia de página inteira e o título: “és o Rei”.
Ronaldo tinha renovado em Janeiro o título de melhor jogador do Mundo por escolha da FIFA, mas na época de 2015/2016 conquistou a Liga dos Campeões e o Campeonato da Europa, isto é, os dois principais títulos europeus de clubes e de seleções, pelo que o prémio da UEFA era esperado. De resto, desde 2007 que Ronaldo acumula prémios internacionais, incluindo os de melhor jogador do mundo atribuido pela FIFA e de melhor jogador da Europa atribuido pela UEFA, mas também a Bota de Ouro que distingue o melhor marcador de golos na Europa. O seu museu no Funchal exibe esses troféus, mas parece que tem espaço para mais alguns.
Ronaldo é realmente um fenómeno papa-prémios e continua a ser o português que mais espaço ocupa na imprensa internacional.  

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A tragédia das catástrofes naturais

Enquanto os tanques turcos entram em território sírio e ficamos sem saber quais são os seus verdadeiros objectivos e qual a duração prevista dessa intervenção, aparentemente apoiada por americanos e russos, mais perto de nós a tragédia abateu-se sobre o centro da Itália, onde ocorreu um violento sismo com a magnitude de 6.2 na escala de Richter. Eram 03:36 horas e a população dormia, quando a terra tremeu durante 142 segundos e destruiu grande parte de Amatrice e Norcia, na região da Umbria. Sucederam-se dezenas de réplicas e muitas pessoas ficaram soterradas nos escombros, enquanto as equipas de resgate tiveram enormes dificuldades de acesso às zonas sinistradas.
O último balanço aponta para 247 mortos.
A imprensa internacional destacou esta tragédia com fotografias mostrando o desespero das pessoas e a enorme destruição que quase fez desaparecer algumas localidades. O título escolhido pelo diário la Repubblica é elucidativo da destruição causada pelo sismo: “como uma guerra”.  
Por se encontrar sobre uma zona sísmica, a Itália tem sido palco de muitas destas calamidades e este grave acontecimento vem mostrar que as catástrofes naturais podem acontecer em toda a parte, mesmo nos países mais desenvolvidos, onde supostamente existe toda a previsibilidade e protecção para estes casos. Por isso, não é preciso arranjar guerras de qualquer tipo, porque a Natureza se encarrega de espalhar a tragédia de vez em quando.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Nunca houve tantos turistas em Portugal

 
O turismo representa actualmente um dos sectores mais dinâmicos da economia portuguesa, tendo vindo a gerar receitas e a criar emprego desde há muitos anos. Este ano, todos os recordes estão a ser batidos e, desde Março que o país tem ultrapassado consecutivamente a fasquia dos mil milhões de euros de receitas todos os meses, o que nem no tempo do Euro 2004 tinha sido conseguido, nem tão pouco no tempo de Paulo Portas, quando esse impostor reivindicava em cartazes eleitorais que o boom turístico português era obra do seu governo. Lembram-se?
As circunstâncias internacionais, a meteorologia e o ambiente cultural desde há muito tempo que têm desviado os fluxos turísticos internacionais para o sul e para o ocidente da Europa, até pelo seu competitivo custo de vida. Porém, nos últimos anos, sobretudo depois das perturbações provocadas pela Primavera árabe e pelo terrorismo que tem ameaçado a Europa, esse movimento acentuou-se.
Hoje o jornal catalão elPeriódico anuncia em primeira página que o terrorismo mudou o mapa mundial do turismo e, de facto, essa é uma realidade que nem precisa de ser justificada com estatísticas. Muitos turistas temem ser vítimas do terrorismo e, só no primeiro semestre do corrente ano, a cidade de Paris perdeu um milhão de visitantes, o que tem representado uma importante perda para os sectores mais ligados ao turismo. Nesse quadro, o turismo favorece a Península Ibérica e, no caso português, podemos dizer que é uma festa. São mais de dez milhões de turistas que nos visitam anualmente. Há turistas por toda a parte: nas cidades e nos campos, nas estradas e nas praias, nos museus e nos restaurantes. É mesmo uma festa! A economia portuguesa agradece.

sábado, 20 de agosto de 2016

Rio 2016: um breve e antecipado balanço

Os Jogos Olímpicos terminam amanhã e o grande vencedor foi o Brasil porque apresentou uma organização que à distância pareceu impecável, calando todos os que, interna ou externamente, duvidavam das suas capacidades para os realizar. O cenário natural da cidade do Rio de Janeiro e da baía de Guanabara, o entusiasmo do público e a qualidade das transmissões televisivas passaram para o exterior uma imagem positiva que prestigia o Brasil e os brasileiros, acentuando o seu estatuto de potência emergente, apesar dos inúmeros problemas políticos e sociais com que se defronta e das facturas que vão aparecer para pagar todo o fabuloso espectáculo que têm sido os Jogos Olímpicos.
No plano desportivo o destaque foi para os Estados Unidos e, surpreendentemente, para a Grã-Bretanha que ganhou mais de seis dezenas de medalhas, mas também para os atletas de mais de oitenta países que conquistaram medalhas olímpicas, a demonstrar que o desporto e o discutível ideal olímpico do nosso tempo também entraram na era da globalização.
Portugal deixa o Rio de Janeiro apenas com uma medalha de bronze conquistada por Telma Monteiro, o que é muito pouco para as expectativas criadas e alimentadas por uma comunicação social irresponsável que, objectivamente, pressionou demasiado os atletas com a “exigência” de ganharem medalhas, o que lhes diminuiu a resistência psicológica necessária nestas circunstâncias. Desde 1912, em 24 participações olímpicas conseguimos apenas 24 medalhas e, por isso, os resultados no Rio de Janeiro até estão de acordo com a tradição portuguesa e com a média nacional de ganhar apenas uma medalha por Olimpíada. Porém, sabendo que os nossos atletas competiram com os melhores do mundo, temos que concluir que a sua prestação foi globalmente satisfatória, com várias classificações entre os dez melhores do mundo, designadamente na canoagem, no judo, no ciclismo, no futebol, no ténis de mesa, no hipismo, no atletismo, no triatlo e nas corridas de marcha. Podiam ter ganho medalhas e estiveram perto disso, mas ficaram-se pelos diplomas olímpicos. Soube a pouco, mas o facto é que os nossos atletas não nos envergonharam. Por isso, os 92 atletas que nos representaram no Rio de Janeiro em 16 modalidades merecem o nosso aplauso pelo seu esforço e dedicação, mas também o nosso incentivo para que continuem a lutar por melhores resultados no futuro.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A chocante crueldade da guerra na Síria

A fotografia de Omran Daqneesh, um menino de 5 anos de idade que reside na cidade síria de Aleppo, foi publicada nas primeiras páginas dos principais jornais mundiais e, por exemplo, o jornal escocês The National publicou-a a seis colunas. A fotografia mostra Omran atordoado e coberto de pó e de sangue, depois de ter sido ferido e recolhido numa ambulância, na sequência de um bombardeamento aéreo efectuado sobre a cidade de Aleppo e tornou-se um símbolo da crueldade da guerra que se trava desde 2011.
Tal como muitos milhares de crianças sírias, o menino Omran não sabe o que é a paz, pois nunca conheceu outra coisa que não fosse a guerra. Esse facto tem que ter o repúdio da Humanidade e justifica que sejam censurados com firmeza os países e os dirigentes que têm alimentado a guerra, sem ter encontrado soluções para acabar com ela.
No caso concreto da guerra na Síria a  destruição humana e material é catastrófica. Depois de mais de cinco anos de guerra deixou de haver protagonistas bons e protagonistas maus. São todos maus e as grandes potências serão certamente as principais responsáveis por terem incentivado a guerra e não terem conseguido pará-la. Na actual fase do conflito é cada vez mais difícil perceber quem combate quem e quem apoia quem. O que é evidente é que a crueldade da guerra é cada vez maior.
A figura de Omran Daqneesh vai ficar gravada na memória de quem a viu e bom seria que fosse vista pelos dirigentes de Damasco, Ancara, Moscovo, Nova Iorque, Pequim, Londres, Paris, Teerão e tantas mais capitais. Para que actuem rapidamente na procura da paz.

Política, negócios e gente sem vergonha

A presença de Paulo Portas no congresso do MPLA em Luanda como convidado especial de José Eduardo Santos é um caso de enorme gravidade na política portuguesa, pois revela a personalidade de um indivíduo que não olha a meios para atingir os seus fins. Embora tenha sido convidado a título pessoal, ninguém esquece que, até há pouco tempo, ele foi o presidente do CDS, um partido ideologicamente muito distante do MPLA, mas também foi vice-primeiro-ministro do governo português. Aliás, ele fala e comporta-se como se ainda ocupasse aqueles cargos, com uma arrogância que mete dó.
Esperava-se que a imprensa portuguesa reagisse e denunciasse esta grave situação em que um ex-político de topo usa o seu capital de experiência acumulado e a informação secreta e estratégica a que teve acesso para servir negociatas e interesses pessoais, mas lamentavelmente os jornais e os jornalistas ficaram calados, quem sabe se por deverem favores a Paulo Portas. A excepção foi o jornal i, que ontem informou sobre o caso e hoje entrevistou Manuel Monteiro, o antigo presidente do CDS.
Nessa entrevista Manuel Monteiro relacionou a aproximação do CDS ao MPLA como um “testemunho de um partido que se rendeu e vendeu aos interesses pessoais e de negócios de Paulo Portas” e acusou-o de ter “preparado o caminho” para se dedicar aos negócios com ligações a Angola. Segundo Manuel Monteiro, “Paulo Portas colocou o CDS ao serviço daquilo que lhe interessa, que é enriquecer”.
As figuras de Paulo Portas e do deputado Amaral, que a televisão mostrou e se prestaram a um triste papel de vulgares bajuladores no congresso do MPLA, envergonham a democracia portuguesa.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A intrigante cambalhota de Paulo Portas

O antigo director do semanário O Independente que ficou conhecido por quase todas as semanas acusar uma qualquer figura pública por corrupção ou por uso indevido de fundos públicos, fez da criação de escândalos políticos um modo de vida. Afirmou-se desde então como um indivíduo sem princípios e sem escrúpulos. Chama-se Paulo Portas e desde a adolescência que se meteu na Política e no Jornalismo, ao mesmo tempo que estudava Direito. No Jornalismo deu um bom contributo para a falência de todos os jornais em que colaborou e, na Política, como não lhe deram importância nenhuma no PSD, mudou-se para o CDS. Com muita demagogia e vários golpes políticos maquiavélicos chegou à liderança desse pequeno partido e acabou por ser ministro de Durão Barroso, de Santana Lopes e de Passos Coelho. Nesses cargos, parece que tratou mais de si próprio do que do interesse nacional.
Um dia demitiu-se e afirmou-se irrevogável na sua decisão, mas deu o dito por não dito quando lhe acenaram com mais mordomias. A sua vaidade cresceu então exponencialmente com o pomposo cargo de vice-primeiro ministro. Fartou-se de viajar à custa do erário público e não era preciso ser muito perspicaz para perceber que procurava emprego numa grande organização internacional. Pensou na NATO mas era demasiado pequeno. Em alternativa atirou-se ao dinheiro como gato a bofe, porque se habituou a viver à grande e à francesa e a mina da Universidade Moderna já lhe dera o que tinha a dar, incluindo o famoso Jaguar em que se passeava por Lisboa.
Portas é um indivíduo muito duvidoso e para ele vale tudo para atingir os seus fins. Tal como no tempo de O Independente, é um indivíduo sem princípios e sem escrúpulos. Assinou contrato com a TVI para seu comentador semanal e, logo a seguir, ingressou nos quadros da Mota-Engil como conselheiro estratégico. Depois, na continuação das suas viagens oficiais ao México e da comenda que nesse país recebeu, foi agora contratado como conselheiro da Pemex, a maior empresa mexicana. Porém, a nova e intrigante cambalhota de Portas tem contornos de escândalo como revela hoje o jornal i, pela sua duvidosa ligação ao MPLA, a denunciar uma promíscua relação entre a política e os negócios e, talvez, a evidenciar que Portas utilizou os seus cargos públicos para desenvolver uma teia de relações em seu benefício pessoal. Portas quer enriquecer e, para isso, vale tudo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A guerra na Síria está a endurecer

A guerra contra o Estado Islâmico parece estar a entrar numa nova fase, com a intensificação dos ataques americanos na Líbia e dos bombardeamentos russos na Síria, parecendo haver uma mais forte reacção ao perigo que constitui o extremismo jihadista. Não tem sido difundida muita informação sobre o que se passa no terreno ou nas mesas de negociações, mas há notícias que referem a aproximação da Rússia à Turquia e, também, ao Irão. Neste caso, a utilização das bases iranianas pela aviação russa veio dar um poder acrescentado à sua intervenção e veio evidenciar que os principais aliados de Bashar al-Assad se decidiram a cooperar entre si.
Neste conflito que se desenvolve desde 2011 parece que estão “todos contra todos”, isto é, há guerra entre o governo sírio, os rebeldes que se opõem a Bashar al-Assad, os radicais islâmicos da Al-Qaeda e do ISIS e, ainda, as diversas potências estrangeiras que se envolveram na guerra. As centenas de grupos que combatem o governo sírio de forma não coordenada, com destaque para as forças extremistas do ISIS, parece estarem a perder terreno e daí a sua iniciativa de atacar a Europa com acções terroristas, havendo notícias de que se aperta o cerco às suas principais conquistas, nomeadamente Raqqa na Síria e Mossul no Iraque.
A utilização de bases iranianas por parte da aviação russa que alguns jornais noticiam hoje, caso do The Wall Street Journal, pode dar uma diferente dimensão à guerra e, quem sabe, abrir o caminho para a paz. As fotografias dos bombardeiros russos a largar a sua carga sobre os territórios sírios ocupados pelo ISIS, lembram os bombardeiros americanos que há cinquenta anos largavam as suas bombas sobre o Vietnam. Significa que as coisas estão a endurecer no terreno e o facto é que já morreram mais de duzentas mil pessoas e há mais de quatro milhões de refugiados sírios, mas a guerra não para.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Rio 2016 e o adeus a Michael Phelps

Além de imagens deslumbrantes, os Jogos Olímpicos oferecem-nos surpresas desportivas todos os dias, proporcionadas por atletas de países tão diferentes como a Argentina e a Colômbia, a Espanha e a Grécia, ou Singapura e o Vietnam. A respectiva imprensa vai glorificando os atletas vencedores através da publicação das suas fotografias com as medalhas conquistadas. Alguns desses atletas, porém, ultrapassam a esfera nacional e são reconhecidos universalmente, como sucede com a ginasta Simone Biles, com o velocista Usain Bolt ou com o nadador Michael Phelps, entre alguns outros. No entanto, há uma absoluta unanimidade em relação ao nadador americano, que tem sido justamente considerado como o atleta que mais se destacou no Rio de Janeiro ao ganhar cinco medalhas de ouro. Com este resultado, Michael Phelps totalizou 23 medalhas de ouro nas últimas quatro Olimpíadas, o que constitui uma marca de longevidade ímpar no topo da natação mundial. A imprensa mundial tem destacado o feito desportivo de Michael Phelps e publicado repetidamente a fotografia do nadador americano, mas a homenagem que hoje lhe é feita pelo diário Gulf News, o mais conhecido jornal do Dubai, um dos sete emirados dos Emirados Árabes Unidos (UAE), é muito interessante. O jornal recolheu as fotografias das 23 vitórias de Phelps em Atenas (2004), Beijing (2008), Londres (2012) e agora Rio de Janeiro, assinalando que bateu o record estabelecido por Leónidas de Rodes no ano 152 AC.
Leónidas foi um dos mais famosos atletas olímpicos da Antiguidade e competiu em quatro Olimpíadas, tendo conquistado doze coroas de louros. Segundo refere o jornal, Michael Phelps superou esse feito 2168 anos depois, ao conquistar 23 medalhas de ouro, das quais treze a título individual. nunca acontecera nada disto, nem com Mark Spitz nem com qualquer ginasta.
Agora, com 31 anos de idade, o nadador que nasceu em Baltimore e que bateu records mundiais por 37 vezes, vai retirar-se. Como diz o Gulf News: Goodbye!

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Os fogos florestais são uma calamidade

A imprensa espanhola noticia hoje com grande destaque as medalhas de ouro olímpicas que ontem foram conquistadas pela catalã Mireia Belmonte nos 200 metros mariposa e pela basca Maialen Chourraut na prova de canoagem em águas bravas. Porém, o destaque dos jornais galegos não são as medalhas olímpicas daquelas atletas, mas os incêndios florestais que assolam a Galiza, assim acontecendo com o Faro de Vigo que anuncia mais de 2.500 desalojados e cerca de 6.000 hectares consumidos pelo fogo em quatro dias. Um bosquejo pela imprensa francesa, italiana e grega mostra que também estes países estão a passar por grandes dificuldades com os fogos florestais.
Porém, a situação em Portugal ultrapassa tudo o que é imaginável, pois dos 190 mil hectares de área ardida no espaço europeu, mais de 93 mil hectares são em Portugal. É uma área equivalente a 93 mil campos de futebol! Nos últimos anos, a média de área ardida nesta época do ano rondava os 25 mil hectares, mas na última semana os números dispararam quando a “regra dos 30” se impôs: vento com velocidade superior a 30 km por hora, humidade relativa de 30% ou menos e temperatura do ar superior a 30 graus.
Os fogos florestais estão a ser uma calamidade nacional e, perante a gravidade da situação, vários países ofereceram a sua ajuda a Portugal, com destaque para a Espanha, a Itália, Marrocos e Rússia.  Essas ajudas solidárias são, naturalmente, benvindas.
No entanto, o problema não se resolve com as ajudas internacionais, mas tem que ser resolvido internamente e de forma definitiva. Todos os anos o assunto é discutido, mas cada ano se agrava a situação. Porque será? Incapacidade dos políticos? Interesses obscuros? De tudo um pouco, como convém nestes negócios de muitos milhões.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O terrível fogo que afectou a Madeira

O fogo tem destruido muitos milhares de hectares no território nacional, sobretudo na ilha da Madeira e, em especial, no concelho do Funchal. A tragédia que tem assolado aquela ilha tem sido devidamente acompanhada pela comunicação social que, através das imagens e dos relatos divulgados, tem mantido os portugueses informados sobre a situação dramática por que tem passado a cidade do Funchal nos últimos dias.
Há pelo menos três mortos, há centenas de deslocados e um enorme prejuizo ambiental e patrimonial, em que se destaca a perda de muitas habitações e a catástrofe que se abateu sobre o famoso hotel Choupana Hills, que foi devorado pelas chamas. Impulsionado pelo vento ou por outros factores que estão a ser investigados, o fogo apareceu em vários locais da periferia da cidade e cercou o Funchal, chegando até às proximidades da baía, enquanto um espesso fumo se abateu sobre a cidade.
A população tem passado por muitos sustos e naturais preocupações. A solidariedade nacional não se fez esperar, pelo que do Continente seguiram reforços especializados para ajudar a ultrapassar a situação que ainda não está completamente controlada. Numa atitude merecedora de grande aplauso, o Presidente da República não hesitou e voou para a Madeira para levar um abraço de grande solidariedade e estímulo dos portugueses do Continente aos portugueses da Madeira.
Não há memória de um incêndio com esta dimensão na ilha da Madeira, mas a forma empenhada e atenta como o Presidente do Governo Regional tem acompanhado a situação é um indício de que o Funchal recuperará rapidamente a sua harmonia patrimonial e paisagística. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Rio 2016: as imagens do voleibol de praia

As grandes competições desportivas são sempre um campo muito fértil para o trabalho dos fotojornalistas e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro não são excepção a essa regra. Todos os dias são publicadas em diferentes suportes, as mais espectaculares fotografias que retratam a euforia dos vencedores ou as lágrimas dos derrotados, bem como a forma como decorreram as suas provas. Algumas dessas fotografias, sobretudo quando são divulgadas pelas agências noticiosas, correm mundo e são publicadas em muitos jornais internacionais.
Assim aconteceu com as fotografias do jogo de voleibol de praia em que a Alemanha e o Egipto se defrontaram na praia de Copacabana no dia 7 de Agosto que, entre outros jornais internacionais, foram publicadas pelo jornal belga De Morgen. Era a primeira vez que uma dupla egipcia participava no torneio olímpico de voleibol de praia e, só por isso, o encontro despertava curiosidade. Aconteceu, porém, que a dupla egipcia, constituida por Doaa Elghobashy de 19 anos de idade e Nada Meawad de 18 anos de idade, se apresentou de calças, camisola de manga comprida e, uma delas, com o véu sobre a cabeça - o hijab, enquanto a dupla alemã usou o tradicional biquini. Os equipamentos revelaram duas equipas com culturas e religiões diferentes, embora dominadas pelo mesmo objetivo de vencer.
O resultado acabou por ser um 2-0 (21-12 e 21-15) favorável às alemãs, mas o nome de Doaa Elgobashy e de Nada Meawad já entrou para a história das Olimpíadas.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Rio 2016: uma medalha para Portugal

Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro o dia de ontem foi de festa para o desporto português, pois Telma Monteiro conquistou uma medalha de bronze na sua prova de judo feminino para menos de 57 kilos.
Se tivermos presente que Portugal participou desde 1912 em todas as 24 edições dos Jogos Olímpicos e que até agora ganhara apenas 23 medalhas (quatro de ouro, oito de prata e onze de bronze), facilmente concluiremos que a conquista de uma medalha olímpica constituiu um grande acontecimento desportivo para Portugal.
Até ao momento nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro estão atribuidas medalhas a atletas de 41 países, dos quais 23 ganharam medalhas de ouro.
A consulta da imprensa internacional mostra que a conquista de medalhas olímpicas foi destacada na generalidade dos países com grandes destaques de primeira página, como aconteceu por exemplo na Bélgica em relação ao ciclista Van Avermaet, na Colômbia com o halterofilista Óscar Figueiroa ou no Brasil com a judoca Rafaela Silva, que ganharam medalhas de ouro.
No caso da imprensa espanhola, a medalha de bronze da nadadora Mireia Belmonte deu direito a que a sua fotografia ilustrasse as capas dos principais jornais do país. Porém, em Portugal, com a honrosa excepção do jornal Público, os jornais de informação geral que costumam “encostar-se ao futebol para vender papel” não deram qualquer especial destaque ao resultado conseguido pela judoca Telma Monteiro. O judo “não vende papel”. São estes os jornais e o jornalismo que temos.

domingo, 7 de agosto de 2016

Rio 2016 com inauguração deslumbrante

Ontem realizou-se a cerimónia oficial da abertura dos Jogos Olímpicos e, depois de tantos meses em que se amontoaram dúvidas quanto à capacidade brasileira para organizar um acontecimento de tamanha complexidade, o espectáculo apresentado no Maracanã foi uma resposta esclarecedora e deslumbrante. A imprensa internacional não se poupou a elogios à imaginação e à criatividade que “invadiram” o maior estádio do Rio de Janeiro, às cores, às luzes, à tecnologia e aos conteúdos musicais exibidos. Através de sucessivas representações servidas por luz, cor e muita música, foi feita a história do Brasil e da cidade fundada no século XVI pelos portugueses, foram apresentadas as áreas verdes e urbanas da cidade e foi representada a diversidade cultural brasileira.
A cerimónia iniciou-se com uma sugestiva interpretação do hino brasileiro por Paulinho da Viola num palco a evocar Óscar Niemeyer e prosseguiu com a “presença” de muitas celebridades brasileiras, desde Santos Dumont e dos seus voos pioneiros, até à famosa modelo Gisele Bündchen e dos seus desfiles pelas passerelles do mundo.
Foi realmente um grande espectáculo. O público participou activamente e até Michel Temer, o presidente brasileiro, foi apupado no estádio, enquanto no exterior surgiu alguma contestação aos custos dos Jogos Olímpicos, num país onde estão por satisfazer muitas necessidades básicas e em que prevalece uma situação económica desfavorável, com muito desemprego e muita insegurança.
Na sua edição de hoje o jornal O Estado de S. Paulo diz que “o Brasil fez bonito”. É verdade, o Brasil fez bonito e passou ao mundo e a três mil milhões de pessoas que assistiram à cerimónia pela televisão, uma mensagem paz, de criatividade e de imaginação que supera quaisquer desgostos que tenham no futebol. Mas foi um desregramento de dinheiro que era necessário para outras coisas, dizem alguns. É verdade. Tal como foi verdade que a festa impressionou o mundo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Rio 2016 e a paixão brasileira pelo futebol

Antes da cerimónia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos que se realiza amanhã, já se realizaram os primeiros jogos da competição olímpica de futebol: ontem disputaram-se 6 jogos de futebol feminino e hoje realizam-se 8 jogos de futebol masculino, um dos quais é o Portugal-Argentina.
A equipa feminina brasileira derrotou a selecção chinesa por 3-0 e a imprensa brasileira deu hoje um grande destaque a essa vitória da sua equipa e assinala esta estreia com muito entusiasmo e esperança. Depois de muitos meses de expectativa e até de dúvida, os brasileiros rejubilaram com este arranque positivo da sua caminhada olímpica e a imprensa apenas fez eco dessa realidade.
Porém, essa mesma imprensa parece ignorar a natureza multi-disciplinar dos Jogos Olímpicos e centra-se exclusivamente no futebol e na sede brasileira pelo “ouro olímpico”, como se não houvesse outras modalidades tanto ou mais nobres do que o futebol. Por isso, dedica hoje largos espaços e fotografias a Neymar da Silva, o mesmo futebolista que tem salário milionário no Barcelona FC e a quem chamam o “menino de ouro”. Nós já estamos habituados a ver a maneira servil como a generalidade da imprensa e dos jornalistas tratam as estrelas do futebol, mas no caso dos Jogos Olímpicos era natural que tivessem maior contenção em relação a um futebolista, dedicando mais espaço a outros atletas que não sejam futebolistas e que o público conhece menos bem. A realidade é que muitos jornalistas brasileiros parecem só conhecer o desporto-futebol, mas em boa verdade também muitos jornalistas portugueses fazem quase a mesma coisa. Significa que nens uns nem outros merecem relatar os Jogos Olímpicos. O facto é que mesmo com Neymar, esta tarde o Brasil empatou com a África do Sul e os brasileiros ficaram nervosos.

Rio 2016 e as esperanças lusitanas

Os Jogos Olímpicos de 2016, oficialmente designados como Jogos da XXXI Olimpíada, iniciam-se amanhã no Rio de Janeiro com a habitual cerimónia oficial de abertura que se realizará no Estádio do Maracanã. A imprensa internacional, como aconteceu com a TIME, tem dado o devido destaque ao maior acontecimento desportivo do planeta. É a primeira vez que os Jogos Olímpicos se realizam na América do Sul e é, também, a primeira vez que se realizam num país de língua portuguesa, o que tem um especial significado, como já salientou o Presidente da República Portuguesa que se encontra no Rio de Janeiro em visita oficial. 
O grande acontecimento desportivo que é o Rio 2016 decorrerá de 5 a 21 de Agosto, terá provas em 28 modalidades desportivas e espera-se que tenha a participação de cerca de 12.500 atletas de 206 países. As mais numerosas representações virão dos Estados Unidos (555), Brasil (462), Alemanha (412), Austrália (409), França (402), China (379), Grã-Bretanha (364), Rússia (332), Japão (326), Canadá (313) e Espanha (305). O Comité Olímpico Português será representado por 91 atletas, enquanto as representações dos países de língua oficial portuguesa serão de Angola (23), Moçambique (4), Cabo Verde (4), Guiné-Bissau (3), São Tomé e Príncipe (1) e Timor-Leste (1).
O espírito olímpico fundamenta-se nos princípios do barão Pierre du Couvertin que fez renascer os Jogos Olímpicos e centra-se no ideal da participação que é mais importante do que a vitória. Porém, o facto é que o ideal olímpico se tem alterado e adulterado nos anos mais recentes, traduzindo-se cada vez mais numa acesa competição entre os países pela conquista do maior número possível de medalhas. São vários os aspectos dessa luta, mas a crescente participação de atletas profissionais, sobretudo no futebol e no ténis, parece contrariar o espírito olímpico.
Independentemente das circunstâncias indicadas, espera-se da representação portuguesa uma presença e uma participação verdadeiramente olímpicas, embora se desejem bons resultados desportivos e, se possível, algumas medalhas.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

A Justiça a ceder a interesses pessoais?

Num Estado organizado estão constituídos os poderes legislativo e executivo que emanam do voto popular e o poder judicial que deriva de uma estrutura não escolhida pelos eleitores, que exerce os seus poderes através dos tribunais, que julgam de acordo com as normas constitucionais e com as leis criadas pelo poder legislativo. Enquanto símbolos do Estado de Direito e da observância da Lei, os juizes têm direitos e deveres muito singulares mas, como são humanos, erram demasiadas vezes.
Errare humanum est!
Assim acontece com o juiz Tiago do Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra como hoje divulgou o Jornal de Notícias, pois já decidiu duas providências cautelares a favor dos colégios privados na polémica que os opõe ao Estado, no caso dos contratos de associação e, além disso, ele próprio avançou em 2012 com um processo contra o Estado em que contestava a redução do número de turmas com contratos de associação na escola onde estudava uma filha. Não é preciso ser jurista para verificar que há um evidente conflito de interesses, porque nos casos apreciados entra sempre uma filha do juiz Tiago. O Ministério da Educação pediu o seu afastamento destes casos por não ter sido imparcial na sua apreciação, enquanto o Sindicato dos Professores da Região Centro defendeu que recaem sobre o juiz fortes suspeitas de parcialidade quanto às decisões agora conhecidas e lembrou que Tiago tem uma filha que é aluna do colégio de Ançã, que é um dos colégios queixosos, e que o mesmo Tiago “já agiu contra o Estado quando pretendeu que a sua filha fosse subsidiada, apesar de se encontrar, na altura, fora das turmas com contrato de associação do colégio em que se matriculou”. Portanto, para o juiz Tiago vale tudo para proteger a sua filha, não lhe interessando as filhas dos outros cidadãos. De resto, ele próprio foi aluno no colégio jesuíta de Cernache e ninguém é indiferente a quem o encaminhou na vida. Tiago gosta de colégios e não deve gostar de os pagar. Estamos, portanto, perante um lamentável caso em que um interesse particular (de um juiz ou de um colégio) se sobrepõe ao interesse geral que é assumido pelo Estado.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A discutível decisão tomada na Madeira

A notícia já surgiu há alguns dias, mas só agora teve destaque de primeira página no suplemento Vidas do correio da manha: o Governo Regional da Madeira decidiu homenagear o seu futebolista mais famoso e, depois de já ter dado o nome de Cristiano Ronaldo ou CR7 a uma praça da cidade do Funchal e de lhe ter erguido uma estátua, vai agora atribuir o seu nome ao Aeroporto do Funchal, também conhecido por Aeroporto de Santa Catarina.
Confesso a minha ignorância quanto aos critérios que devem nortear a atribuição de nomes a aeroportos, mas parece-me de elementar bom senso que não sejam escolhidos nomes de pessoas vivas, mesmo que muito famosas, porque a vida dá muitas voltas e, por vezes, o herói passa a vilão ou aparece um herói ainda mais famoso que o anterior. São tantos os casos que acontecem, tanto no Desporto como na Política, que não vale a pena antecipar o julgamento da História. Há que dar tempo ao tempo.
Evidentemente que Cristiano Ronaldo é uma figura de excepção, não só a jogar futebol e a suscitar uma popularidade universal, mas também na forma fraterna como se liga à sua terra e às suas raizes, como demonstra o Museu CR7 que instituiu no Funchal e a recente inauguração do Pestana CR7 Funchal, a que se seguirão novos hotéis com a marca CR7 em Lisboa, Madrid e Nova Iorque, nos quais se associou ao Grupo Pestana, cujo universo hoteleiro agrupa 87 hotéis em 15 países.
A decisão do Governo Regional da Madeira é legítima e, provavelmente, tem uma justificação fundamentada no contributo de Cristiano Ronaldo para a notoriedade e para a boa imagem da ilha da Madeira, mas também no facto de se tratar de um profissional de futebol muito respeitado e de já ter sido eleito por três vezes como o melhor futebolista do mundo. É legítima, mas é discutível e polémica. Se a moda pega, não faltarão ruas, praças, avenidas, pontes, infantários, institutos, asilos, escolas, quartéis, tribunais e até aeroportos, à espera que cada autarquia lhe atribua o nome de um filho da terra tornado famoso por ter ganho uma qualquer prova desportiva. No caso da Madeira acabarão por lhe mudar o nome e passaremos a ter a ilha Ronaldo onde habitarão os ronaldenses.